quinta-feira, 7 de junho de 2012

EU, SELECIONADOR, ME CONFESSO

Começa amanhã o EURO da bola.

Há semanas resolvi responder a um inquérito do DN, no qual se pedia que selecionássemos os jogadores. Acertei em 2/3. O que faz de mim um selecionador a 66%. Ou seja, não sou nada de especial nisto de treinador de bancada.

O EURO começa amanhã. Mesmo que a seleção não vá longe - é possível que não vá - a Pátria não corre perigo por causa disso. Temo que muito boa gente se esqueça disso e enverede por discursos disparatados. Que serão piores se tivermos sucesso.

Oportunidade para recordar um texto publicado no Diário do Alentejo em 12 de setembro de 1997. A seleção nacional, treinada por Artur Jorge, empatara (1-1) dias antes, na Alemanha. Como mau treinador de bancada errei numa coisa: o nosso futebol era bom, precisava de uma chispa. Essa chispa chamou-se Scolari.


EU, SELECIONADOR ARTUR, EVIDENTEMENTE ME CONFESSO

Evidentemente não perdemos. Também não ganhámos, mas é quase certo que iremos a França em 1998. Como você imagina, há a matemática, aquela ciência exata que anda sempre de mão dada com o futebol português. E , obviamente, há a Nossa Senhora de Fátima, aquela outra ciência exata da nação portuguesa, à qual acenderei uma velinha.

Por esta altura, já os computadores nos dão razão: se Portugal ganhar à Irlanda do Norte, a Alemanha perder os dois jogos que lhe faltam e a Arménia ganhar à Ucrânia, seremos os vencedores do grupo. Matematicamente e evidentemente falando. As coisas ainda vão melhorar, claro. Como você sabe, ainda faltam muitos jogos (um, para ser mais preciso) e tudo está agora a nosso favor.

Em Berlim as coisas não correram completamente bem. Mas também não correram mal, obviamente. Tentámos ser fortes, tentámos fazer coisas boas, coisas bonitas. E fizemos, como você viu. Também fomos fortes, tirando aquela do Rui Costa esbagulhado em lágrimas, coisa pouco máscula para quem saiu do campo a cinco à hora, pensando que o árbitro era o Pratas ou o Guímaro, malta compreensiva e que respeita o cansaço dos atletas.

Nem sempré é fácil jogar bem e sermos positivos e nós fomos. Pediu-se aos jogadores que tivessem magia e poesia. Eu próprio me emocionei quando o Pedro Barbosa marcou o golo e cheguei, ali mesmo, a adaptar um poema em honra dele. Era assim: "Os remates do Pedro Barbosa e o binómio de Newton são tão belos como a Vénus de Milo./ O que há é pouca gente para dar por isso./ óóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóó (o vento lá fora)". Depois veio o Kirsten e, como você pode imaginar, a inspiração murchou evidentemente bastante.

De qualquer modo, o jogo teve estética e foi emocionante. A estética é sempre importante no futebol. E quem diz a estética diz, evidentemente, a música clássica. No entanto, é sempre arriscado dizer aos nossos dirigentes que o treino seja acompanhado pela divina Tebaldi, porque é quase certo que vão pensar que se está a querer contratar uma artista de striptease.

De qualquer maneira, e mesmo que não sejamos apurados para França - é matematicamente impossível que não sejamos apurados - há uma coisa que fica comprovada: para já, somos a melhor equipa da segunda divisão europeia. E, evidentemente, o bonito jogo com a Alemanha vai dar-nos a ilusão, durante algum tempo, que o nosso futebol é bom. Não é, mas as ilusões também são intensamente e evidentemente poéticas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois eu, seleccionador de bancada lateral, tenho a certeza que vamos ganhar, pois que tudo se fez para tal desígnio:
- para pouparmos as perninhas e fazer subir o "astral",proporcionámos a cada craque uma bomba automóvel;
- para que se sintam bem tratadinhos pagamos-lhe o hotel mais caro possível, mais caro que os hotéis onde ficarão a chafurdar todas as outras selecções;
- temos a nossa senhora de Fátima que, se fôr preciso, fará milagres para que os nossos ganhem os jogos todos;
- temos o país suspenso da "prestação" dos "nossos queridos heróis", podendo por duas ou três semanas esquecer as baixezas dos "relvas" enquanto nos embebedamos com os feiticeiros da relva.
Vamos a isto, que a vitória é certa.