quinta-feira, 30 de abril de 2020

DA APOM PARA A MINISTRA DA CULTURA

A carta enviada pela Associação Portuguesa de Museologia à Ministra da Cultura. É um documento pertinente, escrito com profissionalismo e elevação. Manifesta preocupações concretas. E apresenta propostas. É um documento que divulgo, com todo o gosto.

Carta enviada à Senhora Doutora Graça Fonseca, Ministra da Cultura, sobre a reabertura dos museus, palácios, monumentos, sítios arqueológicos, instituições que preservam espécies vivas, centros interpretativos e centros de ciência de viva de Portugal

Lisboa, 28 de abril de 2020

Excelentíssima
Senhora Ministra da Cultura
Doutora Graça Fonseca
Palácio Nacional da Ajuda

Assunto: Reabertura dos museus, palácios, monumentos, sítios arqueológicos, instituições que preservam espécies vivas, centros interpretativos e centros de ciência de viva de Portugal.

Como é, certamente, do conhecimento de V. Exa, a APOM-Associação Portuguesa de Museologia foi convidada pelo Senhor Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, para uma audiência de índole consultivo dedicada ao estado atual da Cultura, resultante dos constrangimentos causados pela pandemia Covid-19 e da reabertura dos museus, palácios, monumentos, sítios arqueológicos, instituições que preservam espécies vivas, centros interpretativos e centros de ciência de viva de Portugal.
Decorrente da referida reunião, realizada no passado 25 de Abril, no Palácio de Belém, e na qual foram ouvidos outros agentes culturais, a APOM gostaria de apresentar junto de V. Exª, algumas das preocupações, então transmitidas ao Senhor Presidente da República. Neste contexto, submetemos à atenção de V. Exª, as seguintes propostas.
É do entendimento da APOM, que todos os equipamentos culturais, anteriormente referidos, deverão ter uma gradual abertura ao público, mediante o cumprimento de determinadas condições, como sejam de Confiança e Segurança, aplicadas sob um conjunto de normas nacionais, visando a correta utilização dos nossos espaços culturais.
Para isso, gostaríamos que a reabertura gradual dos espaços mencionados tivesse em linha de considerarão os efeitos do surto pandémico, por cada região do país, assim como a disposição de recursos humanos, na relação direta das áreas de trabalho ou de visita p/ m2, distanciamento social, higiene e desinfestação sanitárias.
Neste contexto, a APOM gostaria de ver implementados os melhores procedimentos, ao nível do cumprimento de um regulamento, tão específico como abrangente, servindo todas as instituições culturais. Neste sentido, o regulamento deverá estar bem visível para todo o púbico visitante, transmitindo bons níveis de confiança e segurança, durante a visita.
Perante esta nova realidade, consideramos que as entradas e visitas sejam alvo de uma abordagem especial, nomeadamente, ao nível do distanciamento social, uso obrigatório de máscaras de proteção, o uso de luvas nos espaços onde existam sistemas tecnológicos interativos e de outros cujo manuseamento seja efetuado manualmente.
Para além destas recomendações, torna-se imperioso garantir o reforço da limpeza e da higienização, durante os horários de abertura ao público, principalmente, nos espaços de atendimento (bilheteira, loja e cafetaria), através de usos de barreiras ou de acrílicos protetores, pelo que entendemos que o uso de máscara e luvas de proteção, será igualmente obrigatório.
Relativamente às atividades museológicas e iniciativas culturais, a desenvolver no referido quadro pandémico, a APOM considera ser necessária uma nova forma de atuação no que diz respeito à marcação, a partir de agora mais controlada, de visitas/visitantes. Durante este período conturbado, entendemos também que em algumas situações e por decisão dos diretores das instituições culturais, alguns espaços de visita, possam ser encerrados em abono da segurança e saúde dos visitantes.
Por outro lado, gostaríamos que fosse garantida a continuação dos projetos de investigação, exposição, conservação e divulgação, em cumprimento legal com a contratualização de serviços prestados por empresas e fornecedores, entre outros agentes culturais, evitando desta forma o número de desempregados no sector profissional, direta ou indiretamente, ligados à Cultura). Acresce salientar que os monitores e outro colaboradores a recibo verde, que até aqui vinham prestando serviços no sector cultural, viram seriamente ameaçadas as suas remunerações.
A APOM, pretende que estas situações possam ser efetivamente atendidas pelo Ministério da Cultura, pelo que vem solicitar, junto de V. Exª. a melhor compreensão para algumas medidas  solidárias, como sejam o alargamento de prazos no que diz respeito ao pagamento de despesas relacionadas com o abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica, de gás e ainda de comunicações.
Como é do conhecimento de todos, durante o tempo de confinamento, foram desenvolvidos interessantes trabalhos ao nível do estudo, digitalização, realidade virtual, renovação de sites, criação de plataformas enriquecendo, desta forma,  os instrumentos no âmbito da divulgação das coleções e exposições virtuais. Nesta medida, é forçoso reforçar financeiramente as demais instituições culturais portuguesas.
O momento atual é tão preocupante como importante  para todos. A APOM gostaria de ver asseguradas todas estas medidas, em tempo útil e, desta forma, ver assegurada as melhores condições para a reabertura dos museus, palácios, monumentos, sítios arqueológicos, instituições que preservam espécies vivas, centros interpretativos e centros de ciência de viva existentes em Portugal.

