domingo, 11 de dezembro de 2011

CANONIZAÇÃO

Um dos fenómenos mais extraordinários dos últimos anos é a santificação, com direito a vários altares, de figuras maiores do fascismo. Não sou, nem por sombras, apologista de ajustes de contas tardios ou de condenações a penas perpétuas. Daí ao passar de um esponja pelo passado e fingir que nada aconteceu vai o passo do absurdo.

Não posso, por isso, estar mais em desacordo com a recente, e cada vez mais vincada, canonização de Adriano Moreira como grande figura da Democracia em Portugal e, ao que parece, em Cabo Verde. Foi Secretário de Estado da Administração Ultramarina e Ministro do Ultramar, entre 1960 e 1963. Não há registos de qualquer combate que tenha travado contra a política colonial portuguesa ou de textos que tenho redigido, condenando-a.

Tem sido incensado, nos últimos anos, com homenagens que fazem jus a um percurso académico de reconhecido mérito. Nada de mais a assinalar, quanto a esse aspeto em concreto. Que a Universidade de Cabo Verde tenha decidido distingui-lo com um doutoramento honoris causa - e logo o primeiro - já me parece absolutamente fantástico. Entre outras razões porque foi Adriano Moreira quem reabriu o campo de concentração do Tarrafal, para nele serem encarcerados nacionalistas africanos.

A Universidade de Cabo Verde podia, na devida altura ter rendido homenagem a essa figura única que foi Basil Davidson. A Universidade de Cabo Verde, enquanto instituição de um país soberano e independente, lá terá as suas razões para tomar esta opção. Pode ser mania conspirativa da minha parte, mas é muito frequente que estas homenagens correspondam a agendas escondidas por parte de alguém. Um dia o saberemos.

Adriano Moreira em Angola (1961)

3 comentários:

R. Vieira disse...

Tenho para mim que este género de homenagens corresponde SEMPRE a agendas escondidas, de que o caso que reporta parece constituir exemplo gritante.

Anónimo disse...

... diplomacia económica ????

LT

R. Vieira disse...

Talvez... Mas seja essa a razão ou outra qualquer, uma "proeza" deste quilate fica muito mal a uma universidade cabo-verdiana. Se pensarmos, a coisa é tão surreal que até parece uma blague de mau gosto...