sábado, 31 de janeiro de 2009

MAYSA



A voz de Maysa era assim, tinha um tom trágico, e dava um tom de infinita tristeza a tudo o que cantava. A sua versão do bolero Besame mucho é inesquecível, mas este Ouça, gravado em 1958 e da autoria da própria Maysa é também belíssimo.


Maysa morreu em Janeiro de 1977, quando o carro em que seguia, a alta velocidade, se despistou, na ponte Rio-Niterói. A cantora tinha apenas 40 anos. Nunca mais ninguém cantou com esta melancolia.

Nem tudo é trágico na vida: ao recordar o Besame mucho não pude deixar de me lembrar que a canção foi protagonista de um burlesco episódio político, que arruinou a carreira política da ministra Zélia Cardoso de Mello há uns vinte anos - lembram-se?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

HÁ DIAS ASSIM

I love the smell of napalm in the morning. (...) The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like... victory.
Apocalypse now - Francis Ford Coppola (1979)
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Há dias assim...
Hoje a cidade de Moura assistiu à inauguração oficial da renovada Escola da Porta Nova e à abertura das novas instalações do Conservatório Regional do Baixo Alentejo. Dois factos importantes na vida da nossa cidade. Pelo investimento que representaram para a autarquia (acima dos 500.000 euros) e pelo facto de serem a demonstração inequívoca da aposta que em Moura se faz na educação e na cultura. Esta é a parte normal.
Menos normal foi a ausência de vereadores do PS, de deputados municipais do PS e das juntas de freguesia do PS nas duas cerimónias. Há quem queira marcar posições assim...
Eu gostei. Nada como o perfume do despeito em dias assim.

SALÚQUIA, SALÚQUIAS

Embora a identidade do autor do blogue fosse, pelo menos em Moura, óbvia, é altura de colocar a fotografia certa no local adequado e de afixar o meu nome com todas as letras. Até porque "salúquias" há muitas...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

MEMÓRIAS DE ADRIANO

Tenho sessenta anos. Não te iludas: não estou ainda bastante fraco para ceder às imaginações do medo, quase tão absurdas como as da esperança e seguramente muito mais penosas. Se fosse preciso enganar-me a mim mesmo, preferia que fosse no sentido da confiança; não perderia mais com isso e sofreria menos. Este fim tão próximo não é necessariamente imediato; deito-me ainda, todas as noites, com a esperança de chegar à manhã seguinte. Adentro dos limites intransponíveis de que te falei há pouco, posso defender a minha posição passo a passo e recuperar mesmo algumas polegadas do terreno perdido. Não deixo por isso de ter chegado à idade em que a vida se torna, para cada homem, uma derrota aceite. Dizer que os meus dias estão contados não significa nada; sempre assim foi; é assim para todos nós. Mas a incerteza do lugar, do tempo e do modo, que nos impede de distinguir bem o fim para o qual avançamos sem cessar, diminui para mim à medida que a minha doença mortal progride. Qualquer pessoa pode morrer de um momento para o outro, mas o doente sabe que passados dez anos já não será vivo.

A minha margem de hesitação já não se alonga em anos, mas em meses. As minhas probabilidades de acabar com uma punhalada no coração ou por uma queda de cavalo tornam-se cada vez menores; a peste parece improvável, a lepra ou o cancro afiguram-se definitivamente afastados. Já não corro o risco de cair nas fronteiras, atingido por um machado helénico ou trespassado por uma flecha parta; as tempestades não souberam aproveitar as ocasiões que se lhes ofereceram, e o feiticeiro que me predisse que eu não me afogaria parece ter acertado. Morrerei em Tíbure, em Roma ou em Nápoles quando muito, e uma crise de sufocação encarregar-se-á da tarefa. Serei levado pela décima ou pela centésima crise? É essa a única questão. Assim como o viajante que navega entre as ilhas do Arquipélago vê despontar, ao entardecer, uma espécie de névoa luminosa e descobre pouco a pouco a linha da costa, eu começo a avistar o perfil da minha morte.


Certas fracções da minha vida assemelham-se já a salas desguarnecidas de um palácio demasiadamente vasto que um proprietário empobrecido renuncia a ocupar todo.


