quinta-feira, 12 de maio de 2016

MADRID, ALMODÓVAR E LOLA BELTRÁN

Este filme já aqui andou, há seis anos. 

Repito o texto de 27.6.2010:

Gosto deste filme por muitas razões. Pela música, pela montagem, por Madrid, pelo ritmo, pelas mulheres neuróticas. É uma das obras mais conhecidas de Pedro Almodóvar (n. 1949), mas nem por isso foi especialmente incensada por parte da crítica. Mujeres al borde de un ataque de nervios, rodado em 1988, tem, por vezes, o ritmo e o estilo de uma slapstick comedy. Sob essa capa esconde-se um melodrama, tão ao gosto espanhol. É, também, um filme de cinéfilo. O que justifica que parte da trama se desenvolva em torno da dobragem de uma obra clássica: Johnny Guitar.

A primeira coisa de que gostei foi da canção inicial, Soy infeliz, da grande cantora ranchera Lola Beltrán (1932-1996). Levei anos de procura obsessiva à procura do disco. Valeu-me uma amiga mexicana, cujo rasto entretanto perdi. O que tem Mujeres? Amores e desencontros, dois actores que já se amaram e que dobram um filme, também sobre desencontros, sem nunca se cruzarem. Há uma mulher obsessiva e paranóica, uma advogada sem escrúpulos, terroristas xiitas e um extraordinário mambo-taxi.

No final do trailer vê-se Carmen Maura a cruzar uma rua, com a Torrespaña em fundo. É a Calle O'Donnell, perto do cruzamento com a Calle de Narvaez. A minha avó morava ali a dois passos. Passei por aquele sítio, pela mão dela, muitas vezes. São, também, as recordações que nos fazem regressar aos sítios. E aos filmes.

Retomo agora o filme, usando os créditos iniciais. Podia ter usado outras cenas, em que a ausência de duas pessoas é recordada através das suas vozes. Acabei por fazer esta escolha. Mujeres al borde de un ataque de nervios é o meu filme destes dias.


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