domingo, 31 de outubro de 2021

UM ELMYR LUSITANO

Pela terceira vez aqui trago o trailer de um filme que tenho por verdadeiramente extraordinário. F for Fake, de Orson Welles, que anda à volta da mentira, da fraude e da falsificação de obras de arte. Uma parte do filme é sobre a figura de Elmyr de Hory (1906-1976), um falsário de pintura do século XX, que tanto forjava Picassos como Modiglianis ou Matisses. A sua vida foi objeto do trabalho de um jornalista americano, Clifford Irving (1930-2017), que aparece no filme e que foi, ele próprio, parar à prisão por ter sido o "descobridor" de uma autobiografia de Howard Hughes (1905-1976), que era, afinal, completamente inventada.

No meio deste fascinante, e borgesiano, cruzamento de falsidades, surge a notícia de que numa prisão do norte de Portugal um recluso (!) produziu, durante vários anos, obras de boa qualidade (!!!) supostamente pintadas por nomes tão diferentes e tão sonantes como Almada Negreiros, Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Noronha da Costa, José Malhoa, Cutileiro, Domingos Alvarez e Malangatana.

Um burlão e um criminoso. Mas com um toque de génio, convenhamos. No lugar dele, eu escreveria uma autobiografia. Verdadeira, tanto quanto possível.


NA MORTE DE 007

Um domingo para recordar a maravilhosa arte do cinema. Fui ver o último 007. Como na piada que se dizia em França "P: foste ver o último Godard? R: não, mas se prometerem que é mesmo o último, vou". Para mim, deve mesmo ter sido o último Bond. Abomino o politicamente correto. É tudo penteadinho e bem comportado. James Bond tem uma filhinha loirinha, só tem uma namorada no filme, mal toca no martini, não fuma, e passa a pasta a uma nova 007 (veremos onde isto vai acabar, mas deve ser vegana ou outra desgraça do género...). Até o gunbarrel é diferente, sem sangue nem nada.

Restam-me os DVD. E a minha memória de juventude.

(é por essas e por outras que acabei a noite de sábado combinando uma ida aos touros com o João Neto; para fumarmos um par de charutos e bebermos um par de whiskies e mandarmos o politicamente correto às urtigas).





sábado, 30 de outubro de 2021

NOS PRÉMIOS DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE MUSEOLOGIA

Ontem, foi o dia da cerimónia de entrega dos prémios da APOM. Um dia inteiro que se prolongou por uma noite de convívio. Coube-nos, à Patrícia Remelgado e a mim, o papel de apresentadores da sessão da tarde. Uma tarefa agradável, que nos permitiu ir anunciando os vários distinguidos deste ano. Uma surpresa: o elevadíssimo número de candidaturas, em ano de pandemia. Os museus não pararam!

A distinção principal coube à Casa Fernando Pessoa.









Entrega do prémio MUSEU DO ANO









Parte da equipa do júri durante o jantar de encerramento










Em pose "Eládio Clímaco"

O VERBO "TENTAR" (OU QUANDO A ETIMOLOGIA NOS É INSUFICIENTE)

O QUE QUERERÁ DIZER TENTAR


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

LACANT - AGORA EM REVISTA

Os meus colegas da Câmara Municipal de Moura tomaram em mãos este desafio complexo. Fazer sair uma revista e garantir a sua vida é tudo menos fácil. Sei isso por experiência, ao ter coordenado, durante mais de 20 anos, a "Arqueologia Medieval".

A LACANT surge com um significativo conjunto de artigos com interesse. Porque esse é o segundo desafio. Ou seja, tornar a produção relevante e útil para a comunidade científica. E o começo foi bom. Assim se mantenha.

O grafismo é muito bom e o dourado do título uma excelente ideia.

Ironias do destino: a Câmara Municipal de Moura criou uma revista com um título que tem por base uma tese da qual sou autor. A de que Moura se chamou Lacant na Alta Idade Média e até ao período emiral. Com base em quê? Na estampilha que se vê na capa, cruzada com as leituras de Ibn Hayyan (no Muqtabis V), do Behdjat en-nefs, de Ibn Idhari e de Yaqut (apresentando ele último os seus típicos e bem explicáveis lapsos...).

Viva LACANT, pois então. Obrigado à Câmara Municipal de Moura 😀😀😀 por se lembrar da minha humilde pessoa.


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

ARCO-ÍRIS MATISSIANO: VERDE

O verde em Matisse. Um verde marroquino, que pode simbolizar o Islão ou ser apenas um capricho da paleta. O marroquino de verde, de 1913, produto das deambulações norte-africanas de Matisse, está hoje no Hermitage.

