sábado, 31 de julho de 2010

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO CHUMBO

O sistema de avaliações em Portugal, ao nível do secundário, faz-me lembrar aqueles instrutores de condução que fazem os possíveis por fazer passar instruendos completamente incapazes (aquilo que, normalmente, se designa como "marreta"). Vai o instrutor e diz: "agora, primeira, aceleraçãozinha, agora uma segunda, atençããããooo ao carro estacionado, não vale bater, um cheirinho de travões, iiissssoooo, mais um toquezinho no acelerador, agora vamos tentar estacionar, pare, agora marcha-atrás, sem arranhar a caixa, gira, gira, gira tudo, ups, já subiu o passeio, não faz mal, pode dizer-se que está estacionado; tá a ver que é fácil? mais um pouco e está no circuito de Jerez a pedir a meças ao Fernando Alonso".
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As nossas avaliações e o nosso nível de exigência andam pela bitola do instrutor simpático. Ninguém fica a saber nada, mas vai-se progredindo. A nossa Ministra da Educação veio hoje dizer que os chumbos quase nunca são benéficos. Decerto que não. E a OCDE recomenda aos países que reduzam o insucesso e adoptem o modelo nórdico. Não tenho nada contra a ideia, em princípio. Mas duvido que a aplicação dos princípios postos em prática na Escandinávia possam ter sucesso na adaptação à mentalidade mediterrânica. São pequenas coisas que não interessam aos nossos burocratas e aos adoradores de relatórios.
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Continuo a acreditar que uma parte significativa da questão reside, ainda e sempre, em factores como a exigência, o trabalho árduo e a capacidade de se transmitir aos alunos como se devem organizar para poderem estudar melhor. Tudo isto, desgraçadamente, falha de forma clamorosa. E ao chegar a hora da verdade, não há instrutor simpático que nos valha.
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MUSEU DO CÔA

Entra-se no museu por uma fenda, o que até tem graça e lógica. Afinal é do mundo paleolítico que falamos. O Museu do Côa abriu ontem as portas ao público. Já lá vão quase 20 anos desde que a saga começou. O Parque Arqueológico iniciou a sua actividade em 1996, as gravuras foram classificadas Monumento Nacional em 1997 e Património da Humanidade em 1998. João Zilhão, o arqueólogo que defendeu a autenticidade das gravuras, é uma autoridade mundial na matéria. Tem uma prestigiada carreira académica, reconhecida em toda a parte. Menos em Portugal, ao que parece...
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Nunca fui a Foz Côa, porque não gosto de visitar este género de projectos a meio. Com o museu concluído, é hora de planear a deslocação. As gravuras são suficientemente estimulantes, mesmo para quem está a anos-luz da arte paleolítica é fácil que nos entusiasmemos perante o mais antigo conjunto de gravuras ao ar livre do mundo, e o museu parece uma peça de invulgar interesse e qualidade.
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A nota burlesca no meio disto tudo continua a ser dada pelo inefável Mira Amaral. Que continua a rugir contra as gravuras, contra a autenticidade de tudo aquilo, contra os inimigos do puguesso. Podia chatear, mas não. Aquele esbracejar torna-se divertido.
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Informações úteis em:
http://www.igespar.pt/pt/monuments/53/

sexta-feira, 30 de julho de 2010

FÉRIAS - DIA 9: FINIS

Missão cumprida.
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NÃO TIVERAM O QUÊÊÊ???

Depois de anos de investigação, de chinfrineira mediática, de termos de gramar as incompreensíveis explicações do procurador maior Nandinho e da procuradora menor Cândida Almeida dia-sim-dia-não afinal no pasa nada...
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Pior. Algumas diligências não foram feitas porque já não houve tempo. Ao fim de cinco anos não tiveram o quê?
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Em todo o caso leia-se a imprensa dos últimos dias para termos ideia do que ficou por responder e por clarificar. A nota hilariante é dada hoje pelo semanário Sol. Transcrevo (página 5): Já Inocêncio [ex-presidente da Câmara de Alcochete eleito pelo PS], em cujas contas bancárias os investigadores descobriram levantamentos e depósitos em numerário no valor de 350 mil euros cuja origem não se conseguiu apurar, justificou: "sendo empresário, costumava utilizar dinheiro vivo, nunca recorrendo a cartões de débito ou crédito". Até os Fugger, no século XVI, tinham um sistema mais avançado para gestão da sua fazenda. Admito que o argumento seja verdadeiro. Mas que dá vontade de rir lá isso dá.
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quinta-feira, 29 de julho de 2010