Excerto de Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar (1903-1987), obra densa e cheia de boas ideias. Demasiadas, talvez. Quando um dia comentei esta probabilidade com alguém tive dificuldade em explicar que as melhores partes de um livro devem ter como contraponto outras menos excelentes, mas que permitam ao leitor ter tempo para respirar. Ideia absurda? Provavelmente.
Na torrente de palavras de Memórias de Adriano, escrito em 1951, destaca-se esta passagem, uma das mais belas do livro. O limiar da eternidade, pensado com melancolia e sem retorno.
Também para mim um percurso se aproxima do seu término e outro, que ainda não sei qual, se iniciará.
A fotografia de Paulo Nozolino (n. 1951) talvez não tenha uma relação directa com o texto mas a ideia da morte e do fim é-lhe familiar. Quando a mostrei a uma amiga perguntou-me “É o quê? Um campo de concentração?”. Não consegui dizer que sim ou que não. É uma imagem de Sarajevo, quando a cidade estava cercada.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

NUM BORDEL EM MEKNES

A estrada era um combóio de curvas e contracurvas, assim como as curvas da Vaquinha, só que nunca mais acabavam. Foi aí que fizémos um pião, saímos da estrada e o semieixo do Ibiza soçobrou. Pelo menos alguém disse que era o semieixo e eu acredito, que remédio, embora não fizesse ideia do que fosse um semieixo. Que o carro ficou parado e não mexe mais, lá isso ficou. Deus deve existir porque poucos minutos depois apareceu um reboque, o que fará um reboque nas curvas de Moulay Idriss aquelas horas da noite para além de rebocar Ibizas com o semieixo partido? É coisa que nunca saberei.

Foi assim, com um Ibiza assente nas rodas da frente, andando às arrecuas, focinho no chão e rabo no ar, e nós gelados de frio em cima do reboque, que chegámos a Meknes. Foi assim que desembarcámos à frente do EXCELSIOR, melhor dizendo do XLCELSIOR, porque o E há muito tinha caído, deixando o lugar vazio na fachada pardacenta e suja. Foi assim que entrámos no XCELSIOR e reservámos os quartos e fomos a correr para o restaurante da frente afogar as mágoas em cerveja e merguez. Ainda o merguez não tinha chegado à mesa e já duas mocetonas (com uns bíceps e umas coxas que fariam inveja ao Mike Tyson) se aproximavam do juke-box. Escolheram Julio Iglesias e entre meneares de ancas – provocando uma deslocação de ar próxima da tempestade tropical – e olhinhos tentavam fazer pela vida. O Joaquim jurava que elas eram da selecção de halterofilia de Marrocos, mas nós não tínhamos bem a certeza. Não demos troco e elas foram-se embora disparando um insulto qualquer. Aí o Adballah levantou-se aos berros, a coisa quase a dar para o torto, a gente a segurar o Abdallah e ele chateado como um raio “as gajas dizem que somos maricas”, o Abdallah a insultá-las em português, eu e o Rui a segurá-lo “deixa lá as moças”, enquanto elas desapareciam pelas traseiras do restaurante.

Para a noite ser perfeita só faltava mesmo a dormida no XCLESIOR. “Tout va avec”, dizem os franceses. Claro que sim. Depois do Ibiza com o semieixo partido, do reboque vindo de nenhures nas curvas da Vaquinha de Moulay Idriss, das culturistas do restaurante só faltava o resto. O XCLESIOR não nos desapontou. Os lençóis não eram mudados há várias décadas, talvez mesmo desde a noite da inauguração e tinham testemunhos abundantes da actividade frenética do local. Nem pensar em meter-me ali. Enrolei-me na coberta e preparei-me para uma noite gelada. Não tive tempo disso. O concerto dos quartos vizinhos, entrecortado pelas torneiras a abrir e a fechar e por momentos de silêncio, não dava tréguas. Lá para as quatro da manhã, uma barulheira medonha no corredor. Passos, gritos, o som de uma garreia. Coisa séria, porque ouvia-se bater no duro. Seriam as pugilistas do restaurante da frente? Por duas vezes a porta do meu quarto fez as vezes de cordas de ringue. “Se os gajos entram pelo quarto dentro, o que raio faço?”.

