quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FEIRA DA VINHA E DO VINHO - EDIÇÃO 10

Destino: Amareleja. Não só hoje, mas também para a semana, de 8 a 11. Com a devida antecipação, aqui fica o programa da Feira da Vinha e do Vinho. Organização conjunta da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia.


Veja-se também http://www.feirasdeamareleja.pt



Dia 08 (Quinta-Feira)

19.00 H -
Sessão de Inauguração da Feira
19.45 H -
Visita aos Stands
21.00 H -
Actuação de “Dr. José Pepo” com o seu acordeão
21.30 H -
Actuação de “Ana Arrebentinha”  
22.00 H -
Actuação do Grupo Coral Masculino da Casa do Povo de Amareleja
23.00 H -
Actuação da Banda da Sociedade Filarmónica União Musical Amarelejense
Dia 09 (Sexta-Feira)

18.00 H -
Actuação de “Jorge Ferreira” – pela 1.ª Vez a Solo
19.00 H -
Actuação do Grupo Coral Feminino da Casa do Povo de Amareleja “Espigas Douradas”
  19.30 H -
Actuação do Grupo Coral “Os Restauradores” St. Aleixo da Restauração
20.30 H -
Actuação do fadista “José da Câmara” e os seus guitarristas
22.00 H -
Actuação da Banda “Ballantines”
Dia 10 (Sábado)

12.00 H às 14.00 H -  
Rota dos Petiscos com o Grupo Coral da Sociedade Recreativa Amarelejense (pelas ruas da Freguesia com visita a algumas adegas)
12.00 H às 13.30 H 
e das
15.30 H às 17.00 H

Actuação do Grupo de Concertinas “Os Alegres de Castanheira de Pêra”
17.00 H -
Actuação do Grupo Coral Etnográfico da Casa do Povo de Serpa
  18.00 H -
Actuação da Tuna da Escola Superior de Enfermagem de Beja
20.00 H -
Actuação do Grupo “Banza”
21.30 H -
Actuação da Tuna da Escola Superior de Enfermagem de Beja
22.00 H -
Actuação do Grupo “70 Watts”
Dia 11 (Domingo)

14.00 H -
Actuação do Grupo “Rumbo Flamenco de Barrancos”
  15.00 H -
Actuação do Grupo Coral Feminino “Sol da Vida” de St.º Aleixo da Restauração
16.00 H -
Gravação do Programa de Rádio da Antena 3 - "Prova Oral", apresentado por Fernando Alvim e Xana Alves (com a participação de “Ana Arrebentinha”; “J Mário”; e “H Pereira”)
17.00 H -
Actuação “Juan Rumbita” – Música Espanhola
18.30 H -
Actuação do Grupo “ADIAFA” – Música Popular Portuguesa


Horário da Feira:

Quinta-Feira: 19.00 – 24.00 Horas
Sexta-Feira e Sábado: 10.30 – 24.00 Horas
Domingo: 10.30 – 20.00 Horas

VINTE ANOS DEPOIS

Eram cerca das 22.30 da última quinta-feira de Novembro de 1991. O telefone do Campo Arqueológico tocou. Às voltas com um texto, cuja entrega se atrasara, trabalhava no único computador existente na instituição. Levantei o auscultador. Reconheci, do outro lado, a voz grave do Prof. José Mattoso "sabes onde está o Cláudio?". Tinha ido para Córdova e ninguém sabia se já regressara. Não havia telemóveis. Tranquilizei-o "professor, se é por causa do texto fica terminado depois de amanhã". Que não, não era isso, tinha mesmo de falar com ele.

Só no dia seguinte quando um descontraído Cláudio Torres entrou pelo Campo Arqueológico e me atirou um "se eu te disser que sou eu o Prémio Pessoa deste ano acreditas?" é que percebi o significado da conversa da noite anterior. O telefonema fora feito de Seteais, onde o júri estava reunido.

Já lá vão vinte anos. À tua, Cláudio!