FÉRIAS - DIA 8: SILVES

E hoje foi dia de ir a Silves. Acho que é isso o conceito de férias activas. Chateado de areia e creme protector, marquei reunião com a minha colega Maria José. Próximos objectivos: confirmar as datas das conferências que fazem parte do programa da exposição Do Gharb ao Algarve: uma sociedade islâmica no Ocidente e acertar os detalhes finais do catálogo que verá a luz do dia no início de 2011.
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A exposição está patente ao público até Fevereiro de 2011. Depois de todos os boicotes e de todas as dificuldades na sua montagem é nossa intenção levar o programa até ao fim como deve ser.
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TOPONÍMIA CITADINA

A toponímia das cidades é sempre mais bonita e interessante nos bairros antigos que nas urbanizações recentes. Nos bairros antigos há nomes como Rua dos Fanqueiros ou Rua das Tendas. A actividade comercial define boa parte dessa toponímia. Mas não em exclusivo. Há, por isso, nomes engraçados, como Rua da Saudade ou Rua da Triste Feia. Claro que todos os nomes têm uma explicação, quase sempre curiosa, com frequência divertida.
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Nos anos 60 e 70 inventámos, e nisso de inventar ninguém nos leva a palma, aquela coisa extraordinária da Rua Projectada à Avenida Xis. No fundo, uma forma de dizer que a balda urbanística nas áreas metropolitanas era generalizada e que nem sequer se conseguiam organizar as ruas e dar-lhes nomes...
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Vem isto a propósito da recusa da Câmara do Porto em dar o nome de José Saramago a uma das suas artérias. Se querem que vos diga, é assunto que me deixa meio indiferente. Não é estampando o nome dos nossos poetas, escritores e pintores em placas toponímicas que os homenageamos condignamente. E sujeitamo-nos sempre a ouvir (e já me aconteceu em Lisboa, ao pedir para ir para a Rua Cândido de Oliveira, nos Olivais) um taxista dizer onde é que essa merda fica?
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FÉRIAS - DIA 7: ESCORREGAS AQUÁTICOS

OK, OK, OK, já sei que um sítio destes é pouco apropriado para um indivíduo de 47 anos. Mas a verdade é que acho piada aos escorregas aquáticos. O ambiente é peculiar, constituído sobretudo pela english working class. Como diz uma velha amiga minha, que tem, por vezes, crises de snobismo: é o melhor local para travarmos conhecimento com os metalúrgicos de Liverpool e com as cabeleireiras de Manchester. E depois, pergunto eu?
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JOÃO RAMOS

O João Ramos é aquele senhor de camisola castanha no lado direito da fotografia. Nasceu em Santo Amador (concelho de Moura) e é meu camarada. E não só pelo facto de ser militante do PCP. O João vai assumir o lugar de deputado a partir do próximo mês de Setembro. É comunista convicto, foi vereador da Câmara de Moura e é membro da nossa Assembleia Municipal. E é, também, um apaixonado da História.
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Força e convicção nisso, camarada João Ramos!
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Fotografia feita durante a campanha autárquica de 2009

terça-feira, 27 de julho de 2010

FÉRIAS - DIA 6: BRINCANDO AOS ESPIÕES

Só pode ter sido brincadeira ou vontade de chatear o PS. A revista SÁBADO faz uma peça sobre os serviços de espionagem, usando como figura central uma espia, identificada como CP (por razões de segurança...). O jornalista dá depois copiosa informação sobre a espia, incluindo o nome do marido e o título da sua tese de mestrado: A mulher e o amor no Egipto Antigo. Vá lá, sejam cuscas como eu e saibam rapidamente o nome da senhora e a secção do PS a que pertence. Há também fotografia disponível na net. Mas, sshhh, não digam a ninguém...
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OPERA BUFFA