Às seis espreitei, receoso, o corredor. Um rasto de sangue ao longo do chão não deixava dúvidas em relação à violência do combate. Voltei ao quarto. O estado da banheira competia com o dos lençóis, pelo que optei por um rápido e fresco duche com as peúgas calçadas. Saímos pouco depois, num respeitoso silêncio, prometendo guardar segredo.

Não voltei a Meknes desde esse frio Novembro de há muito tempo. Não faço a mínima ideia de onde ficará o XCELSIOR. Tenho, contudo, a quase certeza de que não terá mudado de ramo. O que será feito das moças não imagino sequer. O Rui jura tê-las visto a alinhar pouco depois pela selecção de rugby da Nova Zelândia mas ele nessas coisas não é de fiar. O Ibiza era vermelho e tinha a matrícula UD-23-95. Recuperou bem da fractura no semieixo e morreu de velho.

Texto publicado no jornal A Planície de 1 de Maio de 2008
Olympia é um celebérrimo quadro de Édouard Manet (1832-1883). Foi pintado em 1863 e causou na época enorme escândalo. Claro que o tema das odaliscas tem precedentes e Manet foi buscar inspiração à tradição renascentista. O que chocou a burguesia da época foi esta representação, carregada de realismo, sensualidade e luxúria, de uma prostituta da alta sociedade. As mesmas, as mesmíssimas, mulheres que os chocados visitantes frequentavam. O Presidente francês Félix Faure que o diga…
A respeito deste último afirmaria Clemenceau "il voulait être César, il ne fut que Pompée". As palavras têm duas leituras. Poderia traduzir mas não me atrevo a explicar.

Quanto às variações sobre o tema de Olympia registei mais de 20. Serão tema para um próximo post.


domingo, 25 de janeiro de 2009

PORTO LIVRE

Não me parece exagerado dizer que o nosso PM Sócrates anda ao tio ao tio. Se pesquisarem essa expressão no GOOGLE surge a pergunta será que quis dizer: andar ao tiro ao tio. Pois. Ele há coisas do diabo...

COINTREAU


Não me recordo de ter bebido Cointreau. Mas este anúncio australiano do início dos anos 90, além de ser uma lição de comunicação, abre sempre uma porta de esperança... Arte sem palavras para o dia de domingo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

IDE PARA FORA AQUI DENTRO

Incomodado com a imagem do povo todo a sair de férias para as Caraíbas e para a Polinésia, o ministro Manuel Pinho declarou, no início da Bolsa de Turismo de Lisboa ser sua intenção “lançar uma campanha para encorajar os portugueses a passarem mais férias em Portugal. Os portugueses passam menos férias no seu país do que, por exemplo, os espanhóis e os franceses”. O ministro tem razão. Toda a razão. Com o fim da crise, o emergir de novas oportunidades e com o extraordinário momento que a economia atravessa é só gente a querer ir passar férias em sítios exóticos. Querem provas?

PISCINA DE HOTEL NAS CARAÍBAS. SÃO TODOS PORTUGUESES, MAIORITARIAMENTE DA AMADORA, DO BARREIRO E DE ERMESINDE.


IMAGEM DA PRAIA DA ROCHA NO PASSADO MÊS DE AGOSTO. AGORA DIGAM LÁ QUE O MINISTRO NÃO TEM RAZÃO...


UM MINISTRO DURO. PINHO SENTOU-SE AOS COMANDOS DO AVIOCAR E AFIRMOU "NEM MAIS UM AVIÃO PARA O AR! NEM MAIS UM PORTUGUÊS A GASTAR FORTUNAS NO ESTRANGEIRO!"

