quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O VINHO QUE APAGA O FUMO


O episódio passou-se há muitos anos, talvez em 1971 ou 1972. Foi à hora de saída da escola primária. A escola ficava na praça, na casa que hoje pertence ao meu amigo Francisco Manta. O meu companheiro de caminho para casa era o António Pato Oca. Subíamos a Rua 1º de dezembro, depois a do Poço, em direção à Porta Nova. Naquele princípio de tarde, uma animação suplementar nos estava reservada. Mal tínhamos cruzado a porta da escola, vimos um homem parar a sua V5 junto à parede do café do senhor Daniel Costa Rodrigues. Desceu-se da mota e, por artes mágicas, o assento pegou fogo. Não era assim um grande fogo, nem era bem fogo, na prática era só fumo e nada de chama mas, se alastrasse ao resto e atingisse o depósito, adeus motorizada.

Parámos os dois a ver no que davam as modas. Encostados à parede e fascinados com o acontecimento. Em Moura, poucas coisas aconteciam e era preciso aproveitar cada instante. O fumo alastrava, ante a aflição do homem. Não havia telefones automáticos e os telemóveis eram coisas de ficção científica. A parede da casa, à esquina da Rua Santana e Costa, era diferente do que é hoje. Onde agora está a janela manuelina do atual restaurante havia só a parede, e uma pequena janela do café. De súbito, um bombinho [a palavra não existe nos dicionários, mas a crónica é só para a gente…] salta da minúscula abertura para a rua. Atrás do bombinho, aparece a cabeça do sr. Fernando José Chaparro. Pendurado, tanto quanto podia, da janela, gritou para dentro “liga!”. Começa a jorrar líquido. Em poucos segundos, o fumo amainou e, se assim se pode dizer, estava extinto, para alívio do dono da motorizada e para gáudio de todos nós. Aplausos e vivas. Estranhámos a cor amarelada do líquido extintor. Tal como notámos, logo de seguida, um cheiro acre e intenso na rua. Nessa altura, já o interior da taberna era uma trovoada de gargalhadas. O sr. Fernando Chaparro, sendo o bombinho muito curto e não chegando à torneira da água, ligara-o a uma pipa de vinho branco. A eficácia extintora da pomada ficou comprovada. Ante as piadas e os dichotes, encolheu os ombros “um homem tem que se desenrascar, não é verdade?”. É, decerto. Outras contas à vida ficou a deitar o senhor Daniel, a quem a atitude determinada do improvisado bombeiro deve ter custado uma mão-cheia de copos de três.

O sr. Fernando Chaparro deixou-nos há muito, demasiado cedo. Este episódio, como tantos outros de tempos de infância e de juventude, colou-se à minha memória. Pensava ter já relatado o sucedido ao meu amigo e colega José Chaparro. Afinal não. Aqui fica, pois, meu caro José, esta breve evocação do teu pai e do dia em que o vinho apagou o fumo.

Foi aqui, como diria o outro.
Hoje, em "A Planície"

terça-feira, 30 de outubro de 2018

LISBOA ISLÂMICA ANTES DA LISBOA ISLÂMICA

Uma mensagem criptada? Nem por isso. É que estas visitas à Lisboa Islâmica nos dias 12 (terça-feira) e 23 (sábado) de março surgem, na realidade, antes de tomar forma a exposição Lisboa Islâmica. Na qual trabalho e que já tem formato. E em breve tomará forma. E que não será nada formal, nem pelo sítio nem pelos conteúdos. Mas fazer as coisas sempre da mesma maneira é um aborrecimento. Viva Lisboa Islâmica, do passado e do presente.

O programa destes itinerários é extenso e o melhor mesmo é consultar a página no facebook:


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

BOLSONARO PRESIDENTE

Não houve surpresas. Nem novidade. Bolsonaro é um Costa e Silva mais burgesso e com microfones e internet. Também não vale a pena carregar as tintas no repugnante Edir Macedo e na sua IURD. Este surgiu onde a Igreja falhou. Aliás, tudo falhou.

