domingo, 25 de junho de 2017

ÚLTIMO FERIADO MUNICIPAL

Entra-se em contagem decrescente. A partir daqui todas as intervenções serão as últimas. Como a de hoje, no almoço dos trabalhadores da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia do concelho. Aqui fica o texto que tive a oportunidade de ler.


Caros colegas autarcas
Caros trabalhadores da Câmara Municipal de Moura e das Juntas de Freguesia
Caros amigos do Um dia na Presidência

Por norma, estas intervenções são o momento em que se faz o balanço do ano que passou e se apontam metas para o ano seguinte. Este ano, a intervenção será diferente. Desde logo, porque em 2018 não terei estas funções.

Gostaria, assim, de deixar algumas ideias sobre o tempo que passou. E sublinhar o caráter crucial de algumas opções que foram sendo tomadas. Em cinco pontos.

Começo antes por vos contar uma coisa que os que não se interessam por História normalmente desconhecem. Lembrei-me, há dias, e por motivos de ordem pessoal, de um livro escrito em 1957, intitulado “O capitalismo monárquico português”.

Em 1517 (há 500 anos), o País estava fortemente endividado.
O rei tinha acumulado empréstimos atrás de empréstimos.
Quem nos emprestava dinheiro? Banqueiros alemães.
Onde eram feitas as transações? Em Antuérpia.
500 anos depois, estamos fortemente endividados.
Quem manda? Os alemães.
Onde se tomam as decisões? Em Bruxelas (que fica a 40 quilómetros de Antuérpia).
Tudo se mantém monotonamente igual.
O País continua pobre e dependente.

O interior despovoa-se e envelhece. Faltam políticas capazes de invertir a situação e faltam homens de Estado. O último a ter uma noção precisa da importância do interior foi o Marquês de Pombal. Morreu há 235 anos e usava, em temos políticos, métodos discutíveis.
Somos, para mais, desgraçadamente, pobres com mentalidade de rico. Muitas vezes o temos constatado, ao longo dos últimos anos. Acha-se que tudo é possível, ou que a tudo temos direito ou que o dinheiro não se acaba. Não é assim. Daí também o estilo austero e firme que adotámos. Nem sempre pudémos agradar a todos. Não foi essa a nossa preocupação. Porque isso não é possivel. Ai dos que acham que a governação é um exercício de consulta a todos a toda a hora, para depois tomarem decisões. Ai deles.

O que faríamos outra vez e porquê?

1. Voltaríamos a apostar na reabilitação do património edificado. Obras como a do Matadouro, a dos Quartéis, a da igreja de Safara, a do Pátio dos Rolins, são importantes porque resolveram problemas. Mas são também decisivas pelo seu caráter simbólico. Não há futuro sem um passado sólido. Não há futuro sem que os centros urbanos se renovem. E sem que edifícios antigos ganhem novos usos. Não perceber que isso não é um capricho (ou arqueologia e museus) é, do ponto de vista político, social e cultural, uma tragédia. Uma perfeita tragédia.

2. Voltaríamos a apostar em infraestruturas. Está agora em moda a ideia de que o essencial das infraestruturas está feito e que agora a opção é a “área social”. Um perfeito disparate. Primeiro, as infraestruturas precisam de permanente renovação e manutenção. Depois a realidade, não é um bolo de bolacha, com camadas que podem ser retiradas. A realidade é global. Na política social apostámos na habitação (perto de um milhão de euros). É a condição primeira para uma vida digna. Às obras em casas particulares segue-se a recuperação do Bairro do Carmo.

Houve outras apostas em infraestruturas? Sim. No Parque de Vale de Juncos e no Pavilhão das Cancelinhas, na Amareleja. Na reabilitação de escolas. Na renovação da Zona Industrial. Na obra em curso na Ponte do Coronheiro. Na criação do Centro Náutico da Estrela. Na conclusão da obra da Ribeira da Perna Seca. Era possível mais? Talvez. Assaltando um banco. E tinha de ser bem escolhido. Que alguns não têm dinheiro.

