terça-feira, 31 de maio de 2022

PRÉMIO VILALVA PARA RESTAURO DA SÉ DO FUNCHAL

O anúncio foi feito há pouco. O prémio foi atribuído com toda a justiça. E com toda a unânime convicção.

O trabalho de conservação e restauro efectuado no âmbito desta recuperação prolonga a arte mudéjar no tempo. A arte mudéjar da ilha da Madeira inscreve-se numa tradição que mergulha as suas raízes na arte islâmica andaluz e que teve ampla difusão peninsular. A sofisticação das laçarias em madeira”, tipicamente mudéjar, está ali representada em todo o seu esplendor.

Júri do prémio: António Lamas (que preside), Raquel Henriques da Silva, Gonçalo Byrne, Luís Ribeiro, Santiago Macias (o deste blogue) e Rui Vieira Nery.


ORQUESTRA GERAÇÃO

Não foi bem "música fantasma", a despeito dos cenotáfios. Ao contrário, o que se sentiu foi uma enorme vibração de dezenas de músicos jovens. A Orquestra Geração é um projeto extraordinário e de enorme impacto social. Isso mesmo pude constatar, uma vez mais, no passado domingo.

O papel pedagógico dos monumentos passa, é essa a minha convicção profunda, por este abrir de portas à juventude e a projetos de qualidade, como este.


Ghost music

Gloomy and bare the organ-loft,
Bent-backed and blind the organist.
From rafters looming shadowy,
From the pipes’ tuneful company,
Drifted together drowsily,
Innumerable, formless, dim,
The ghosts of long-dead melodies,
Of anthems, stately, thunderous,
Of Kyries shrill and tremulous:
In melancholy drowsy-sweet
They huddled there in harmony.
Like bats at noontide rafter-hung.

Robert Graves




segunda-feira, 30 de maio de 2022

POLLOCK SESIMBRENSE

O tom cinza das paredes do Santuário do Cabo Espichel tem centenas de grafitos, riscados na argamassa. O caos da escrita evocou-me o dripping de Pollock. A repetição levou-me ao poema "Monotonia", de Juan Ramón Jiménez.

O regresso, já no ocaso e por entre o verde da paisagem, fazia pensar que Lisboa nem existia.


Monotonía

El mar de olas de zinc y espumas
de cal, nos sitia
con su inmensa desolación.
Todo está igual- al norte,
al sur, al este, al oeste, cielo y agua -,
gris y duro,
seco y blanco.
¡Nunca un bostezo
mayor ha abierto de este modo el mundo!
Las horas son de igual medida
que todo el mar y todo el cielo
gris y blanco, seco y duro;
cada una es un mar, y gris y seco,
y un cielo, y duro y blanco.
¡No es posible salir de este castillo
abatido del ánimo!
Hacia cualquier parte- al oeste,
al sur, al este, al norte -,
un mar de zinc y yeso,
un cielo igual que el mar, de yeso y zinc,
- ingastables tesoros de tristeza -,
sin naciente ni ocaso...






domingo, 29 de maio de 2022

ALGURES NA AMARELEJA

Um lustro se passou.

A fotografia foi feita numa segunda-feira (29.5.2017), quando estava a arrancar a décima (!) e última câmara aberta do meu mandato. Um balanço importante sobre as obras feitas na Amareleja (http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2017/05/camara-aberta-n-10-dia-1.html). Subi à torre do relógio com os moços do gabinete de informação. Deu selfie.

SEXTA MUSEOLÓGICA

Uma "viagem" curta. Bastou-me atravessar a Damaia e a Reboleira para, a escassos 2500 metros de casa, ir ter à Academia Militar. Teve aí lugar a cerimónia de entrega de prémios da Associação Portuguesa de Museologia, na qual participei, na parte da tarde, em conjunto com a colega Patrícia Remelgado, anunciando nomeados e premiados.

(Mensagem para um grupo de velhos amigos: apesar dos acenos da Isabel Roque e de outros colegas, de que não me dei conta..., mantive a gravata coerentemente torta e desalinhada toda a bendita tarde)

sábado, 28 de maio de 2022

LA FRANCE... LA FRANCE...

Hoje foi dia de final. Atualizo um texto de há 12 anos...