Os textos do Expresso do passado sábado traduziam com clareza o estado de saturação e de desespero das pessoas. A par das ponderadas e lúcidas análises de alguns intelectuais brasileiros. A vitória de um presidente de extrema-direita estava mais que garantida. Fica(-me) só uma questão: quem vai, de facto, governar? O quê? E como?


Vale a pena guardar dois textos cripto(mas-não-muito-cripto)fascistas:

O de Jaime Nogueira Pinto:
https://observador.pt/opiniao/a-alternativa/

O de Gabriel Mithá Ribeiro:
https://observador.pt/opiniao/bolsonaro-e-as-antas/

domingo, 28 de outubro de 2018

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XIX

O ritmo do 27 é soluçante, Rua de S. Bento acima. O passo de procissão é agravado pelas novas construções. Vou olhando em volta. Faltam 500 metros para chegar ao Rato. Mesmo ao lado da casa de Amália está uma fachada do final do século XIX ou do início do século XX. Labor omnia vincit, o orgulho do comerciante estampado na fachada. Isso foi em tempos. O prédio está, ou parece estar devoluto. Que história terá tido? Quando é que o trabalho terá deixado de ser vencedor? Labor omnia vincit? Sem dúvida, mas sempre de forma parcelar e temporária. Não há eternidades... E é preciso recomeçar uma vez e outra.

sábado, 27 de outubro de 2018

ALIÁS, É ASSIM DESDE 2009...

A Câmara Municipal de Moura presta apoio arqueológico a particulares? Sim, mas isso não começou agora. É assim desde 2009.

Convém explicar porquê. Até porque fui eu o responsável político por essa decisão. É que a realização de obras em áreas classificadas necessita ter acompanhamento arqueológico. O qual pode ser garantido por empresas que atuam nesse setor. Nenhuma delas tem equipas perto de Moura. Ou seja, a realização do acompanhamento arqueológico arriscava-se a agravar sobremaneira o custo da obra. Em certos casos, esse acompanhamento ficaria mesmo mais caro que a obra. Ora, isso não fazia sentido. Desde logo, porque se queremos fixar populações nos seus bairros de origem, há que criar condições para tal. E não fazer ao contrário, agravando o custo das intervenções.

Se bem o decidimos (a ideia teve apoio imediato do José Maria Pós-de-Mina e da restante vereação), melhor o fizemos. O processo foi posto em prática. Como detidamente explico no livro que escrevi.

Punch-line: um técnico da Câmara Municipal insinuou-me, em privado (por isso não posso revelar o nome), que esta iniciativa era ilegal, por traduzir uma forma de apoio a particulares não prevista na lei. Ou seja, estaríamos a financiar privados, de forma indireta. Tive vontade de desatar às gargalhadas, mas contive-me. Em tom cerimonioso, aconselhei-o a denunciar a autarquia junto das entidades competentes. Não sei se o fez.

Este "programa de apoio" continuou. Foi "redescoberto", ao fim de nove anos. Parece-me bem.


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

ÉVORA, ONTEM

Um final de tarde memorável,o de ontem.

Porque o Jorge Calado fez de simples fotografias uma exposição e, depois, deu uma verdadeira aula. E em poucos minutos disse muito.
Porque estava a Paula Amendoeira, e sem ela "isto" não se teria feito.
Porque pude agradecer aos amigos da DRCALEN: Ana Borges, Fátima Dias Pereira, Luís Marino e Sandra São Pedro. Sem eles, não teria havido montagem e divulgação.
Porque estavam velhos amigos de Moura, como o Alcario, o Zé Neves e o Dimas. Mais o Rafael, bem entendido.
Porque apareceram colegas e amigos de Faculdade e de profissão, como a Maria de Jesus Monge, o António Carlos Silva e o Manuel Branco. Mais o Artur Goulart e a Isabel. E o Adel Sidarus.
E Ana Costa Freitas, reitora da Universidade de Évora. E os professores António Lamas e Jorge Gaspar. E ainda dois veteranos da política regional, António Carmelo Aires e o meu querido camarada Abílio Fernandes.
E um fotógrafo a sério como o José Manuel Rodrigues, e a Fabiola.
Fiquei comovidíssimo com a vinda da rapaziada do Gabinete de Comunicação da Câmara de Moura 2013/17 [Vânia, Sara (+ Nuno), Fábio (+ Cátia)], o que teve um gosto especial. O Fábio pediu-me a selfie habitual. Desta vez sem Usain, que fica para a próxima.
A Isabel também esteve, mas em modo invisível.