Com os melhores cumprimentos
Atentamente,

O Presidente da APOM
(João Neto)

PATRIMÓNIO DE MOURA X 6.000


No início de abril comprei dois meses de "zoom". Era a maneira mais prática de continuar a dar as aulas. O método funciona, ainda que saiba a pouco. É um pouco como aquelas rodas estreitinhas que os carros agora têm quando temos um furo. Dão para desenrascar.

Resolvi aproveitar o zoom, o trabalho acumulado sobre Moura e projetos em curso para quatro curtas conversas à volta do Património. Tive a surpresa de contar, ao todo, com mais de 6.000 visualizações. Esperava umas centenas, vá que chegasse ao milhar.

O mérito não é meu, é da terra. E dos que lá nasceram ou vivem e que gostam de Moura. E do interesse que os temas suscitam.

Aqui ficam os links e os temas:

COMO DUARTE DARMAS VIU MOURA EM 1510
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217653092060859/

A MOURARIA DE MOURA
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217722009183744/

AS MURALHAS MODERNAS DE MOURA
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217799001228497/

DA PRATA DA ADIÇA À MOURA SALÚQUIA
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217871808568635/

quarta-feira, 29 de abril de 2020

AMORAS

Há muitos dias que não saía de casa. Foram 40, para ser preciso.

Ontem e hoje quebrei essa rotina. Quebrámos, em dueto solitário. Até ao Além-Rio, depois junto à Achada de S. Sebastião. Subitamente, "olha, amoreiras com amoras". As amoreiras em frente à escola costumam estar varridas. A rapaziada da escola trata delas. Tanto melhor para eles. Agora, sem escola, nem clientes, as amoreiras estão bem compostas. Regressei a outros tempos e a outros sítios. As amoras não se apanham, por cá, como no quadro de Elizabeth Forbes (1859-1912). Pouco importa. O que conta é o gesto e o momento. Ontem pintalguei, convicto e feliz, uma camisa. Em certas alturas, a felicidade momentânea está nos ramos de uma amoreira.


You ate that first one and its flesh was sweet
Like thickened wine: summer's blood was in it
Leaving stains upon the tongue and lust for
Picking, como no poema de Seamus Heaney.

terça-feira, 28 de abril de 2020

NO TEMPO DAS MANIFESTAÇÕES ESPONTÂNEAS

A recente comemoração do 25 abril trouxe-me à memória as célebres manifestações "espontâneas" dos tempos do fascismo. Numa delas, um pouco avisado repórter da Emissor Nacional abordou uma senhora, vinda das profundezas da província, perguntando porque ali estava. Ao que ela respondeu, convicta e de forma plena e espontânea "vimos cá para apoiar o professor Baltazar!". Correção pronta do repórter "Salazar! Professor Salazar". Retorquiu a senhora "Pois, esse mesmo".

Eram assim as manifestações espontâneas. Pagava-se o transporte, o almocinho e, espontaneamente, havia quem fizesse o frete.

Felizmente, hoje já não é assim.