O grupo mertolense no jantar de entrega do prémio, numa fotografia colocada há dias no facebook pela minha amiga Guilhermina. O senhor de barbas é o antropólogo Carlos Pedro. Depois, no sentido dos ponteiros do relógio: o autor do blogue, num certo estilo Harry Potter; Abdallah Khawli; Miguel Rego; Manuel Passinhas; Jorge Revez; Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barros; Virgílio Lopes; Rui Mateus.


Depois do jantar cantámos uma moda. Um alto quadro da Unisys aplaudiu-nos, entusiasmado. Foi a única vez que alguém me aplaudiu por "cantar" (ok, eu estava num grupo, mas mesmo assim...). Resolvi nunca mais repetir.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

MUSEU DE MOURA - Nº 1: O TESOURO DO ÁLAMO

Agora que as obras de reabilitação do Matadouro se iniciam, e ao mesmo tempo que os-especialistas-do-costume começam a comentar o que se vai fazer (a autarquia paga apenas 15% do investimento, mas isso é um detalhe sem interesse nenhum), aqui se inicia mais uma série de dez posts sobre peças de excecional qualidade a exibir no local. A escolha é pessoal e nada tem a ver com quaisquer programas museológicos a desenvolver para o Matadouro.

O turismo cultural - vertente que se junta a outras (de natureza e cinegética, nomeadamente) - é uma área de futuro. O Museu Guarnacci, em Volterra, está "construído" em torno de uma peça. Não tendo nós, em Moura, nenhuma peça de importância mundial possuimos um conjuntos de materiais que muitos dos grandes museus não desdenhariam. Julgo que é isso que é importante valorizar.

De um texto publicado há anos na imprensa, a partir da descrição da peça no site do Museu Nacional de Arqueologia:
O colar aqui representado [é uma] peça laminada, obtida por martelagem, possui um perfil troncocónico, dividido verticalmente em duas partes articuladas por um fecho. A decoração é incisa e puncionada, constituída por um padrão de losangos e triângulos. O fecho é também decorado por círculos feitos a punção que compõem uma figura antropomórfica deitada, que é ladeada por triângulos dispostos em cruz.

Este colar em ouro foi encontrado, juntamente com outras peças, na Herdade do Álamo, perto do Sobral da Adiça. Data do Bronze Final e estima-se que possa ter entre 2700 e 3300 anos.

O tesouro do Álamo faz parte dos tesouros nacionais e nada o fará sair do Museu Nacional de Arqueologia. Está, no entanto, garantida a execução de réplicas de grande perfeição, que ficarão no Museu de Moura.


MAIS OUTRA ABSTENÇÃO VIOLENTA...

Subsídios e propostas. Corta, não corta. Não há almofada, depois há. Mas pequena. Mais um ultimato: tens 24 horas, pá. Nada de resposta ao ultimato. Depois houve mais uma abstenção. Certamente violenta.


Diz um amigo meu, dado a tiradas finas: o Tó-Zé é o seguro de Passos Coelho.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ALJUBE - A VOZ DAS VÍTIMAS

 É uma das grandes exposições do ano de 2011.  Bem montada e bem iluminada,  com um ótimo desenho, didática e com um percurso pensado de forma inteligente.  Ainda por cima, historicamente relevante. O site da exposição clama "mais de 14.400 visitantes desde 14 de abril". Digo, com desalento, só 14.400 visitantes...

Ao longo de várias salas, organizadas em três andares da antiga prisão do Aljube, está a memória viva da resistência ao fascismo e o modo como a polícia política oprimiu e matou resistentes. É uma parte importante da história do século XX que passa por aqueles muros, por entre os sons das entrevistas e de programas radiofónicos e com excertos de programas televisivos que enquadram os caminhos da repressão. Na parte superior há mesmo uma reconstituição dos vergonhosos curros, as celas reservadas aos prisioneiros menos submissos. "Sala dois, cela um / passos dois por um", escreveria António Borges Coelho num dos seus poemas. O nobel Tomas Tranströmer também dedicou um poema à prisão (v. aqui).