3. Voltaríamos a investir no setor operacional e na atenção que démos à área financeira. Nós não somos donos do Município. Somos transmissores daquilo que recebemos. Por isso tivémos a preocupação de dar aos nosso trabalhadores melhores condições e melhores equipamentos. Essa opção implicou não fazer outras coisas. Ou isto ou aquilo, como no célebre poema de Cecília Meireles. Aumentámos 10 vezes a compra de equipamentos e diminuimos 10 vezes o montante de pagamentos em atraso. Houve esforço de todos, empenho de todos. Teve de haver uma atitude tesa e de não transigência em muitas ocasiões. A Câmara Municipal de Moura está no pelotão da frente em termos de novos investimentos e no aproveitamento de fundo comunitários.

4. Voltaríamos a apostar nas novas oportunidades que surgiram na área económica. Sim, voltaríamos a criar condições para a instalação do CONTINENTE. Voltaríamos a apostar no Centro de Acolhimento a Microempresas de Moura. Voltaríamos a negociar e criar condições para a instalação do Centro de Inspeção de Veículos. Voltaríamos a criar condições para o Centro de Fisioterapia começar a laborar. Voltaríamos a disponibilizar lotes para os dois importantes investimentos em curso (apicultura e vinhos) na up 11. Não esqueçamos o domínio do fotovoltaico. Que gera agora tantas e tão assolapadas paixões.

O Município de Moura cresceu 350% em termos de exportações (estamos em 3º lugar a nível nacional). O mérito é dos empresários. Mas uma Câmara inimiga das empresas não criaria condições para eles trabalharem.

5. 0 futuro que aí vem passa por todos nós. Passa pelas associações (ainda ontem distiguimos sete, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Moura, Centro Recreativo Amadores de Música "Os Leões", Círculo Artístico Musical Safarense, Grupo Desportivo Amarelejense, Moura Atlético Clube, Sociedade Filarmónica União Musical Amarelejense, Sociedade Filarmónica União Mourense "Os Amarelos" com a medalha de honra do município). O futuro passa pela afirmação do nosso concelho. Passa pelos novos investimentos. Neste momento temos candidaturas em curso de mais de cinco milhões de euros: o antigo grémio, a Torre do Relógio (Amareleja), o futuro terminal rodoviário, a reabilitação do Bairro do Carmo e a consolidação das muralhas modernas. Mais a obra do novo cemitério e ultrapassamos os seis milhões e meio de euros.

Precisamos que as regras do jogo, em termos de financiamento, sejam alteradas para que seja possível renovar redes de águas e de saneamento. E para que possamos criar e expandir as zonas industriais. Só com o orçamento municipal não vamos lá.

Temos tudo isso e temo-los a eles. Aos jovens do “Um dia na presidência”. Foram eles os protagonistas dos melhores momentos que tive neste mandato. Conseguir estar perto da juventude foi um privilégio. Sem preço.

São eles o futuro. Temos a obrigação de lhes explicar aquilo que vão herdar e a responsabilidade que vão ter em melhorar aquilo que foi feito ao longo de centenas de anos. Terão de fazer do nosso concelho um concelho melhor. É uma responsabilidade grande. E eles vão conseguir.

Reitero o que há poucos meses disse numa cerimónia pública: “de uma coisa tenho hoje a certeza. As soluções e a força estão em nós. Em todos nós. Não há salvadores da pátria, nem profetas nem homens ou mulheres providenciais. Estamos todos nós, com o nosso empenho, o nosso sentido de luta e a nossa capacidade de concretização. Estamos nós e, como me disse um dia o Prof. José Mattoso, a ‘infinita liberdade do espírito’. É a essa, cada vez mais, a minha firme convicção.”


Devo um agradecimento final aos trabalhadores da Câmara Municipal de Moura. Fiz parte da vida deles durante estes anos. E eles da minha. Graças a eles pude melhorar o meu trabalho e tornar diferente a perspetiva que tenho das coisas e da vida. Devemos-lhes reconhecimento. O trabalho deles foi decisivo para termos um concelho melhor. O esforço deles é um contributo essencial na construção do futuro. Tarefa que se faz e recomeça em cada dia.

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