UMA BIBLIOTECA, UM LEITOR: MÉRTOLA

Do facebook da Câmara Municipal de Mértola:

Biblioteca de Mértola premiada em passatempo nacional
Os leitores do nosso concelho são pessoas atentas e participativas e mantêm com a nossa biblioteca uma relação de proximidade. Em particular à Ana Rita Raposo, o nosso muito obrigado. Por ser leitora, por ter participado neste passatempo e por nos ter nomeado.
Apesar de, neste momento, estarmos encerrados ao público, continuamos a trabalhar, disponibilizando conteúdos online e no interior da biblioteca, para que possamos regressar com melhores serviços, num futuro que, esperamos, seja próximo. Estaremos de volta logo que as autoridades de saúde o aconselhem, para que o façamos em segurança, e possamos garantir o bem-estar de todos.


segunda-feira, 27 de abril de 2020

domingo, 26 de abril de 2020

UMA QUESTÃO DE TÁTICA

A propósito de futebol, ou nem tanto:

Há muitas alturas em que o melhor é jogar simples e direto. Não complicar, nem perder tempo com jogadas inúteis. O tricô, na escrita, na ação política, nos projetos é, com frequência, um exercício inútil. Lembro-me, muitas vezes, de uma história que o meu pai me contava, acerca de um treinador de futebol de Beja. Que, impaciente com a falta de produtividade da equipa, um dia chegou ao balneário e disse "hoje não há cá táticas nem meias táticas; na defesa, foeirada, na avançada rematar às redes".

Tantas vezes que me lembro desse episódio...

sábado, 25 de abril de 2020

LIVROS, EM ABRIL

Por todos os livros censurados.
Por todos os autores que impedidos de editar.
Por todas as palavras que só muitos anos depois puderam ser ditas.
Porque bibliotecas assim são as dos dias da Liberdade, veja-se este pequeno momento de poesia total, de palavras e de sons.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

ARQUEOLOGIA TAMBÉM É CULTURA

As fragilidades do sector do património cultural, potencialmente avolumadas em consequência da pandemia, não têm sido nem avaliadas nem objecto de propostas de mitigação. Portugal não pode permitir a destruição do sector profissional que assegura a preservação de um dos seus principais recursos.

Em Portugal a Cultura vive sob o manto da precariedade. O actual estado de alerta provocado pela pandemia da covid-19 e o consequente estado de emergência expuseram ainda mais a fragilidade do sector. Prevê-se que o cenário, já pouco favorável, se possa agravar num futuro próximo. Assim, os profissionais da Cultura têm vindo a alertar a sociedade para as consequências no sector se não forem pensadas soluções específicas. Estes apelos têm vindo, e bem, a receber resposta, ainda que insuficiente, do Governo, entidades competentes, autarquias e agentes culturais.

Contudo, são escassas, ou mesmo ausentes, as respostas dirigidas ao sector do património culturale àqueles que nele trabalham. As fragilidades deste sector, potencialmente avolumadas em consequência da pandemia, não têm sido nem avaliadas nem objecto de propostas de mitigação. O nosso património cultural imóvel, como os monumentos, os sítios arqueológicos, o património etnográfico e paisagístico, os bens móveis (espólios arqueológicos, artísticos, etnográficos, etc.) e património imaterial (tradições, saber-fazer colectivo e individual, etc.) constituem parte fundamental da matriz cultural do país. Os profissionais do património – arqueólogos, conservadores-restauradores, antropólogos, etnógrafos, ilustradores, historiadores, técnicos e investigadores, entre outros – são agentes culturais, garantes da memória colectiva e da preservação da nossa história e cultura, e daquilo que nos define como indivíduos e comunidade. Se a tudo e a todos estes são atribuídos consensualmente importância e interesse público, urge a tomada de medidas que visem minimizar o impacto da pandemia no sector do património cultural, nos seus agentes (empresas, associações, unidades de investigação, etc.) e nos seus profissionais, agora e no período pós-emergência.

No que se refere ao panorama laboral, tal como nas artes do espectáculo, observa-se um contexto de enorme precariedade, agravada por um profundo e crescente desinvestimento público. O sector do património cultural, em particular o da Arqueologia, tem sido remetido a uma função subsidiária da construção civil. A actividade vem crescendo, mas de forma desequilibrada e pouco sustentada, dependente quase exclusivamente da Arqueologia de salvaguarda. Trabalha-se para preservar o património em contexto de projectos e obras, apenas, e não para o estudar, conservar, valorizar e divulgar. Os promotores de obras e projectos financiam estas intervenções, mas o Estado, com excepção de algumas autarquias, desabituou-se de investir em investigação, conservação, valorização e divulgação do património cultural.