Tive no Aljube uma das mais dramáticas derrotas da minha carreira docente. Costumo incluir uma passagem pela exposição nos percursos sobre o(s) património(s) da(s) cidade(s). A única vez em que  não incluí o Aljube como visita obrigatória, tendo-me limitado a sublinhar a importância de visitar o sítio, tive uma "resposta" concludente: nenhum dos alunos achou importante gastar 30 minutos a passar por ali e para ouvir a voz das vítimas. Isso só me convenceu da importância de darmos maior relevo a estas questões e da necessidade de passarmos a informação às próximas gerações. Caso contrário, deixaremos que desapareça a voz das vítimas e permitiremos que os poderes instalados apaguem a sua memória. Já temos exemplos: o que aconteceu com as sedes da PIDE, em Lisboa e no Porto, é uma vergonha nacional. Que teve a conivência de muito boa gente...

A voz das vítimas encerra no dia 31 de dezembro.

Site: http://avozdasvitimas.net/

domingo, 27 de novembro de 2011

OR ELSE

O líder do PS, Tó-Zé Seguro, fez um ultimato ao PM Passos Coelho. Deu-lhe 24 horas para este responder às propostas que o PS apresentou. Estive a roer as unhas hora a hora: então e agora? então e agora? então e se o homem não responde?

Ao que parece não respondeu... Então e agora? Vamos ter um duelo no fim da tarde?
 
Parece Clint Eastwood, mas não é. É o terrorífico Tó-Zé Seguro, de olhar assassino, rondando o Palácio de S. Bento.

AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO

É a parte menos conhecida das Tentações de Santo Antão, de Hironymus Bosch. São os painéis exteriores do tríptico, que só eram visíveis quando os volantes estavam fechados. O quadro faz um contraponto interessante com o Jardim das Delícias (v. aqui). As preocupações e interesses do pintor são semelhantes num e noutro.

Está por saber como e porquê esta obra chegou a Portugal. Faz parte da coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Eis parte do texto que pode ser lido no site do museu:
Através de uma escrita pictural de múltiplos signos, esta impressionante obra traduz o medo e a inquietação que tocam a alma e a natureza humanas. Num espaço de vastidão que evolui desde os lugares subterrâneos até às regiões aéreas, as tábuas do tríptico estabelecem a progressão do caminho de Santo Antão. No centro da composição o santo olha para fora do quadro, olha para além do espaço de desordem que materializou em pintura os seres fantásticos que o povoam com o mesmo ímpeto com que atormentam o espírito. Recolhido no escuro e apontado pelo seu bordão, Cristo é o indelével sinal de uma luz redentora.
Poderosa súmula de pensamento que anuncia mudança, esta pintura organiza-se entre a obssessiva tradição medieval do registo minucioso e a modernidade com que se constrói um espaço global que explode em clarões e valores lumínicos que conferem unidade ao caos aparente. Aquém e além da linha do horizonte, as figuras surreais movem-se e esvoaçam num mundo de tormenta que tem o seu contraponto no Jardim das Delícias, outra obra máxima de Bosch que se encontra no Museu do Prado, em Madrid.

A propósito da palavra tentação, que bem podia ser a de Santo Antão, socorro-me da poesia de Luís Filipe Castro Mendes, diplomata e poeta, cujo blogue descobri recentemente:

Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes in Os Amantes Obscuros
 

FADO: DE ALFAMA PARA O MUNDO

Foi há cerca de uma hora que o fado passou a ser Património da Humanidade. Um processo longo e cuja qualidade foi reconhecida pelo comité da UNESCO. Um justo prémio para uma vasta equipa, dirigida por um homem culto e de invulgar competência: Rui Vieira Nery, professor na Universidade Nova de Lisboa e musicólogo.

O fado é do sul, não se explica nem se entende sem Lisboa, sem as vielas de Lisboa nem sem a luz de Lisboa. O fado não é fascista - embora o fascismo o tenha, inteligentemente, usado - nem é reacionário. Nem é só trágico nem só choroso. Tem a ver com alma? Tem, claro que tem. E há fado de salão e fado com toque moderno. Mas a verdade do fado está nos bairros populares, faz-se à sombra da igreja de Santo Estêvão, passa por Alfama e pela Mouraria. Não há fado sem povo, nem sem tabernas.

