terça-feira, 10 de novembro de 2009

MUROS MUITO MENOS POPULARES QUE O DE BERLIM

Os muros são, sempre foram, uma forma de nos separar a nós, os "bons", dos outros, os "maus". De nós, que somos a "ordem", dos outros, que são o "caos". A vida da morte, a riqueza da pobreza. Podem multiplicar as oposições sff.
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De baixo para cima:
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O muro de Adriano - construído no século II em Inglaterra, não era uma estrutura defensiva capaz de impedir uma invasão, mas sim uma forma de dissuadir a entrada de pequenos bandos e de imigrantes (já então...) indesejados. Era também um símbolo do poder de Roma.
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O muro entre o México e os Estados Unidos - cerca de 1000 km. de muro. 5.000 (cinco mil) mortes nos últimos 13 anos, segundo a Human Rights National Commission of Mexico. A imprensa ocidental tem sido menos lesta a denunciar este tipo de situações que o foi no caso do muro de Berlim. E, no entanto, do ponto de vista da dignidade do ser humano, não percebo em que é que a situação é menos grave. Provavelmente, é-o bem mais.
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Muro a delimitar uma favela no Rio de Janeiro - a incapacidade total do poder político ante a degradação da situação económica e social. As justificações poderão ser piedosas, mas denotam, antes de mais, falta de resposta adequada.
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Muro na Palestina e em Gaza - vergonha maior do início do século XXI, foi concebido e executado ante o silêncio do ocidente. As justificações são longas e escondem o essencial do problema: a imposição da lei da força e a expulsão dos palestinianos das terras que sempre lhes pertenceram. Todos os dias espero que Obama, essa esperança de coisa nenhuma da nossa esquerda descafeinada chegue a Telavive e brade, alto e bom som: "Mr. Netanyahu, tear down this wall!".
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O fotógrafo em frente do muro é Larry Towell (n. 1953). De origem canadiana, alia a sua grande capacidade de repórter - é membro da mítica agência Magnum - à visão política. No seu cartão profissional lê-se apenas "Larry Towell, ser humano".
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Todos estes muros existem. São testemunho de quem os constrói e oprime os outros. Só me pergunto porque raio se fez tanto alarido à volta do muro de Berlim e se esquecem, todos os dias, estes símbolos da repressão. Porque será?

9 comentários:

Curioso disse...

Hum, quer-me parecer que estes muros não vão dar tanto alarido e comentários como o Muro de Berlim. Uma coisa foi um muro que foi derrubado para acabar com o comunismo e outra coisa é falarmos de muros com o aval dos EUA e da UE!

A ver vamos, caro Santiago, o que bloguistas irão dizer deste post... Estou bastante curioso se haverá tantos oposicionistas como houve com o Muro de Berlim!

Cpts.

Anónimo disse...

...e faltam ainda os muros virtuais... aqueles que com o tratado de Shenghen, fazem que, por exemplo, todo o habitante do continente Africano sinta que está a ultrapasssar as muralhas de um castelo de mágico quando lhe é atribuído um visa para entrar na Europa!
Maria Gantes

Anónimo disse...

Num momento em que o muro de Berlim ocupa todos os noticiários lembrar estes muros é um acto da mais elementar justiça.
São os muros esquecidos, como esquecidos são os direitos humanos dos povos contra quem são feitos.
Estes muros e estes direitos humanos de que ninguém fala são legitimados pela ordem capitalista que procuram preservar. É a mesma ordem que constrói os muros da ignorância, da intolerância,da desinformação e os muros dos condomínios fechados e tantos outros que isolam o ser humano e diminuem o seu sentido de solidariedade e capacidade de reagir contra as novas e velhas formas de opressão.
Obrigado, Santiago, por nos lembrar.

Anónimo disse...

E onde ficou o muro da Coreia?

Anónimo disse...

O Muro de Marrocos com o Sahara Ocidental? Milhões em tendas no deserto, sem poderem aceder às cidades, perante a pacividade de todos, já que existe deliberação da ONU desde 1968 a declarar a Independencia daquele território, já devia ser tempo de "Marrocos dar à costa" abraço

Amarelejando disse...

Muros de vergonha, formas que alguns arranjam para isolar os povos privando-os das suas liberdades, mas no que respeita a liberdades e direitos do homem, há sempre dois pratos e várias medidas. Crescem à margem da Lei, com uma impunidade consentida por alguns, em alguns casos e noutros não. “Há muros que são melhores que outros…”, no caso concreto da Palestina, uma verdadeira vergonha, e um veneno contra a Paz. E o mundo mudo perante este muro.

Cidália Guerreiro

Anónimo disse...

Os muros visiveis ou invisiveis são sempre grandes obstáculos à liberdade.Mas o muro de berlim foi particularmente visado (injustamente diga-se)porque simbolizou um dos períodos mais longos e de maior tensão no mundo, no século passado.Sem concordar com a ideologia que o implementou bem como dos principios que supostamente lhe deram corpo (por parte da RDA), não deixa de ser verdade que o mundo não passou a ser mais pacífico com o desequilibrio criado pelo desaparecimento do chamado "bloco de leste", pois o policiamento dos EUA é apenas num sentido e tem revelado ser muito tendencioso.Mas os povos "de lá da cortina de ferro" tiveram o benefício de poder passar a viver em LIBERDADE o que não deixa de ser importante para eles.Perderam algumas benesses é certo, mas conquistaram o bem mais precioso de qualquer ser (humano ou não).

Anónimo disse...

Santiago não era preciso ficar tão agastado e vir comparar com o que não é comparável.Todos são condenáveis, mas o que se está a festejar por agora é a queda do muro de Berlim (que para alguns católicos já era anunciado por n/ senhora de Fátima)e há que condenar quem o construiu e pior pelas razões que o construiu. Por mim enquanto poder, tudo farei para que não existam muros entre as pessoas, como ainda existem pelo mundo inteiro, cuba, venezuela,Irão, Correia do Norte etc, etc.
Também no Ocidente haverá alguns muros que será possivel remover mas esses serão decerto mais fáceis.
Enquanto tiver na minha memória as imagens do que fez o ditador romeno Ceausescu ao seu povo,lutarei sempre contra todos aqueles que defenderam aquele regime horrendo.

Santiago Macias disse...

Agastado, não. Convicto.