Júlio César foi apunhalado no Senado, Henrique IV de França teve a mesma sorte, Murad I morreu em plena batalha. O califa Umar ibn Abd al-Aziz foi envenenado. Até mesmo Félix Faure teve uma morte com uma certa grandiosidade, ao finar-se nos braços da amante. Dele diria Clemenceau: il voulait être César, il ne fut que Pompée (a tradução é dispensável...).
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À boa e branda maneira portuguesa, tudo se passa sem grandeza nem clamor. O fim do fascismo começou a desenhar-se com toda a clareza devido a um problema de carpintaria. A cadeira de lona onde Salazar se sentou quebrou-se, causando a queda do velho ditador, o que lhe provocou um hematoma no cérebro. Foi o princípio do fim. Oliveira Salazar faleceu faz hoje 40 anos.
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Se quisesse ser chocarreiro poderia caracterizar assim o fim de uma época em Portugal. Infelizmente, algumas das análises "sérias" que por aí andam não têm mais seriedade que a caricatura da carpintaria.
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Leia-se o texto do doutor Rui Ramos no Expresso de sábado: [o Estado Novo] deixou morrer três dezenas de anarquistas e comunistas no campo do Tarrafal, em Cabo Verde, entre 1936 e 1945. Perseguiu e exilou o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, em 1958-1959. E pelo menos encobriu ou não investigou o assassínio do general Humberto Delgado por agentes da PIDE em 1965.
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Deixou morrer? Também terá deixado morrer Alex e Dias Coelho? O nacional-pachequismo está a fazer o seu caminho. E o diácono Remédios é o modelo da nova elite vigente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

FÉRIAS - DIA 5: O MEU COLCHÃO DE PRAIA

O meu colchão de praia é, já o disse, quase do tamanho do iate do rei Juan Carlos I. O mais interessante no meu iate, perdão, no meu colchão, são as normas de segurança escritas em 28 (vinte e oito) idiomas.
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O colchão é Made in China. O Celeste Império manda na globalização. Quand la Chine s'éveillera le monde tremblera disse outrora alguém que sabia de estratégia... Esse despertar já ocorreu há várias décadas. É coisa que se vê agora com toda a nitidez.
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MONTE GORDO

Durante vários anos Francisco Godinho tomou para mim a forma de um quase-Deus. Primeiro, íamos ao médico, a praia era coisa séria, com direito a consulta. Depois éramos mandados ao dispensário, expliquemos aos mais novos que é aquele edíficio onde esteve o posto de turismo e agora é a universidade sénior. O enfermeiro, o sr. Godinho, haveria de entrar daí a pouco, fazendo-se anunciar com umas botas de couro que chiavam imenso. Mandava-me entrar e punha-me um adesivo nas costas, que tirava dois ou três dias depoism enquanto sentenciava para o João “não há problema, podes levar o rapaz à praia”. O misterioso significado do adesivo mantém-se como um dos segredos nunca desvendados da infância. Era, contudo, aquele pedacinho de coisa nenhuma que me colavam entre as omoplatas que decidia se sim ou não poderia dar uso ao balde cor de laranja com peixinhos, objecto indispensável à construção dos mais belos castelos de areia da costa algarvia.

Por isso, atrevia-me a um cumprimento respeitoso ao sr. Godinho, quando ele passava no volkswagen branco onde, imaginava eu, iam malas cheias de adesivos dos quais dependia a felicidade de outros proprietários de baldes cor de laranja com peixinhos.