A classificação em si vai trazer mais responsabilidades e mais possibilidade de divulgação. É uma dose de otimismo quando dele mais precisamos e uma afirmação de um dos nossos mais sólidos valores culturais. Numa altura em que o fado se diversifica, toca outras camadas etárias e acompanha o ar dos tempos este reconhecimento traz mais possibilidades e mais deveres. Ainda bem que assim é.

Ao passar ontem à tarde pelo Largo das Portas do Sol, apontei Alfama aos meus alunos e indiquei-lhes a igreja de Santo Estêvão. E falei na obrigação de irem visitar o Museu do Fado.

Do jornal Público:
"Foi em 2005 que Portugal começou a preparar mais seriamente esta candidatura que o Museu do Fado, em nome da Câmara Municipal de Lisboa, formalizou junto da UNESCO em Junho do ano passado (tinham passado apenas dois anos sobre a aprovação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial). Mas a ideia, ou o sonho, tem quase 20 anos - surgiu por altura da Lisboa Capital Europeia da Cultura, em 1994, garantiu ao PÚBLICO há dias Ruben de Carvalho, vereador da CDU em Lisboa e um dos que mais apoiaram o projecto desde o início."

Não é por nada, mas gostei desta referência ao meu camarada Ruben de Carvalho.




Não encontrei imagens que me agradassem de um dos meus fados preferidos, Lágrima, escrito pela própria Amália. Aqui fica um excerto do filme Fado - história de uma cantadeira, de Perdigão Queiroga, datado de 1948. Amália Rodrigues tinha então 28 anos.

ATENÇÃO, ESTOU A TOMAR BALANÇO...

Entrevista ao Expresso de Carvalho da Silva, a dois meses de deixar a liderança da CGTP:

"Nunca me considerei marxista-leninista, fui uma das figuras de base do partido comunista. Uma relação rénue com o PC  e cada vez mais ténue."

E mais:

[está a trabalhar numa grande iniciativa sobre a Europa, que] "envolve mais gente, como o dr. Mário Soares, o presidente da Câmara de Lisboa [cuja candidatura Carvalho da Silva apoiou], o dr. Rui Vilar, o reitor António Nóvoa, a Fundação Saramago, etc."

Deixo de lado as minhas dúvidas sobre o trabalho de Clara Ferreira Alves (vénia muito, muito, profunda): nomes próprios já se escrevem com minúsculas ou é só por se tratar do partido comunista? figura DE base ou DA base? É que Bento Gonçalves foi de base, no sentido de basilar. Eu sou da base, porque não tenho responsabilidades partidárias relevantes.

Tradução livre, da minha lavra, para as declarações de Carvalho da Silva: primeiro deixo a coordenação da cê-gê-tê-pê e, não tarda muito, bazo do pê-cê.

sábado, 26 de novembro de 2011

À CONQUISTA DE LISBOA

A ideia não é propriamente reproduzir o relato da conquista de Lisboa, que nenhum dos meus alunos leu. Mas sim referir que passei/passámos o dia à conquista de sítios arqueológicos de Lisboa. Subindo a cidade antiga a partir da Baixa há motivos mais que justificados para ver locais de escavação e para discutir as opções tomadas em cada um deles: núcleo arqueológico da Rua dos Correeiros, a Sé, o Teatro Romano ou o Castelo de S. Jorge são pontos de um percurso pelo tempo.

Um dia de céu azul é bom para esquecer outras coisas. Até o facto de ninguém ter lido o relato do cruzado sobre a conquista de Lisboa. Uma reportagem de alto nível e uma fonte insubstituível para a história da cidade.


