domingo, 30 de outubro de 2011

MIGUEL HERNÁNDEZ


En el mar halla el agua su paraíso ansiado
y el sudor su horizonte, su fragor, su plumaje.
El sudor es un árbol desbordante y salado,
un voraz oleaje.

Llega desde la edad del mundo más remota
a ofrecer a la tierra su copa sacudida,
a sustentar la sed y la sal gota a gota,
a iluminar la vida.

Hijo del movimiento, primo del sol, hermano
de la lágrima, deja rodando por las eras,
del abril al octubre, del invierno al verano,
áureas enredaderas.

Cuando los campesinos van por la madrugada
a favor de la esteva removiendo el reposo,
se visten una blusa silenciosa y dorada
de sudor silencioso.

Vestidura de oro de los trabajadores,
adorno de las manos como de las pupilas.
Por la atmósfera esparce sus fecundos olores
una lluvia de axilas.

El sabor de la tierra se enriquece y madura:
caen los copos del llanto laborioso y oliente,
maná de los varones y de la agricultura,
bebida de mi frente.

Los que no habéis sudado jamás, los que andáis yertos
en el ocio sin brazos, sin música, sin poros,
no usaréis la corona de los poros abiertos
ni el poder de los toros.

Viviréis maloliendo, moriréis apagados:
la encendida hermosura reside en los talones
de los cuerpos que mueven sus miembros trabajados
como constelaciones.

Entregad al trabajo, compañeros, las frentes:
que el sudor, con su espada de sabrosos cristales,
con sus lentos diluvios, os hará transparentes,
venturosos, iguales.

Pode um poema ser dedicado ao suor? Pode, se o seu autor for Miguel Hernández (1910-1942). Poeta de grande sentido telúrico e de profundo lirismo. Podia aqui recordar o seu texto sobre os aceituneros (bela palavra, sem tradução direta em português), mas já foi alvo de uma publicação no blogue (v. aqui). Hoje, em Moura foi dia de evocar Miguel Hernández, e uma forma da Câmara Municipal se associar ao final das comemorações do centenário do nascimento do poeta.

Foi no nosso concelho que Miguel Hernández foi detido pela Guarda, para depois ser devolvido aos franquistas. Morreu em 1942, vítima de tuberculose. Tinha 32 anos.

A esta homenagem juntar-se-á, no próximo ano, a inauguração do jardim das oliveiras (v. fotografia aérea), a que, por proposta que tive o prazer de subscrever, a Câmara Municipal de Moura deu o nome de Jardim Miguel Hernández.

O autor do projeto do jardim foi Francisco Caldeira Cabral, a fotografia está no blogue http://portugalfotografiaaerea.blogspot.com/

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma justa homenagem da cidade esse Jardim das Oliveiras.O poeta representa todos aqueles refugiados que, nesta terra, procuravam escapar às tropas nacionalistas de Franco.Os mais velhos relatam que a praça de toiros da cidade encheu-se de refugiados espanhóis,entre os quais mulheres e crianças.Toda esse gente foi obrigada a arrastar-se da praça de toiros e escoltada pela guarda e militares,em direcção à estação de caminhos de Ferro; metida em comboio especial e conduzida à fronteira acabou por ser entregue às tropas de Franco.Certamente que muitos foram logo ali passados pelas armas,como era prática desses tempos.A cidade ficou devedora a toda essa gente que aqui procurou a paz e que acabou na mão dos seus verdugos.Se houver registo dos seus nomes nos arquivos da autarquia, uma placa com essas identidades seria o culminar dessa justa homenagem.