Um verde esvoaçante anda também pelas palavras de Juan Ramón Jiménez:

Verde verderol
¡endulza la puesta del sol!

Palacio de encanto,
el pinar tardío
arrulla con llanto
la huida del río.
Allí el nido umbrío
tiene el verderol.

Verde verderol
¡endulza la puesta del sol!

La última brisa
es suspiradora,
el sol rojo irisa
al pino que llora.
¡Vaga y lenta hora
nuestra, verderol!

Verde verderol
¡endulza la puesta del sol!

Soledad y calma,
silencio y grandeza.
La choza del alma
se recoje y reza.
De pronto ¡belleza!
canta el verderol.

Verde verderol
¡endulza la puesta del sol!

Su canto enajena
(¿se ha parado el viento?)
el campo se llena
de su sentimiento.
Malva es el lamento,
verde el verderol.

Verde verderol
¡endulza la puesta del sol!



NO NORTE DA MACARONÉSIA: FESTA TERCEIRENSE

As corridas, a Festa, as referências aos grupos de forcados estão por toda a parte na Terceira. A ilha tem dois concelhos. Um tem no nome Heroísmo, o outro Vitória. Uma ilha afirmativa e orgulhosa.

Esta escultura, à entrada da cidade de Angra do Heroísmo, celebra tudo isso, com uma vibrante energia.

Resolvo fazer uma fotografia para celebrar a passagem pelo local. Quando estou em pose sou entusiasticamente saudado pelo condutor de um carro. Menos mal, há "manias" que ainda não chegaram a estas bandas.


terça-feira, 26 de outubro de 2021

NO NORTE DA MACARONÉSIA: A COR DOS IMPÉRIOS

É uma das mais fascinantes representações de religiosidade popular que conheço. Fascinante e faiscante pelo uso da cor. A Terceira é diferente de todas as outras ilhas. Nisto como em muitas outras coisas. Estes impérios, em intenção do Espírito Santo, são a base de festas (havendo mais de 70 impérios são mais de 70 festas) com vinho e massa sovada.

A cor é importação sul-americana. Abençoada importação. Que anda também pelas casas. Por aqui, mas não só por aqui, passa a força da Terceira.

Império na Praia da Vitória:

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

DA ÓPERA

Tenho uma certa embirração com os dias DE. Andamos todos atrás dos dias disto e daquilo, o que transforma uma ideia à partida simpática (celebrar algo) numa perfeita seca. Isso inclui museus, sítios, monumentos e muitos etc..

Hoje, o dia deu-me o pretexto para colocar aqui no blogue uma das encenações de que mais gostei, e já lá vão 10 anos. Refiro-me ao Don Giovanni, do Met. O crítico do NYT espatifou a encenação ("the set by Christopher Oram, in his company debut, consists mainly of a large, curved sliding wall with three tiers of balconies and slatted-wood doors. The effect is like that of those old Advent calendars that count down the days to Christmas: various doors open, and characters pop out"), mas isso não me fez mudar de opinião. Vantagem (minha) de não ser um connoisseur.

Eis um excerto, justamente da ária de catálogo:


NO NORTE DA MACARONÉSIA: IMPIEDADE EM BASALTO

Estas representações provocatórias são muito comuns nas gárgulas das igrejas. Dispenso-me de comentar esta ou de relatar outras, bem mais ostensivas. Mas sempre me perguntei/perguntarei "como é que foi possível?".

Sentado em frente à catedral de Ponta Delgada, numa manhã morna, e olhando gárgulas ímpias, assim começou a manhã, enquanto media a luz e fazia jogos de compensação (mais meio ponto, menos meio ponto), com o prazer de voltar a fotografar com a amada M6.



domingo, 24 de outubro de 2021

NO NORTE DA MACARONÉSIA: NEGRO NO NEGRO

Em outubro do ano passado, uma rápida passagem pela ilha de S. Miguel, durante a preparação de um livro, levou-me até Lagoa. Enquanto esperava que as condições de luz me permitissem registar o que precisava "andei por ali". A menos de 100 metros do meu objeto de trabalho fica a Praça de Nossa Senhora do Rosário. A luz estava bonita, entre as nonas e as vésperas. O chão era um tapete de vários tons, desenhos e matizes. Vários tons de negro, vários tons de cinza e alguma cor branca. Um efeito bonito. Fiz meia dúzia de imagens, com uma esplendorosa CANON EOS. Pensei "talvez volte um dia e trago a M6". Voltei e trouxe.

