segunda-feira, 9 de novembro de 2009

BERLINER MAUER

Os dados são mais que conhecidos: o muro de Berlim foi construído na madrugada de 13 de Agosto de 1961. Tinha uma extensão de 66,5 km de gradeamento metálico e compreendia ainda 302 torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas. Dezenas de pessoas morreram tentando cruzar o muro de Berlim para chegar ao sector ocidental da cidade. Nenhuma foi morta ou capturada na direcção inversa.

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O muro foi abaixo, faz hoje vinte anos. O assunto tem, ao longo do dia, suscitado várias reflexões interessantes, como a da Francisco Seixas da Costa. A queda do muro não foi a causa do que viria a suceder nos anos seguintes, mas sim a consequência de décadas de governação dominada por uma elite que se tinha, podemos dizê-lo sem hesitações, acomodado e aburguesado. E corrompido moralmente. Na realidade, a derrota do bloco de leste começa na década de 50 e não trinta anos depois. A derrocada desenha-se com o derrube, processo sumário e vegonhosa execução de Imre Nagy. Repetindo o que ontem escrevi num comentário, no blogue A cinco tons: pensava-se que com o socialismo nasceria o Homem Novo. Bastaria o desejo de transformar a sociedade e sua transformação aconteceria. Não bastou e não aconteceu. E a absoluta estatização da vida levaria - e levou - ao tédio, ao desinteresse e à burocratização do sistema. A absoluta estatização matou também as ambições individuais, esse sal necessário à diferenciação e ao desejo de fazer mais e melhor. A completa burocracia da criação matou as vanguardas, controlou o pensamento e deu corpo a polícias políticas.

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Onde esteve então a vantagem do socialismo e quais as diferenças em relação ao nazismo? A primeira parte da questão liga-se com a segunda. Sem o socialismo de leste teria tardado muito mais a libertação do Terceiro Mundo. Sem a difusão do ideário marxista, a tomada de consciência dos povos colonizados não teria tido a pujança que teve e o sopro libertador que varreu África nos anos 50 e 60 do século XX seria muito mais lento e feito de acordo com o tempo das antigas potências. Estas acabaram, décadas mais tarde, por recuperar o terreno perdido, mas isso é já outra história… E a dinâmica libertadora que, à sombra inspiradora do socialismo, varreu o mundo do pós-guerra não tem paralelo de qualquer tipo nos regimes nazi-fascistas, aos quais a palavra SOLIDARIEDADE foi sempre repulsiva. Dizer e, pior, tentar provar o contrário é uma obscena mentira e uma falácia sem classificação. E nunca será de mais sublinhar que é nas forças de esquerda, com os comunistas à cabeça, que reside a esperança de libertação de vastos sectores do planeta. O laboratório político da América do Sul tem, nesse aspecto particular, ainda muito a dizer.

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Porque sou, no meio de todas as contradições, militante do Partido Comunista Português? Por algumas das razões que me levariam a não o ser num país de leste nos anos 50, 60 ou 70. Antes de mais pela necessidade que há hoje em combater o "establishment". Porque há uma proximidade em relação aos mais desfavorecidos que não vejo noutros partidos. Porque gosto de estar junto do povo, no seio do qual nasci. E porque reconheço no PCP uma ética de actuação e uma modéstia nas atitudes que não vejo também noutros. Estarei sempre deste lado da estrada. Até ao dia da tomada do poder ou até ao momento em que a tentação do pensamento único quiser prevalecer.
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De outros muros, bem menos populares junto da dócil comunicação social que temos, apresentarei alguns dados amanhã.

11 comentários:

Anónimo disse...

Que grande confusão vai nessa cabecinha loira...
Reflecte bem e chega a uma conclusão.
Depois... é só decidir o caminho a percorrer.

Deves ser muito jovem, penso...
Um abraço fraterno

Santiago Macias disse...

46 anos, 5 meses e 7 dias (já fui mais jovem).
Receber "um abraço fraterno" de um anónimo/a que nem faz ideia da minha idade, apesar dela estar publicada no blogue, faz-me lembrar aquele anúncio televisivo dos tempos de antanho: "e se um desconhecido de repente lhe oferecer flores isso é IMPULSE".

Anónimo disse...

Caro Santiago
"Até ao dia da tomada do poder ou até..." Tomada do poder?? onde? por parte de quem? pelo PCP? Está longe e bem longe e tomada de poder, num regime democrático e pluralista como em Portugal, não contém em si esse significado e seria antagónico por ires sentir o totalitarismo, logo seria inevitável, (segundo a tua argumentação) a tua saida.
Não fui eu o anónimo de cima, mas compreendo, ao ler o teu post, que te tenhas baralhado. Abraço

Santiago Macias disse...

Não estou nada baralhado. Mesmo nada.
A lógica é mais que clara. Sou a favor de movimentos libertadores. Até ao momento em que eles cristalizam. Aí é necessário procurar novas soluções.
Para quem me trata por tu conheces-me mal...

Anónimo disse...

Não vou entrar na discussão sobre o muro de Berlim. Cada cabeça sua sentença e não se chegaria a conclusão nennhuma.

Prefiro alertar para outros "muros" que é necesário derrubar urgentemente: o muro do preconceito, o muro da intolerância, o muro da hipocrisia e tantos outros "muros"...

Há uma matéria em discussão, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em que é necessário derrubar "muros" bem altos.

Gostria de ve-lo abordar esta temática e saber a sua opinião.

Po disse...

"O sonho comanda a vida"
e o "poder corrompe o Homem".
Inventemos novos Homens.

Anónimo disse...

Caro Santiago
movimentos libertadores?? o PCP é actualmente algum movimento libertador? não há nada para libertar e o PCP cristalizou.Ou seja, se cristalizou, não devias ter entrado, pois já se encontrava cristalizado, quando da tua entrada. Não é questão de te conhecer bem ou mal é a tua linha de pensamento, aqui expressa, que é contraditória. Peço perdão de ter tratado por tu. Abraço

Anónimo disse...

Vê lá se dás luta nas respostas. Abraço

Rita Custódio disse...

Ontem quando li este texto achei que era dos melhores e mais claros que já li neste blog. E hoje noto alguma confusão nos seus leitores. Às vezes não faz falta procurar demasiado nas entrelinhas e dar muitas voltas às possíveis metáforas. E este é um desses casos. Para mim, o autor não está nada baralhado. A mensagem passou de forma muito evidente e está muito bem escrito. Qual é a dúvida? Uma coisa é não se concordar com o conteúdo, mas que se dê mil voltas quanto a possíveis confusões por parte quem o escreve...não me parece...

Santiago Macias disse...

Respondendo por partes:

1. Em princípio não irei dedicar nenhum texto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não sou a FAVOR como não sou CONTRA os casamentos, sejam eles quais forem. Acho, pura e simplesmente, que quem quer casar deve poder fazê-lo. Sem quaisquer constrangimentos.
2. Podes tratar-me por tu à vontade, ora essa. Continuaremos, tu cá tu lá , discordar.
3. Não dou luta, nem deixo de dar. Tendo às respostas "soft".
4. Obrigado Rita.
5. Viva o PCP!

Anónimo disse...

Venham lá os outros Muros. não só os da sociedade, mas os de Israel/Palestina e Marrocos/Shara,ou outros como USA/Mexico,ou Irlanda do Norte