sábado, 18 de janeiro de 2014

ESTA VIDA DE BOLSEIRO

As coisas já não estavam famosas, quando António Pires de Lima veio lançar um pouco de gasolina sobre o fogo. Disse não ser possível "alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real". O raciocínio é perigoso, pela sua estreita lógica utilitarista. Refere ainda que "uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos". Valeria a pena perguntar quanto é que as empresas investem em apoio à investigação. E qual o sentido da palavra "mecenato" para tais empresas...

O apoio à investigação é uma decisão política. Como o prova o trabalho de José Mariano Gago. Foi ele quem promoveu a verdadeira revolução que o nosso panorama científico conheceu durante o período em que dirigiu a JNICT (1986-1989) e durante o tempo em que esteve à frente do Ministério da Ciência (1995~2002 e 2005-2011).

Conheço, de perto, esta realidade. Fui bolseiro de curta duração em diversas ocasiões e pertenci, durante seis anos, aos painéis de avaliação de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento da FCT. Fui docente universitário e continuo a pertencer, embora sem atividade de momento, a um centro de investigação, sedeado na Universidade de Coimbra. Pude constatar os avanços muito significativos que a nossa investigação conheceu ao longo das últimas décadas na área em que trabalho. O retrocesso que agora se vive tem muito mais a ver com perspetivas culturais e civilizacionais que com questões orçamentais. Que têm as costas largas e tudo justificam. Como podemos constatar pelas declarações do ministro Pires de Lima.

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