segunda-feira, 3 de setembro de 2012

DUAS CEREJAS



ALGUMAS PERGUNTAS E ALGUMAS RESPOSTAS SOBRE DUAS CEREJAS

Na última edição deste jornal podia ler-se, na última página, uma nota onde o meu nome era expressamente referido. A que propósito? Por causa das intervenções em curso em vários locais da cidade, aos quais o meu trabalho como vereador da Câmara Municipal está associado. As quais incluem a componente arqueológica no castelo de Moura, projeto iniciado num já longínquo 1989.

O tom era simpático e mencionavam-se (cito de memória) o meu “empenho” e “dedicação”. Concluía-se que a cereja em cima do bolo seria a reabilitação do convento do castelo.

Ainda que as palavras de “A Planície” sejam lisonjeiras, convém clarificar que não há vitórias solitárias nem salvadores da pátria. As vitórias e os avanços conseguidos, bem como os aspetos menos conseguidos e as derrotas, são assumidos coletivamente. E envolvem os colegas da vereação, os trabalhadores da Câmara Municipal e as equipas internas e externas com as quais temos trabalhado.

Reabilitar o Convento das Dominicanas seria a cereja em cima do bolo? É verdade.

Então porque não se reabilita? Primeiro, porque o trabalho de reforço das estruturas foi feito há cerca de seis anos e orçou em quase 500.000 euros (financiamento governamental: zero), depois porque é necessário desenvolver um projeto para o imóvel, encontrando-lhe um uso adequado e financiando as suas obras. Com tantas obras a decorrer e com a especificidade desta intervenção, isso não seria possível.

O Convento será um museu? Não me parece que seja esse o uso adequado, uma vez que há programas com  esse fim noutros edifícios.

Qual o prazo estimado para a reabilitação do Convento? E quais os custos? A manterem-se as condições atuais de financiamento das autarquias e com o garrote a apertar não é viável pensar que o edifício possa estar recuperado antes de 2017 ou 2018. Os valores não serão inferiores a 3 milhões de euros. E recordemos que antes disto está a recuperação do antigo grémio da lavoura, que defendo como a próxima grande intervenção.

É essa a única cereja que falta no âmbito da reabilitação do património da cidade? Não é. Para além da futura biblioteca (excluída deste pacote por estar fora da área geográfica que justificou o pacote de obras em curso) temos ainda o Convento do Carmo.

Porque não avança o Convento do Carmo? Porque não se conseguiu ainda, arranjar a parceria para o fazer. E porque os valores envolvidos – a reconversão em unidade hoteleira, por exemplo, não é possível por menos de 5/6 milhões de euros – são significativos. Numa altura de retração do investimento mais difícil a tarefa se torna.

O Convento do Carmo vai ser um hotel? É das possibilidades, mas não a única. Depois de cometida a inacreditável estupidez de se ter de lá tirado o centro de saúde é preciso adequar o espaço a novas funções. Por favor, poupem-me a modelos de gestão do género “centro cultural”, “universidade”, “museu” etc. Façam-se contas, veja-se o País em que vivemos e calculem-se futuras amortizações antes de se fazerem propostas.

São tarefas fáceis? Não são. Por isso mesmo se tornam mais interessantes e o desafio é maior. Por isso mesmo me/nos empenhamos nestes projetos.

Há outras propostas concretas e fundamentadas (não me refiro a sugestões e hipóteses) para o Convento do Carmo? Venham de lá elas. Se forem viáveis não haverá um segundo de hesitação.

Devia a Câmara ter assumido a tarefa de chamar a si o Convento do Carmo? Claro que sim. Do interesse do Poder Central nestas matérias estamos conversados. Pelo que, das duas uma: ou fingiamos não ver o problema ou o atacávamos, ainda que sem a certeza de um sucesso. Ficar imóvel e à espera em nada nos ajuda.

Uma nota final sobre estas e outras cerejas: tenhamos em mente que vivemos em Portugal, um país pobre e periférico, e que a nossa região tem particulares dificuldades. Não vale a pena pensarmos que somos a Noruega ou a Alemanha. Os investimentos feitos tiveram essa realidade em conta, pelo que não haverá obras para encher o olho, mas sem conteúdo, nem elefantes brancos que se convertem em sorvedouros de dinheiro. O futuro será pelo mesmo caminho.

Texto publicado em "A Planície" do passado dia 1 de setembro. Está em causa a futura reabilitação de dois imóveis de grande importância na vida, e no passado, da cidade.

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