Punch-line: a Sofia Aleixo trouxe uma turma do 1º ano de arquitetura da Universidade. Pretexto para uma explicação e para conversa com os alunos. É algo me agrada sempre bastante.






quinta-feira, 25 de outubro de 2018

AMADEO

Vale a pena ler a entrevista de Helena de Freitas, há dois anos. O essencial está em duas linhas: "um dos momentos mais extraordinários deste processo foi o meu primeiro encontro com Laurent Salomé, diretor do Grand Palais, que me recebeu com uma interrogação. Ao folhear lentamente as páginas do catálogo, perguntou-me: mas afinal quem é este artista e como é possível eu não o conhecer?". Justamente, é essa a questão. Como é possível que um génio como Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) permaneça na penumbra? Desde logo, por que os poderes públicos nunca cuidaram devidamente da sua promoção. Há quem seja exímio em descobrir, com regularidade, artistas de segunda linha, que são depois promovidos como génios desconhecidos. Amadeo não teve essa ventura. Só agora, muito tarde, começa esse processo.

Faz hoje um século que Amadeo de Sousa-Cardoso morreu, aos 30 anos. Será que dá abertura de telejornal?

Ler - https://gulbenkian.pt/noticias/segredo-bem-guardado-da-arte-moderna/

A casita clara - paisagem (1915)

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

CONTAR ÁFRICAS!

Falta um mês e, com profissionalismo, o Padrão dos Descobrimentos já dá conta do que pode ser visto a partir do final de novembro. É a minha próxima etapa lisboeta. E mertolense. Escolhi uma peça euro-africana (soi-disant...) para integrar a exposição. Tenho imensa curiosidade em relação ao resultado final. Tendo em conta que é o António Camões Gouveia a tomar conta do barco, literalmente, tenho a certeza que será um sucesso.


Ver - http://www.padraodosdescobrimentos.pt/pt/evento/exposicao-contar-africa/

terça-feira, 23 de outubro de 2018

AVARIA CHIQUE

O meu telemóvel tem avariado com irritante regularidade. Que era da placa de rede, depois não era. Que era do cartão e do software do cartão, depois afinal também não. De vez em quando lá lhe dá um peripaque e começa a mudar de cores. Quando tentei explicar o aspeto do écran à menina do atendimento ficou com uma cara ainda mais tonta do que tem. Lá me disse "ai, nunca vi nada nisso", para depois tentar a cena do costume [o atestado de estupidez ao cliente] "mas tem mesmo a certeza?". Claro que tenho. No final da semana vou lá outra vez e já lhe posso dizer "olhe, é talqual as telas da Bridget Riley, e aquelas cenas da Op Art e assim...". Não resolvo nada, mas sempre me divirto. É que Late morning é o meu Huawei em dia não.

Bridget Riley - Late morning (1967/8)

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O TAL CANAL

E assim se passaram 35 anos. A estreia ocorreu no dia 22 de outubro de 1983. Recordo, com nitidez, que estava, melancolicamente e sem especial entusiasmo, a meio da licenciatura. Estava a começar o 3º ano e uma cadeira (Arqueologia Medieval) viria a determinar parte da minha vida.

