quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

REGRESSO A GHADAMES


Regresso a um sítio onde, fisicamente, nunca estive.  Ghadames já por aqui passou, com palavras de Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007). Cidade secreta, longe do bulício e fora das margens do grande mar do meio, a sua imagem persegue-me, de forma obsessiva, há muitos anos. Regresso, portanto, a Ghadames, outra vez com palavras da mesma poetisa.

DOMUS
Ouvirei os ruídos (dos) vivos, percurso de mortos, passadas
horas de afastamento e das visões nítidas;
a ciência dos náufragos, eterno retorno; a vaga
do início das águas, primeiros sentidos da terra
ou hespérida.  Hinos (era de ouro) ao sangue
que no atrito circula; à seta, em sua árvore
de arco; à espécie, o primeiro nado. Hóspede
de solo, humano, ergui o corpo; saúda
em Atlântida a ágora; saúda a urbe (onírica).
Onde penetram os membros, esse cortejo. Congregue
os animais; na praça a cúpula vibre. Seus dons exerça
em exílio — numa estação adversa ou oiço
em fontanários e harpas o mesmo
brado: o desejado sítio, ó espera.

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