sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FAHD KANARA

A fotografia tem exatamente 9 anos. Foi tirada a 12 de outubro de 2003, no deserto da Síria, entre Palmyra e Damasco. São sítios de que me tenho lembrado, uma vez e outra, no decurso das últimas semanas.

Um dos grandes motivos de sucesso dessa quinzena memorável foi o Fahd Kanara, o motorista que a agência nos arranjou, garantindo que falava bem inglês. Claro que não só não falava bem como não falava quase nada... Os diálogos faziam-me lembrar imenso os diálogos dos filmes de Manoel de Oliveira. Um exemplo: ele perguntava "stop lunch?" e eu respondia "no stop lunch" ou "yes". Ou ainda, "visit monument or no visit?". Eu respondia "yes" ou "no".

Um dia, não havia forma de lhe explicar que queria ir visitar um determinado castelo. Já em desespero disse-lhe, de modo enfático, "fi-l qasr, min fadlik" (para o castelo, se faz favor). Virou-se para mim com um largo sorriso: "Very good!! Very good arabic!!". Só consegui parar de rir uns bons quilómetros mais adiante. Não imagino o que será feito do Fahd Kanara, homem de Damasco e que falava o árabe na característica maneira daquela cidade (um pouco como o sotaque alentejano, com o arrastamento da última sílaba das palavras).

O Fahd superava as dificuldades no inglês com uma imensa boa vontade e com uma rede de contactos em vilas, cidades e aldeias que me fizeram correr a Síria de uma ponta à outra, entrando em aldeias, visitando famílias e conhecendo um mundo que não estava no meu guide du routard. Estão na minha memória deslocações a sítios extraordinários como Qalb Lozeh ou as-Srouje. Não imagino o que terá acontecido aos aldeões que ali viviam, em especial aos drusos de Qalb Lozeh, cujas casas estavam a poucos quilómetros da fronteira turca. São percursos que gostaria de voltar a repetir. O que era fácil então é hoje uma impossibilidade.

O autor da fotografia na desolada estrada do deserto foi o meu amigo Fahd.

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