O arranque de "O tal canal" foi acolhido com entusiasmo entre a rapaziada. O país de então era muito mais cinzento e muito menos vibrante que o de hoje. Quem disser o contrário, que se ponha na bicha para o lar... O programa de Herman José, então com apenas 29 anos, foi um dos momentos que ajudou a mudar Portugal. E havia coisas que o politicamente correto de hoje chacinaria. Como a imagem de Herman, vestido de oficial nazi, proclamando "Em Treblinka, judeu não brinca". Imaginam a bernarda que seria?

O genérico é pouco sofisticado, aos olhos de hoje? Talvez, e depois?

Celebremos o humor. Eu há fiz a minha parte, dando umas boas gargalhadas entre as 12.00 e as 12.30.



Ler - https://observador.pt/especiais/35-anos-depois-como-herman-jose-recorda-o-tal-canal/

domingo, 21 de outubro de 2018

O OLHO DE HORUS, NO CASTELO DE MOURA

O olho de Horus é um símbolo de proteção e poder do Antigo Egito. Recuperei-o no Castelo de Moura, na parede do convento.




Este amuleto, em exibição no Louvre, data do período aqueménida, e provém da escavação de Tell Apadana, em Susa.

sábado, 20 de outubro de 2018

ELEMENTOS - FOGO 5

É, seguramente, uma escolha demasiado óbvia. Mas é difícil resistir à Danza ritual del fuego, de Manuel de Falla. Para mais, interpretada por Antonio Gades e Cristina Hoyos. A composição tem um século, mas ninguém tal diria. Dance-se então o fogo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

ARQUITETURA, FOTOGRAFIA E ILUSIONISMO

Quase terminada a "saga" das Caligrafias toma já forma outro projeto, de índole completamente diferente, ainda que tenha por base a fotografia. Não serão minhas, claro. Trata-se de um levantamento de projetos de arquitetura, concretizados por uma instituição, ao longo do século XX. Durante o delinear das principais linhas de abordagem, dei-me conta que alguns edifícios tinham mudado de mãos. Uns mudaram mais tarde de funções, outros estão devolutos e em mau estado. "É tudo uma questão de ângulo", referi a um responsável dessa instituição. Se não se pode fotografar de frente, tem de se escolher um ângulo que esconda as rugas e torne os edifícios um pouco mais sexy... É isso que se vai fazer. Vai ser a perspetiva Calvin do projeto.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

CALIGRAFIAS - DIA 25

De hoje a uma semana, em Évora. Dia 25, às 18 horas.
As fotografias estão impressas (um trabalho à antiga do Luís Pavão).
O catálogo está sendo impresso, na Maiadouro. O design gráfico foi da TVM Designers. O livrinho teve direito a catalogação na fonte. Um daqueles pormenores de que sempre gosto. A Isabel Martins deu-me quatro soluções, à escolha. Optei pela nº. 2.
A Direção Regional de Cultura do Alentejo acolhe a iniciativa. Sem a presença ativa de Paula Amendoeira "isto" não aconteceria. A equipa da DRCALEN - Ana Maria Borges, Luís Marino, Fátima Dias Pereira, Sandra São Pedro - tem sido inexcedível de simpatia e de competência.
E devo, claro, um especial agradecimento ao Dr. Fernando Nogueira, ex-presidente da Fundação Millenniumbcp, e à Dra. Fátima Dias, secretária-geral da instituição.

Bom, e há o Jorge Calado. Nunca na vida me passaria pela cabeça ter Jorge Calado como curador de uma exposição minha. Foi isso que aconteceu. Tomou a seu cargo a seleção dos materiais e a organização do catálogo. E vai dirigir a montagem. É o resultado de tudo isso que poderá ser visto, daqui por uns dias.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ROSAS DA MOURARIA

Vida monacal entre as 18 e as 23. Uma parte ocupada com a Mouraria. O livro está in fine. Mais paralelos e mais ideias, numa deambulação pela Andaluzia. O fragmento de bocal de poço da imagem de cima é granadino. Tem paralelos com uma de Moura. Mas ganha força a ideia que a de Moura é de fabrico local.