Monte Gordo estava para lá dos montes, à minha espera. Com as enormes bolas da Nívea, com o Café Trindade no largo e com um senhor de chapéu mexicano que apregoava as bolas de Berlim em tom mariachi, com uns guinchos que faziam rir a praia toda. A praia parecia enorme, com um areal que nunca mais acabava, os barcos dos pescadores lá muito longe e uma plataforma para mergulhos a vários quilómetros da costa. A escala métrica aos cinco anos é diferente da dos adultos e muitos anos depois ficamos desapontados quando vemos o mundo encolher, levando atrás de si o gigantismo dos tempos idos, quando os dias eram maiores e a felicidade se resumia a um sorvete duas vezes por semana e a um passeio de carroça a Vila Real de Santo António (“vamos levar o triplo do tempo”, desesperava-se o João, como se o triplo do tempo pudesse ter tradução em cincoanês).
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Mas o melhor de Monte Gordo talvez estivesse muito para lá do areal, nas Hortas, onde o chefe da estação, outro quase-Deus, de calças vincadas, boné branco e ar aprumado, mandava nos combóios. Quase rezava para que chegasse alguma tia ou prima ou quem quer que fosse só para ir à estação ver o homem da farda mandar no mundo. O combóio só saía quando ele muito bem entendia, por artes mágicas de uma bandeira vermelha e de um apito. "Quando for grande, vou ser chefe de estação", arrisquei, vencendo a vergonha. Senti-me transparente, quando o ouvi dizer "vais ter que estudar muito", desaparecendo de ar sério no gabinete escuro onde guardava a mágica bandeira vermelha.
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A estação de Monte Gordo já não existe, condenada pelos carros que hoje entopem a rua da aldeia outrora tranquila. A carreira de chefe de estação seria esquecida. Muitas das ilusões desses dias parecem ter-se esfumado para todo o sempre. Até ao outro dia, quando a praia me parecia ridiculamente pequena e os sete anos da Luísa me perguntaram "esta praia tem milhares de quilómetros, não tem?". Claro que tem, é tudo uma questão da métrica da idade e da ilusão de um momento que parece não ter fim.
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Crónica publicada em A Planície de 1 de Setembro de 2004. Quem serão as senhoras do colchão, com aquelas toucas que parecem ter inspirado os figurinistas do filme Marte ataca?

domingo, 25 de julho de 2010

FÉRIAS - DIA 4: THE ROAD TO CACELA

Cacela Velha está à esquerda, mais ou menos a meio da imagem. As praias - ó, as praias - das multidões estão do lado direito, no meio da baía.
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Das praias das multidões a Cacela Velha são, pelo areal, uns quatro quilómetros. Ida e volta dá oito. São mesmo. Quase todos os dias faço o percurso. Ajuda a passar o tempo.
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Cacela Velha resiste à fúria urbanizadora. Daqui a dias dedicarei umas linhas a este sítio e ao seu poeta, Ibn Darraj al-Qastalli.
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FADO MERIDIONAL

A imagem da fotografia podia ser na Casbah de Argel. Mas é em Marselha, algures nas proximidades do Velho Porto.
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A evocação veio através do livro que ainda estou a ler. Numa das reportagens, datada de 1974, Bruce Chatwin faz um percurso entre as duas cidades. O motivo? O homícido cometido por Salah Bougrine, um emigrante argelino, e a fúria racista que o acontecimento causou.
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Palavras premonitórias:
"Toulon tem de continuar a ser Toulon - dizia o presidente da Câmara dessa cidade". Décadas mais tarde Toulon cairia nos braços do Front National.
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E dois erros de análise, de leitura amarga:
1. Quando avalia, de modo francamente optimista, o consulado de Boummedienne e quando diz "a nova Argélia encontra-se em mãos capazes". Estávamos ainda longe dos sobressaltos da década de 80 e do programa político-religioso do FIS começar a fazer o seu caminho. Mas o verdadeiro drama da Argélia já se desenhava ao longe.
2. Quando dá ao esquivo Gaston Deferre o atributo de ingénuo. Ingénuo? Terei de contar esta à minha amiga marselhesa Anne-Marie Lapillonne... Que, decerto, já terá lido o livro de Chatwin.
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sábado, 24 de julho de 2010

FÉRIAS - DIA 3: O REI E EU

Juan Carlos de España e eu estamos em sintonia. Este ano teremos menos dias de férias. De 15 dias passei para 10. Ele, solidário com as medidas de austeridade, de dois meses de vacaciones passou para um. Pobrecillo...
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Aqui o vemos aos comandos do seu iate, que é quase do tamanho do meu colchão de praia.
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31 DA ARMADA EM NOVA IORQUE

Um indivíduo disfarçado de Darth Vader assaltou uma dependência bancária em Long Island (Nova Iorque). Os jornais, lamentavelmente, não dizem se chegou a ser desfraldada a bandeira da monarquia.
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PACHECO, O MEMORIOSO

