quinta-feira, 31 de julho de 2014

EYES WIDE SHUT

Dois desconhecidos seduzem-se. Ou entram num jogo de não consumada sedução. É a minha cena preferida de Eyes wide shut, o último filme rodado por Stanley Kubrick. Como sempre, os temas musicais que acompanham a trama foram escolhidos de forma irrepreensível. Até pelo contraponto da valsa nº 2, de Dmitri Shostakovich, que acompanha o genérico final, num suspiro de alívio que é o de todos nós.

O filme, que é a escolha desta semana, é aqui apresentada numa versão dobrada em castelhano. As dobragens são uma desgraça. Sempre. Reproduzo a cena também para mostrar como duas vozes "erradas" chacinam uma cena. A de Nicole Kidman é banal, mas o timbre de Sky du Mont, entre o sensual e o demoníaco, não pode mesmo ser substituído ou, sequer, imitado.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

ISTO ACABA EM PICNIC...

O PND da Madeira passou à clandestinidade...

Como é só na Madeira, para já posso dormir descansado.

Três possibilidades:
É um golpe publicitário para promover o Carnaval de 2015;
Vão mesmo dedicar-se à luta armada;
É mais um daqueles movimentos que começa com grandes e ferozes ameaças, para terminar tudo numa alegre picnic nas piscinas de Porto Moniz.

Vou pela terceira hipótese.

PAISAGENS DE PARTIDA

I was able to travel the country for five weeks, from the Tunisian to the Moroccan border. It was a very important trip for me because I experienced two things: firstly that my work was done, and secondly, a truly unsettling feeling of familiarity with places I’d never been, proximity with landscapes I’d never seen before. The ten years that had gone by had thus enabled me to reconnect and live with my Algerian family again, but was it also possible that I belonged to a country, a land? At the time, too exhausted by all this work, I didn’t have the energy to explore these new questions. It was at the start of 2009 that I decided to go back to work in Algeria to question and explore this feeling of belonging.


Eis a grande fotografia do franco-argelino Bruno Boudjelal, cujas paysages du départ são fluidas e ténues. O excerto desta entrevista ilumina o tom onírico e quase irreal da paisagem urbana. Vi as fotografias dele, há semanas, numa exposição sobre o próximo futuro. Foram-me extremamente úteis e lançaram novas pistas para um projeto em curso: chegar a casa é o tema.

terça-feira, 29 de julho de 2014

TINA MODOTTI E A COLEÇÃO FOTOGRÁFICA DO BES

Além do muito interessante Prémio BES Photo, é conhecido o interesse do Banco pela fotografia. Creio que a coleção se começou a formar pelo impulso que Manuel Pinho, ele próprio um conhecido coleccionador, deu a esse domínio. O futuro ministro socialista foi, como se sabe, membro do Conselho de Administração do BES entre 1994 e 2005. Mas isso agora não interessa...

Deixo aqui uma pergunta e uma sugestão: a coleção do Banco já tem alguma obra de Tina Modotti? Esta parece-me muito interessante.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

SETÚBAL - o clero, a nobreza e O POVO


Como alguém me dizia, talvez não seja bem "o povo", porque havia crochet e fashion a mais. Mas aquele carnaval de cores, formas e ideias era popular. A baixa de Setúbal tinha, naquela manhã, um estilo balnear, ainda que com um verniz chic. O centro histórico da cidade sadina é uma realidade curta, limitada por uma pequena acrópole e cingida pelos aterros que conquistaram terreno ao mar. Ler o urbanismo é um mikado divertido e cheio de incertezas. E Setúbal tem esse charme cheio de rugas das cidades portuárias. A beleza das cidades é isso, uma lógica simples e linear.

domingo, 27 de julho de 2014

3000



3000 posts. São alguns mais, mas problemas informáticos e contaminações de origem desconhecida obrigaram-me a apagar textos.

São 3000.

Plaudite, cives!

QUELIMANE


Podemos ter saudades do futuro? Ou de um sítio onde nunca estivémos? Decerto que sim. A minha password nas conversas quotidianas com um velho e querido amigo é Quelimane. Uma cidade onde nunca estive. Mas onde estou certo que poderia passar o resto da vida. Como em tantos outros sítios por onde passei.


"Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da inconsciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos... O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas."

in "Livro do Desassossego" - Fernando Pessoa



sexta-feira, 25 de julho de 2014

ONTEM, NO MUSEU

Balanço breve do colóquio de ontem à noite:

Começa a fazer caminho a ideia que, no curto prazo (e o curto prazo termina em final de outubro), a única possibilidade viável é a da integração dos trabalhadores da Assembleia Distrital de Beja na Comunidade Intermunicipal. Independentemente do que a seguir se concretizar ou for possível realizar.

Uma tal perspetiva depende da vontade de duas entidades: ADB e CIMBAL. Nada mais.


Fotografia: http://www.vozdaplanicie.pt

BEJA INTERNATIONAL AIRPORT - LANDING ONLY...


O aeroporto de Beja vai ter unidade de desmantelamento de aviões em fim de vida. Vai mesmo? A notícia não é original. Já em 2012 se avançava com essa solução. E como dizia então o Rafael Rodrigues (v. aqui) os aviões aterravam mas já não levantavam voo.

Volto a sugerir este nome: Aeroporto Internacional Miguel de Vasconcelos. Alguém que aterrou mas já não descolou...

ENTOMOLOGIA POVOENSE


Novidades sempre há, por estas bandas. Uma investigadora do Politécnico de Beja identificou, na Póvoa de S. Miguel (e pela primeira vez em Portugal), Strongylognathus caeciliae e a Temnothorax tyndalei. Os nomes e o aspeto são temíveis. Mas os bichos são inofensivos.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

HOSPITAL

Quando vi o filme, na RTP2, há uns 35 anos, não percebi nada. O hospital que nos era mostrado nada tinha a ver com os sítios organizados e impecáveis das séries americanas. Contudo, este hospital era americano.

A verdade é que o que Frederick Wiseman (n. 1930) mostrava eram os outros hospitais. Os públicos, não o dos caríssimos seguros de saúde. Foi o primeiro filme que vi deste documentarista. os que se seguiram só aumentaram a minha admiração pelo estilo - em grande parte baseado no trabalho de montagem - e pela capacidade de envolver as pessoas. Vale pena ver o documentário completo. Não é coisa para estômagos sensíveis.

Hospital é o filme destes dias. Data de 1970.

A FIGUEIRA DO DR. TESKE

Post mertolense (isto é, para os colegas e ex-colegas do CAM):

Agora que o verão passa e que estou longe de Mértola, recordo-me periodicamente de  episódios de campanhas de trabalho de há muitos anos. Um deles aconteceu em 1984 ou 1985. O Cláudio Torres, com todo o seu empolgado estilo, convenceu um grande especialista de cerâmica islâmica, o Prof. Dr. Jef Teske, do Gemeentemuseum, a visitar o Campo Arqueológico. O Dr. Teske, um homem na casa dos 40 e tais, estava espantado com a viagem de camioneta entre Beja e Mértola. O condutor parava em cada esquina, apanhava encomendas e bebia até um copo de branco numa taberna (era no Vale de Açor). Caíra noutro mundo e fala constantemente das semelhanças com o Líbano.

Ao fim de dois dias, o especialista em arte mameluca não havia mais nada para ver, claro... A cerâmica andaluza estava distante da sua área de trabalho. Com pragmatismo neerlandês vestiu uns calções, foi para as escavações e tomou-se de amores por uma figueira, cujos frutos, aquecidos pelo sol de Mértola, lhe causaram efeitos dramáticos.

No dia, há já muitos anos, em que a figueira foi abaixo, perguntei ao Cláudio: "lembras-te do Dr. Teske?". Não se recordava e a memória só se avivou quando lhe falei nos benditos figos. "Então e se o convidássemos a regressar?". Convidámos. Escreveu uma carta simpaticíssima, mas declinou. Acho que a culpa foi da figueira...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

CALENDÁRIO JULIANO

Esta fotografia tem 50 anos. Data de 23/7/1964. E, sim, é Sir Lawrence Olivier. No London Palladium.

Uma amiga minha também faz hoje 50 anos. Parabéns, daqui deste lado do Atlântico para as margens do Pacífico.

A FESTA E O AGRADECIMENTO

A Festa já lá vai. Um inegável sucesso, cujo mérito cabe à dinâmica Comissão de Festas. Recebi hoje este simpático mail, que aqui reproduzo:


Boa tarde...

