quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

MOURA À VISTA!!!

A distância tem destas coisas. Os regressos têm um gosto especial. O Carnaval será em Moura. Estamos organizados. Eh pá, não, não estou AGORA a falar da CDU... "Apenas" de um grupo de amigos, com quem iremos borgar por estes dias. Vai também dar para almoços nas freguesias - a última faena, na Póvoa, foi notável - e dias de relax.

Março? Pôr em marcha a Lisboa Islâmica, um texto para o S. Carlos, o livro da Tinta da China, mais o das mesquitas, mais a exposição dos metais no Sobral, outra para abril e mais um par de coisas a anunciar depois. Parece que março se quer vingar de mim.

É melhor ir para o Carnaval... E preparar o futuro 😊.

BANCO DE GORRINGE

Este é um mais um banco que, por norma, dá problemas. Diz a wikipedia (oxalá bata certo) que  se situa "a cerca de 120 milhas marítimas a oeste-sudoeste do Cabo de S. Vicente. A microplaca da Península Ibérica e a placa africana convergem de forma oblíqua ao longo do acidente geológico Açores-Gibraltar, provocando o levantamento da litosfera oceânica que formou o banco de Gorringe". É a fricção das duas placas que está na origem dos terramotos que, regularmente, sentimos.

A última destas libertações de energia de maiores dimensões fez-se sentir na madrugada de 28 de fevereiro de 1969. Faz hoje 50 anos. Recordo três coisas, com toda a nitidez: a minha mãe a arrancar-me da cama (velho hábito, durmo como uma pedra e nem aquele ronco inesquecível vindo do fundo da terra, despertou os meus 5 anos); o meu pai a subir e a descer a escada, atarantado, enquanto a casa chocalhava, porque trancara a porta e não sabia da chave; e de passar parte da noite, animadamente, com a rapaziada da vizinhança na parte de trás da carrinha de um vizinho que era vendedor das máquinas OLIVA. Era uma AK 400...

A casa

O carro

O epicentro


E um poema de Fernando Pinto do Amaral que creio vir a propósito:

Desceu tão de repente o sol por onde
andámos. Já não o vejo
essa janela para além das árvores,
esse lugar-refém
de tudo o que senti. A própria infância
confundiu as imagens, quis amar
a voz do seu segredo.

Se ainda existe o verão, porquê
a nostalgia, a dor feliz que foge e não
regressa? A cada instante parece outra
a melodia
nos olhos do meu pai do meu irmão
e eu sei adormecer, rezar ainda
com a minha mãe à cabeceira.

Quais são as cores da morte? Uma paisagem
acontecendo, em sombra, os objectos
esquecendo-se de nós - numa só vida
começam e acabam mais outras
vidas.

Era uma casa cor-de-rosa e do meu quarto
Podia ver-se o mar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A FORTUNA NUM BANCO DA NIGÉRIA, AGORA EM VERSÃO CIENTÍFICA

Já toda a gente recebeu a grande notícia de que alguém lhe deixou uma fortuna num qualquer obscuro banco africano. Qualquer pessoa com um mínimo de juízo atira a boa nova para o lixo.

Depois de ter publicado num journal (daqueles em inglês e com peer-review e coisas assim), história que já aqui contei, comecei a receber mails doutros journals. O de ontem era assim: "I noticed your profile when I was searching for the keywords from a database, and can find that your expertise fits within the scope of our journal quite well. Therefore, I would like to personally invite you to submit your unpublished manuscripts to our journal". É melhor esperarem sentados.

O sítio do costume, sem tempo nem pachorra para journals

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

DE SUL PARA NORTE

Design minimalista na Cerâmica Antiga de Coimbra. Com muito pouco (um quarto de círculo, um quadrado, um retângulo) se comunica e se transmitem informações.

A economia de meios ao serviço da informação, comunicada de forma simples e direta.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

PORTINARI

Oportunidade única, a da visita ontem a "Portinari em Portugal", no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. A longa e detalhada explicação de Raquel Henriques da Silva deu outro enquadramento à estreita ligação que Cândido Portinari manteve com artistas do nosso País ao longo dos anos 40 e 50. É curioso que eram sempre as facetas mais "neo-realistas" de Portinari as que mais chamavam a atenção da "Vértice". E nem sempre eram as mais interessantes. Surpreendente mesmo foi constatar que há duas obras maiores do grande brasileiro em museus nacionais: uma no Chiado, outra no Soares dos Reis. Estão em exibição em Vila Franca de Xira. Nunca as tinha visto...

Faltam poucos dias para a exposição fechar. Anunciam-se novas mostras para breve. O MNR a entrar em vida nova.


domingo, 24 de fevereiro de 2019

FONÉTICA AUTOMOBILÍSTICA

Quando estava no final da primeira classe, e já arriscava alinhavar umas letras, li o "nome" do carro de um vizinho, na Rua Nova da Estação. Pouca gente tinha viatura própria, mas aquele vizinho do fundo da rua tinha um 304. Orgulhoso, li "pêujeote", assim mesmo. E fiquei a olhar desconfiado para o meu pai quando ele me disse que se dizia "pêjô". E "rênô" e não "renaulte".