Equipas francesas que venceram a Taça dos Clubes Campeões Europeus / Campions League – 1 (Olympique de Marselha – 1993); presenças em finais: 7

Equipas francesas que venceram a Taça dos Vencedores de Taças – 1 (Paris St.Germain – 1996); presenças em finais: 3

Equipas francesas que venceram a Taça UEFA / Liga Europa – 0; presenças em finais: 3

Equipas francesas que venceram a Liga Conferência - 0; presenças em finais: 0

Equipas francesas que venceram a Taça das Cidades com Feira – 0; presenças em finais: 0


CARLO ANCELOTTI = 13

A eterna juventude...

5 campeonatos nacionais (Milan, Paris Saint-Germain, Chelsea, Real Madrid, Bayern)

4 taças (Milan, Chelsea, Real Madrid, Bayern)

4 ligas dos campeões (Milan, Real Madrid)

Sem contar com outros títulos.

Pois é. Uns têm, outros não.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

A CÂMARA DE MOURA CONTRA O PATRIMÓNIO DA AMARELEJA

O que se passou hoje, na Amareleja, é uma coisa inqualificável e uma perfeita selvajaria. A Câmara de Moura fez exatamente o contrário do que deveria ter feito.

Conheço muito bem este dossiê. Participei nas reuniões com a Direção-Geral do Património do Estado, contactando em 2008 o diretor-geral (Carlos Durães da Conceição) e com o subdiretor (José António Barreiros). Deixámos claro que a disposição era de pagar 60.000 euros e não os 120.000 que o Estado pedia. E assim se resolveu.

O edifício degradou-se, é certo. Depois de 2009, a Junta de Freguesia não desenvolveu nenhum projeto para o local. Uma proposta que fiz, em 2014, no sentido de se adaptar o local a picadeiro municipal, foi rejeitada de forma liminar. Nunca consegui, infelizmente, sensibilizar a entidade proprietária para a necessidade de se concertar uma solução concreta. A fachada foi piorando de condição e ficou instável.

Ora bem, o que me diz uma experiência profissional de quase 40 anos?

1. Que é necessário elaborar projetos concretos antes de demolir;

2. Derrubar sem prever o que se vai seguir é uma inconsciência e uma agressão à memória da população;

3. É imprescindível recuperar o desenho da fachada e refazer-lo no âmbito de uma adequada requalificação, com obras postas ao serviço da população.

Há ideias para o que se vai seguir?

Há algum projeto?

Ou vai ficar um buraco com uma vedação?

A Amareleja merece mais respeito por parte da Câmara de Moura. É que destruir é fácil, construir dá mais trabalho.


quinta-feira, 26 de maio de 2022

DUARTE DARMAS: LIVRO ACESSÍVEL ONLINE

Mais um passo, num projeto que se aproxima da sua conclusão. Está, a partir de hoje, disponível para consulta e para descarga gratuitas, o livro que resultou do projeto. O mesmo sucederá, muito em breve, com o filme e com a exposição, que serão também disponibilizados sem encargos a todos os interessados.


http://www.duartedarmas.com/livro.php


26.5.2004 - O FIM DA "DEMOCRACIA" NO FUTEBOL EUROPEU

Porto-Mónaco. Foi há 18 anos. Uma equipa de um país pequeno ganhou o maior troféu europeu.


17 finais volvidas, quem ganhou esse mesmo troféu?

Espanha - 8

Inglaterra - 5

Alemanha - 2

Itália - 2


Desses 17 vencedores, são seis tinham sido mesmo campeões no ano anterior.

Barcelona em 2005, ganhou em 2006;

Manchester em 2007, ganhou em 2008;

Inter em 2009, ganhou em 2010;

Barcelona em 2010, ganhou em 2011;

Real Madrid em 2017, ganhou em 2018

Bayern em 2019, ganhou em 2020.


Se pensarmos nos 34 finalistas:

Inglaterra - 13

Espanha - 10

Alemanha - 5

Itália - 5

França - 1


Isto é, cada vez mais, um negócio gordo. Um tal de Kylian Mbappé Lottin que o diga.


quarta-feira, 25 de maio de 2022

JOSÉ MOURINHO = 17

"Fácil" não é, seguramente, adjetivo que se aplique a José Mourinho. A figura não tem um ar simpático, diz coisas desagradáveis e, por onde passa, deixa um rasto de polémica. Pois é. Mas...