Havia aprendido sem esforço o inglês, o francês, o português, o latim. Suspeito, contudo, que não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes, quase imediatos.
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Uma recente, e espantosa, afirmação de Pacheco Pereira no seu blogue fez-me recordar um célebre conto de Jorge Luis Borges, Funes, el memorioso, publicado em 1944 no livro Ficciones e do qual acabo de citar um excerto. Funes recordava-se de tudo mas não era capaz de processar, como agora dizemos, a informação. Foi Tiago Mota Saraiva quem chamou a atenção (ver aqui) para a barbaridade escrita por PP, e que passo a citar: o único assassinato político que merece ser classificado como tal no Estado Novo foi o de Humberto Delgado, embora haja ainda muitas obscuridades quanto ao que se passou. Houve gente morta pela PIDE, nos campos de concentração, nas cadeias, sob tortura, em confrontos de rua, mas não existem provas de que se tratava de assassinatos deliberados.
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Que PP não tem assim grande apreço pela luta do PCP contra o fascismo já se sabia. Que fosse ao ponto de negar os assassinatos da PIDE (ver uma elaborada lista aqui) passa o limiar da estupidez. Escrever o que PP escreveu só tem uma explicação objectiva: desonestidade intelectual. Por este andar, PP arrisca-se a ser, mais que o memorioso, o Funès da nossa historiografia contemporânea...
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

ÁGUA NO CONCELHO DE MOURA - RELATO FACTUAL

Teve ontem lugar, em Safara, uma reunião entre a empresa responsável pela captação da água e pela sua distribuição em alta e responsáveis autárquicos do concelho de Moura. O encontro destinou-se a fazer um ponto de situação sobre os projectos em curso, sobre os problemas existentes e sobre as perspectivas futuras de solução para as questões do abastecimento de água.
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PRESENTES
Técnicos da Águas Públicas do Alentejo
Câmara Municipal de Moura
Junta de Freguesia da Póvoa de S. Miguel
Junta de Freguesia de Safara
Junta de Freguesia de Santo Amador
Junta de Freguesia de Santo Aleixo da Restauração
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FALTOU, embora tenha confirmado a presença
Junta de Freguesia de Amareleja
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DEPOIS DE BELMIRO, CHATWIN

Nada mais a propósito, depois das notícias de ontem que uma passagem do livro O que faço eu aqui?, de Bruce Chatwin. Pouco depois de retomar a leitura de uma narrativa absolutamente excepcional intitulada O mundo de Rock, encontro esta citação do Tao-te-ching de Lao-tze:
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Como é que os grandes rios
e os mares
impuseram o seu domínio
aos milhares de rios menores?
Sendo mais vis que eles?
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O que faço eu aqui? é, também, um livro sobre a solidão. Não parece mas é.
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FÉRIAS - DIA 2: A COSTA DO MOSQUITO

Manter um blogue também implica alguma persistência. Sobretudo em férias.
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Vila Real de Santo António está tomada de assalto pelos mosquitos. A bicha à porta da farmácia hoje de manhã dizia bem do estado da coisa. E vir à noite para a marginal, onde há rede wireless, é um comportamento de risco. Uma vaga de messerchmidts ataca sem cessar, pondo a resistência dos internautas à prova. Dois dias já lá vão. Ainda faltam sete.
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quinta-feira, 22 de julho de 2010

A VITÓRIA DO BELMIRISMO

A conversa é sempre a mesma: a facilidade de acesso aos bens de consumo, o direito da livre escolha, as vantagens para os consumidores, etc. etc.
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Na verdade, só o belmirismo fica a ganhar. Argumenta-se com a criação de postos de trabalho. Gostava de ver a folha de vencimentos dos novos funcionários dos hipers. E gostava de saber que lucro acrescido para os super-merceeiros representa anualmente esta cedência do governo.
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A CGTP está contra, a UGT está contra, a Igreja está contra. Pouco importa. Socrates rendeu-se, uma vez mais, aos argumentos dos poderosos. A ideia com que que ficamos é que ele já não sabe bem que mais fazer nem que há-de fazer...
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FÉRIAS - DIA 1: O CARRO