Em Portugal é assim. No Norte de África não é assim, apesar da francofonia. A transliteração é completa. E a escrita segue rigorosamente a fonética. Escrevem, no alifato, RUNU (em rigor, rwnw, que o waw equivale a w) e BYJU (em rigor, byjw, pelo mesmo motivo e, acrescente-se, por não haver o som P no alifato).

"Com o que tu gastas tempo", diz-me uma amiga, de vez em quando...


sábado, 23 de fevereiro de 2019

ESPERANDO CELEBRAR COM O JOSÉ LOPES GUERREIRO O FUTURO SUCESSO DO MUSEU DE BEJA

Diz o meu amigo José Lopes Guerreiro que mudei de opinião em relação à tutela do Museu de Beja. Não é exatamente assim. Defendi, de facto e no início de 2014, a passagem gradual do museu para a Câmara Municipal. Era uma solução infinitamente melhor que a da integração na CIMBAL. Em relação a isso, não mudei de opinião. O que não se colocava em 2014 como hipótese era a integração no Ministério da Cultura. E se essa possibilidade se tivesse colocado, seria a que teria defendido. Não houve, portanto, mudança de opinião. Mas sim um reajustamento face a uma nova situação.

O que, em caso algum, poderia acontecer era a manutenção deste estado de coisas. Ou Câmara Municipal ou Ministério. Uma coisa é, para mim, certa. A passagem deste museu, um sítio extraordinário e de nível nacional, para o Ministério não pode representar a demissão da cidade e da região face ao futuro da instituição.

O Museu de Beja é apenas mais um? Não creio que assim seja, e com o património que tem não o pode ser.

Os museus nacionais estão imobilizados e sem futuro? Não me parece, sinceramente. Veja-se a programação nos seguintes sites:

Museu Nacional de Arqueologia - http://www.museunacionalarqueologia.gov.pt

Museu Nacional de Machado de Castrohttp://www.museumachadocastro.gov.pt

Museu Nacional Grão Vascohttp://www.museunacionalgraovasco.gov.pt

Para Beja, recorde-se uma coisa:
Haverá dois museus nacionais a sul do Tejo, e um fica nesta cidade.

E reivindique-se outra. Que caia o nome de regional e que passe a ser Museu Nacional Rainha D. Leonor ou Museu de Beja.

À ATENÇÃO DO "JORNAL DE LETRAS"


Em tempos, um conhecido jornalista dizia que bastava escrever algo como

Lua morta
Rua torta
Tua porta

para se ser elevado à categoria de jovem poeta muito promissor. Ele ironizava, mas isto está muito pior. O "Jornal de Notícias" acha esta letra aparentemente (palavra a redefinir, com urgência) desconexa. Ora aqui vai:

Eu parti o telemóvel
A tentar ligar para o céu
Pra saber se eu mato a saudade
Ou quem morre sou eu

Quem mata quem
Quem mata quem
Mata?
Quem mata quem?

Nem eu sei
Quando eu souber eu não ligo a mais ninguém

Se a vida ligar
Se a vida mandar mensagem
Se ela não parar
E tu não tiveres coragem de atender
Tu já sabes o que é que vai acontecer

Eu vou descer à minha escada
Vou estragar o telemóvel
O telele
Eu vou partir o telemóvel
O teu e o meu
E eu vou estragar o telemóvel
Quero viver e escangalhar o telemóvel

E se eu partir o telemóvel?
Eu só parto aquilo que é meu
Tou pra ver se a saudade morre
Vai na volta quem morre sou eu

Quem mata quem mata?
Eu nem sei
A chibaria nunca viu nascer ninguém

Eu partia telemóveis
Mas eu nunca mais parto o meu
Eu sei que a saudade tá morta
Quem mandou a flecha, fui eu