Há várias versões do texto. Ver aqui:



Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) Osberno, trad. de José Augusto de Oliveira, pref. de Augusto Vieira da Silva, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1935 (2.ª ed., 1936);
Charles Wendell David, De Expugnatione Lyxbonensi: The Conquest of Lisbon edited from the unique Manuscript in Corpus Christi College, Cambridge, with a Translation into English, Nova Iorque, Columbia University Press, 1936;
Alfredo Pimenta, «A Conquista de Lisboa», in Fontes Medievais da História de Portugal, Lisboa, Sá da Costa («Clássicos Sá da Costa»), 1948;
Conquista de Lisboa aos Mouros em 1147. Carta de um Cruzado inglês que participou nos acontecimentos, apres. e notas de José da Felicidade Alves, Lisboa, Livros Horizonte («Cidade de Lisboa, 4»), 1989;
A Conquista de Lisboa aos Mouros. Relato de um Cruzado, ed., trad. e notas de Aires A. Nascimento, introd. de Maria João V. Branco, Lisboa, Vega («Obras clássicas da Literatura Portuguesa. Literatura Medieval, 96»), 2001


A aguarela é de Roque Gameiro. Noutros tempos vinha nos nossos livros de História.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

HERÓIS DO MAR

Faz hoje 30 anos que os Heróis do Mar se apresentaram pela primeira vez em público.

Os Heróis do Mar marcaram uma época e fizeram História. Há quem não resista a tentar re-escrever a História. E a construir novas verdades. Ao ler hoje o ípsilon, não pude deixar de sorrir. Diz Jorge Pires, autor de um documentário sobre a banda: "Na altura existia o Sete que era um jornal de espetáculos mas queria representar a esquerda comunista, que tinha falta de inimigos". E mais "O Estado Novo usava a Cruz de Cristo, embora ela fosse anterior ao fascismo. E eles [Heróis do Mar] pegaram nisso, com a consciência da provocação", conta Edgar Pera.

Sempre gostei de argumentos pueris. E adoro falsas inocências.

A ideia que o Sete era um semanário comunista (ou que andasse por lá perto) é uma chachada absoluta. E que os Heróis do Mar usassem aquela estética por pura diversão é um "argumento" penoso...

Sinto-me à vontade neste tema. Gosto (muito) da música dos Heróis do Mar desde o primeiro dia. Sabia porque gostava e sabia que gostava de um estilo mais que discutível. Cada vez que falava no tema levava uma saraivada de insultos na Direção da Associação de Letras.

Pedro Ayres de Magalhães, mentor do grupo e, ao tempo, aluno de Letras, estava vagamente ligado a um grupo extremista intitulado AXO, que se entretinha a encher as retretes da faculdade (juro que não estou a inventar) com slogans como "Portugal-Raça-Império" e "Pátria - peitos expostos pelo Quinto Império". A existência do AXO é um episódio quase esquecido. Dá-se o acaso de eu ter boa memória...

Em Brava dança dos heróis cantavam-se estes versos:

Corpos caídos na selva ardente
A terra fértil do sangue quente
Brava Dança dos Heróis
Dos feitos a glória há de perdurar
Mesmo se a morte nos apagar
Brava Dança dos Heróis
Dos fracos não reza a história
Cantemos alta nossa vitória

A batida era marcial. Dançava-se no mesmo estilo. A primeira atuação dos Heróis no Alentejo foi em Moura, no final das festas de 1983. Estava eu dançando, ou coisa que o valha, quando passou à minha frente o José Maria Pós-de-Mina. Na altura o tratamento era por você. Dirigiu-se-me, em tom sardónico "está a preparar-se para a recruta?".

Musicalmente, o grupo era excecional. Essa é uma parte da história. Que o estilo, provocador ou não, não era inocente, essa é outra questão. Que a mensagem das letras tinha tentações épicas é, ainda, outra faceta. Não se queira, à boa maneira portuguesa, lançar cortinas de fumo sobre as coisas e mistificar a realidade. Ou inventar conspirações de comunistas.

Pedro Ayres de Magalhães, produtor de enorme talento, estaria ainda na raíz de projetos como Resistência ou Madredeus.