As mulheres de uma certa geração preferem, na hora de comprar carro, uma viatura do tamanho do smart mas com uma bagageira de um tir. É um problema sem resolução nem fim à vista.
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Ir de férias, ou de fim-de-semana, implica uma logística complexíssima. Uma simples ida à praia obriga ao transporte de galochas e impermeáveis ("pode chover"), de lanternas ("pode faltar a luz") ou de um kit de primeiros socorros ("nunca se sabe").
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Na bagageira, acho que vi, hoje de manhã, o meu capote alentejano. Alguém me jurou que não, mas não estou convencido...
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quarta-feira, 21 de julho de 2010

MÉRIDA - III: MUSEO NACIONAL DE ARTE ROMANO

A primeira impressão que o museu me causou foi de uma certa frieza. Algo entre o inóspito e o fora de escala. Uma apreciação mais que apressada e mais que injusta. A grandiosidade da arte romana precisa de edifícios com aquela escala. E a riqueza do passado da antiga capital da Lusitânia precisa de um museu com aquele espaço.
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O projecto de Rafael Moneo (n. 1937) levou cinco anos a ser concretizado, até à inauguração, em 1986. Tenho visitado o local com regularidade, tirando partido das mudanças de luz ao longo do dia e segundo as diferentes estações do ano. Posso dizer que a sua arquitectura primeiro estranha-se, depois entranha-se.
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O uso intensivo do tijolo no MNAR leva-me a contar uma pequena história: quando se preparava uma determinada exposição o responsável pela museografia, ao querer justificar a opção dos plintos em tijolo a partir do exemplo colhido numa das secções do Musée de Cluny, teve um delicioso lapsus linguæ ao dizer de forma enfática é das melhores coisas que vemos em Clichy. Aquilo que se vê em Clichy não é lá grande coisa, mas fiquei sempre com a suspeita que o museógrafo não andara apenas por Cluny...
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Site do Museu Nacional de Arte Romano: http://museoarteromano.mcu.es/

terça-feira, 20 de julho de 2010

A ARTE DO ESTATUTO

Digitalizei a fotografia a partir de um jornal. O senhor de ar descontraído chama-se Ridley Scott (n. 1937) e é um mediano realizador de cinema. Não é a sua profissão, contudo, que interessa, mas sim o facto de Scott se apoiar, com ar proprietário, num capitel coríntio.
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A arte dá estatuto. As peças arqueológicas também. Quando, há uns anos (1993/94), comecei a leccionar Arqueologia Medieval levava para as aulas recortes de revistas mundanas (a Hola! e coisas do género), facto que provocava gáudio nos alunos. Em muitas fotografias viam-se cerâmicas áticas, estatuetas etruscas, primitivos flamengos, servindo de décor à casa de astros maiores e menores da galáxia de Hollywood. Fenómenos e fascínios mais fáceis de entender num Novo Mundo que não conheceu o mesmo tipo de percurso histórico que identificamos noutros continentes.
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Ouçamos o grande Vitrúvio (séc. I a.C.) a propósito da ordem coríntia:
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Relação da ordem coríntia com a gracilidade da donzela
No que respeita à terceira [Vitrúvio referira-se antes ás ordens dórica e jónica], que se diz coríntia, apresenta-se com a delicadeza virginal, porque as donzelas, mercê da sua tenra idade, possuem uma configuração de membros mais grácil e conseguem no adorno os mais belos efeitos.
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A isto se chama poesia, e já que a mudez da pedra não faria supor tão apaixonada descrição.

DO GHARB AO ALGARVE

Aqui ficam duas imagens da exposição Do Gharb ao Algarve: uma sociedade islâmica no Ocidente, inaugurada na passada sexta-feira. Ao longo dos próximos meses, e até Fevereiro de 2011, irei periodicamente dando informações sobre as actividades que terão a exposição como ponto de partida.
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Do Gharb ao Algarve integra um ciclo de exposições, promovido pela Rede de Museus do Algarve sob o título Algarve: do reino à região.
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Vejam-se os seguintes links:


http://www.cultalg.pt/EspacosCulturais/index.html?subpagina=espacos.html&dominio=200011&dopesq=Mostrar+Espacos


http://press.algarvecentral.net/?p=5674

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A Câmara Municipal de Silves tem um extenso destaque sobre Do Gharb ao Algarve, para o qual chamo a vossa atenção:


http://www.cm-silves.pt/portal_autarquico/silves/v_pt-PT/pagina_inicial/destaques/gharb+ao+algarve.htm