Quem mandou a flecha, fui eu

Fui eu

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

QUINTA COLUNA Nº. 1: MUSEU NACIONAL DE BEJA



MUSEU NACIONAL DE BEJA

         “Tanta gente preocupada com o futuro do Museu de Beja...”, não pude deixar de pensar. As redes sociais ferveram de indignação porque “o museu vai passar para Évora”. Com meia dúzia de exceções, são entusiasmos de fresca data. Ao longo dos anos, ciclicamente, monotonamente, o tema do Museu de Beja emerge e causa alguma reação. Tanta gente indignada agora, que “o museu vai para Évora” e tão pouca gente a dar a cara, nos anos de 2014 e de 2015, quando a situação era verdadeiramente aflitiva e os salários estavam em risco. Era presidente da Assembleia Distrital nessa altura e sei bem do que falo.
         À hora em que escrevo este texto não teve ainda lugar o debate público agendado para dia 20. Seguirei com atenção as conclusões. Ouvirei, ainda com mais atenção, as propostas concretas e as soluções técnicas e financeiras que venham a ser apresentadas.
         Em janeiro de 2014, já lá vão cinco anos, tinha esta perspetiva sobre o Museu:
         “Só há dois caminhos: o museu é assumido pela CIMBAL (Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo) ou pela Câmara Municipal de Beja. Pessoalmente, vejo a passagem para a CIMBAL como “mais do mesmo”. Não creio que a solução seja suficientemente flexível para dar capacidade de manobra ao museu regional”. Defendia ainda a passagem gradual do museu para a tutela da autarquia, num horizonte alargado. Ou seja, defendia eu que a solução ideal era o museu ser assumido pela Câmara Municipal, por ser uma marca importante da cidade, por ter um enorme potencial e por dever ser colocado ao serviço de uma estratégia de promoção da região.
         Na altura, não se colocava a hipótese do Museu passar para a tutela do Ministério da Cultura. É esta solução a mais adequada? A meu ver, sim. Recordo o passado recente, em que o Museu dependia de todas as autarquias. Em 2014, num orçamento de 372.000 euros, 99,1% eram despesas correntes. Uma situação insustentável. Percebo também os constrangimentos de ordem financeira que possam ter levado Paulo Arsénio a declinar a tutela do Museu de Beja. No tempo do Instituto Português de Museus colocara-se a hipótese de passagem do museu para essa tutela. Passaram 20 anos. Perdemos 20 anos nisto. Agora, fala-se numa “gestão partilhada”. Não faço ideia do que se trata, nem como se põe em prática. Mas sei, sim, que está na altura do museu ganhar escala e se integrar numa rede mais vasta. Atitudes de “orgulhosamente sós”, “nós, os irredutíveis gauleses, contra os usurpadores eborenses” não servem rigorosamente para nada.
         O Museu de Beja fica sob a tutela de Évora ou de Lisboa? E daí? O Museu Soares dos Reis, o Grão Vasco, Conímbriga estão também sob a tutela do Ministério da Cultura. Não consta que tenha havido desvios de peças para a capital. De uma coisa tenho a certeza. A inclusão do Museu de Beja numa rede nacional dar-lhe-á a visibilidade que não tem e a força que lhe falta. A equipa é esforçada e dedicada. Mas isso só não chega. O catálogo do museu visigótico tem 26 anos. Não houve, nas últimas décadas, uma só exposição de nível nacional. Fazem falta iniciativas de fôlego, obras de reabilitação, programação e publicações. Sobretudo, faz falta que o museu saia do seu esquife e se dê a mostrar.
         Os debates são sempre necessários. Mas Beja só fala do seu museu, que é muito mais nacional que regional, em momentos de agitação e de tensão. Um mau princípio, que vem de longe.

Crónica publicada hoje, no "Diário do Alentejo". Um regresso, 18 anos passados.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

TOURNAI - ERA UMA VEZ A IDADE MÉDIA

Da ponte, já quase nada resta. Ao longo dos anos, foi sendo amputada, mais e mais. Estas três imagens, recolhidas num órgão de informação, dizem bem do que foi a evolução do sítio. Antes havia uma ponte e havia gente que trabalhava ao pé da ponte. Depois, subiram o arco central e passou a cenário. Ainda assim, com alguma dignidade. Agora, a ponte vai ser demolida. Adeus, Património. Os "decisores" são europeus e brancos. Imaginem se isto fosse algures.

A nova "coisa", que vai surgir no lugar da antiga ponte, é um caso de polícia.



O PAÍS DO FUTEBOL


Nem Brasil, nem Inglaterra. O País do Futebol é este canto, a antiga Lusitânia.

Estava eu munto triste, sem o livro do Dr. Bruno de Carvalho, quando o inexcedível António Miguel Carrasco veio em meu socorro e mo emprestou. Logo no início, está este excerto:



Qual Camões, qual maganadamana (como se diz na minha terra), isto é que é! "Aquela alegria de criança que ainda vive dentro de mim" soa um pouco a José Cid, mas ok, vamos em frente...

Há pessoas que estão sempre a dizer e pensarmos que se abatem árvores por causa disto. Não estou lá muito de acordo. Livros assim desanuviam os dias. Uma versão pátria de Jerome K. Jerome. Bendito País que dá largas a Bruno de Carvalho ou a Luís Filipe Vieira ou a tantos outros. E que leva bloggers a gastar 10 minutos nisto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O HISTORIADOR NO SEU LABIRINTO

Foi há umas semanas. Fui a Moura registar a lápide de construção do minarete. Pediram-me um par de esclarecimentos sobre a história do local. Dinâmica urbana é a expressão mais adequada. A amiga Vânia Marujo, em momento de cineasta, fotografou-me enquanto explicava aos estagiários do posto de turismo a realidade do sítio anterior ao século XVIII. Pareço uma chonita, às voltas, entre a base do minarete, a rua almóada, a(s) igreja(s) de Santiago e o abandono do sítio.

Agora que o Museu do Matadouro vai avançar para a segunda fase, avanço também com novos projetos de investigação sobre Moura (a solo ou não). Um deles, em conjunto com o José Gonçalo Valente, dirige-se para o seu término. A todo o vapor, como diziam, em tempos, os eme-erres acerca da revolução.

PATRIMÓNIO DE BEJA

Um trabalho em curso levou-me por caminhos inesperados. São diferentes "patrimónios". Em cima está o (não concretizado) projeto de Luís Cristino da Silva para a filial de Beja da Caixa Geral de Depósitos. Em baixo, o extraordinário (a todos os títulos) edifício que Porfírio Pardal Monteiro desenhou, contíguo à igreja de Santa Maria. Um neo-bizantino em forma de capela. Dando razão aos que pensam que os bancos são os templos do capital.

Em todo o caso, há aqui património bejense. A quem isso possa interessar.