34.400.000.000 €

34.400.000.000 € (trinta e quatro mil milhões de euros) é o montante dos juros a pagar pelo empréstimo de 78.000.000.000 que foi concedido a Portugal. Foi este o número indicado pelo Ministério das Finanças, a requerimento do deputado do PCP, Honório Novo.

Ou seja, 44% do empréstimo vai para juros. Nada mau, para quem empresta. Quem paga? Você, que me lê, e eu.


S. Bernardino de Siena (1380-1444),
franciscano que pregou contra a usura, numa pintura quinhentista

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ARTE ISLÂMICA - SITE COM NOVAS INFORMAÇÕES

Para os interessados em arte islâmica:

A Museum With No Frontiers alargou o seu âmbito de intervenção. Estão agora disponíveis informações sobre 43 espaços museológicos, referentes a 18 países, situados em 3 continentes. É uma boa base de trabalho.

http://www.explorewithmwnf.net/great-collections-of-islamic-art.php

Painel decorativo (autor: José Alberto Alegria)
Museu de Mértola

GREVE GERAL


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DESNUDA


Desnuda eres tan simple como una de tus manos,
Lisa, terrestre, mínima, redonda, transparente,
Tienes líneas de luna, caminos de manzana,
Desnuda eres delgada como el trigo desnudo.

Desnuda eres azul como la noche en Cuba,
Tienes enredaderas y estrellas en el pelo,
Desnuda eres enorme y amarilla
Como el verano en una iglesia de oro.

Desnuda eres pequeña como una de tus uñas,
Curva, sutil, rosada hasta que nace el día
Y te metes en el subterráneo del mundo
Como en un largo túnel de trajes y trabajos:
Tu claridad se apaga, se viste, se deshoja
Y otra vez vuelve a ser una mano desnuda.

Michelangelo foi o ponto de partida. A partir daí, Gregor Podgorski recriou a Pietà. Aquela levitação é essencial à poesia da imagem e dos sentidos. A nudez daquela mulher seria, creio, banal sem a ausência da gravidade. As palavras são de Pablo Neruda.

FORA DAS COMPETIÇÕES EUROPEIAS...

Vítor Gaspar é o 12º entre 19 e é o segundo menos credível.
Futebolisticamente falando, não dá para ir à UEFA.
Em tempos que já lá vão ainda podia tentar a Taça das Cidades com Feira. Mas a competição já não existe. É pouca sorte, mesmo.

 

ALCARIA DE JAVAZES

O projeto tem vários anos, mas só agora se aproxima da conclusão. A raíz está numa ideia do Orlando, expatriado mertolense que reuniu uma coleção de materiais etnográficos, mais tarde colocados à disposição da Câmara de Mértola. Na altura, 2003 ou 2004, ainda estava em Mértola, ao serviço da autarquia, e entreguei um pré-guião do que poderia vir a ser aquele núcleo museológico.

Foi com surpresa e agrado que recebi, há semanas, uma mensagem da vereadora Sandra Gonçalves, anunciando que o processo se aproximava do fim e que gostariam que nele colaborasse. Claro que sim, como sempre tenho feito, e continuarei a fazer, em Mértola. Fomos hoje de manhã - um bando de quatro: Lígia Rafael, Manuel Passinhas, Manuel Marques e o autor do blogue - para re-olhar o sítio e pensar algumas soluções. Uma construção antiga, dois pátios, um forno, muros em pedra e um novo volume dão, na sua modéstia, para muita coisa. Desde que não se queira meter o Rossio na Rua da Bestesga ou ceder à tentação de uma visão mais formatada ou tradicional de museu...

Um cato num muro em pedra (Alcaria de Javazes)

Alcaria de Javazes retira, segundo Abdallah Khawli, numa bem fundamentada teoria, o nome do sítio de al-Jawza, onde o líder religioso Ibn Qasi se teria refugiado, em 1144. O povoado islâmico propriamente dito deverá, contudo, corresponder à alcaria existente em Zambujal.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

DO ALTO DE BOMBEL A BEVERLY HILLS

Final de tarde na Amareleja. Primeiro de uma série de encontros com a população da nossa vila. Começou-se pelo Alto de Bombel (ao fundo, na fotografia), justamente onde tanto o José Maria como eu temos raízes familiares. Cerca de 70 pessoas tiveram a oportunidade de colocar questões, de fazer observações ou de apresentar problemas. Esta maneira de fazer política não é inédita, nem é nova. Mas tem sido prática nossa no concelho de Moura.

