domingo, 31 de janeiro de 2016

ESPELHOS

E chega ao fim o primeiro mês deste 2016. O(s) meu(s) quotidiano(s) reflete(m)-se, todos os dias, numa multiplicidade de espelhos. Quer eu queira, quer não. A realidade torna-se-me uma hiperrealidade, como nas obras de Richard Estes (n. 1932), quase mais perfeita e mais nítida do que o é. A realidade torna-se múltipla, como nos textos de Borges, como na sequência derradeira de "A dama de Xangai". Interminavelmente.


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
_ Em que espelho ficou perdida
a minha face?


As cabines telefónicas foram pintadas em 1968. O poema de Cecília Meireles é uma repetição (5.11.2009).

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