Perspectivando aquelas que poderão ser as consequências económicas da pandemia, vislumbra-se uma potencial destruição do tecido laboral e intelectual constituído por investigadores, especialistas e técnicos, altamente preparados e capacitados, com prejuízo para os próprios e para a sociedade. Desta forma os signatários apelam a que:Media player poster frame

– O Ministério da Cultura (através da Direcção-Geral do Património Cultural e das Direcções Regionais de Cultura), governos regionais e autarquias apresentem medidas e apoios específicos para o património cultural.
– O Estado desenvolva um efectivo programa de investimento no património cultural, nas vertentes de investigação, conservação, valorização e divulgação. Urge contrapor, à política essencialmente mercantilista, a implementação de planos integrados com todas as componentes de intervenção no património cultural enquanto bem comum, identitário e de desenvolvimento e coesão territorial.
– O Estado implemente um programa sustentado de combate à precariedade (falsos recibos verdes) nos sectores privado, empresarial e público.
– O Estado reactive o Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos, programa de apoio financeiro à investigação em Arqueologia, alargado também à remuneração de investigadores e outros profissionais, dirigido especialmente aos dados arqueológicos recolhidos em intervenções preventivas durante as últimas décadas, que permanecem por estudar e divulgar.
– O Estado, autarquias e demais entidades depositárias implementem programas de gestão, estudo, conservação e valorização do abundante espólio arqueológico que vem sendo, na melhor das hipóteses, apenas armazenado.
– O sistema científico e tecnológico nacional promova e financie programas de incentivo à investigação através de projectos ou bolsas na área da Arqueologia.
– Seja desenvolvido um programa de incentivo à constituição de equipas municipais de Arqueologia. O trabalho extraordinário que o poder local democrático tem desenvolvido em prol do património cultural deve ser aprofundado e consolidado, para bem das comunidades locais e nacional.
– Os profissionais, instituições de ensino superior, empresas e associações culturais se congreguem em torno destes objectivos comuns e de interesse público, para defesa e promoção do património cultural, incitando as entidades tutelares e reguladoras, para que estas garantam a sobrevivência do sector do património cultural em Portugal.
– Todos os que nos lêem, sejam agentes e profissionais da área do património ou não, se juntem a este esforço que é de todos… porque o património cultural é de todos também.

Portugal não pode permitir a destruição do sector profissional que assegura a preservação de um dos seus principais recursos, o património cultural. É urgente agregar esforços, pessoais e colectivos, de defesa dos profissionais da Cultura, para preservar a nossa memória e conhecimento, o nosso passado, presente e futuro. Um futuro sustentável e saudável só acontece através de uma compreensão do passado e os profissionais do património cultural são os mais bem preparados mediadores entre o passado e o presente, ajudando as comunidades e os indivíduos a apreenderem e compreenderem o seu passado. Para tal é preciso um planeamento estruturado e desenvolvido em diálogo constante com todos os agentes que intervêm no estudo, conservação, valorização e divulgação do nosso património cultural.