A proximidade às pessoas é um fator essencial, mas muitas vezes esquecido. Isso não diz muito aos nossos queridos fazedores de leis, hoje mais entretidos em espremer as autarquias, diminuindo o número de eleitos em regime de permanência e cortando os quadros dirigentes. A demagogia "para quê tanta gente?" é fácil e colhe junto dos mais desprevenidos ou dos menos informados. Os autarcas do PSD, que parecem ter vendido a alma ao diabo, silenciam a vergonha. A voz dos do PS calou-se.

Um governo mais pequeno é melhor? Há quem pense que o diga e o diga de forma expressiva: "These boys over there on the monitor  [vemos  Bill Clinton, Bob Dole, Pat Buchanan e Steve Forbes] they want a government smaller and weak. They've been speaking for the richest 20 percent when they pretend they're defendin' the meek/ Now, shit, fuck, cocksucker, that's the real obscenity " é a deixa de Bulworth no filme que hoje citei (v. a cena completa sobre obscenidade aqui).

Fotografia: http://invitaminerva45.blogspot.com

PRÓXIMA RONDA

O Benfica acaba de se apurar para os oitavos de final da Champions.
O Porto também está quase.

BULWORTH

O título em português é péssimo: Candidato em perigo. Porque não diz nada de substancial sobre este Bulworth. Que é o nome do político, protagonizado por Warren Beatty. O filme, de 1998, foi um sucesso junto da crítica e um clamoroso fracasso de bilheteira. Apresenta uma visão muito à esquerda, para padrões americanos, do que são os jogos políticos.

Como em A classe dominante (em que Peter O'Toole julga ser Jesus Cristo), a melhor parte de Bulworth é quando o candidato freaks out. O político convencional deixa de o ser e porta-se como um rapper, fala em verso e uso uma linguagem que é, para ser suave, pouco convencional. Bulworth é um filme interessante, irónico e à margem das convenções. Espreitem o excerto que escolhi e verão porquê.

No meio da trama há uma mulher (Hale Berry) contratada para o matar. Acabam por se apaixonar. Warren Beatty é um homem de gosto refinado. Qualquer um de nós gostaria de ser perseguido por Hale Berry.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

GREVE MÁXIMA

Serviços mínimos de 50% numa greve geral?
Mas que raio de fantochada é esta?
Já só falta termos de pedir autorização aos patrões para se fazer greve consoante a "conveniência de serviço".

A ARQUEOLOGIA E A DANÇA CONTEMPORÂNEA


Parece dança contemporânea, mas não é. Estou apenas a tentar não pisar o derrube, enquanto verifico, com a ajuda de uma bússola, se o norte está bem colocado. A fotografia, da Joana Barra, anda pelo facebook.
 

19



Encontrei, há pouco, um dos meus antigos alunos de Coimbra. "Que fazes? Por onde andas?". Despediu-se ontem da empresa de arqueologia onde trabalhava. Recebia 19 euros por dia pela realização de trabalho especializado. Eis o admirável mundo novo.

VIAGENS NA NOSSA TERRA

Portugal na pintura - viagens na nossa terra é o título do livro de Margarida Magalhães Ramalho que amanhã vai ser lançado na Livraria Ferin, em Lisboa. Fomos colegas de curso e tenho a certeza que este novo livro da Guisha se pautará pela elavadíssima qualidade de todos os seus trabalhos. Este, muito em particular, aguça-me a curiosidade.

Amanhã às 18.30 deverei estar pelas bandas da Amareleja, umas centenas de quilómetros a oeste da Ferin. Redimo-me um pouco, fazendo aqui publicidade do evento.