VIVA O SENSATO MINISTRO MANUEL PINHO E QUEM O APOIAR!!!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO

Não é todos os dias que alguém decide criar um país. Foi, contudo, o que sucedeu em 1903, quando o presidente americano Theodore Roosevelt pôs termo a infindáveis negociações com a Colômbia e determinou que a parte norte deste país se tornaria independente e que teria o nome de República do Panamá.
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A discórdia, se assim se lhe pode chamar, entre as duas nações girava em torno da abertura de um canal ligando o Atlântico e o Pacífico. A empresa construtora falira e o impasse prolongava-se sem acordo à vista. Depois de uma rápida rebelião orquestrada pelo governo norte-americano e organizada no terreno por um engenheiro chamado Bunau-Varilla os colombianos ainda esboçaram um simulacro de resistência, enviando para a cidade de Colón 200 soldados. A companhia ferroviária argumentou que não tinha a possibilidade d e transportar tanta gente e acedeu em fazer chegar à cidade do Panamá apenas o general Tokar e os seus ajudantes de campo. Ali foram amigavelmente recebidos, convidados para almoçar e depois gentilmente metidos na cadeia. Todas estas cenas de opereta estão contadas no fascinante Getting to know the general, de Graham Greene.
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A 3 de Novembro de 1903 nascia o novo país. Uma semana mais tarde o governo americano e Bunau-Varilla assinavam um tratado referente ao canal, numa cerimónia em que não interveio qualquer panamiano. Durante quase um século, os Estados Unidos detiveram um completo controlo sobre 1432 km2 de outro país: o canal propriamente dito e mais 5 km para cada lado. Ali mandavam os norte-americanos: leis, tropas, tribunais, tudo se regia por princípios idênticos aos de qualquer outro estado da União. Aos panamianos estava destinado o papel de estrangeiros na sua própria terra. A Theodore Roosevelt estaria reservado o Prémio Nobel da Paz de 1906, bem como a construção da teoria do big stick, uma certa forma América de conceber a política externa e o Mundo.
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Décadas de humilhação e de ocupação ilegítima desse troço de território terminaram, de forma quase total, no dia 31 de Dezembro de 1999, quando o canal passou para a posse do Panamá, por entre comentários paternalistas sobre a capacidade dos indígenas em gerirem o seu próprio país. Graham Greene, e o seu anfitrião, o general Omar Torrijos, já não viram esse dia. Nem puderam saber que continua de pé a cláusula que prevê a possibilidade de os Estados Unidos poderem intervir militarmente se o Panamá não puder assegurar a segurança da zona. Nada de muito supreendente. O imperialismo não morreu, apenas se foi tornando mais subtil e sofisticado.


Está crónica foi publicada no DIÁRIO DO ALENTEJO, faz hoje exactamente dez anos. O tema continua actual. Omar Torrijos pereceu num desastre de aviação, em 1981. Graham Greene faleceu em 1981, aos 87 anos. O livro está disponível na amazon, com preços a partir dos 2 euros.
A imagem de Ansel Adams (1902-1984), captada no deserto do Nevada, em 1960, aponta para o infinito e para os caminhos que nunca se acabam nem se concluem.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

NA PRAIA


As fotografias entraram-me casa dentro pela mão da revista Aperture. Nem tudo o que aí é publicado me agrada ou convence mas há devo-lhe, pelo menos, duas descobertas: os extraordinários fotógrafos peruanos Hermanos Vargas e este trabalho do americano Richard Misrach, intitulado On the beach. Fiquei entusiasmado e a aguardar a saída do livro. Que já saiu e logo esgotou e agora é vendido a uns impensáveis 345 euros.
Mostrei as fotografias ao Cláudio e ele, com um encolher de ombros "não vejo aqui nada". A discussão foi longa e improfícua. Chegámos, salomonicamente, à conclusão que diferentes gerações vêem diferentes coisas. No esplendor desta praia está a luz mais branca e mais límpida que alguma vez vi e o azul mais irreal que alguma lente possa ter captado. A escala das imagens é gigantesca, assim como o é o mundo perdido que nelas vejo. As pessoas flutuam dentro e fora de água e de nada mais preciso para querer perder-me um dia nesta praia. Sozinho ou, mais provavelmente, talvez não.



domingo, 18 de janeiro de 2009

TRÊS FLASHES DOMINGUEIROS

Três breves notas saídas a lume na imprensa:
1. Na última edição da nossa PLANÍCIE - Deixando de lado as inúmeras asneiras que o honorável deputado do PS, Pita Ameixa, se divertiu a explanar sobre o processo da Central Fotovoltaica (são verdes, dizia a raposa...) deixo-vos esta pérola que a criatura debitou sobre a Contenda: "A questão da Contenda não é uma questão dramática, antes pelo contrário, abre-se aqui uma janela de oportunuidades para o concelho de Moura (...)"
Claro que sim. Para os 11 trabalhadores que foram despedidos não só se abriu uma janela como também a porta da rua. Não está em causa a óbvia falta de qualidade do honorável deputado. É, sobretudo, uma questão de desumanidade e a mais completa falta de vergonha.
2. No Público de ontem, título da página 13: "Árabes suspendem relações com Jerusalém". No rol dos países "árabes" lá vinha a Mauritânia, um dos equívocos habituais nestas ocasiões. O outro equívoco, o de uma Jerusalém cada vez mais unificada sob a bandeira de Israel, é cada vez mais uma realidade.
3. Da imprensa - A taxa de execução do QREN, no início do terceiro ano de execução, é de 1,5% (isso, um vírgula cinco po cento). Não parece exagerado dizer que isto não está a correr lá muito bem.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