De Cristino da Silva gosto do Capitólio, do Liceu de Beja, do monumento a Duarte Pacheco. Gosto muito menos da fase português suave. No fundo, quando desistiu de inovar. A obra de Pardal Monteiro entusiasma-me mais. Mesmo os edifícios ditos mastodônticos (como a Biblioteca Nacional) são extremamente agradáveis para quem os usa. Excetuem-se as Faculdades de Letras e de Direito, que são péssimas...

Acima de todos, paira Cassiano Branco, tirando o Portugal dos Pequenitos.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

THE LOOK

"The Look
Strephon kissed me in the spring,
Robin in the fall,
But Colin only looked at me
And never kissed at all.
Strephon’s kiss was lost in jest,
Robin’s lost in play,
But the kiss in Colin’s eyes
Haunts me night and day."
Sara Teasdale
(1884-1933)

Não conhecia esta autora, que me chegou assim, matinalmente, através do facebook de Manuela Barros Ferreira. Lembrei-me deste filme, Far from Heaven, onde só os olhares namoram.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

ASSOBIANDO À VONTADE

Uma sobrinha precisava de um conto. para uma trabalho na escola. Pediu sugestões. A Isabel lembrou-se de um, eu de outro. E não conhecia o dela. Nem ela este. Que é uma pequena jóia de concisão e elegância.