No espaço de um ano, contudo, houve uma intervenção autárquica. "Foi tudo novo, senhor", confirmou um lagoense, para minha pena. Perdeu-se o tapete e ficou tudo negro sobre negro. Ficou-me o registo da CANON. E a certeza que há momentos que não devem ser adiados.

out.2020:









out.2021







sábado, 23 de outubro de 2021

NO NORTE DA MACARONÉSIA: CANTO DA MAYA

Em Portugal tratamos mal a Memória. A dos sítios, das obras, das pessoas. Ernesto Canto da Maya (1890-1981) está hoje quase esquecido. O museu da sua cidade natal, Ponta Delgada, rende-lhe homenagem. Foi um escultor de extraordinário talento que, em determinada altura, "parou". Tal como o País ficou imóvel e congelado. A classe de Canto da Maya está nos relevos do monumento de homenagem a Antero do Quental, na sua passagem pela art-déco, no conjunto escultórico que o Estado Francês adquiriu.

Canto da Maya está vivo na cidade. Viva Canto da Maya.

CXC = CAIXA = CULTURA

Foram já anunciados os contemplados com os Prémios Caixa Cultura. Foram quatro os projetos vencedores:

O Homem dos Sonhos -  Companhia de Ópera do Castelo - Associação

Coleção Livrinhos de Teatro – Artistas Unidos

Cortina Vermelha – Companhia de Ópera do Castelo – Associação

Jogos de Obediência – Romeu M. Costa

Júri:
Paulo Moita Macedo
Joaquim Oliveira Caetano
Raquel Vila Verde
Rui Vieira Nery
Santiago Macias


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

NO NORTE DA MACARONÉSIA: NEGRO NO BRANCO

O negro das rochas vulcânicas deixa as suas marcas nas paredes brancas. E no solo, onde os calceteiros continuam a trabalhar. Ainda ontem vi um grupo de seis ou sete, no Largo dos Mártires da Pátria, em Ponta Delgada. Refaziam o pavimento de um jardim.

A luz do início da tarde aumentava os contrastes entre o negro e o branco. A Ribeira Grande não tem um ar muito próspero e a magnificência de alguns edifícios acentua os contrastes. Os da cor e os sociais.

Os trópicos insinuam-se por aqui. Não pude deixar de pensar que o Teatro Ribeiragrandense estaria muito bem no Brasil.


Às 14:28, a ribeira estava assim:

ESTÁ (QUASE) TUDO DITO

Quando se coloca ao mesmo nível quem lutou pela Liberdade e quem luta pela Democracia (a CDU) e quem luta contra a Democracia (a outra organização) está quase tudo dito.

Quando, depois de quatro anos de arrogância e pesporrência, se vem falar em diálogo também está quase tudo dito.

Objetivamente falando: quatro anos já lá vão, à conta da pandemia, da suposta péssima situação financeira que a CDU teria deixado (algo nunca objetivamente demonstrado) e de mais um par de assuntos que não valem sequer a menção.

Aguardemos pelos capítulos dos próximos pretextos.



quinta-feira, 21 de outubro de 2021

NO NORTE DA MACARONÉSIA: STAKHANOVISMO MICAELENSE

O quadro, entre o bucolismo e a propaganda stakhanovista, intitula-se Indústria micaelense e foi pintado por Domingos Rebelo (1891-1975). Foi uma encomenda da Caixa Geral Depósitos e estava na sala do público da primeira filial do banco em Ponta Delgada, em 1934. O edifício original, de António Reis Camelo, não existe há muito. Não sabia onde fora parar o quadro. "Encontrei-o" esta tarde no Museu Carlos Machado.

Em meados dos anos 30 pintava-se assim em Portugal. O academismo triunfara. O Estado Novo tinha vencido.




quarta-feira, 20 de outubro de 2021

ARCO-ÍRIS MATISSIANO: AMARELO

Este visage sur fond jaune tem ressonâncias africanas. Recordemos Matisse e Senghor. O quadro está no Museu de Grenoble, Matisse repousa em Cimiez, Senghor em Dakar.

Masques! Ô Masques!
Masques noirs masques rouges, vous masques blanc-et-noir
Masques aux quatre points d’où souffle l’Esprit
Je vous salue dans le silence!
Et pas toi le dernier, Ancêtre à tête de lion.
Vous gardez ce lieu forclos à tout rire de femme, à tout sourire qui se fane
Vous distillez cet air d’éternité où je respire l’air de mes Pères.
Masques aux visages sans masque, dépouillés de toute fossette comme de toute ride
Qui avez composé ce portrait, ce visage mien penché sur l’autel de papier blanc
A votre image, écoutez-moi!
Voici que meurt l’Afrique des empires – c’est l’agonie d’une princesse pitoyable
Et aussi l’Europe à qui nous sommes liés par le nombril.
Fixez vos yeux immuables sur vos enfants que l’on commande
Qui donnent leur vie comme le pauvre son dernier vêtement.
Que nous répondions présents à la renaissance du Monde
Ainsi le levain qui est nécessaire à la farine blanche.
Car qui apprendrait le rythme au monde défunt des machines et des canons?
Qui pousserait le cri de joie pour réveiller morts et orphelins à l’aurore?
Dites, qui rendrait la mémoire de vie à l’homme aux espoirs éventrés?
Ils nous disent les hommes du coton du café de l’huile
Ils nous disent les hommes de la mort.
Nous sommes les hommes de la danse, dont les pieds
reprennent vigueur en frappant le sol dur.


