sexta-feira, 20 de março de 2015

QUANDO VIER A PRIMAVERA

Quando vier a Primavera



Quando vier a Primavera, 

Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo. 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é. 

Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos



A Primavera chega, tecnicamente falando, dentro de uma hora. A minha vai ser, assim o espero, menos soturna que o poema e mais colorida que a tela de Henrique Pousão. Duvido, contudo, que seja tão bela como um e outra.

1 comentário:

Portugalredecouvertes disse...

que bom! procurava um poema sobre a Primavera para o meu blogue de poesias!
bom fim de semana
Angela