Regis Barbosa (arqueólogo, STARQ), Mauro Correia (arqueólogo independente), Alexandre Sarrazola, Ana Bettencourt (arqueóloga, Universidade do Minho), Ana Catarina Sousa (arqueóloga, Universidade de Lisboa), Ana Cristina Araújo (arqueóloga, LARC/CIBIO/DGPC), Ana Mesquita (arqueóloga, deputada), André Carneiro (arqueólogo, Universidade de Évora), André Teixeira (arqueólogo, Universidade Nova de Lisboa), António Carlos Silva (arqueólogo), António Manuel Silva (arqueólogo, Centro de Arqueologia de Arouca), António Monge Soares(arqueólogo/investigador, CTN/Instituto Superior Técnico), António Valera (arqueólogo, ERA), Carlos Fabião (arqueólogo, Universidade de Lisboa), Cláudio Torres (arqueólogo, Campo Arqueológico de Mértola), Conceição Lopes (arqueóloga, Universidade de Coimbra), Diana Margarido (mestranda Arqueologia), Élvio Sousa (arqueólogo, deputado regional Madeira), Jacinta Bugalhão (arqueóloga, STARQ/AAP/DGPC), João Luís Cardoso (arqueólogo, catedrático Universidade Aberta), João Senna-Martinez (arqueólogo, Universidade de Lisboa), João Tereso(arqueólogo/paleobotânico, CIBIO), João Zilhão (arqueólogo, catedrático Universidade de Lisboa), Jorge Alarcão (arqueólogo, catedrático Universidade de Coimbra), Jorge Custódio (arqueólogo industrial, IHC/Universidade Nova de Lisboa), Jorge Raposo (arqueólogo, Centro de Arqueologia de Almada), José Arnaud (arqueólogo, AAP), José Bettencourt (arqueólogo, Universidade Nova de Lisboa), José Carlos Quaresma (arqueólogo, Universidade Nova de Lisboa), José d'Encarnação (arqueólogo, catedrático Universidade de Coimbra), José Luís Neto (arqueólogo, DRC Açores), José Ruivo (arqueólogo, Museu de Conímbriga), Leonor Rocha (arqueóloga, Universidade de Évora), Liliana Matias Carvalho (arqueóloga/antropóloga, STARQ), Luís Luís(arqueólogo, Fundação Côa Parque), Luís Monteiro (arqueólogo, deputado), Luís Raposo (arqueólogo, ICOM Europa/AAP/MNA), Luiz Oosterbek (arqueólogo, Instituto Politécnico de Tomar), Manuela Martins (arqueóloga, catedrática Universidade do Minho), Maria de Jesus Sanches (arqueóloga, Universidade Porto), Maria João Valente(arqueóloga/arqueozoóloga, Universidade do Algarve), Maria Ramalho (arqueóloga, DGPC), Mariana Diniz (arqueóloga, Universidade de Lisboa), Nuno Bicho (arqueólogo, Universidade do Algarve), Pedro Sales(conservador-restaurador, Museu de Conimbriga), Ricardo Costeira da Silva (arqueólogo, Universidade de Coimbra), Rogério Alves (técnico de arqueologia), Rui Gomes Coelho (arqueólogo, Universidade de Lisboa), Rui Morais (arqueólogo, Universidade do Porto), Sandra Assis(antropóloga, Universidade Nova de Lisboa), Santiago Macias (arqueólogo, Campo Arqueológico de Mértola), Sérgio Monteiro Rodrigues (arqueólogo, Universidade do Porto), Susana Gómez (arqueóloga, Universidade de Évora/Campo Arqueológico de Mértola), Tânia Casimiro(arqueóloga, Universidade Nova de Lisboa), Victor S. Gonçalves(arqueólogo, catedrático Universidade de Lisboa), Vítor Oliveira Jorge(arqueólogo, catedrático Universidade do Porto)

Artigo que acaba de sair no "Público"

quinta-feira, 23 de abril de 2020

DA PRATA DA ADIÇA À MOURA SALÚQUIA: O PERÍODO ISLÂMICO NO CONCELHO DE MOURA, DOMINGO ÀS 17 HORAS

Memórias, lendas e factos do nosso concelho. Começando pela Moura Salúquia, que é, também, título de uma valsa.

Qual a maior riqueza do concelho de Moura, há 1000 anos?
Onde ficava o mítico sítio de TOTALICA?
Porque é que Moura se chamou, pelo menos entre os séculos VI e X, LACANT?
O que quer dizer SALÚQUIA?

Temas da quarta, e última, conversa sobre o património da nossa terra. Domingo, às 17 horas, via zoom:
https://us02web.zoom.us/j/81328493349?pwd=d1JTanc3d3U4ZUNYQWVVZnBPSnQ4UT09


quarta-feira, 22 de abril de 2020

AZUL MEDIEVAL, NA GRANJA

O nome técnico é Chrozophora tinctoria. É uma planta que existe na orla mediterrânica, no Médio Oriente, na Índia, no Paquistão e na Ásia Central. Investigadores portugueses descobriram recentemente a estrutura química do corante natural usado na produção do bonito azul das iluminuras medievais. E que é feito a partir dessa planta.

Qual a particularidade desta planta? É que o único sítio onde está localizada, em Portugal, é na Granja (Mourão). A fascinante história desta investigação está contada, por Isabel Salema, no "Público" do passado sábado (v. aqui - conteúdo para assinantes).

terça-feira, 21 de abril de 2020

MORTE A NEGRO

O texto veio na "The New Yorker" do passado dia 16. É um artigo particularmente longo, mas merece bem ser lido.

O começo é duro: quando a América Branca apanha o novo coronavirus, os Negros Americanos morrem. Exemplos?

No Lousiana, a população negra representa 70% das mortes por covid-19, sendo que essa mesma população corresponde a 33% dos habitantes daquele estado. 

No Michigan, a população negra representa 40% das mortes por covid-19, sendo que essa mesma população corresponde a apenas 14% dos habitantes daquele estado.

Em Chicago, a a população negra representa 72% das mortes por covid-19, sendo que essa mesma população corresponde a 33% dos habitantes da cidade.

Números exacerbados por dados concretos: os testes ao covid-19 abrangeram, sobretudo, as áreas mais ricas e com menos minorias raciais. Seis vezes mais, para ser preciso. O tal Adolfo da Alemanha não faria melhor.