terça-feira, 19 de outubro de 2021

ARISTIDES DE SOUSA MENDES - 19.10.2021

O rigor protocolar da cerimónia, o direto televisivo, o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, a bela intervenção inicial de Margarida Magalhães Ramalho, tudo se conjugou para dignificar a panteonização de Aristides de Sousa Mendes. Uma organização impecável da equipa da Assembleia da República.

Um momento importante no ano profissional. Mais decisivo que isso, um grande momento de reparação histórica. No mês de novembro haverá mais ocasiões para recordar a figura homenageada.



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

EDUCADAMENTE

O importante é haver educação. E cordialidade e elevação.

No outro dia, parei o meu carro, educadamente,no Largo Dr. Bernardino António Gomes, a 100 metros no meu gabinete. A placa central não costuma ter muitos carros. Nunca estranhei muito porque, tirando o Casão Militar, não há ali "serviços". Menos estranhei pelo facto de raramente levar o carro para o serviço. Muito raramente, mesmo.

Ainda assim, saí da viatura e dirigi-me a dois polícias. A quem cumprimentei com toda a cordialidade. Verdade se diga que fui correspondido, e fui educadamente saudado. Perguntei se era possível estacionar naquele local, e apontei para a viatura. Educadamente me esclareceram que só não se podia estacionar no local indicado à segunda à tarde e à sexta à tarde, por causa da Feira da Ladra, que tem lugar nos dias seguintes. Agradeci e fui à minha vida.

Há dias, e tendo que, pela segunda vez em meses, de levar o carro para o serviço, estacionai no mesmo local. Ao final da tarde, estava um reboque da PSP no local. Estava a "tratar" de um carro. O meu seria a seguir. Intrigado perguntei "então como é?". O agente educadamente me esclareceu que aquela é uma zona pedonal e que, portanto, eu estava a cometer uma infração. Expliquei que estava ali porque tinha perguntado a um agente da PSP. A resposta, simpática e educada (foi mesmo, não estou a fazer ironia), deixou-me aturdido "essas perguntas têm de ser feitas ao pessoal do trânsito da Polícia Municipal". Ou seja, fui levado ao engano por ter feito a pergunta à polícia errada. Educadamente, não me rebocaram o carro. Limitaram-se a enviar para casa uma multa de 30 euros.

Vou pagá-la e juro, educadamente, que não soltarei nenhum palavrão. Afinal, não é todos os dias que somos fintados pela Autoridade. Educadamente e tudo.



ELEIÇÕES EM CABO VERDE

Escusado será dizer que o meu coração "pendia" para José Maria Neves. E fiquei surpreendido com dois factos: a eleição à primeira volta e a elevadíssima taxa de abstenção.

Fui acompanhando as eleições pelo site oficial https://eleicoes.cv/resultados. Uma página exemplarmente organizada e bem mais sofisticado que o site português das eleições. Quem tiver dúvidas que as tire: os resultados são apresentados mesa a mesa!

domingo, 17 de outubro de 2021

QUANDO A PALAVRA DE ORDEM É COBARDIA

Abro uma exceção para reproduzir uma declaração do líder do partido de extrema-direita. Quem ontem esteve em Santo Aleixo de Restauração pode assistir ao ambiente de intimidação (seguranças de auricular assim a fingir os Serviços Secretos, carros de vidros fumados...) que o meu concelho perfeitamente dispensa.

Quem, à noite, ouviu as notícias, constatou que o líder do partido de extrema-direita condena a violência racial. Primeiro, acirra ódios. Depois esconde-se. Primeiro incendeia opiniões e cria um ambiente de tensão. Depois vem dizer que não tem nada contra as minorias. Quando cobardia e irresponsabilidade andam de mãos dadas. Que não se esqueça que quem semeia ventos...



O POVO É SERENO

Ontem, a meio da tomada de posse, entrou na Rua da Igreja, em Santo Aleixo da Restauração, uma viatura de valores. Vinham fazer o reabastecimento da caixa multibanco na Praça da Restauração. Precisamente onde a cerimónia decorria. Alguém se esqueceu que há coisas que têm de ser verificadas.

