segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

SYRIZA, ESQUERDA E TAL

"Karamanlis ou os blindados", proclamava-se em Atenas, em 1974. Ou seja, se a Nova Democracia não ganhasse as eleições, regressaria a ditadura. Konstantinos Karamanlis (1907-1998) acabou  por liderar o processo de democratização da Grécia.

Samaras tentou a tática do medo, pintando o Syriza de vermelho. Agitaram-se espantalhos norte-coreanos. Já se imaginavam os jovens gregos desfilando na Praça Syntagma, cantando em coro "é tão bela a nossa vermelha Acrópole"...

Caaaaalmaaaa... Não vai acontecer nada de substancial. Tsipras vai dar uma de realpolitik. O resto são coisas que dão para umas momentâneas excitações noticiosas e nada mais.




Texto de Miguel Esteves Cardoso, no "Público":


Hoje é um dia importante. Espero que o partido Syriza ganhe as eleições com maioria absoluta. Alexis Tsipras é inteligente, corajoso, grego e europeu: não quer que a Grécia deixe de usar o euro.

Se ganhar com maioria, fará frente à União Europeia e defenderá uma união financeira que ajudará os países mais pobres, como Portugal.

Portugal não pode continuar a fingir que é diferente da Grécia. Não é. A Espanha, maior, também sabe que faz parte do mesmo grupo do savoir vivre que inclui a Itália inteira e quase toda a França.

A verdade é que existe — e sempre existiu — uma Europa do Sul, em que cada país se dividiu, inutilmente, entre Norte e Sul.



Se o Syriza ganhar (ou perder), devemos abraçá-lo e solidarizarmo-nos com ele. As eleições nacionais são a última afirmação da escolha política.

Poderia haver na Grécia um partido que, ao contrário do Syriza, quisesse sair do euro e voltar ao drachma, poupando biliões. Até há. Mas não têm hipótese de ganhar.

Os poderes do Norte da União Europeia querem dividir-nos e obrigaram-nos a competir entre nós, para descobrirmos quem é o escravo mais cumpridor.

Não há maior beleza do que a união política dos pobres e devedores. Obrigarmo-nos a ser de direita ou de esquerda é a mais horrenda manobra divisionista.

Hoje é domingo e a eleição na Grécia atira-nos para o silêncio. Isso é que era bom. Hoje queremos que ganhe o Syriza e, por conseguinte, as opiniões portuguesas que ainda sonham com um mínimo de liberdade.

Assim seja.

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