Àquela hora o trânsito complicava-se. As lojas, os escritórios, algumas oficinas, atiravam para a rua centenas de pessoas. E as ruas, as praças, as paragens dos eléctricos, que tinham sido planeadas quando não havia nas lojas, nos escritórios e nas oficinas tanta gente, ficavam repletas dum momento para o outro. Nos largos passeios das grandes praças havia encontrões. As pessoas de aprumo tinham de fechar os olhos àquele desacato e não viam remédio senão receber e dar encontrões também e praguejar algumas vezes. Os eléctricos apinhavam-se na linha à frente uns dos outros. Seguiam morosamente, carregados até aos estribos e por fora dos estri­bos, atrás, no salva-vidas, com as tais centenas de pessoas que saltavam àquela hora apressada­mente das lojas, dos escritórios, das oficinas. Além disso, nos dias bonitos como aquele, as ruas da Baixa enchiam-se de elegantes que iam dar a sua volta, às cinco horas, pelas lojas de novidades e pelas casas de chá, para matar o tempo de qual­quer maneira, ver caras conhecidas, cumprimen­tar e ser cumprimentadas, e só voltavam a casa à hora do jantar.
A multidão propunha uma confraternização à força. Era preciso pedir desculpa ao marçano que se acabava de pisar, implorar às pessoas pen­duradas no eléctrico que se apertassem um pouco mais para se poder arrumar um pé, nada mais que um pé, num cantinho do estribo, muitas vezes sorrir para gente que nunca se tinha visto antes e apetecia insultar. Os elegantes e as elegantes achavam naturalmente tudo isto muito aborre­cido. Sobretudo a necessidade absoluta de seguir naquelas plataformas repletas em que não viaja­vam só cavalheiros, mas muitos homenzinhos pouco correctos e onde esses mesmos homenzi­nhos e mulheres vulgares deitavam um cheiro insuportável. Que fazer, no entanto, senão ati­rar-se uma pessoa também para aquele mar de gente que empurrava, furava, pisava e barafus­tava até chegar ao carro? Que fazer senão em­purrar, furar, pisar e barafustar também?
O carro seguia morosamente e repleto como os outros. Felizmente, ainda havia alguns homens correctos na cidade e algumas mulherezinhas que conheciam o seu lugar. Só graças a isso as se­nhoras que tinham arriscado os seus sapatos e os seus chapéus naquela refrega e alguns cavalhei­ros respeitáveis conseguiam sentar-se.
Nos primeiros momentos de viagem, as pes­soas voltavam-se nos bancos, preocupadas, ten­tando ver se o marido, uma amiga, um filho, não teriam ficado em terra. Os que seguiam de pé ousavam dar um passo no interior do carro, a ver se teria ficado algum lugar vago por acaso. Havia logo protestos na plataforma. Depois as pessoas acomodavam-se o melhor que podiam, punham os braços no ar para livrar os embru­lhos do aperto, fechavam bem os casacos e as malas onde levavam o dinheiro, o condutor pu­xava energicamente o cordão da campainha mui­tas vezes, lotação completa, e o carro arrastava-se em silêncio.
Os senhores respeitáveis, com compreensível e muda zanga dos companheiros do lado, come­çavam a desdobrar os jornais da tarde e a ler as notícias por alto. As senhoras, visivelmente mal dispostas, compunham os chapéus e as golas dos casacos. Tiravam os espelhinhos da mala e pas­savam tudo em revista: o chapéu, os cabelos, os olhos, os lábios. Era incrível. Uma tinha ficado com o chapéu completamente de banda, outra per­dera uma luva na confusão. Depois guardavam os espelhos, acomodavam-se melhor, percorriam com os dedos os anéis duma mão e da outra, para ver se estavam no lugar, se estavam todos. Olhavam umas para as outras, muito sérias, como quem não repara em nada. Recuperavam pouco a pouco a dignidade que aquele despropósito da subida para o carro evaporara.
Nas curvas, as rodas chiavam nas calhas, de­baixo do grande peso. Silêncio enfim — embora de vez em quando cortado pela campainha, quando alguém tinha a triste ideia de querer descer, pelo desdobrar dos jornais, pela voz dos populares, encaixados na plataforma da frente.
Tudo voltara à normalidade. A marcha do carro, a cobrança dos bilhetes, a separação entre as pessoas, que rigorosamente não conseguiam separar-se umas das outras um centímetro que fosse. E, assim, morosamente, por curvas e rec­tas, por ruas e praças, aquele carro cumpria o seu destino de acarretar gente e ser insultado, numa das várias linhas que ligavam o centro da cidade aos bairros relativamente novos, onde a separa­ção entre a chamada classe média e as camadas mais baixas da população não fora ainda conve­nientemente estabelecida.
Em dada altura, porém, na plataforma de trás levantou-se burburinho. Protestos. Indignação. Cabeças voltaram-se no interior do carro. E viu--se um homenzinho a empurrar toda a gente e a dizer que havia lugares à frente, que o deixassem passar. Em vão lhe asseguravam que não havia lugar nenhum, que não podia passar, que não fosse bruto. O homem empurrava e teimava que havia lugares à frente. Tanto empurrou que fu­rou. Tanto furou que conseguiu entrar no inte­rior do eléctrico, avançou e foi sentar-se num lugar de lado que estava efectivamente vago lá à frente, ao lado duma senhora por sinal opulenta.
Foi um espanto geral e silencioso. Ninguém tinha reparado no lugar. E menos que ninguém, como é fácil de compreender, a própria senhora opulenta. Todos os atrevidos têm sorte.
O homem, que usava um chapéu coçado e um sobretudo castanho bastante lustroso nas bandas, não se sentou propriamente. Enterrou-se no lu­gar, com as mãos enfiadas pelas algibeiras den­tro. Que sujeito! Devia ser mais novo do que pa­recia por causa do cabelo grisalho e da barba por fazer. A senhora opulenta franziu a testa e remexeu-se no lugar, se assim se pode dizer, como quem procura ocupar menos espaço. Na verdade, apenas se instalou melhor. A sua intenção era fazer o homenzinho reparar na inconveniência da atitude que tomara. Mas ele não viu nada disso ou fingiu que não viu. Olhou vagamente as pessoas que tinha na frente, estendeu os lábios e começou a assobiar. A assobiar muito à vontade no inte­rior do carro!
