sexta-feira, 17 de agosto de 2012

PERMANÊNCIA





Agora me lembra um, antes me lembrava outro.

Dia virá em que nenhum será lembrado.

Então no mesmo esquecimento se fundirão.
Mais uma vez a carne unida, e as bodas
cumprindo-se em si mesma, como ontem e sempre.

Pois eterno é o amor que une e separa, e eterno o fim
(já começara, antes de ser), e somos eternos,
frágeis, nebulosos, tartamudos, frustados: eternos.
E o esquecimento ainda é memória, e lagoas de sono
selam em seu negrume o que amamos e fomos um dia,
ou nunca fomos, e contudo arde em nós
à maneira da chama que dorme nos paus de lenha jogados no galpão.

Faz hoje 25 anos que morreu Carlos Drummond de Andrade, de quem se reproduz Permanência. O poeta faleceu 12 dias depois de ver partir a sua única filha. Queria acompanhar um dos seus poemas por uma pintura. Ocorreu-me Arnold Böcklin e este Villa al mare, pintado entre 1871 e 1874, com aquela silhueta misteriosa que contempla o mar e que tanto evoca a mais completa solidão.

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