FIAT 500


E foi assim que, no youtube, fui encontrar esta preciosidade. Não está datada mas é, seguramente, de finais dos anos 50. São imagens de um mundo que já não volta. O anúncio é do Fiat 500, produzido entre 1957 e 1975. A cantora, que interpreta esta invulgar versão quase-mambo de Uma Casa Portuguesa, chamava-se Nuccia Bongiovanni e faleceu prematuramente, em 1970. O fado, que Amália popularizou, data de 1953 e tinha música de Artur Fonseca e letra de Reinaldo Ferreira (filho).
Nunca, por nada deste mundo, compraria um FIAT. Mas que a onda de ternura que sai destas imagens me deixa na dúvida, lá isso deixa.

VENHA NADAR NO HUDSON

Gostava de ter tido esta ideia mas não tive... Fui surripiá-la hoje à hora de almoço ao "31 da Armada". Sim, sim, é um blogue de direita, e então?
Aqui fica o endereço: http://31daarmada.blogs.sapo.pt/

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

BARRIGA DE ALUGUER

De um comunicado do Gabinete de Imprensa da Federação Distrital de Évora do Partido Socialista:
" (...) foi deliberado manifestar público apoio à Candidatura Autárquica do Movimento “Unidos pelo Concelho de Viana do Alentejo”.
Este movimento (...) propõe-se libertar o Concelho de lógicas partidárias que travem o seu desenvolvimento e colocá-lo no nível económico, social e cultural que os seus habitantes bem merecem.
Ao ceder o seu símbolo e a sua sigla ao Movimento e ao aconselhar os seus militantes e simpatizantes a integrarem este movimento, o P.S. mais uma vez dá mostras de grande abertura e de pôr os interesses das populações à frente dos seus interesses partidários."

Donde se conclui:
1. Que a Federação Distrital de Évora considera o próprio PS dispensável e substituível, com evidentes vantagens, por movimentos independentes;
2. Que as candidaturas partidárias - incluindo a do próprio PS (!) - são factores objectivos de travagem do desenvolvimento dos concelhos;
3. Que os partidos políticos (com o PS à frente de todos?) não são capazes de promover o desenvolvimento económico, social e cultural que os habitantes dos concelhos merecem.

Num país sério, este hara-kiri levaria à demissão dos responsáveis pela publicação de tais disparates. Em Portugal, a cena lembra apenas o momento crucial do filme A regra do jogo, em que o marquês, querendo interromper uma brincadeira levada demasiado longe grita "Parem com esta comédia!", ao que o mordomo responde "Qual, senhor marquês?".
Este ambiente de paródia política ameaça fazer escola. Vivemos numa nova época, com pequenos aprendizes de feiticeiros a gritarem aos quatro ventos que a política deve ser feita para lá da política. O paradoxo é difícil de resolver mas é sempre apresentado como a solução milagrosa para libertar as autarquias (comunistas, claro) das terríveis e invisíveis garras de supostos e tenebrosos poderes ocultos.
A suivre...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A GUERRA ESQUECIDA

É, com a provável excepção do conflito palestiniano, a mais prolongada guerra à face da Terra. Dura desde Agosto de 1955 e é interrompida ciclicamente por acordos de paz nos quais ninguém acredita.

A tragédia tem lugar nos confins do Sudão. Calcula-se que só entre 1983 e 1993, numa das fases mais agudas do conflito, tenham morrido entre 600.000 e 1.300.000 pessoas. As razias do exército são regulares, obrigando tribos inteiras a abandonarem os seus locais de origem e a instalarem-se nos arredores mais miseráveis de Khartum. A complacência dos organismos internacionais é total e até o inevitável Banco Mundial dá o seu contributo para este genocídio. As terras são abandonadas e os rebanhos dizimados. As acções da guerrilha anti-governamental não são menos mortíferas, obrigando as populações a dar-lhe apoio, a bem ou a mal. O norte do Sudão é árabe e muçulmano, o sul é negro e predominantemente animista. Essa é uma das partes do problema.

