segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

POR CAUSA DA LÍBIA

A Líbia agita-se, o país está mergulhado na desordem e a situação é preocupante. Khaddafi, o desmiolado que fez render o seu estilo junto da esquerda europeia por via de uma permanente provocação aos Estados Unidos, não se aguentará muito mais.
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Vamos em crescendo. A Tunísia está ao nosso nível, o da razoável irrelevância. Com o Egito já não é bem assim. É um dos grande da mundo árabe, protagonizou a aventura da RAU, e não deixa de sonhar com um plano de liderança na cena internacional. A Líbia é uma caso sério. Tem petróleo e, com o seu jogo mais que dúbio, serviu de tampão à emigração subsaariana. São dois países num só, daí que a revolta tenha estalado em Benghazi, do outro lado do Golfo de Sirta. E tem uma juventude sedenta de viver.
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Dentro de dias deixarei aqui um relato de uma breve passagem pela Líbia, em 2008.
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Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?
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A pergunta de António Gedeão faria sentido para ele. Mas não para os egípcios ou para os líbios, que precisam de viver agora. Não imagino o que se perguntaria e que desespero sentiria a mulher afegã que James Nachtwey (n. 1948) fotografou.
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James Nachtwey é um nome maior da reportagem. Veja-se o seu site, http://www.jamesnachtwey.com/, que abre com esta declaração de guerra "I have been a witness, and these pictures are my testimony. The events I have recorded should not be forgotten and must not be repeated."

3 comentários:

amarelejando disse...

A informação que está a passar na Al Jazeera é muito preocupante, o povo líbio está a sofrer um autêntico massacre.

Lefrontier disse...

Concordo que o Egipto é o "gigante" que é preciso ter os olhos postos: quem sabe? pode até ser que no futuro venha a substituir Israel como o aliado preferencial dos EUA na região.... Tal perspectiva não deve deixar de ser preocupante para Israel - se o Egipto "virar" fundamentalista ficam com um barril de pólvora à porta; senão, arriscam-se a perder o seu estatuto de país mais ocidentalizado (leia-se pró-americano) na zona do Suez e do Sinai. Vivem-se tempos muito interessantes no Médio Oriente - o que não é necessariamente muito agradável para os autóctones...

Anónimo disse...

comment évoquer les des Thermopyles sans évoquer l'union des grecs face au tiran perse ?
la solidarité des hommes libres face aux barbares
En d'autres temps, y compris sous la révolution française, les démocraties auraient volé au secours d'un peuple assassiné par un tiran abject qui fait tirer des militaires sur le peuple désarmé
ce sont des jours de honte pour les démocraties, non seulement nous enrichissons les pires dictatures
maintenant nous les laissons exterminer ceux qui demandent la liberté
sous nos yeux
nous sommes indignes