sexta-feira, 27 de abril de 2012

MANUEL RIO-CARVALHO: ARTE CONTEMPORÂNEA - 1984/85

O meu colega e amigo Rui Costa Pinto citou no facebook um texto do blogue Centro Nacional de Cultura, assinado por Maria Helena Souto e em homenagem a Manuel Rio-Carvalho (1928-1994) - v. aqui.

De entre todos os professores que tive na Faculdade quatro foram decisivos: António Marques de Almeida, Cláudio Torres, João B. Serra e Manuel Rio-Carvalho.

Este último foi meu professor de História da Arte Contemporânea no 4º ano. Homem de invulgar cultura e sensibilidade, Manuel Rio-Carvalho transformava cada aula num momento de descoberta, pontuando as explicações com comentários bem-humorados e indo buscar ligações e exemplos onde menos esperaríamos. Aquela disciplina foi uma verdadeira celebração, uma mistura de idas ao teatro, visitas a exposições, passeios pelas ruas de Lisboa e deslocações a museus. Levava-nos festivamente aos ambientes mais espantosamente lumpen da Mouraria e depois cumprimentava-nos com uma fria cordialidade britânica quando íamos assistir às conferência que dava na Gulbenkian. Politicamente conservador, tinha uma abertura de espírito que o levava a considerar os nossos radicalismos como uma espécie de acne mental.

Tinha o hábito de dizer e de escrever coisas surpreendentes. Recordo, em especial, um texto que redigiu para o Jornal de Letras (1983? 1984?) intitulado "Para compreender a beleza do Barreiro". Evocando referências tão díspares como a "Carmen", de Bizet e o "Deserto Vermelho", de Antonioni, Rio-Carvalho encontrava poesia num subúrbio industrial. Usei a sua inspiração para um textinho bem mais modesto que, muitos anos depois, escrevi para a Planície e ao qual dei o título "Para compreender a beleza da Salúquia".

Depois de me ter saído particularmente bem no teste escrito final de Arte Contemporânea (onde, pedantemente, misturei o ensino artístico e as perspetivas althusserianas de reprodução da classe dominante) e de um trabalho com uma apresentação-perfomance sobre a pop-art Rio-Carvalho aconselhou-me seriamente a seguir uma carreira de crítico de arte. Ainda hoje a ideia me diverte...

A dispensa de prof. Rio, como era conhecido no Instituto de História da Arte, é um episódio sórdido da história da Faculdade de Letras. Voltei a encontrá-lo apenas uma vez, dois ou três depois de concluir a licenciatura, na Fundação Gulbenkian. Ficou surpreendido pela minha opção pela arqueologia islâmica. Desejou-me boa sorte. Ficar-lhe-ei para sempre reconhecido por aquelas aulas e pela aprendizagem e descoberta que nos proporcionou.

 
Jantar final do curso de História da Arte (julho de 1985)
Ginjal, Almada

O sítio era, na altura, uma taberna modestíssima. Foi o prof. Rio, claro, que nos indicou o sítio e depois nos apresentou aos donos. Percebemos que era habitué. Rio-Carvalho está à esquerda na foto. Imediatamente a seguir, e com uma frondosa cabeleira, não está o cantor pop israelita Izhar Cohen, mas sim o Dr. Cláudio Torres.

6 comentários:

Dulce disse...

Que bem que me soube ler o teu texto, numa altura em que só as folhas de excell parecem ter imortância!

Maria José disse...

De todos os que referiste só tive o privilégio de ter tido como professor o Doutor Marques de Almeida (num mestrado em história regional e local que se ficou por pós-graduação)e foi marcante. A cada aula eu ia ganhando a consciência de que dificilmente me poderia esquecer daquela pessoa...não voltei a vê-lo mas lembro-me dele muitas vezes.

Curioso disse...

E o amigo SM deve ser o gajo lá do fundo com uma camisa de gosto duvidoso?

Santiago Macias disse...

A camisa era linda: fundo azul e palmeiras. Foi comprada na "Miss London", no Terminal, em 1981. Usei-a até estar quase desfeita.
Comprei recentemente outras, de gosto irrepreensível. Lamentavelmente, uma amiga minha disse-me "não saio à rua contigo se vestires isso"...

Lucrecia disse...

Gostaria de dizer, mesmo sem sido perguntado, que a mim não importaria nada sua camisa.E tanto faz branca ou estampada ou mesmo sem. O que importa é a troca vantajosa que teria com você. Me parece ser um homem sério, responsável, estudioso, consciente do seu tempo e apaixonado por seu país. Quantas coisas não aprenderíamos? Além desse jeito... assim meio menino. Seus amigos e sua família devem ser muito felizes por ter você. Seus alunos que abram os olhos e aproveitem a chance de ter você como professor.

2012 disse...

Dr Santiago! pelo que vejo Deus deixou de se chamar Javé... LOL

http://letras.terra.com.br/marcelo-aguiar/300458/