Pensei "como é que irão resolver isto? o carro não pode passar e eles têm itinerários e horas a cumprir". Um minuto de hesitação e, depois, a solução: o funcionário da referida empresa passou pelo meio da cerimónia, e pelo meio dos que assistiam, com uma mala cheia de dinheiro (mais discreta que a da imagem, admito).

Y qué? No pasa nada. O povo é sereno.




sábado, 16 de outubro de 2021

A CÂMARA DE MOURA CONTRA O "ESTADO" OU "TAL NÃO É O POEIREDO QUE A GENTE VAI FAZENDO" (AGORA EM VERSÃO MONUMENTO NACIONAL)

Fui assistir, hoje de manhã, à instalação da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal de Moura, em Santo Aleixo da Restauração. Para estar com gente amiga, para voltar a entrar no Pinpim e no Tijolo. Para cruzar terra firme, no meu concelho.

O dia decorreria com normalidade, não fosse o extraordinário discurso do presidente da câmara. No meio das habituais jonglerias e banalidades sai-se com esta "quando o Estado não trata das coisas, tratamos nós; como vamos fazer com as igrejas de Moura e de Santo Aleixo". Dou de barato a costumeira confusão entre Estado e Poder Central. O Estado abrange o Poder Central, mas o Poder Central não é o Estado. A parte mais divertida é dizer nós vamos fazer. Na verdade, a autarquia vai pagar 1% (um por cento) do total das obras. O resto é pago pelo tal Estado... O seja, como a formiga em cima do elefante "tal não é o poeiredo que a gente vai fazendo!"

Voltarei ao tema, de forma mais alargada, para denunciar o embuste. Para já, a atitude anti-Estado só me fez lembrar uma cena do filme "Recordações da Casa Amarela", quando há um que quer marchar sobre S. Bento.


PS COM APOIO DO CHEGA EM SAFARA E SANTO ALEIXO (MOURA)

Há coisas assim na vida. O PS elegeu 4 representantes (ganhando a união de freguesias), a CDU 4, o Chega 1. Curiosamente, na eleição para o presidente da Assembleia de Freguesia, o PS (que teria sempre a eleição assegurada, porque a CDU nunca votaria contra...) viu a sua proposta apoiada pelo representante do Chega. Começo a ter o feeling que este mandato vai, no concelho de Moura, ser tudo menos "normal".













"Bust and skull" - Robert Mapplethorpe

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

SETEMBRO, 1970

Ainda os Forcados de Moura não existiam. Foi em setembro de 1970. Era dia de Feira e o meu pai pegou-me na mão e levou-me à Praça de Touros de Moura. Era assim, era feira e a gente ía aos touros. Nesses dias 8 de setembro não se cabia na praça. Foi a primeira de muitas vezes. Foi lá que vi os duelos entre Luís Miguel da Veiga e José Mestre Batista, e que assisti a uma lide temerária, num domingo de Festa, de José Maldonado Cortes. E também a outras tardes, com Gustavo Zenkl e com José João Zoio. Ah, sim, e Mário Coelho e Ricardo Chibanga.

O gesto do João Macias de levar um miúdo de 7 anos a uma corrida de touros foi, naquele meio em que vivíamos, algo normal. Aquilo fazia/faz parte das nossas vidas. Do que gostamos e do que nos é familiar. Tal como me divertiria, anos mais tarde, com as largadas.

Tal como depois, anarquicamente, à medida do que me foi apetecendo, fui vendo corridas aqui e além. Conhecer a Arte de Morante, de Castella, de Tomás, de El Juli, de Ferrera, de Perera, de Ponce, foram/são troços importantes da minha vida.

Agora, decide-se que só a partir dos 16 anos se pode ir aos touros. Parece que antes dessa idade só com um adulto responsável. Uma vestal vegana (sempre desconfiarei dos proselistismos, sejam eles quais forem...) diz que o "Conselho de Minsitros aprovou o decreto que protege os menores de 16 anos da violência da tauromaquia". Passei muito bem, na minha remota juventude, sem tais proteções. E sem que, por decreto, decidissem o que posso ou não posso ver, do que posso ou não posso gostar. Agradecerei sempre ao meu pai por, naquele dia 8 de setembro de 1970, me ter pegado na mão e me ter dito "vamos à tourada!".

O que aconteceu hoje? Uma decisão unilateral. E pouco culta.


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A VÍRGULA, SENHORES, A VÍRGULA!

Quem assina o convite (a presidente da assembleia) não o escreveu. Disso estou certo.