A suivre. E a terminar, rapidamente.


terça-feira, 16 de outubro de 2018

NO RIO


Este guache está à venda num leilão da Veritas. O preço é irrisório (em termos absolutos) e inatingível (para mim). Vale a oportunidade de poder olhar para ele. Valha-nos a net que permite a Beleza num piscar de olhos.

Obra de Jorge Barradas (1894-1971), datada de 1923. Vale a pena também o poema do grande Drummond de Andrade. Mais agora que o Rio se agita.

Ver: https://veritas.art/



TAMBÉM JÁ FUI BRASILEIRO

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

NUNO GAMA EM ARTE ANTIGA

Uma não-passagem de modelos, tanto quanto entendi. Ou seja, os modelos estavam, não desfilavam. O ambiente glamoroso do Museu Nacional de Arte Antiga a jogar em perfeição com o trabalho de Nuno Gama. Não vejo onde o prestígio do sítio saia beliscado, nem vejo que iniciativas assim vão contra a "função" de um museu. Antes pelo contrário.

Achei uma certa graça ao ver a biblioteca do museu convertida em vestiário...

Veja-se a reportagem de João Porfírio no "Observador".


domingo, 14 de outubro de 2018

PRÉMIO VILALVA - 2017

Vai na 11ª. edição e destina-se a estimular projetos no âmbito da reabilitação do património. A apresentação de candidaturas ao PRÉMIO VILALVA decorre até final do mês de novembro.

Lista de projetos premiados até à data:

2008 – Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHA)
2007 – Tratamento e Divulgação da Biblioteca da Casa de Sabugosa e São Lourenço (Associação Cultural da Casa de Sabugosa e São Lourenço, Lisboa)



Ver regulamento:
https://content.gulbenkian.pt/wp-content/uploads/2013/11/28120056/REG_PremioVilalva2017.pdf

sábado, 13 de outubro de 2018

MEU CARO MIGUEL REGO...

... acabo de ler isto no facebook:

Na reunião de Câmara Municipal do passado dia 11, os vereadores da CDU apresentaram um VOTO DE PROTESTO pelo afastamento (saneamento político) do Dr. Miguel Rego das suas funções de coordenador da rede de museus do concelho. 
Reafirmaram também o seu reconhecimento público pelo trabalho que o Dr. Miguel Rego desenvolveu em Castro Verde na criação e dinamização do Museu da Ruralidade, "Núcleo da Oralidade", em Entradas, e dos seus pólos ("A Minha Escola", em Almeirim, "Aldeia Comunitária", nos Aivados" e "Núcleo da Tecelagem", no Lombador, no âmbito do conceito de “Museu do Território”.


Reproduzo em letras pequenas, porque a atitude de quem te demitiu está ao nível do tamanho das letras. Considero o Museu da Ruralidade uma das mais consequentes e bem definidas propostas culturais levadas a cabo no sul nos últimos anos. Consegui estar presente em algumas iniciativas (bem poucas, mas os mandatos autárquicos tomam-nos o tempo mais do que deveríamos deixar). E pude constatar a qualidade do projeto, num terreno sempre difícil. Soube o Museu da Ruralidade assumir a sua originalidade e fugir aos chavões habituais. Soube construir um percurso e garantir uma programação. Soube tudo isso e muito mais. Não conseguiu foi resistir à intolerância e ao totalitarismo (aqui entre nós, que ninguém está a ouvir: os que estão sempre a clamar "abertura", "coração aberto", "um concelho para todos" são os piores de todos; são capazes de matar o pai e a mãe para irem ao baile do orfanato...).

Meu caro Miguel, o teu percurso no Museu da Ruralidade está feito e bem feito. Para onde fores, bem farás.

Fica a tilintar uma dúvida:
* Quem vai garantir a continuidade do projeto? Em que condições? Com que dignidade?