Ante uma eminente catástrofe humanitária no Sudão, fala-se num milhão de pessoas em risco de morrerem à fome, voltámos a ter breves notícias, rodapés dos telejornais e coisas do género, desse sítio longínquo. . Ganha agora ainda mais força o pequeno livro de reportagem de George Rodger (1908-1995) sobre o país dos Nuba. A viagem, concretizada no Inverno de 1949, durou apenas 15 dias e Rodger produziu somente 30 rolos de fotografias. Os meios eram limitados – não mais que duas máquinas fotográficas - uma Rolleiflex e uma Leica – e o dinheiro não abundava. Publicada na imprensa americana pouco depois, a reportagem saiu em França sob a forma de livro em 1955. Rodger queria registar os últimos redutos de um mundo em vias de extinção, numa altura em que o continente africano começava a ser assolado por radicais mudanças. O seu interesse ia, portanto, para o modo de vida das populações, para as casas onde viviam e, sobretudo, para os encontros festivos entre os diferentes grupos. As fotografias não têm legendas, porque o texto as ilumina e porque elas explicam o que não nos é dito. A conclusão resume bem o espírito da reportagem: “levámos apenas connosco as recordações de um povo, sem dúvida primitivo mas muito hospitaleiro, mais generoso e amável do que muitos de nós que vivemos nos ‘continentes negros’ fora de África”.

Quando Rodger visitou o Sudão, os Nuba não sabiam que a tranquilidade do seu modo de vida tinha os dias contados. Certamente também desconheciam que as pastagens onde viviam o seu quotidiano assentavam sobre um vulcão. O subsolo daquela parte do Sudão tem reservas de cobre, ferro e ouro e, sobretudo, apreciáveis jazidas de petróleo. Deve estar aí a outra parte do problema.

Recentemente assinou-se mais um acordo de paz. O Ocidente, com os olhos postos nas riquezas escondidas do Sudão, assobia para o lado.

O livro de George Rodger é uma pequena obra-prima e chama-se Village of the Nubas.


Texto publicado no jornal A PLANÍCIE em 15 de Junho de 2004


Sobre o livro: a reedição de 1995 da Phaidon está esgotada, pelo que as alternativas são a compra da versão inglesa por 33,60 € (www.amazon.com) ou da edição francesa (http://www.amazon.fr/) por 18,95 €. Exemplares da 1ª edição francesa estão disponíveis em antiquários por cerca de 200 €.
Vale a pena consultar o site
http://www.nubasurvival.com/

domingo, 11 de janeiro de 2009

TURISMO E PATINAGEM

DO BLOGUE RENTE À RELVA http://rentearelva.blogspot.com/
A notícia é da Rádio Pax e o mais extraordinário são os argumentos e os adjectivos utilizados pelo vice-presidente da nova entidade de turismo:
«As Pequenas e Médias Empresas (PME's) que compõem o tecido empresarial turístico da região estão “mais adaptadas para resistir à crise do que as grandes empresas”, entende Vítor Silva. O ex-presidente da Região de Turismo Planície Dourada admite que 2009 será um ano difícil mas, em sua opinião, as pequenas e médias unidades turísticas vão “aguentar” os efeitos da crise. O Vice-presidente da “Turismo do Alentejo, ERT” prevê que os grandes projectos previstos para a zona de Alqueva “vão ficar a patinar” este ano.» (sublinhado meu)
Aqui, pela Avenida da Salúquia, já temos uma antevisão da promoção do turismo na nossa região para o ano 2009, na perspectiva do vice-presidente da TURISMO DO ALENTEJO - ERT:


A DIFÍCIL CONCEPÇÃO DOS PROJECTOS


O LANÇAMENTO DE NOVAS IDEIAS



OS TÉCNICOS A CAMINHO DE UM WORKSHOP



OS PROBLEMAS DO TURISMO ALENTEJANO A NU



Fiquem, para inspiração, com estas recordações do par soviético Irina Rodnina e Aleksandr Zaitsev