segunda-feira, 19 de julho de 2010

AO SOM DE WAGNER

Muito deste filme tem a ver com O coração das trevas, de Joseph Conrad. Tanto o livro como o filme apelam a um estranho onirismo da procura do desconhecido. Tal como El sur, de Borges. A contenção de Conrad tem um contraponto espantoso no barroquismo sem medida de Coppola. Esta cena do filme, que tenho entre os melhores da História do Cinema, é um verdadeiro achado. Coppola encena um ataque a uma aldeia vietcong ao som de um excerto da ópera A valquíria (1870). Não houve truques de computador nem artifícios de montagem. A cena levou semanas a filmar. Apocalypse now marcou o apogeu e o início de um certo ocaso de Coppola. Nos últimos 30 anos fez apenas 4 grandes filmes...
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Vale a pena ler a aventura de Conrad, embora a placidez europeia torne pouco compreensível o tom de mistério de O coração das trevas. É melhor ler o livro em Bissau que em Monte Gordo, mas à falta de melhor...
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Apocalypse now custa cerca de 15 euros. O coração das trevas menos de 14. Vejam em www.wook.pt

sábado, 17 de julho de 2010

SEBASTIAN CASTELLA

Em antecipação: 3 de Agosto é o dia de ir ver Sebastian Castella a Huelva. Tourear é isto.
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NÃO LEITORES

Uma veterana professora contou-me, há dias, o que é o trabalho com as turmas de não-leitores. Ou seja, o que é acompanhar a "evolução" de alunos do ensino básico que progridem até ao 5º ou ao 6º ano sem saberem ler. Os educocratas continuam uma lógica de eficaz masturbação mental: há menos insucesso, há mais progressão e as crianças, mesmo não sabendo ler, têm outras competências.
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Quais?, perguntei à veterana professora.
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Sabem atar os cordões dos sapatos, foi a amarga resposta.
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Fiquei esclarecido. O nível e a qualidade de escrita de muitos dos meus alunos universitários passaram a ter outro enquadramento.
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A VIDA DOS OUTROS

A revista do Diário de Notícias do passado domingo trazia uma reportagem que podemos, no mínimo, classificar de invulgar. Um ex-fotógrafo reconverteu o seu negócio e passou a adquirir colecções de imagens particulares. Viúvos sem família, pessoas sem descendência, emigrantes sem memória de onde param os seus, todos eles deixam um dia aqueles álbuns cheios de fotografias a quem ninguém sabe o que fazer. E, depois, ninguém sabe quem são aquelas pessoas sobre papel nem que vida tiveram.
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Nos sótãos das nossas casas há malas cheias de fotografias assim. De parentes cujos nomes se recordam com dificuldade. De colegas de escola que não voltámos a ver e que talvez, certamente, já não reconheceríamos volvidos 30 ou 40 anos. Sempre gostei de fazer essa arqueologia sentimental e de me rever, e à família e aos amigos, tantos anos passados. O fotógrafo nova-iorquino viu nesse mundo privado e secreto uma oportunidade de negócio. E pressentiu também nessa sua nova actividade um enorme peso. O de transportar consigo a memória de gerações. Arquivista malgré lui, estão à sua guarda milhares de anos de histórias pessoais.
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Quando, no Verão passado, a Kodak deixou de produzir os slides kodachrome ficou-me uma dúvida. Entretanto tornada em certeza. De que serão feitas as memórias das gerações futuras? No dia em que deixar de haver rolos fotográficos - e estamos já muito perto disso, eu que o diga com a cada vez mais difícil compra dos TX 400 - e em que as pessoas deixarem de encomendar ampliações, como irão arrumar a sua vida passada? As imagens digitais empilham-se em DVD, CD, em pen's e, com frequência, nunca daí passam ou são impressas em suportes de durabilidade reduzida.
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É certo que as nossas histórias fenecerão um dia e os registos feitos em dia de festa poderão ir para às mãos de um negociante nova-iorquino. Mas também é verdade que há sempre um punhado de imagens de que gostamos e que veneramos por qualquer motivo. E que conservamos, às vezes contra toda a lógica. Uma amiga minha manteve numa estante, meses a fio, a foto de um antigo namorado, ante o ar perplexo e intrigado da nova conquista. Ainda hoje me rio disso e me pergunto o que terá levado o moço a ficar calado perante a afronta...
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A passagem do tempo tem esses e outros mistérios. Há anos atrás ouvi, durante longos minutos, um angustiado Mariano Piçarra, que estava preocupado com os seus bem amados rolos a preto e branco. Os métodos de fabrico e de revelação só garantiam a integridade dos rolos por uns meros 120 anos. E depois?, preocupava-se o Mariano, seguramente na expectativa de ainda por aqui andar no século XXII. Não tinha, nem tenho resposta. O próprio Mariano me elucidou há uns meses, quando me anunciou que se tinha convertido ao digital. Está tudo dito, e a vida e a memória, dos outros e a nossa, não terão um dia qualquer registo ou qualquer memória. Bem vistas as coisas, que diferença isso faz?
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Crónica publicada em A Planície, em 1 de Outubro de 2009.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