As condições de vida explicam porque é que os negros americanos têm mais 60% de possibilidades de terem diabetes que os brancos, a mesma percentagem para a possibilidade de uma mulher negra ter hiper-tensão, por comparação com uma mulher de raça branca.

Vale a pena ler o artigo completo:

segunda-feira, 20 de abril de 2020

NAPALM

Bill Kilgore:
You smell that? Do you smell that?... Napalm, son. Nothing else in the world smells like that. I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for twelve hours. When it was all over I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like... victory. Someday this war's gonna end.

Apocalypse now - Francis Ford Coppola (1979)

Extraordinário é palavra curta para este filme. Vi-o, em estado de quase torpor, no Monumental, talvez em 1981. É uma das obras maiores do Cinema, sem dúvida. Este monólogo marca o filme. O cheiro a napalm pela manhã... O papel de Bill Kilgore assenta na perfeição a Robert Duvall, o homem que fazia tocar Wagner durante os ataques. Não é Bill Kilgore quem quer. Duvall quis e pode. Apocalypse now, paradoxalmente, marcou o inicio do fim da estrela de Coppola. Fez, a seguir, um filme de génio - Do fundo do coração - e, de seguida, pouco mais.

sábado, 18 de abril de 2020

30º DIA

Ao 30º. dia de isolamento dia "voaram" umas centenas de CD, com duplicados e triplicados de relatórios. Mais umas dezenas de dossiês de trabalhos concluídos ou de temas que não retomarei.

Na parede do fundo do gabinete de trabalho, agora transitável e utilizável, há três fotografias, duas compradas em Tânger, uma no Cairo. Da loja na Rua Abd El-Khalik Tharwat para casa veio esta imagem:


Vi uma igual, há dias, à venda por 200 euros. Custa a crer, mas é assim que se faz especulação. Esta de Mértola não sai. Fotografia de Rudolf Franz Lehnert (1878-1948) e Ernst Heinrich Landrock (1878-1966).

sexta-feira, 17 de abril de 2020

MURALHAS DE MOURA NA NET: DOMINGO, ÀS 17 HORAS

Onde ficavam as muralhas de Moura, construídas pouco depois de 1650?
O que é que delas resta?
Onde ficavam as portas da muralha?
O que é muralha e o que não é?
Porque é que se chama Brecha da Jardim a um dos locais da nossa terra?
É em volta desses temas que terá lugar a nossa conversa de domingo, dia 19. Às 17 horas, como de costume.

Via zoom em:
https://us04web.zoom.us/j/73659346650?pwd=dHFqb2h0cUhrampNc29MUHQ0S3Zodz09

Imagem - Daniel K

quinta-feira, 16 de abril de 2020

A UNESCO, A OMS E O IMPÉRIO

O recente anúncio, feito pelo presidente americano, de suspensão de financiamento à Organização Mundial de Saúde, é apenas mais um episódio de uma longa série de atitudes do direito do mais forte à liberdade.

Em 1984, o governo de Reagan enviou um emissário à UNESCO, para manifestar desagrado pela política seguida por aquele organismo. O tom esteve muito longe de ser adequado, ao ponto de Amadou-Mahtar M'Bow, então diretor-geral daquele organismo, ter dito ao seu interlocutor que "não estava a falar com um preto americano". Os Estados Unidos saíram da UNESCO, regressaram em 2001, para voltarem a sair em 2011, porque o hoje tão incensado Barack Obama não estava de acordo com a admissão da Palestina na UNESCO...


Agora é Donald Trump que, insatisfeito com a OMS, decide retaliar. Só me surpreende que haja quem se surpreenda.

DA PERENIDADE DO PODER...

... que é tão firme e tão definitiva como o palco deste comício. Não fosse o mergulho total no trabalho (parece mentira, mas mais verdade não pode ser e os dias tornam-se curtos) e estes dias dariam pano para escrita. Assim, fico-me pelo palco do comício nigeriano. Vou tirando apontamentos. E vou sorrindo, aquilo que a pandemia me deixa e que eu consigo.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

HOCKNEY, SEGURAMENTE

Os Presidentes da República fazem-se retratar à antiga, em tela e em pose. Há apenas dois retratos de excepcional qualidade, o de Mário Soares (por Júlio Pomar) e o de Jorge Sampaio (por Paula Rego). Os outros arrastam-se, entre o banal e o penoso.