Primeiro, foi um assobio baixinho, pouco se­guro, imperceptível quase. Depois, a pouco e pouco, o sujeitinho entusiasmou-se. E o assobio aumentou de intensidade. Ouvia-se já em todo o eléctrico. Os passageiros, que tinham recupe­rado com tanto custo a sua dignidade, fingiam que não davam pelo homem nem pelo assobio. E sossegaram quando o condutor se dirigiu ao recém-vindo. Ia aconselhá-lo a calar-se, com certeza. Mas qual! Com o maço dos bilhetes na mão e de alicate espetado, limitou-se a dizer: «O senhor?» O passageiro tirou a mão da algi­beira e, sem deixar de assobiar, estendeu-a com a palma voltada para cima. Esperou que lhe levassem a moeda, recebeu o bilhete e tornou a enfiar a mão pela algibeira dentro. Toda a gente seguia a cena, interessada. Mas, quando o homem olhou as pessoas, ao acaso, voltaram todas os olhos como se ele afinal não existisse. 
O assobio, umas vezes, era baixo, mal se ouvia, outras vezes, alto, muito alto, com trinados ridí­culos e irritantes. Ninguém sabia o que ele asso­biava. E o homem também não. Qualquer coisa que lhe apetecia que fosse assim mesmo. Às vezes repetia os sons como um estribilho. Outras vezes, porém, a maior parte das vezes, passava a novas combinações, ora brandas, ora violentas, sem que­rer saber para nada das que ficavam para trás.
As pessoas começavam a olhar umas para as outras à socapa. Já se tinha visto coisa assim? Um ou outro cavalheiro levantava os olhos do jornal, franzia a testa, fitava com dureza o ho­mem do chapéu coçado e sobretudo castanho, na esperança de que ele, envergonhado, parasse com aquilo. A senhora opulenta, no auge do espanto, nem se atrevia a olhar para lado nenhum, vexadíssima porque, sem ter culpa nenhuma, se en­contrava em plena zona do escândalo. A que uma pessoa está sujeita!
E, no silêncio do carro, o assobio aumentava de volume. Talvez, no fundo, aquele gorjeio ridí­culo não fosse desagradável de todo. Simples­mente, um eléctrico não é o local mais próprio para exibições daquelas. Porque não interferiria o condutor? O condutor era a autoridade do carro. Porque não interferiria? Estava-se a ver. Era tão bom como ele. A verdade, porém, é que não se conhecia nenhum regulamento que impe­disse os passageiros de assobiar. Colados aos vidros do eléctrico, havia papéis que proibiam fumar, cuspir no carro. Era proibido abrir as janelas durante os meses de Inverno. Mas nem uma palavra a respeito de assobios.
De repente, uma criança que ia sentada junto duma janela e já se sentia enfastiada de olhar para a rua interessou-se pelo homem. Achava-lhe tanta graça, com o seu chapéu coçado, o seu sobretudo castanho, o seu assobio... Era uma criança muito pálida, de cabelos louros e encara­colados, vestida de azul. Interessou-se tanto pelo homem que começou a bater palmas. Mas uma senhora nova e bonita, que ia ao lado dela, segurou-lhe as mãos com gentileza e afastou-lhas. Devia ir calada e quietinha. Era muito feio fazer barulho no eléctrico. Uma menina bonita não fazia barulho. «Que disse eu à minha filha?» No entanto, a senhora nova e bonita não antipatizava com o homem. Olhava os embrulhos de papel vistoso que trazia nos joelhos e pensava: se não pudesse mais e começasse também a assobiar? No fundo, admirava a sem-cerimónia do homem do chapéu coçado. Não seria adorável ela própria, uma senhora casada e mãe duma garota de cinco anos, começar a assobiar num eléctrico se lhe apetecesse? Quando era da idade da filha, a se­nhora bonita ia muitas vezes ao campo vestida com coisas velhas para poder atirar-se para a relva à vontade. Tinha uma voz muito suave e muito fresca, gostava de fazer precisamente aquilo que uma menina bonita não deve fazer. Os amigos do pai pegavam-lhe ao colo, atiravam-na ao ar. E ela ria, ria, ria até ficar sufocada. A mãe dizia: «Pronto, pronto, vamos a ter juízo, não se ri assim dessa maneira.» E, quanto mais lho di­ziam, mais lhe apetecia rir, rir, rir.
De vez em quando, um passageiro saía. A pla­taforma do carro ia-se esvaziando. E, pouco a pouco, os que ficavam foram-se habituando àquele estúpido assobio. Os cavalheiros tinham esque­cido os jornais. Algumas senhoras sorriam. Já se vira um disparate assim? Principalmente a se­nhora opulenta não podia mais. Apertava os lá­bios. Sentada num banco de lado, encontrava os olhos de toda a gente. Era irresistível. E a se­nhora bonita pensava em ar livre e nos tempos da infância. Na escola aprendera a assobiar e a lançar o pião. Havia vozes que tinham ficado den­tro dela: «Uma menina a assobiar, Nini?»
Em dada altura, o homem, sem deixar de asso­biar, levantou-se e puxou o cordão da campainha. Era um homenzinho insignificante, ainda novo e já de cabelos grisalhos, chapéu coçado, sobre­tudo castanho muito lustroso nas bandas. Mas havia nele uma indiferença soberana pelo eléc­trico inteiro. Toda a gente o olhava. Com des­prezo? Com ironia? Com inveja? Abriu a porta, fechou-a e saltou com o carro ainda em anda­mento.
As pessoas voltaram-se então umas para as outras, não resistiram mais e riram mesmo. Que homenzinho patusco! Desculpavam-se, explicavam-se sem palavras. Entendiam-se. Um minuto de simplicidade e simpatia iluminou-as. A criança que batera palmas limpou com a mão o vidro em­baciado da janela à procura do estranho passa­geiro. Viu-o atravessar a rua, seguir pelo passeio agarrado às casas, desaparecer.
Só então a senhora nova e bonita, que era a mãe da criança, abriu os olhos. Ninguém hoje lhe chamava Nini. Nini era a filha. Ela agora é que dizia à filha: «Uma menina a assobiar, Nini! Uma menina bonita não faz barulho.»
Ficara nos lábios e nos olhos de todos um sorriso de bondosa ingenuidade. Depois esse sor­riso foi-se apagando. Morreu. As pessoas toma­ram consciência da sua momentânea quebra de compostura. Lembraram-se dos seus embrulhos, dos seus anéis, dos seus jornais. Que patetice! Não havia outra palavra para aquilo. Que pate­tice! Os cavalheiros recomeçaram a ler os títulos das notícias. As senhoras deram um toque nas golas dos casacos. A criança tornou a olhar para a rua.
Tudo voltou, pesadamente, a encher-se de si­lêncio e dignidade.

