domingo, 12 de março de 2017

DUAS CIDADES

Já há muito tempo que não fazia este percurso. Na sexta-feira repeti um caminho de tempos idos. Em vez de apanhar o metro ou descer a Avenida da Liberdade, escolhi a via paralela (há coisas que não se fazem por acaso e esta mania dos caminhos paralelos é coisa antiga...). Desci as ruas dos três santos: Marta, José e Antão. O percurso é suavemente sinuoso, sobrepondo-se a uma antiga via medieval, que saía da cidade pelas Porta de Santo Antão. Na Avenida da Liberdade há marcas: Gucci, Loewe, Trussardi, Boss... Na rua paralela há pessoas. Uma outra Lisboa resiste, ainda e sempre. Igrejas setecentistas, o espalhafato romano da sede dos CTT, à mistura com casas simples, operários, funcionários de baixa patente, restaurantes modestos e deliciosamente barulhentos. Ali, ainda não chegou a gentrificação, mas vai chegar, e já não tardará muito. Os turistas ainda não se aventuram para norte do Largo da Anunciada. Acharão que naquela rua estreita e com pouca luz não há muito para ver. Puro engano. Basta ouvir os sons e ver o movimento para se perceber que aquela Lisboa, a outra cidade, é melhor e mais viva que a outra, feita em linha reta. Os caminhos paralelos são sempre melhores e mais coloridos. Constatei isso mesmo na sexta-feira, à hora do almoço, quando repeti caminhos de há mais de 30 anos.



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