segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

NA VIGA BAMBA

Esta fotografia de Lewis Hine (1874-1940) é conhecidíssima. Desafia todas as normas de segurança, mas no início dos anos 30 do século passado essa não era uma das preocupações de topo.

Em todo o caso, duvido que lhe aplicasse a ideia de um ofício que fosse intensidade e calma, como escreveu António Ramos Rosa (1924-2013).


Um Ofício que Fosse de Intensidade e Calma

Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse   fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
Que a palavra fosse sempre   a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios 

1 comentário:

Anónimo disse...

É tudo gente nova na "viga bamba";
Só lhes faltam asas para "voar" rumo a um salto no desconhecido. Os vinculos laborais de toda uma juventude deste país assemelham-se muito à "segurança" de estar naquela viga.Mas a "segurança" de estar naquela viga representa também um aviso muito sério a todos os sinistrados em acidentes de trabalho, os quais, de um momento para o outro, podem ver-se enredados nas malhas de um "império" tecido por outros, diga-se seguradoras,mais preocupadas em reduzir custos e aumentar lucros.Que o digam muitas das vítimas de acidentes de trabalho que são confrontados com os resultados dos exames por junta médica pedidos pelas companhias de seguros;a "regra" é reduzirem-lhes as incapacidades indicadas nos exames anteriores e deixarem-nos numa espécie de nova "viga bamba", ou melhor "vida bamba" na qual ninguém lhes quer dar um novo trabalho.