Quem escreveu o convite foi algum assessor iletrado. Especialista em erros ortográficos e de sintaxe. Vá lá, toca a escrever 100 (cem) vezes:

Não se colocam vírgulas entre o sujeito e o predicado.



terça-feira, 12 de outubro de 2021

PUBLICIDADE DE CHINELO NO PÉ

Isto não é bem publicidade. Está mais na onda das súcias de segunda-feira de Páscoa. Dos copos à mesa da taberna. Pobre Leonardo...

Já agora, escreve-se "contra a dor de cabeça e A enxaqueca". Raizospártom!

(visto hoje às 17:44 na esquina da Av. Barbosa du Bocage com a Av. Defensores de Chaves)

ARCO-ÍRIS MATISSIANO: LARANJA

Esta "bailarina acrobática" já vai em 72 anos. O elogio da laranjeira também se poderia adaptar ao tema de Matisse.

Éloge de l'oranger

Jean de La Fontaine (1621-1695)

Sommes-nous, dit-il, en Provence ?
Quel amas d'arbres toujours verts
Triomphe ici de l'inclémence
Des aquilons et des hivers ?

Jasmins dont un air doux s'exhale,
Fleurs que les vents n'ont pu ternir,
Aminte en blancheur vous égale,
Et vous m'en faites souvenir.

Orangers, arbres que j'adore,
Que vos parfums me semblent doux !
Est-il dans l'empire de Flore
Rien d'agréable comme vous ?

Vos fruits aux écorces solides
Sont un véritable trésor ;
Et le jardin des Hespérides
N'avait point d'autres pommes d'or.

Lorsque votre automne s'avance,
On voit encor votre printemps ;
L'espoir avec la jouissance
Logent chez vous en même temps.

Vos fleurs ont embaumé tout l'air que je respire :
Toujours un aimable zéphyre
Autour de vous se va jouant.
Vous êtes nains ; mais tel arbre géant,
Qui déclare au soleil la guerre,
Ne vous vaut pas,
Bien qu'il couvre un arpent de terre
Avec ses bras.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ALENTEJANO, HISTORIADOR, 58 ANOS DE IDADE

Começo por clarificar que não conheço pessoalmente Raquel Varela. Nunca trocámos um mail, nunca a vi "ao vivo". Digamos que com o seu estilo peculiar se colocou um tanto "a jeito". Mas esta chacina de que tem sido alvo é abjeta. Ao ler tanta coisa que se tem escrito não deixo de pensar "tanta meretriz fina...".

É certo que a progressão na carreira académica tem normas estritas e que há coisas que não devem acontecer e há atitudes que não se devem tomar. Mas não quero tomar o papel de juiz e muito haveria a dizer sobre muitas carreiras.

O tema não é novo. Recordo um texto com mais de 50 anos e que, temo, ande um pouco esquecido. Vale a pena reler “A situação da Faculdade de Letras (Alguns aspectos)” publicado na revista "Ocidente" em 1970. Eram seus autores Oliveira Marques, António José Saraiva e Vitorino Magalhães Godinho.

A forma como se fazem muitas carreiras é mais que dúbia (estou, formalmente, "fora da carreira" pelo que não falo em causa própria). Agora, muitas das críticas que leio dão vontade de rir... Sobretudo, consigo colocar-me no papel de quem está a ser esquartejado.

Aos 58 anos, e temendo falar em demasia na primeira pessoa, reservo-me pequenos luxos:

* Vou muito pouco a congressos, porque não tenho pachorra para liturgias (abro exceções para Mértola, para as iniciativas da Nova e para os colóquios que a Isabel Cristina Fernandes organiza);

* Escrevo o que me apetece, como me apetece e quando me apetece;

* Os últimos livros foram o "929", com o Fernando Branco Correia, para a Tinta da China, porque ninguém nos disse como tínhamos de escrever, e mais o "Movra Medievalis", com o José Gonçalo e o José Finha, porque foi uma coisa artesanal e nossa;

* Publico em pequenas edições, furiosamente independentes, como quero e com quem quero;

* Recuso, quase sempre, os "peer reviews", porque não sei o que é o cânone, nem quero saber do cânone para nada;

* O próximo livro não é feito a partir do zero; vou reutilizar materiais já publicados (já vejo o clarão da fogueira a acender-se...), mas será, no essencial, uma abordagem inédita.

* O que digo aos mais novos? Leiam, façam fichas de leitura, voltem a ler, discutam ideias com os colegas, procurem abordagens fora dos esquemas habituais e façam da investigação trabalho, prazer e diversão. É possível? Claro que é possível. Como no slogan da NIKE "just do it".

domingo, 10 de outubro de 2021

TERRA DA FRATERNIDADE

Não foi só uma questão de festejar a vitória na Freguesia do Sobral da Adiça, bem entendido. Foi sobretudo o momento de nos juntarmos e de, confiadamente, prepararmos o futuro. O almoço, com 150 participantes, reuniu candidatos aos órgãos autárquicos e muitos amigos, de todas as freguesias do concelho.

