terça-feira, 8 de agosto de 2017

AMARELEJA, por José Manuel Rodrigues

Dentro de poucas semanas terá lugar a apresentação do livro AMARELEJA. Foi um trabalho que fizémos questão de levar a cabo. Depois de uma crónica da festa de Moura, editada em 2001, depois de um álbum fotográfico sobre Santo Aleixo, dado à estampa em 2010, achámos que era a vez da Amareleja. Cada livro tem um espírito proprio e uma vida própria. “Amareleja” não é uma monografía ou uma crónica. Não é um ensaio. São mais de 100 fotografias que dão conta de parte da vida de uma aldeia (adotou-se essa designação, por respeito ao espírito ancestral do sitio). Vão a par cinco textos (Jorge Calado, Jorge Gaspar, Norberto Franco, Francisco Ramos e o autor destas linhas). Um crítico de fotografía, um geógrafo, um jurista, um académico (autor de um notável trabalho sobre as alcunhas) e um historiador. O mais interessante foi constatar a diversidade de imagens que cada um de nós criou. Mais próximas sem dúvida as de quem ali viveu ou vive (Norberto Franco e Francisco Ramos). Mais distantes as de nós outros. Espantosamente, parece que José Manuel Rodrigues ali passou longos anos. Os espaços públicos e a intimidade dos sítios foram captados com proximidade e com ternura. Por razões que não vêm ao caso, o arranque do projeto foi quase penoso… O José não teve o trabalho facilitado. Preferiu ficar só e afirmou-se, contando apenas com dois ou três apoios locais.
O livro deveria ser sobre o vinho. Mas a aldeia é muito mais que isso. E, assim, os temas se alargaram e o livro cresceu. E melhorou, no que às imagens diz respeito. Segui a lógica das imagens e o espírito do lugar. O “genius loci” dos nossos antepassados romanos. Usei temas fortes, do modo que quis. O calor, o vinho, as tabernas, as mulheres, as casas, a paisagem da aldeia. A paixão dos fortes feita sítio. O texto que escrevi começa assim:
“A terra é quente, as pedras escaldam. O calor molda o espírito e ajuda
a afeiçoar o vinho. É assim o verão na Amareleja. Quando chegar o outono, o
calor será um pouco menos. Haverá vindimas e depois virá o frio e depois
haverá vinho novo. Por agora, o céu é quase sempre azul. Entre o céu e a
terra se fez a Amareleja. Entre o céu e a terra se faz o vinho da Amareleja.”
No final, fica um pouco a angústia “as pessoas irão gostar?”. Que as fotografias são um testemunho extraordinário, não tenho duvidas… Talvez não seja boa ideia antecipar o que vai acontecer. Tenho quase sempre esse hábito. Por impaciência ou por qualquer razão difícil de definir. O melhor é mesmo aguardar. E confiar.


Crónica publicada hoje, em "A Planície"

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