Esta mensagem é escrita e sentida por todos os elementos da Associação Cultural em Honra de Nossa Senhora do Carmo 2013/2014, é desta forma que agradecemos todo o apoio incondicional que foi dado ao longo do ano pela Ex.ma Câmara Municipal de Moura, a todo o executivo, a todos os seus trabalhadores o nosso MUITO OBRIGADO!

Bem-hajam!

Com todo o respeito e apresentando os melhores cumprimentos

Abraço dos festeiros e beijinhos das festeiras, por tudo...

DE REGRESSO

Alguém me perguntava hoje se estava tudo bem, tal o silêncio aqui por estas bandas. Foram dias sem interrupção, entre 16 e a madrugada de 22, à conta das festas de Moura. Daí que...

De regresso! É isso.

sábado, 19 de julho de 2014

O FUTURO DO MUSEU REGIONAL DE BEJA

O tema é recorrente, aqui no blogue.

Agora ainda mais se torna premente pensar o futuro do Museu de Beja. A lei 36/2014, de 26 de junho, veio estabelecer um novo regime jurídico para as assembleias distritais. O que, no caso da nossa região, implica preparar o futuro do Museu Regional. Neste momento, e segundo os prazos legalmente definidos, faltam três meses para se resolver o problema. É importante o contributo de todos. Daí que tenha decidido promover este colóquio, no qual participarão:

ANA PAULA AMENDOEIRA - Presidente da Comissão Nacional Portuguesa do ICOMOS (International Council of Monuments and Sites)
JOÃO NETO - Presidente da Associação Portuguesa de Museologia
JOSÉ ALBERTO RIBEIRO - Presidente da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM (International Council of Museums)
JOSÉ ANTÓNIO FALCÃO - Diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja
JOSÉ CARLOS OLIVEIRA - Diretor do Museu Regional de Beja
MANUEL BAIRRÃO OLEIRO - Diretor do Departamento de Museus, Conservação e Credenciação (Direção Geral do Património Cultural)
E o autor do blogue, na qualidade de Presidente da Assembleia Distrital de Beja.

Dia 24, às 21 horas, no edifício do Museu.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

AEROPORTO DE BEJA - A NOSSA HOOTERVILLE AIRPLANE COMPANY

A série chamava-se Green acres e passou na televisão portuguesa com o título Viver no campo. Os episódios eram exibidos na RTP 1, aos sábados (?), antes de telejornal das 13. O João detestava o Viver no campo por ser uma americanice e por ter gargalhadas enlatadas... Eu gostava assim-assim, em particular quando as histórias eram absurdas.

Uma das melhores, que recordo como se fosse hoje, foi a da companhia aérea que os habitantes de Hooterville recuperam, através de um velho contrato, e se lançam na produção de pequenos aviões, construídos localmente. A geringonça não resiste ao batismo e desconjunta-se com o embate da garrafa de champanhe. O voo inaugural foi adiado.

O aeroporto de Beja, uma infraestrutura em relação à qual tive as maiores reservas (há um artigo publicado no "Diário do Alentejo", em 1999, sobre o tema) vai pelo caminho da Hooterville Airplane Company. A Aigle Azur cancelou, há tempos, os voos Beja-Paris. O assunto morreu. O aeroporto de Beja está cada vez mais parecido com o de Ciudad Real (v. aqui).

quinta-feira, 17 de julho de 2014

UM ALUCINANTE DIA DE NOSSA SENHORA DO CARMO

Depois da segunda edição do Fórum 21, que ontem teve lugar, o dia de Nossa Senhora do Carmo foi marcado por um desassossego permanente. Um dia ainda hei-de perceber essa ideia da placidez da planície e da calma alentejana.

Notas para um diário de um autarca alentejano:

10 h - Inauguração da exposição do CNE, do meu CNE, já agora.


17 h - Reunião de Câmara, ao ar livre. Podia ter sido num dia mais ameno, mas este passo no processo de abastecimento de água merece uma programação diferente. A reunião, junto aos depósitos de água de S. Lourenço, contou com a presença do Eng. João Silva Costa, membro do Conselho de Administração da empresa Águas Públicas do Alentejo.


19 h - Um momento memorável. Inauguração da exposição do jovem Francisco Marques, no antigo Café Cantinho. Moura à maneira dele, numa iniciativa que contou com o apoio entusiástico da Câmara Municipal. E com este textinho do autor do blogue:

AO JEITO DO FRANCISCO

A festa em honra de Nossa Senhora do Carmo é o momento indicado para se homenagear a nossa terra. No presente caso, Moura é celebrada pelo olhar de um jovem e talentoso pintor da nossa terra. O Francisco pinta com a naturalidade e a espontaneidade que podemos apreciar.