Um momento de união, hoje no Sobral. As intervenções de Daniel Barreto, Bruno Monteiro, Helena Costa, André Linhas Roxas e de João Pauzinho deram o mote ao futuro.



sábado, 9 de outubro de 2021

DOUTOR ABÍLIO FERNANDES - UMA JUSTA HOMENAGEM

Este texto foi escrito em março de 2020. A pandemia atrasou a cerimónia 19 meses. O texto mantém-se atual. A homenagem a um homem como Abílio Fernandes ganha, a cada dia, maior justificação.
A Universidade de Évora (UÉ) atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa ao antigo presidente do município Abílio Fernandes. A cerimónia está marcada para dia 25 de março de 2020, na Sala dos Atos do Colégio do Espírito Santo.
Abílio Fernandes foi presindente da autarquia eborense durante 25 anos (1976-2001), sempre eleito pelo PCP.
Após deixar a autarquia, Abílio Fernandes , foi deputado na Assembleia da República entre 2005 e 2007, tendo renunciado e o seu lugar sido ocupado por João Oliveira.
Atualmente reformado, Abílio Miguel Joaquim Dias Fernandes, natural de Moçambique, economista de profissão, é licenciado em Finanças pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras de Lisboa.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

CONFERÊNCIAS ARISTIDES DE SOUSA MENDES - SESSÃO I: IRENE FLUNSER PIMENTEL

O Panteão Nacional vai promover um conjunto de conferências dedicadas a Aristides de Sousa Mendes e que integram o programa Nunca Esquecer. A primeira conferência será proferida pela Doutora Irene Flunser Pimentel (Instituto de História Contemporânea - Universidade Nova de Lisboa), no dia 13 às 18 horas. A iniciativa enquadra-se na homenagem de que está a ser alvo o diplomata português, a qual terá o seu ponto alto no próximo dia 19 de outubro, altura em que terá lugar uma sessão solene e em que será descerrada uma placa de homenagem.

As conferências seguintes terão lugar nos meses de novembro, dezembro e janeiro. A coordenação científica desta ciclo é da responsabilidade de Inês Fialho Brandão.



MAIS INFORMO QUE...

Que a Câmara Municipal de Moura não mostra, desde outubro de 2017, interesse ou respeito pelo Património é mais que visível. (Antes que venham com historietas, valeria a pena recordar que as "obras de Santa Engrácia" das igrejas de S. João e de Santo Aleixo" só custam à autarquia 1% do total de investimento, por serem edifícios do Estado).

Que se façam praias para jogos com amigos junto a um monumento classificado, já é mau.

Que se coloquem "lindíssimas e moderníssimas" placas na fachada de monumentos classificados ultrapassa qualquer cúmulo de incultura e de falta de respeito.

Mais informo que fiz participação escrita às entidades da tutela para saber se isto foi autorizado.


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

PAN DAIJING

Do site da BoCA – Biennial of Contemporary Arts:

Site specific – Performance musical
“Half a Name”

Pan Daijing, nascida em Guiyang, China, e residente em Berlim, é uma conceituada artista, compositora e performer. Pan Daijing é uma contadora de histórias que concebe através de criações artísticas com recurso a várias disciplinas e formas, como a performance, a música, a dança e a instalação. 

As suas performances são envolventes experiências sensoriais que redefinem a noção fide som, extrapolando sobre o seu significado, levando-o muito além de uma categoria puramente sonora. Assinando criações site-specific e em grande escala, as suas composições dialogam fificom conceitos de filosofia e de afeto psicológico. Comovente e feroz, a sua prática constrói e narra a interioridade; provocando as fronteiras entre arte e música ao vivo, e acolhendo o público dentro das criações. 

Citada como uma das figuras mais magnetizantes da atual vanguarda, Pan Daijing apresentou o seu trabalho em museus como Palais de Tokyo e Rockbound Shanghai, teatros como Volksbuhne Berlin e HAU, clubes underground como Berghain, e também em festivais internacionais como CTM, Sonar, Unsound e London Contemporary Music Festival. 

“Half a Name” é uma performance musical site-specific para o Panteão Nacional, em que Pan Daijing assume a expansiva documentação sonora e visual das suas performances de grande escala, desenvolvidas nos últimos anos. Desconstruindo momentos de memórias, a peça explora as possibilidades do arquivo performativo, assim como a sua prática na narrativa experimental. Uma produção certamente poética e misteriosa, que assinala a primeira vez da artista em Portugal.

Sobre a bienal ver: https://bocabienal.org

E TUDO ISTO VOS DAREI...