Mário Dionísio
in O Dia Cinzento e Outros Contos

Ver - http://www.centromariodionisio.org/



O quadro foi pintado em 1871 e intitula-se Nocturne: blue and silver - Chelsea. Autor? Whistler. Faites la liaison...

sábado, 16 de fevereiro de 2019

VEZ ÚNICA

A Fundação Calouste Gulbenkian tem vindo a divulgar fotografias conservadas nos seus arquivos. São, quase todas, muito interessantes.

Em baixo está uma imagem do antigo Estádio José Alvalade, da autoria do Estúdio Horácio Novais. Houve alguns pormenores que me chamaram a atenção e que fazem parte da arquitetura de outros tempos, no que a equipamentos desportivos diz respeito.

Em primeiro lugar, note-se a presença do peão. Eram os bilhetes mais baratinhos e, claro está, sem número ou lugar marcado. Foi dali que vi o Portugal-Bélgica, em 11 de outubro de 1978. Foi a única vez que entrei em Alvalade. O jogo acabou empatado e só me recordo da grande exibição de Gerets. O peão daria, pouco depois, lugar a uma bancada semelhante às outras do estádio.

Outra curiosidade é a pista de ciclismo. Creio que em 1978 já tinha sido substituída pista de tartan, mas era neste velódromo que, em tempos, se fazia a apresentação das equipas que iam correr a Volta à Portugal. Em jeito de parada militar, com os ciclistas abraçados e pedalando em paralelo, uma equipa atrás da outra.

O Estádio José Alvalade foi projeto de Anselmo Fernández Rodríguez (1918-2000), arquiteto e treinador de futebol (!).

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

POEMA ÚNICO

Tenho horror a má poesia. Mais que a má pintura ou a má fotografia. Por isso me atrevo a fotografar, mas jamais serei capaz de escrever um poema. Vem isto a propósito de um suposto poema de Sophia que andou pela net. Bastava um minuto de leitura mais atenta para perceber que se tratava de um apócrifo.

Subitamente, tive um calafrio. Recordei um "poema" que escrevi - sei lá porquê - aos 18 ou 19 anos. Numa altura em que nem sequer lia poesia - Gomes Ferreira, os românticos e pouco mais... - e em que não deveria ter ousado a tal. Recordei, com toda a nitidez, a pequena folha quadriculada. E que o texto era curto. Recordo também duas estrofes que não reproduzirei. A folhinha foi metida dentro de um livro. Já lá vão quase 40 anos. Primeiro pânico: que alguém a encontre. Segundo pânico: que a folha possa estar assinada.

Enquanto o "poema" único, literalmente único, permanece sepultado num justo esquecimento, é bem melhor ler Sophia. A verdadeira.

Os Amigos

Voltar ali onde 
A verde rebentação da vaga 
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia 
Guardam intacta a impetuosa 
Juventude antiga - 
Mas como sem os amigos 
Sem a partilha o abraço a comunhão 
Respirar o cheiro a alga da maresia 
E colher a estrela do mar em minha mão

De um sítio que tem a ver com Amizade

A CDU NO PARLAMENTO EUROPEU

Os deputados da CDU em Estrasburgo são os mais assíduos e os mais trabalhadores?
A sério? Ai, mas que surpresa tão grande...
É claro que isso é omitido nos canais televisivos. É claro que os telejornais vivem de frases de grande efeito e não de seriedade e de trabalho.
Valorizar o trabalho, o empenho e a competência fazem parte de orientações que, na vida, procuro seguir. E já não devo mudar de opinião.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

ALVITO, DEPOIS DE AMANHÃ

Depois de Évora, o Alvito. Segundo passo da itinerância da exposição. Haverá mais dois, pelo menos. No Alvito, a montagem está terminada. Sábado será dia de passar por lá, antes de rumar mais a sul.


                

NOS SUBTERRÂNEOS DA NOTÁVEL VILA

Uma recente fotografia de Mário Romero Machado no facebook levantou uma série de questões. Todas interessantes, ainda que nem sempre com o devido enquadramento histórico. A fotografia, tirada a partir do Museu Gordillo, mostrava a Escola Conde Ferreira. Surgiram depois questões relacionadas com um subterrâneo existente no local. Entre outras hipóteses, falava-se em "termas romanas".

Vamos aos factos que conheço sobre o sítio. Outros haverá, seguramente.

Em 1970, obras realizadas nas oficinas da Auto Geral de Moura (entre as Ruas do Sequeiro e da Estalagem) puseram a descoberto um conjunto de sepulturas. Defendemos, o Artur Goulart de Melo Borges e eu, que se tratava de parte do cemitério islâmico de Moura. Os dados são topográficos, de orientação das inumações e de descrição do rito funerário.

Em 1987, obras de construção da garagem da APPACDM deixaram à vista uma entrada no subsolo que dava passagem para um túnel. Tornou-se depois claro que era uma estrutura perfeitamente definida, escavada no calcário da nossa terra. Tinha uma caleira perfeitamente definida e ia terminar na esquina da Rua da Estalagem com a Praça, tendo um monte de entulho, proveniente de uma habitação, no seu término. Participaram nessa breve sondagem, e peço desculpa por qualquer lapso, Isabel Martins, António Cunha, José Estevas, Carlos Rico, Susana Correia e Cláudio Torres.

Olhando um pouco de volta, e tendo em conta a cota dos terrenos e a localização da muralha seiscentista (meio torta e sem cumprir os cânones...), e tendo também em conta o aparelho da própria caleira, não foi difícil concluir:

1. Que a canalização é posterior à muralha, tendo sido feita já depois do abandono da fortaleza, ocorrido inícios do século XIX;
2. De facto, não seria possível a abertura de minas numa zona como aquela, que corresponde ao fosso da fortificação. Uma canalização inviabilizaria a presença da chamada "estrada coberta", que se sabe ali ter existido;
3. Provavelmente, a canalização foi construída para algum lagar que existiu nas imediações. Em que época? Arriscaria dizer que em meados do século XIX. O uso deve ter sido curto.

Nunca ali houve quaisquer termas, romanas, ou de qualquer outra época. O sítio ficou esquecido, até 1987.

O arranque das obras da APPACDM e a falta de meios técnicos, à altura, para se registar, levou a que se optasse pelo encerramento do túnel. Que não foi destruído e continua a ter acesso.

Do ponto de vista histórico, é um pequeno apontamento, que não adianta nada de substancial à história local.
Do ponto de vista turístico, o potencial parece-me ainda menor.