A Livraria Ferin, uma das casas de livros mais clássicas de Lisboa, fica na Rua Nova do Almada, nº 70. A apresentação estará a cargo de Mercedes Balsemão.

 

domingo, 20 de novembro de 2011

IZQUIERDA UNIDA

É evidente que em Espanha teria votado Izquierda Unida. Os resultados, a fazer fé na sondagem RTVE, consolidam a IU como terceira força política - passa de 3,77% de votos e 2 deputados para 6,7% e uma dezena de parlamentares -, o que é positivo.

Uma reflexão marginal: durante anos a fio, muitos do nossos "pensadores políticos" apontavam o PCE, o PCF e o PCI como o grande exemplo a seguir. Representgavam a modernidade, outra visão do mundo, menos atavismo etc etc. O PCI finou-se, o PCF é uma sombra de outrora e o PCE desapareceu no seio da IU. Foi esse o destino do eurocomunismo. O que veio substituir esse potencial político e essa capacidade reivindicativa? Alguém me sabe dizer o nome do secretário-geral do PCE? Eu também não sabia e tive de ir procurar. Porque quando se fala em IU surgem sempre os nomes de Gaspar Llamazares ou de Cayo Lara.

Outros dados sobre as eleições de hoje no país vizinho? Não há muito a dizer. Mais Rajoy, menos Pérez Rubalcaba, vai dar mais ou menos ao mesmo.

MÉRTOLA 2: FEIRA DO LIVRO

Teve início hoje e prolonga-se até domingo. É a Feira do Livro de Mértola (programa completo aqui). No dia 24 não estão previstas atividades. Parece-me bem.

 

MÉRTOLA 1: ANGELA MÉRTOLA

Volto ao inquérito da revista Sábado (v. aqui), por causa de uma resposta. À pergunta sobre o nome da chanceler alemã, ouve-se, por entre engasgos, o nome de Angela Mértola. Não é muito provável qualquer ligação entre a vila alentejana e a origem da chanceler. Mas nestas coisas nunca há certezas.

Em todo o caso, Merkel não poderia usar em Portugal um cartaz destes (data da campanha eleitoral de 2009) Duas arejadas cinquentonas anunciando "wir haben mehr zu bieten" - segundo me disseram a tradução é "temos mais para oferecer" - não encaixa no estilo lusitano. Quem é que disse que os setentrionais não são, também, uns marotos?


sábado, 19 de novembro de 2011

MAQABIR

Maqbara, plural maqabir. Cemitério(s) em língua árabe. Não sei árabe, mas dessas palavras recordo-me bem, dos tempos longínquos em que frequentei as aulas do Prof. Cunha Serra.

O tema dos cemitérios do Gharb al-Andalus continua a ser recorrente nos meus interesses, num trabalho que já por várias vezes foi retomado e interrompido, num certo estilo Orson Welles. Sem a milésima parte do talento do cineasta, bem entendido...

Ontem regressei ao tema, apresentando, a convite da minha colega e amiga Susana Gómez, uma panorâmica das necrópoles muçulmanas do ocidente peninsular no seminário Métodos e fontes do Mestrado em História do Mediterrâneo Islâmico e Medieval (v. aqui).

Aqui fica o registo da mais antiga lápide funerária islâmica existente em Portugal. Data de meados do século X d.C. e pertence à coleção do Museu de Mértola.

 
Lápide funerária de Ishaq Ibn Faras al-Ansari 
346 h. / 957 d.C.

O texto cita o Alcorão, sura XXII, versículo 7.

A tradução é de Artur Goulart de Melo Borges. Foi publicada no catálogo do Museu Islâmico de Mértola, em 2001.


“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso. Faleceu Ishaq Ibn Faras al-Ansari no fim do mês de rajab do ano 346 (27 de Outubro 957 d.C.). Não há outro deus senão Allah, Muhammad é o enviado de Allah. O Paraíso é verdadeiro, o Fogo é verdadeiro. Aproxima-se a Hora. Ninguém o pode pôr em dúvida. Deus ressuscitará os que estão nos túmulos”.