Tornaram-se célebres, em 1975, as fotomontagens do Jornal Novo. O vespertino, lançado em abril de 1975, foi um poderoso elemento de combate a Vasco Gonçalves. Era seu diretor um jornalista de grande talento, Artur Portela Filho (1937-2020), então no auge da carreira. As fotomontagens eram um exercício diário de rigor gráfico, inteligência e humor, um pouco mais tolerantes com o PS e com Mário Soares, absolutamente devastadoras para com o PSD, com o CDS, com o PCP e com as diversas "extremas-esquerdas" que então faziam prova de vida.

Recordo uma, que satirizava o discurso de "justiça social" e de promessas de prosperidade num sistema capitalista, feitas pelo também já desaparecido Freitas do Amaral (1941-2019). Via-se na fotografia, em fundo, uma mansão inglesa. No primeiro plano estava um Rolls-Royce. Um homem de fraque, de braços exuberantemente abertos, estava sentado no capot do carro. A cara tinha sido habilmente substituída pela do sorridente líder do CDS. Em baixo, a legenda: E TUDO ISTO VOS DAREI.

Esta justiça social já está em marcha. Quando motoristas compram (e acho muito bem que comprem!) casas por 1.150.000 euros, já atingimos o patamar da justiça plena e da igualdade. Quem é que precisa do socialismo quando já lá chegámos pela via da prosperidade?



quarta-feira, 6 de outubro de 2021

MULHERES MECENAS - PROGRAMA DO COLÓQUIO

Programa do colóquio fechado. Ou quase. Faltam uma ou duas confirmações para a mesa-redonda final.

Participantes? Vitor Serrão, Maria João Neto, Manuela Santos Silva, Paulo Drumond Braga, Nuno Simões Rodrigues, Antónia Fialho Conde, Margarida Ramalho, José Alberto Ribeiro e muitos mais. Dois dias cheios.

Para aceder ao programa ver aqui:

https://coloquiomulheresmecenas.dgpc.pt/?page_id=2




VERDE QUE TE QUIERO VERDE

Vegetais e geografia e clima e Tejo e Lisboa e tudo. A antropóloga Daniela Araújo comissariou uma das grandes exposições dos últimos anos. Sensorial e científica, emotiva e vanguardista (Ângela Ferreira anda por ali) e cheia de boas ideias.

Ora aqui está uma coisa que os alunos do básico deviam ver, em vez de terem de gramar, pela enésima vez, uma ida ao zoomarine ou ao badocapark. Uma coisa é certa. Trazer miúdos a uma exposição assim implica trabalho. Antes e depois. Mas que vale a pena, não tenhamos dúvidas.

Álvaro de Campos está lá, García Lorca não está, mas é como se estivesse.




























ROMANCE SONÁMBULO 

A Gloria Giner y a Fernando de los Ríos

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura 
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana, 
las cosas la están mirando 
y ella no puede mirarlas.


               * 

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento 
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde...?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.


               * 

— Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los montes de Cabra.
— Si yo pudiera, mocito,
ese trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
— Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
— Trescientas rosas morenas 
lleva tu pechera blanca. 
Tu sangre rezuma y huele 
alrededor de tu faja. 
Pero yo ya no soy yo, 
ni mi casa es ya mi casa.
— Dejadme subir al menos 
hasta las altas barandas, 
dejadme subir, dejadme,
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna 
por donde retumba el agua.

               * 

Ya suben los dos compadres 
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre. 
Dejando un rastro de lágrimas. 
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata. 
Mil panderos de cristal, 
herían la madrugada.


               * 

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas. 
Los dos compadres subieron.
El largo viento, dejaba 
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca. 
— ¡Compadre! ¿Dónde está, dime? 
¿Dónde está tu niña amarga? 
— ¡Cuántas veces te esperó! 
¡Cuántas veces te esperara, 
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

               * 

Sobre el rostro del aljibe 
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde, 
con ojos de fría plata. 
Un carámbano de luna 
la sostiene sobre el agua.
La noche su puso íntima 
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos,
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

2 de agosto de 1924


Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros,

Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros, 

Contente da minha anonimidade. 

Domingo serei feliz — eles, eles... 

Domingo... 

Hoje é quinta-feira da semana que não tem domingo... 

Nenhum domingo. — 

Nunca domingo. — 

Mas sempre haverá alguém nas hortas no domingo que vem. 

Assim passa a vida, 

Subtil para quem sente, 

Mais ou menos para quem pensa: 

Haverá sempre alguém nas hortas ao domingo, 

Não no nosso domingo, 

Não no meu domingo,

Não no domingo... 

Mas sempre haverá outros nas hortas e ao domingo!


9 de agosto de 1934