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

IMAGEM


Ó corpo feito à imagem
do meu desejo e meu amor
que vais comigo de viagem
pra onde eu for,
que mar é este em que andamos
há três noites bem contadas
e não tem ventos nem escolhos
nem ondas alevantadas?
que sol é este, que aquece,
mas sereno, tão sereno,
que não te põe menos branca
nem a mim põe mais moreno?
que paz é esta, nas horas
mais violentas e bravas?
(Sorrias: ias falar.
Sorrias e não falavas.)
que porto é este? esta ilha?
que terra é esta em que estamos?
(Era uma nuvem, de longe...
Deixou de o ser, mal chegámos.)
E este caminho, onde leva?
e onde acaba este jardim
que é tão em mim que é em ti?
que é tão em ti que é em mim?
Ó alma feita à imagem
do sonho que me desmede
- que sede é esta que temos
que é mais água do que sede?
e
e
Este poema de Sebastião da Gama (1924-1952) não é, talvez, dos mais citados. Quase sempre se prefere O sonho, como se o poeta nada mais tivesse escrito. Ao intenso lirismo e à suave sensualidade das palavras responde a outra sensualidade, mais carnal mas nem por isso menos lírica, do mexicano Manuel Alvarez Bravo (1902-2002), nesta fotografia dos anos 80. Fiquemo-nos por aqui, porque nos sobra o olhar e nos faltam as palavras.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ITIMAD

Invisível a meus olhos
trago-te sempre no coração
Te envio um adeus feito paixão
e lágrimas de pena com insónia
Inventaste como possuir-me
e eu, o indomável, que submisso vou ficando!
Meu desejo é estar contigo sempre
oxalá se realize tal desejo
Assegura-me que o juramento que nos une
nunca a distância o fará quebrar.
Doce é o nome que é o teu
e aqui fica escrito no poema: Itimad.

Poema de al-Mutamid (s. XI), numa tradução de Adalberto Alves.


Benjamin Constant - La favorite de l'emir (1879) e os meus amigos que me perdoem o desvio orientalista.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O MUSEU DO HOLOCAUSTO DE GAZA

Sigam o link:

http://www.islamonline.net/English/In_Depth/GazaHolocaustMuseum/

E, por favor, protestem.
O embaixador de Israel é o sr. Aaron Ram.
Aqui ficam alguns contactos:
press@lisboa.mfa.gov.il

amb-sec@lisboa.mfa.gov.il

political@lisboa.mfa.gov.il

consul@lisboa.mfa.gov.il

À BOLEIA DO AMARELEJANDO

Quem quiser saber todas as novidades sobre a Central da Amareleja e sobre a recente chuva de notícias que o projecto tem originado pode fazer uma visita aqui ao lado:

http://amarelejando.blogs.sapo.pt/

A compilação está lá feita. Boas leituras!

domingo, 4 de janeiro de 2009

CONTENDA

Começa a ganhar expressão nacional a luta dos trabalhadores da Contenda. O caso é mais um exemplo do País de faz-de-conta que somos. Uns dias antes do Natal 11 dos 13 trabalhadores da Contenda ficaram a saber que a partir de Janeiro passariam para aquela coisa da mobilidade especial. Ou seja, numa linguagem mais normal, ficaram a saber que iam para o olho da rua.

Foi uma quadra amarga a daqueles trabalhadores. Continuam a ser dias difíceis. Aí estão eles, muitos às portas da terceira idade, sem futuro nem perspectivas. O Governo acha que é assim. O Ministro e os seus rácios e a linguagem difícil e odiosa de políticos-burocratas acham que é assim.
A Contenda passará a ter 2 funcionários para tomarem conta de vários milhares de hectares. O Governo acha que é assim. A irresponsabilidade e a impunidade parecem não ter limites no nosso País.

"Pequeno" detalhe: o Plano de Ordenamento da Contenda não é cumprido pelo Governo e ainda não há plano de actividades para 2008 (leram bem 2008).