Se tivesse dinheiro para tal, a quem pediria um retrato destes? Não a solo, mas com os quatro cá de casa. De entre os vivos, seguramente a David Hockney (n. 1937), uma paixão antiga, descoberta nos tempos de liceu, quando frequentava o Instituto Britânico. Esta tela data de 1977. Quem ali está são os pais do pintor.

terça-feira, 14 de abril de 2020

O QUE VEJO DA MINHA JANELA

O QUE VEJO DA MINHA JANELA é um desafio lançado pela Câmara Municipal de Mértola: o que vês, o que pensas que vês, o que gostarias de ver. Na pausa para o almoço, resolvi mandar esta fotografia (feita às 10:04), com uma pequena justificação:
A fotografia está modificada, tal como a realidade também o está.

SOMBRAS

A meio desta vida continua a ser 
difícil, tão difícil 
atravessar o medo, olhar de frente 
a cegueira dos rostos debitando 
palavras destinadas a morrer 
no lume impaciente de outras bocas 
anunciando o mel ou o vinho ou 
o fel. 

Calmamente sentado num sofá, 
começas a entender, de vez em quando, 
os condenados a prisão perpétua 
entre as quatro paredes do espírito 
e um esquife negro onde vão desfilando 
imagens, só imagens 
de canal em canal, sintonizadas 
com toda a angústia e estupidez do mundo. 

As pessoas - tu sabes - as pessoas são feitas 
de vento 
e deixam-se arrastar pela mais bela 
respiração das sombras, 
pela morte que repete os mesmos gestos 
quando o crepúsculo fica a sós connosco 
e a noite se redime com uma estrela 
a prometer salvar-nos. 

A meio desta vida os versos abrem 
paisagens virtuais onde se perdem 
as intenções que alguma vez tivemos, 
o recorte obscuro de perfis 
desenhados a fogo há muitos anos 
numa alma forrada de espelhos 
mas sempre tão vazia, sem abrigo 
para corpo nenhum. 


Fernando Pinto do Amaral

segunda-feira, 13 de abril de 2020

PATRIMÓNIO DE MOURA - 2º. TEMA

Segunda de quatro conversas sobre Património Cultural. Ontem, foi a vez da Mouraria. Vídeo disponível em:
https://www.facebook.com/santiago.macias.58/videos/10217722009183744/



Representação do bairro na planta de Nicolau de Langres,
de meados do século XVII.
A verde - o que se conservou, até hoje.
A rosa - os quarteirões sacrificados, para dar lugar à construção da Muralha Nova.

sábado, 11 de abril de 2020

STARDUST MEMORIES Nº. 32: CASSETTES DE LIMPEZA

No meio de uma limpeza aprofundada da cave - o que implicou mandar fora grande parte de coisas outrora tidas como essenciais e insubstituíveis... - encontrei uma nutrida coleção de imprestáveis cassettes. Se o objeto em si é indecifrável para os jovens dos nossos dias, mas enigmática é a cassette de limpeza. Que servia para limpar as cabeças de leitura. Mais difícil ainda, o que raio eram as cabeças de leituras? Paro aqui. Há coisas que são de uma geração específica. Não da anterior, nem da seguinte. As cassettes de limpeza fazem parte da minha. Se tenho saudades? Nem um pouco.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

MOURARIA DE MOURA NA NET: DOMINGO ÀS 17 HORAS

Domingo será tempo para falar um pouco da Mouraria, às 17 horas em ponto. Via zoom, que é o que pode ser...

Como nasceu o bairro? Quem lá vivia? Que evolução teve?

Aqui fica o link:
https://us04web.zoom.us/j/983705345?pwd=LzlUSjZEUDR1THpNMHNTam5LRXp6UT09

DA ÚLTIMA CEIA À PIETÀ

Sexta-Feira Santa fotográfica. Ainda que formalmente um pouco menos ortodoxa. Talvez a imagem de maior impacto seja a do panamiano José Braithwaite. O Cristo Negro de Portobelo (segunda imagem, a contar de cima) não tem exatamente a ver com a Páscoa. Mas a sua representação de sofrimento e de angústia sim.

David LaChapelle (n. 1963)

José Braithwaite (n. 1981)

José Braithwaite


Andrés Serrano (n. 1950)

Renée Cox (n. 1960)

quinta-feira, 9 de abril de 2020

LOGAN'S RUN EM BRUXELAS

O filme passa-se no século XXIII. O equilíbrio da população e os recursos dão mantidos eliminando fisicamente os que chegam à idade de 30. O filme não é grande coisa, aproveitando-se o fogo de artificio dos efeitos especiais.  Recordo-me de o ter visto, há mais de 40 anos, num sítio que já não existe, o Pavilhão Mourense.