IGREJA DE SÃO FRANCISCO - COMEÇAM AS OBRAS DE REABILITAÇÃO

E mais esta.
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Tiveram hoje início as obras de reabilitação da Igreja de S. Francisco, em Moura. Os trabalhos estão orçados em mais 400.000 euros e representam mais um passo na conservação do nosso património histórico.
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Trata-se de uma área a que se tem dado particular atenção e que será intensificada através da concretização do projectos como as Parcerias para a Regeneração Urbana e da Rede Património.
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Em breve teremos mais notícias e mais acções. E,tal como prometido, em final de Outubro será feito um balanço do primeiro ano de mandato.
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terça-feira, 13 de julho de 2010

DO GHARB AO ALGARVE: UMA SOCIEDADE ISLÂMICA NO OCIDENTE

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A exposição Do Gharb ao Algarve: uma sociedade islâmica no Ocidente é inaugurada na próxima sexta-feira, dia 16 de Julho, pelas 19.30, na Casa da Cultura Islâmica e Mediterrânica de Silves.
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A mostra, da qual sou comissário científico, reúne mais de centena e meia de peças, provenientes de cerca de vinte instituições nacionais, e pretende dar uma visão do que foi a islamização na região algarvia.

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A exposição, que se integra na iniciativa Algarve - do reino à região, promovida pela Rede de Museus do Algarve, compreende quatro espaços complementares:


1) Uma área expositiva sobre o Algarve no período islâmico;


2) Uma sala sobre o legado mediterrânico no Algarve, que lança pontes de contacto com o presente;


3) Um espaço onde, mensalmente, serão expostas peças provenientes de museus fora da região algarvia;


4) Uma área de animação onde, entre outras actividades, será feita a projecção do documentário sobre o rei-poeta Almutâmide, da autoria de Maria Júlia Fernandes.

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Integram ainda a exposição o edifício do Museu Municipal, onde se encontram patentes trabalhos fotográficos de Mariano Piçarra, o espaço do castelo e o núcleo arqueológico da Biblioteca Municipal.

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Colóquios e debates fazem ainda parte desta iniciativa, que se prolonga até Fevereiro de 2011 e que é promovida e organizada pela Câmara Municipal de Silves.






segunda-feira, 12 de julho de 2010

JERÓNIMO DE SOUSA - AMANHÃ EM MOURA

O secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, desloca-se amanhã a Moura. Está previsto um encontro com a população, pelas 18.30, no Largo General Humberto Delgado.
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MOURA - APROVADO PLANO DE URBANIZAÇÃO DA NOVA ZONA INDUSTRIAL

Na realidade a nova zona industrial, uma vasta área entre as estradas de Brinches e de Pias, corresponde à UP 11 da planta de ordenamento do Plano Director Municipal. O Plano de Urbanização foi aprovado na sessão da Assembleia Municipal da passada sexta-feira.
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Contra alguns ventos e algumas marés vamos avançando. A UP 11 começa, a passo firme, a tomar forma. Está lá a fábrica de painéis solares, está o Centro de Acolhimento a Micro-Empresas de Moura, em breve estarão o edifício-sede e os laboratórios da Lógica. Começam a dar frutos o trabalho realizado e a persistência em torno do vasto projecto das energias. Os investimentos do Fundo Social estão à vista de todos e são sobretudo um ponto de partida para novos projectos.
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