CALIGRAFIAS QUASE

Está quase.
O que começou por ser uma "sugestão", acabou mesmo por avançar. Mas sem o Jorge Calado e sem a Paula Amendoeira, isto não teria tomado forma. Não me atreveria a fazer a exposição.
Já há (quase) catálogo, que está a ser impresso.
Já há (quase) 35 fotografias, que também estão a ser impressas.
A sala está a ser preparada. Para dia 25, às 18 horas.

SE NÃO FOSSE TRÁGICO, DAVA VONTADE DE RIR...

Assim vai o jornalismo "científico" na Lusitânia.
Virgílio Azevedo fazendo escola...

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

MUSEU DE ETNOLOGIA - UMA PERPLEXIDADE

Há uma coisa que sempre me escapou, em relação ao fantástico Museu Nacional de Etnologia. Pergunto-me sempre porque é que não há exposições temporárias com as coleções do museu "lá em baixo", em Arte Popular.

Na verdade, os clientes andam por ali... Número de visitantes do Padrão dos Descobrimentos? 244.644 em 2016, 351.512 em 2017. O MAAT recebeu 375.000 visitantes em 2017. Em 2016 tinham sido 364.000. E Arte Popular? 17.751 em 2016, 46.641 em 2017.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XVIII

IS BIG TYRE WATCHING YOU?

Na Rua Antero de Quental

terça-feira, 9 de outubro de 2018

FIRST WE TAKE MANHATTAN, THEN WE TAKE BERLIN, E A SEGUIR O JOSÉ SARAMAGO

EXTRAORDINÁRIO.
Não me ocorre dizer mais nada.
Há dois dias escrevi "qualquer dia, vão inventar e provar que, afinal, até nem foi militante do PCP. Já ouvi essa bojarda a respeito de Bento de Jesus Caraça...". Já faltou mais.

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XVII

"Boa sorte, amigo", clamou, jovial como sempre, o dono da tabacaria. O amigo virou-se, sem dizer palavra, e olhou-me, sem expressão. Não faz ideia de quem eu sou. Eu reconheci, de imediato, a figura de um Grande Poeta. Sem ironia. Com o ar sofrido de sempre, tão sofrido como os seus belos poemas, vinha tentar a sorte no euromilhões. "Pstt, ó amigo, ó amigo, olhe o talãozinho, amigo". Mais 180º e o Grande Poeta recolheu o talãozinho. Vão achar um acabado disparate, mas nunca tinha imaginado um poeta a atacar um prosaico euromilhões. Senti-me um pouco como Pedro Canavarro quando lhe perguntaram que gostaria de ver, se fosse o homem invisível. Mas é melhor deixar isso para depois.

Agora, quando ler um poema dele, vou ouvir sempre a voz do homem da tabacaria, ó amigo, ó amigo, depois vem mais um pouco de angústia em palatino 12, e volto a ouvir olhe o talãozinho amigo. Raismepartam...

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

VISITA A MÉRTOLA

É hoje, às 23 horas, na RTP 2. É o programa Visita Guiada. Tem um piqueno senão: às vezes, a entrevistadora fala tanto quanto os entrevistados... Espero que não seja o caso.

No centro da imagem está a casa X. Tantíssimas dores de cabeça que me deu...

TEXTO MAIS LIDO NO MÊS DE SETEMBRO DE 2018: VICE-PRESIDENTE DO SPORTING É DA SALÚQUIA

Foi no dia 14 de setembro e chegou a mais de 5000 leituras.

SEXTA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2018


VICE-PRESIDENTE DO SPORTING É DA SALÚQUIA

A Salúquia é um bairro de Moura. Para alguns de nós, é Obairro de Moura. Está, desde há dias, representado nos corpos sociais do Sporting. Através da Vice-Presidente Maria Serrano Sancho. O que pode um benfiquista convicto desejar nestas alturas? Desejar sorte à minha vizinha e amiga! Um bom e tranquilo mandato, que o desporto não é só futebol.

domingo, 7 de outubro de 2018

90

O blogue de Vítor Dias veio "corrigir-me". Estava convencido que o 90º. aniversário de António Borges Coelho teria lugar dentro de dias. É hoje. Vou encontrá-lo daqui a semanas. Num momento que é mais que justo. E que ainda causará, disso tenho a certeza!, alguns engulhos.

