terça-feira, 3 de abril de 2012

PARA ALÉM DA CURVA DA ESTRADA

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.


Tenho a certeza que Olivier Metzger, ao fotografar aquela esquina de New Orleans, tinha em mente o drug store de Edward Hopper, pintado em 1927. O tratamento da luz é, pelo menos, muito "hopperiano". Mnemónicas à parte, há sempre situações que nos recordam outras e poemas que nos remetem para os nossos caminhos. Gostava mais de Álvaro de Campos nos dias da juventude. Hoje prefiro, claramente, Alberto Caeiro. Deve ser da idade. Da minha, claro.

O quadro está no Museum of Fine Arts, de Boston. O MFA. Uma boa razão para se dizer "o povo está com o MFA!".

2 comentários:

Lucrecia disse...

Lindo Fernando Pessoa/Alberto Caeiro.As fotos também.

Julia Macias-Valet disse...

http://www.moreeuw.com/histoire-art/exposition-hopper-paris-grand-palais.htm

La taremos qu'ir... : )))