Verde - localização aproximada dos vestígios do cemitério islâmico
Vermelho - traçado aproximado da canalização
Azul - traçado aproximado da muralha do séc. XVII

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A CAMINHO DE ARACENA

Há já uns anos que não vou a Aracena. A última vez, recordo-o com toda a clareza, foi para ver uma corrida de touros. Desta vez, o âmbito será bem diferente.

Li, há dias, que os municípios de Aracena, Aroche, Moura e Serpa têm em marcha um projeto intitulado “Território Hospitalário: história medieval da raia”. Recebi, há poucas horas, um simpático convite do meu colega Eduardo Romero, de Aracena, para me juntar a este projeto, com uma conferência que irá ter lugar na vila serrana, na próxima primavera. Disse-lhe que sim, claro. Será a oportunidade para um resumo destes 30 anos de trabalho em volta da História e do Património do período islâmico. Moura, Serpa e mais além...

Curiosamente, os estudos históricos que reputo de mais interessantes sobre este território de "transição" não são de nenhum historiador ou arqueólogo. Refiro-me aos trabalhos do geógrafo João Carlos Garcia, que "leu" o sudoeste medieval como poucos o têm feito.

ARQUITETURA SUBLIMINAR - um post em forma de quizz

No meio da recolha de dados para um trabalho sobre a arquitetura do século XX, dou com este desenho. É a fachada da agência da Caixa Geral de Depósitos, em Mourão. Pensei "que raio, não é possível...". Há ali uma mensagem subliminar. Ou, em boa verdade, mais explícita que subliminar. Não há acasos. E o desenho parece-me evidente. Ou andarei a "ver coisas"?

É um trabalho de reabilitação, de final dos anos 80 do século passado. Tal como nos pedreiros medievais, que gravavam para a posteridade as suas marcas, também aqui ficou, para os vindouros, uma mensagem.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

TODA A POESIA DA CANTINA DO ISEG

Somos um País de Poetas! Ante várias hipóteses desinteressantes na cantina emergia, suavemente, a carne de vaca à rio tinto. Fiquei embalado pelas recordações da faixa piritosa ibérica e pelas memórias do longínquo Andévalo. Como somos um país de poetas, mas eu não sou, deixei-me levar pelo pragmatismo e inquiri o que era a carne à tio tinto. A simpática brasileira que nos atende repondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo (e era) "é carne com tomatji, claro". Pois evidentemente. Assim se me acabou a poesia, eram 12:25...


domingo, 10 de fevereiro de 2019

O ENVER HOXHA DA LAPA

E eu a pensar que estas votações só aconteciam nos partidos totalitários etc e tal. Santana Lopes foi eleito com 95,5% dos votos (0 votos contra). À atenção da TVI...

Mais divertido foi o Diário de Notícias classificar as patacoadas de mesa de café de PSL como um discurso "marcadamente ideológico". São estas coisas que iluminam domingos com pouco sol.

ELEMENTOS - AR 1

O japonês Issey Miyake (n. 1938) costuma produzir, ou esculpir, perfumes. Um dos seus trabalhos é esta impalpável escultura. O ar tomando forma. Dá-se aqui início à última série sobre os elementos na Arte. Eis que chega o Ar.



sábado, 9 de fevereiro de 2019

SEXTA-FEIRA NA MESQUITA

O desenvolvimento do projeto "Lisboa Islâmica" leva-me a sucessivas deslocações a diferentes pontos da cidade. As idas à mesquita central têm sido marcadas por um ambiente de fraternidade pouco usual nos dias que correm. Ontem, tive a oportunidade de percorrer todos os espaços, mesmo aqueles menos comuns para um visitante. A surpresa maior foi a existência de um bem apetrechado polidesportivo. Que é usado, em todos os dias da semana, por atletas do Sporting.

Assisti à prédica do sheik David Munir e à oração do dhur. Magicamente, o azul do céu estava quase do tom turquesa da cúpula.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A NOSTALGIA JÁ NÃO É O QUE ERA...

A exposição sobre as fotografias de Helena Corrêa de Barros (1910-2000) são um magnífico fresco sobre uma época que já não existe e sobre uma classe social que já não voltará. Sendo claro, os trabalhos de Helena de Barros são muito bons. E o toque nostálgico poderá ser o dos dias de hoje, não a forma lúdica como, decerto, ela os viveu. O mundo era então visto a partir de uma cota superior, de cima e não de frente.

Esta forma docente de ver o mundo está patente ao público no Arquivo Fotográfico de Lisboa.

Voltarei a Helena Corrêa de Barros, por causa das natureza mortas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

MUITO MAIS QUE UM SIMPLES MOMENTO TIRIRICA

Fala-se em promotores do partido, mas ainda não consegui perceber, e pela leitura da imprensa, exatamente quem são.

Não é divertido e não dá vontade de rir. A votação que teve, nas presidenciais, e o que aí vem (com Tino de Rans e André Ventura no lote) não augura nada de bom. A desconfiança de muitos eleitores face aos políticos ditos tradicionais tem levado a isto. Claro que o resultado é, sempre!, pior que o dos políticos tradicionais. Mas depois de lá estarem, que interessa isso. Tino de Rans é útil. Veremos depois a quem e a quê.