Um abraço de parabéns ao António Borges Coelho (hoje não me atrevo a telefonar-lhe... será só aqui e por mail). A quem tanto devo/devemos, por tantas aulas, dentro e fora da universidade.

QUANDO O SUPER-HOMEM DANÇA COM A MULHER-ARANHA

Muitas vezes os amigos me chamam a atenção para as constantes alusões aos filmes e para a importância que o Cinema tem para mim. Todo o Cinema. Mesmo o muito mau. Enviaram-me há dias esta pérola. É um excerto do filme Dariya Dil (Coração sagrado), que data de 1988 e foi realizado por K. Ravi Shankar. Quase tão bom como o inesquecível BALUPU. Como dizem os franceses, un sommet du kitsch... Viva Bollywood!

sábado, 6 de outubro de 2018

E ONDE É QUE ESTÁ A SURPRESA?

Há quem fique indignado com estas coisas.

Eu não fico. Qualquer dia, vão inventar e provar que, afinal, até nem foi militante do PCP. Já ouvi essa bojarda a respeito de Bento de Jesus Caraça...

inveja é a homenagem que a inferioridade presta ao mérito - frase atribuída ao matemático Victor Puiseux (1820–1883). Lembro-me muitas vezes dela.

Celebremos a obra de José Saramago.

Festejemos o seu Nobel.

Sublinhemos a sua militância no PCP.

MOURARIA NIGHT SHIFT

O Jorge consegue fazer um ar solene. Eu desmancho-me...


Foi no final de uma tertúlia, onde o tópico foi a alimentação medieval. Uma conversa entre amigos. Um ambiente de convívio caloroso. Deu lotação esgotada e muita gente de fora. Fica para a próxima. Não tinha uma afluência assim, com gente de fora e tudo, desde uma sessão na Brown University, da qual guardo gratas recordações.

Na verdade, a noite foi intensa e proveitosa, neste turno da noite na Mouraria: explicação sobre alguns aspetos da alimentação medieval e sobre os métodos de recolha de dados (1), convívio com a Catarina e com o Sérgio, que passaram pelo Liberato enquanto decorria a projecção de "Raiva" (2) e um momento final com o José Leonel (3), que ganhou ali uma aura de santidade...

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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

HOJE, EM MOURA


Falei, há pouco, com o Sérgio para lhe desejar boa sorte na estreia mourense. Gosto muito do filme. Talvez tenha a oportunidade de passar por lá. Ou não, tendo em conta o meu outro compromisso desta noite. Mas aqui fica o aviso para Moura: não percam a possibilidade de ver "Raiva".

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

PULP FICTION À MODA DE MOURA...

O regresso à vida civil foi compensado com um conjunto de trabalhos - uns programados, outros completamente inesperados -, que me ocupam o tempo. E, que, curiosamente, me têm dado outro tempo para viver Moura de outro modo. Menos presente, menos intenso, mas não com menos prazer. Pelo meio, ficam referências da atual equipa autárquica, quase obsessivas, ao meu trabalho e ao meu estilo de atuação enquanto vereador e enquanto presidente da câmara. Na ata da Assembleia Municipal de junho leio coisas divertidas. A saber:

Do Presidente da Câmara, sr. Álvaro Azedo:

"em fevereiro de 2015, bati à porta do senhor Santiago Macias [sic] e tive que lhe dizer, senhor Presidente nós não aguentamos, porque vocês não nos estão a pagar, se os senhores não nos conseguirem pagar, nós vamos ter que declinar os acordos que temos assinados com a Câmara Municipal de Moura, porque não podemos estar a meter dinheiro da junta de freguesia para pagar despesas com a atividade que nos é delegada. O que é certo é que depois se fez um plano de pagamento e o doutor Santiago Macias lá começou a pagar [sic]".