O que me parece mais interessante nos quadros do Francisco são as suas sugestões expressionistas, sendo de duvidar que ele se tenha debruçado sobre o tema ou partilhasse das dúvidas e angústias dos pintores desse movimento. O sentido intuitivo do Francisco leva-o por diversos caminhos, nos quais uma paleta de tons vibrantes está sempre presente.


A juventude deste pintor, o seu permanente entusiasmo e a sua sensibilidade são motivos mais que suficientes para a autarquia organizar esta exposição, que é o ponto de partida para uma iniciativa de maior dimensão, a ter lugar no próximo ano.


Logo a seguir teve lugar a abertura de outra exposição. A de Soraia Domingos, com o desenho como ponto forte.


20 h 30 - Abertura das Festas, com desfile, como mandam as regras. Que terminou no Largo de Santa Comba. A igreja que aqui está é a de São João Batista, bem colorida e ornamentada.



É 1:17 de quinta-feira. Ainda há música nas ruas.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

PAVILHÃO SOLAR DAS CANCELINHAS, NA AMARELEJA - UM PASSO EM FRENTE

Arquitetura contemporânea de grande nível no interior alentejano: começa a ser "visível" o Pavilhão Solar das Cancelinhas. Um grande projeto de Victor Mestre e Sofia Aleixo. Do velho se faz novo. Da escola dos centenários de passa a uma visão de futuro. Ganha-se um pavilhão com uma área coberta de mais de 700 m2. Conquista-se um espaço para uso permanente e diversificado.

O regozijo tem a ver com o empenho que, pessoalmente, tive em relação a este processo. A programação decorre como previsto. Na primavera/verão de 2015 teremos a obra concluída. A Amareleja sai a ganhar.

terça-feira, 15 de julho de 2014

UMA CIDADE E O SEU MUSEU: 1/20 - MOURA

Início de uma longa série de 20 (vinte) textos sobre museus e a sua relação com as cidades e onde se situam. E qual a relevância social, cultural e económica que esses museus têm.

O Museu de Moura, depois de décadas com a casa às costas, vai ter o seu espaço próprio. Graças ao empenho de muita gente e ao financiamento comunitário. Uma zona pouco considerada da cidade vai, também, ganhar novo alento.

A entrevista que se segue saiu hoje, no jornal "A Planície".





Em que consiste a intervenção no antigo Matadouro, que visa transformar aquele espaço no novo Museu Municipal?
Não é só um museu que aqui está em causa. A intervenção envolve o edifício do antigo Matadouro, mas também toda a zona à sua volta. Repare que estamos a falar de um espaço que estava morto para a cidade. Entre a Mouraria e a urbanização do Rio da Roda havia uma terra de ninguém. O edifício estava sem uso, não havia passeios e a circulação dos peões fazia-se de forma precária.
O espaço do Matadouro em si acolherá a área de exposição do museu, os serviços de apoio e a equipa de arqueologia. Deixa-se de trabalhar em áreas improvisadas e passa-se a fazê-lo em condições.

Qual o motivo da escolha desta localização e espaço, para instalar o novo Museu Municipal?
Não houve exatamente “um motivo de escolha”. Quando começámos a trabalhar, em 2007/2008, no plano de reabilitação de espaços do centro histórico de Moura, havia um princípio que nos norteava: o de tirar partido de edifícios de qualidade e de os reutilizar. Temos nesta terra uma arquitetura de extraordinária qualidade. Não se deve, a nosso ver, andar a fazer de novo só por exibicionismo ou vaidade. Por isso tomámos como ponto de partida edifícios já existentes para neles serem colocados coisas novas. Quer exemplos? O espaço internet no Pátio dos Rolins, o centro de joalharia no antigo quartel dos bombeiros, a reabilitação do antigo Café Cantinho como conservatório, a criação de uma área multiusos na igreja do Espírito Santo (outrora em ruínas) ou, mais recentemente, a recuperação dos Quartéis. Podemos juntar as estas intervenções a adaptação de um quintal a Jardim das Oliveiras ou o lançamento de projetos como o da Biblioteca no edifício do Grémio da Lavoura. Este último só não começou a ser concretizado porque insuperáveis problemas financeiros nos impedem de o fazer, agora. Mas é um dos nossos próximos objetivos.
Em resumo, a escolha não é fruto de um capricho ou de um acaso. Resulta, sim, de um plano de trabalho que ganhou, com o tempo, corpo e solidez. E que muito deve à intervenção do arq. João Maria Trindade, autor do projeto de reabilitação do edifício e a da intervenção nos espaços exteriores.