A que propósito vem isto? Vinha no Diário de Notícias de hoje:

A Comissão Europeia (CE) aponta para aqueles que considera ser os quatro grandes problemas de Portugal, "independentemente" da crise pandémica do coronavírus.
No estudo relativo à 11.ª missão de avaliação do credor ao pós-programa de ajustamento de Portugal, ontem divulgado, os avaliadores oficiais sublinham as "pressões" que já se faziam sentir ao nível dos salários da função pública, das pensões e da despesa com saúde, três áreas que relevam os problemas ditos estruturais do lado da despesa e que, ato contínuo, complicam a redução do rácio da dívida pública. Este estava em rota descendente mas continua a ser dos mais elevados do mundo desenvolvido.
O quarto problema, que não é menor do que os outros, tem que ver com "riscos para a estabilidade financeira", que já vinham de trás, sobretudo os que estão relacionados com os novos créditos concedidos para a compra de casa e os créditos ao consumo.
Deixando de lado esses sibaritas da função pública, é interessante a obsessão com a "peste grisalha" e com os custos da saúde. Um tema e outro estão ligados, bem entendido.

1. Ponhamos as barbas de molho, que nem vai ser preciso chegar a 2274.
2. A pandemia vai ter as costas larguíssimas.

SÍSIFO

Entre 19 e 21 de abril de 1506, 4.000 pessoas foram massacradas em Lisboa. Eram, na sua maioria, judeus. Havia peste em Portugal. Em tempos de peste e de seca, havia que criar bodes expiatórios e culpar alguém da desgraça que a todos atingia. Os relatos são impressionantes e se alguém quiser testar a ideia dos “brandos costumes” não tem mais que ler as narrativas da época. Damião de Góis deixa-nos esta descrição: “e por já nas ruas nam acharam nenhus christãos nouos, foram cometer com vaiues (vaivéns) e eicadas (escadas), has casas em que viuiam, ou onde sabiam que estauam, e tirandohos dellas, arrasto pelas ruas, cõ seus filhos, molheres e filhas, hos lançauam de mistura viuos e mortos nas fogueiras, sem nenhua piedade, e era tamanhaha crueza que atte nos mininos, e nas crianças que estauão no breço (berço) há executauam, tomandohos pelas pernas fendendo hos em pedaços, e esborrachandohos darremesso nas paredes”.

A culpa da pandemia, atribuída hoje aos estrangeiros, é a trineta do massacre. Este, felizmente, impossível de repetir em Portugal. Ainda assim, há dias eram os nepaleses, coitados deles..., os alvos da desconfiança. Diga-se de passagem, que a peste de 1506 continuou por mais algum tempo, sem que o sangue dos judeus tivesse apressado o fim da epidemia.

O medo do desconhecido não desapareceu. Mudou de forma e tomou outras linhas. Somos confrontados, a cada dia que passa, com novos avanços e com novas limitações. Num dia futuro, o tormento por que passamos será banal e encarado com despreocupação. Por agora, temos o desconhecido, o medo e a incerteza à nossa frente. A barbárie da turba lisboeta, assim se espera, não voltará. Dentro de meses, retomaremos a reconstrução do nosso mundo. Com menos dificuldade, ou de forma pesada e penosa. Recordemos aos que, em tom trágico, dizem “nada voltará a ser como antes”, o que era o mundo longínquo sem antibióticos, sem meios de diagnóstico, sem telecomunicações, ou o que era o mundo recente sem Serviço Nacional de Saúde (esse braço médico da opressão esquerdista, na visão da nossa amada direita). Estamos como Sísifo, o da mitologia grega. Que, depois de várias vezes ter enganado os deuses, foi por eles castigado a empurrar, durante a eternidade, um bloco de mármore até ao alto de um monte. Quando estava quase a conseguir, a pedra rolava encosta abaixo. Sísifo tinha de recomeçar. A situação repetia-se, sem cessar.

A nossa sina é a de Sísifo. Trata-se de recomeçar. Uma vez e outra. De pouco nos servem os lamentos e os queixumes. Usemos antes a tenacidade, a perseverança, o empenho, o esforço. Ao contrário de Sísifo, venceremos. Ainda que só por pouco tempo.

Crónica publicada em "A Planície"

Sísifo numa peça do séc. IV a.C. (Museu Arqueológico Nacional - Nápoles)