Do Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara, sr. Rui Apolinário:

"era necessário recordar que se veio de um mandato em que o Presidente da Câmara [o autor deste blogue] dividiu o mundo entre preparados e impreparados, em que vigorava a sua opinião e que ao arrepio da legalidade fez a Câmara Municipal de Moura cumprir decisões ilegais [sic]".

Pergunto-me se já terão feito a participação ao Ministério Público. Ou se estará no mesmo caixote da célebre auditoria, anunciada com estrondo há quase uma ano?

Dizia o Dr. Sá Carneiro que as "desculpas" com antecessores só têm seis meses de validade. Parece que há quem faça disso modo de vida.

Fico um pouco assim, como o Travolta, mas podem continuar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

MAPPLETHORPE, SEGUNDO MIGUEL SOUSA TAVARES

"(...) não vejo ali arte, nem fotografia mas apenas as taras exibicionistas e sado-maso de um homossexual doentio (...)" - crónica de MST, no "Expresso" do sábado passado.

Será? Por mais que me esforce não consigo ver taras exibicionistas, sado-masoquismo e homossexualidade doentia ao olhar estas fotografias...




terça-feira, 2 de outubro de 2018

UM MECENAS, UMA BOLSA LITERÁRIA E UM JACKPOT EM SILVES, NO SÉCULO XI

Relatado pelo poeta Ibn Habus, segundo a obra de al-Marrakushi:

Cheguei um dia a Silves, depois de ter estado três dias sem comer. Perguntei a quem me poderia dirigir naquele local e um habitante indicou-me Ibn al-Milh. Fui então à oficina de um encadernador que, a meu pedido, me deu uma pele muito fina e um tinteiro, e escrevi versos em louvor daquele de quem me tinham dito o nome; fui depois a sua casa. Encontrei-o no vestíbulo e ele respondeu de forma muito graciosa à minha saudação, acolhendo-me da forma mais amável: "suponho, disse-me, que és estrangeiro". Assim é, respondi. "E a que classe de homens pertences?". Sou, respondi, um literato, um poeta, quero dizer, e pus-me a recitar os versos que tinha acabado de escrever. Ouviu-os muito bem, convidou-me a entrar e, fazendo que me servissem de que comer, conversou comigo com uma amabilidade que nunca tinha visto. Quando pedi licença para me ir embora, saiu e voltou a entrar, seguido por dois criados que traziam um cofre, que fez pousar à minha frente. Abriu-o e tirou de dentro 700 dinares almorávidas, que me deu. "Toma o que é teu", disse-me, entregando-me mais uma bolsa contendo 40 meticais, "isto é mais uma prenda minha". Surpreendido com as suas palavras, que eram para mim um verdadeiro enigma, perguntei de onde vinha "o que era meu". "Fica a saber, respondeu, que pus de parte uma das minhas propriedades, cuja receita anual é de 100 dinares, que destino a poetas. Acontece que nenhum me procurou, nos últimos sete anos, devido aos problemas que assolam o território, e foi assim que se acumulou a soma que te é entregue. Quanto aos 40 meticais, são dos meus rendimentos pessoais". Foi assim que entrei em casa dele esfomeado e pobre e saí saciado e rico.

Ibn al-Milh viveu no século XI. Este episódio está narrado na obra Histoire des Almohades, de Abd al-Wahid al-Marrakushi, escrita em 1227 d.C.. Usei a versão de E. Fagnan, publicada em Argel, em 1893.



Poema de Ibn al-Milh, na tradução de António Borges Coelho
(vol. IV de Portugal na Espanha Árabe)

O jardim brinca com o zéfiro
e parece convidado-lo para te atrair
da alba à báquica tertúlia.

Está ébrio do jugo dos seus ternos ramos.
E quando comovedores o cantam os seus pássaros
repete a canção.

Aí não faltam as flores que com seus olhos
parecem erguidas em lugares propícios
para expiarem os amantes.

As flores ressaltam sobre as folhas verdes
como a luz se revela mais brilhante
num fundo de trevas.