segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

CHUVA NA ALDEIA, POR CARLOS MONTES

Há muitos anos, ofereceram a um jovem casal esta tela de Carlos Montes, pintada em 1967. Chama-se Chuva na aldeia, mas desde sempre olhei para ela como sendo um fogo de artifício.

Carlos Montes era de Beja e morreu muito novo, aos 43 anos. Era operário da construção civil e artista autodidata. A uma vida inacabada correspondeu um talento inacabado. É um Alentejo feérico e colorido o do Carlos Montes, mesmo quando os temas têm contenção. Tenho uma curiosidade que nunca esclareci: quem terá tido a inspirada ideia de oferecer esta pintura ao jovem casal mourense? O quadro ainda está em casa deles, em sítio de merecido destaque.

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa

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