Que valências irão resultar desta intervenção no antigo Matadouro?
São várias. Um museu não é só uma exposição. Ou um conjunto de peças. Já não falo no poder do marketing que envolve muitos projetos deste género. Ou na exportação de “selos” como o nome de Guggenheim. Mesmo a uma escala mais pequena, sem grande esforço financeiro, é possível criar produtos que sejam a marca da diferença. Precisamos que as exposições - peça essencial num museu como o de Moura – se aliem a uma política de comunicação eficaz. E precisamos de dar espaço à investigação. Gostaria de sublinhar que o Museu de Moura tem nas suas diversas componentes, que incluem a arqueologia, técnicos qualificados que levarão o projeto a bom porto. E que lhe saberão dar um rumo, de forma autónoma.

Qual o valor do investimento que está a ser realizado neste projecto?
Estamos a falar de cerca de 1.200.000 euros. Recordo que se trata de uma obra que tem um financiamento comunitário de 85%. Ou seja, a parte do município é de cerca de 180.000 euros
Não faltarão os demagogos e os especialistas-de-vão-de-escada que aparecem, regularmente, a contestar este tipo de intervenções. Tínhamos, como alternativa, deixar edifícios importantes da nossa cidade em ruínas e abandonados à sua sorte. Não é essa, nem será, a opção. Teria vergonha de ter passado pela Câmara, primeiro como vereador e agora como presidente, sem tentar concretizar uma política de intervenções com este fôlego. Porque não podemos deixar de o fazer.

Quando se prevê que a obra esteja concluída e que o novo Museu inicie a sua actividade?
A obra tem duas fases. Esta estará terminada, no essencial, no final do ano. A primeira exposição do novo museu deverá abrir as portas no outono de 2015. Esperamos dar depois seguimento ao projeto. Que tem um razoável grau de complexidade e que teve vários contratempos. Em todo o caso, não será o facto da obra não estar terminada a 100% que impedirá o seu uso.
O arranque é um momento importante de afirmação. Nesse sentido, apostamos num projeto original que agregue a História, a Arqueologia, a Geologia, a Antropologia, a Música... Tema? A água. Temos exemplos abundantes para todos os domínios que acabo de referir. Sabia, por exemplo, que Alfredo Keil, o autor do nosso Hino Nacional, compôs uma valsa dedicada à Moura Salúquia, encomendada pela empresa da Água Castello?
A procura de caminhos originais é essencial. É assim que pensamos fazer.

O que trará de novo este espaço à cidade?
Mais vida, esperamos nós. E acreditamos nós. Como já terá reparado, temos nesta altura muito mais visitantes em Moura. As pessoas procuram a diferença. É difícil para quem vem de fora não reparar na nova cara do castelo de Moura, ou no feliz resultado da obra dos Quartéis ou na beleza da Mouraria. Este bairro tem, à noite, um charme muito particular. Quem andar por aí reparará nos estrangeiros que por lá passeiam. Não são muitos? Ainda não. Mas o número de visitantes deu um salto significativo. E penso que é na criação de tópicos de inovação que reside a chave do nosso futuro.

Junto ao Matadouro, estava também prevista a instalação da gare de Moura, esta será uma obra para avançar a curto ou médio prazo?

De momento, não é essa a opção. Quando o processo arrancou, em 2008, havia ainda um financiamento de 90% para este tipo de equipamentos. As regras do jogo mudaram e nós temos de nos adaptar. Enquanto durarem os constrangimentos financeiros que temos, as opções à nossa frente são duas: ou concretizamos o terminal rodoviário no terreno junto aos cortes de ténis ou o fazemos na antiga estação da CP. Quais as condicionantes? A primeira hipótese situa-se num terreno camarário mas custa cerca de 600.000 euros. A segunda é menos cara, qualquer coisa à volta dos 250.000, mas o edifício não é nosso. Abrimos um processo negocial com a REFER e iremos passar os próximos meses à volta deste dossiê. Em qualquer dos casos, iremos necessitar de financiamento comunitário.