Grande detalhe: o Governo não quer saber da Contenda? A Câmara Municipal de Moura quer e está disposta a assumir responsabilidades na gestão da propriedade.

sábado, 3 de janeiro de 2009

ENRIQUE PONCE - ATARFE (GRANADA)

Fotografia de Pepe Marin (Reuters)

DOLORES DURAN

Chamava-se Adiléia Silva da Rocha. Nasceu em 1930 no seio de uma família pobre do Rio de Janeiro, começou a cantar cedo e passou demasiado depressa pela vida e pela música. Faleceu tragicamente no Outono de 1959. Deixou um rasto de talento e de melancolia que o passar dos anos só veio acentuar.

Em Portugal o nome de Dolores Duran é hoje pouco menos que desconhecido. Comprei em tempos um CD de importação, a um preço obsceno, mas ao qual faltavam coisas importantes. No Outono de 2007 tive oportunidade de completar a lacuna. Foi quase envergonhado que perguntei ao Marcello Dantas: "Onde consigo arranjar um disco de Dolores Duran? Não deve ser fácil, tendo em conta que é mais do tempo dos nossos pais". A resposta foi bem-humorada e pronta: "Eu diria, inclusive, que é mais do tempo dos nossos avós. Tente a Modern Sounds, na Av. de Nossa Senhora de Copacabana". Não falhou, e assim me tornei proprietário de um dos CD mais amados lá de casa.

Tentei arranjar vídeos antigos de Dolores Duran. Nada feito. Nem A noite do meu bem, nem Por causa de você, nem Manias, nada... Tal como, de resto, são escassos os exemplos disponíveis na net de interpretações de Sylvia Telles ou de Maysa. Aqui fica este excerto de um filme musical dos anos 50, embora não seja o melhor que a compositora e cantora fez . É uma oportunidade para se apaixonarem por Dolores Duran.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

CUBA - 50 ANOS

Faz hoje 50 anos que Fulgencio Batista abandonou precipitadamente Cuba. O poder fora conquistada pelos revolucionários de Fidel Castro.
Não é dia para apologias banais ou para críticas ainda mais banais. Fixemo-nos em três imagens da revolução:A festa da revolução. Fidel está do lado esquerdo, Che mais ao centro. Entre ambos vai um senhor bem posto que, ignorância minha, não sei quem é. Não é das imagens mais popularizadas e divulgadas mas expressa bem esses momentos sempre felizes que se seguem às vitórias.
Esta fotografia é a mais conhecida de todas. O seu autor foi Alberto Korda (1928-2001). A história de difusão que teve, pelas mãos do editor italiano Giangiacomo Feltrinelli, é bem conhecida e dipenso-me de a repetir. Korda, um verdadeiro revolucionário, registou Che durante uma cerimónia fúnebre, no dia 5 de Março de 1960. E veio provar que Cartier-Bresson não tinha razão a propósito do dogma do não-reenquadramento das fotografias. O que dramatiza o olhar do Che é o facto de ele ter sido subtraído aos outros elementos da imagem. Fidel perante os restos mortais do Che. Ao ver as imagnes na TV não pude deixar de me perguntar: espectáculo mediático à parte em que pensará naquele momento Fidel? Na ilusão da revolução romântica que se perdeu? Nas vitórias e fracassos do percurso? Na total e permanente incerteza do futuro?

FECHANDO O DOSSIÊ SOLAR

Fechando por agora, claro está.

O recente reconhecimento do Presidente da Câmara de Moura, José Maria Pós-de-Mina, através da sua inclusão nos finalistas de um prémio de grande prestígio, ainda não parou de causar efeito. Extensas notícias na imprensa de referência e na de maior difusão (Público, Diário de Notícias, Correio da Manhã), reportagens televisivas (RTP, SIC e TVI) e mais uma reportagem da VISÃO a caminho. Nunca um Presidente da Câmara de Moura conseguiu este grau de notoriedade, facto que registo e saúdo. Nunca um autarca deste concelho traduziu de forma tão concreta e directa a vontade de fazer em capacidade de realizar. O resto é conversa.

Alguns pobres de espírito agitam o espantalho da revista americana e insinuam mais uns disparates sobre o imperialismo. É coisa própria de quem tem do mundo uma visão que se limita à rua onde vive.

Bom, e já que falamos de burgueses, brindo, caro José Maria, à tua saúde e aos teus sucessos futuros com um champanhe de que gosto especialmente:

Mesmo assim, deixo o link (vale a pena): http://www.moet.com