domingo, 1 de abril de 2012

DOIS PAÍSES, UM SISTEMA

O Picnicão do 25 de Abril? Foi um pouco, sim. Havia de tudo. Bombos e cabeçudos, como numa romaria minhota. Corais alentejanos, como como nos desfiles e encontros habituais na região. Havia estilos um pouco mais formais, ao jeito do PCP e da CGTP. Encontrei nomes como Destriz, Malaqueijo, Curvos, Antuzede e Moita Oeste. Que ficam, respetivamente, em Oliveira de Frades, Rio Maior, Esposende, Coimbra e Marinha Grande. Houve música e, sobretudo, muita espontaneidade. Como a que levou uma freguesia minhota a apresentar, em ante-estreia pascal, os intervenientes de um "Auto de S. João". Cruzei-me, até, com um manifestante que trazia um cachecol do Liverpool F.C. Nem mais.

O alcance político da manifestação é claro. Continuar a insistir na tecla de "orquestração comunista" é um argumento estúpido. Justificar o continuado esvaziamento do interior com a despesa dos executivos das juntas é intelectualmente penoso e financeiramente irrelevante. Deixar estes dossiês nas mãos de "cientistas políticos", que sabem tudo sobre laboratórios teóricos e nada sobre o país em que vivem é um prenúncio de tragédia. Que tem de ser combatida, politicamente.

Ía eu a chegar aos Restauradores quando um camarada de Grândola me enviou uma SMS dizendo que ainda estava no local de partida. Onde? Uns quilómetros acima, junto ao Ritz. Éramos 150.000? 200.000? A querela não me interessa. Sei que as pessoas começam a perder a paciência com tanto corte e com tanta extinção, sem a criação de quaisquer alternativas uo sem a apresentação de soluções. Sei, sim, que a extinção de freguesias com base em critérios numéricos é uma atitude criminosa e absurda. E que, a ser assim, a freguesia de Santo Amador, no concelho de Moura, tem os dias contados.

A minha perplexidade chegou, algumas horas depois, enquanto aguardava, no setor 12 da Luz, o começo do Benfica-Braga. A imprensa on-line quase ignorava a manifestação. Mais de "30.000 pessoas" (sic), dizia o Público, que dava mais destaque às centenas de "jovens ruidosos" (sic) que tinham organizado um protesto no Chiado. Diário de Notícias e Expresso alinhavam pelo mesmo registo, um chamando a atenção para um dos faits-divers do dia, o outro falava do abandono de uma reunião do conselho nacional do PS, por parte de dois deputados, como se de um golpe de estado se tratasse.

Por mais de uma vez tive a perceção da existência de dois países. E que um deles, urbano e supostamente culto, ignora e menospreza o outro. O dia de ontem foi, em toda a sua dimensão, mais uma prova disso mesmo.

1 comentário:

Lucrecia disse...

Ler você é um prazer.Não são apenas a cultura e o treino que percebo em seus textos ... É algo mais.