8 campeonatos nacionais (Porto, Real Madrid, Inter e Chelsea)

4 taças (Porto, Real Madrid, Inter e Chelsea)

2 ligas dos campeões (Porto e Inter)

2 taças uefa (Porto e Manchester United)

1 liga conferência (Roma)

O Roma tinha ganho uma Taça das Cidades com Feira, em outubro de 1961. Já lá vão 60 anos.

O ESTADO DAS COISAS

Um "comentador", outrora militante do PCP, agora criptofascista (cripto mas não muito), largou uma valente bojarda em pleno telejornal. De forma gratuita. Numa televisão onde abunda a devassa das vidas privadas já nada surpreende e o comentador usou aquele expediente para se promover. Sem surpresa, hoje abundavam no "twitter" as manifestações de júbilo ante a "proclamação". Algumas delas, vindas de circunspectos comentadores de "direita". É este o estado das coisas.

terça-feira, 24 de maio de 2022

SE NÃO FOSSE TRÁGICO ATÉ PODERIA TER GRAÇA...

A única coisa que me causa alguma perplexidade é a forma como, sistematicamente, se vendem as mesmas ideais. Sempre com a capa da inovação e do agora-é-que-é. Criar factos, e dar a ideia que se fazem coisas, resulta. A começar pelas autarquias.


segunda-feira, 23 de maio de 2022

DE MOURA À FCSH NUM CLIQUE

Seminário de Gestão e Proteção do Património Arqueológico. Penúltima aula do ano letivo. Terceira conferência do semestre. Primeiro, convidei o arq. Victor Mestre (arquitetura e património arqueológico), depois o dr. Paulo Macedo (o que é gerir? o que é liderar?), hoje o dr. André Linhas Roxas (planeamento e gestão do património).

A ideia é trazer até à faculdade pessoas qualificadas e com experiências relevantes. Com vivências diferentes e com percursos profissionais feitos à margem dos carreirismos políticos.

Um belo final de tarde, com Moura no coração.

MÁSCARA Nº. 6: OUGUELA

Desfocada e tudo, esta carantonha, que o autofocus tem que se lhe diga. Foi há ano e meio, na abandonada fortaleza de Ouguela. Um daqueles sítios de enorme beleza, mas onde quase não vive ninguém. Um dos vários fins do mundo por onde fui passando, entre 2019 e 2021.



domingo, 22 de maio de 2022

AI QUE PAIXÃ TÃ GRANDE...

O artigo tem largos meses. Só agora dei por ele, ao fazer uma pesquisa de dados.

Quando leio coisas destas só me lembro da minha querida avó Joaquina que, quando queria manifestar desalento ou pena, usava essa expressão da sua Amareleja natal. A expressão "paixão", por "pena", é um arcaísmo absolutamente encantador. Gosto de o usar, quando estou na minha terra.

Vem isto a propósito de uma frase de André Abrantes Amaral num artigo num jornal online. E de quem se pode dizer "paixã' tã' grande, um moço tã' novo e já com ideias tã' velhas...".

Parou em 24 de abril de 1974... Os autarcas do interior vêem as receitas que chegam da capital? É engraçado que se promova a ideia de um país interior, atrasado e à espera das benesses do Terreiro do Paço. O desconhecimento do que é o modelo de financiamento das autarquias é óbvio. A sobranceria com que se olha para os autarcas da província é todo um encantador programa. Viver em torres de marfim tem destas coisas. 

sábado, 21 de maio de 2022

MÉRTOLA: DA ALCÁÇOVA AO ARRABALDE

Festival Islâmico sem festival islâmico. "Falho", pela primeira vez em 11 edições. Não houve Duarte Darmas, mas haverá, e já com a exposição e o documentário a acompanhar. Não se ganha no preto, ganha-se no vermelho... Em todo o caso, acabo por participar. Com um pequena publicação intitulada "Da alcáçova ao arrabalde". Que é também uma forma de marcar a vontade de regressar a esta área de investigação, depois de um largo excurso (Duarte Darmas, C.G.D., Pantheon & Panteão etc.).


sexta-feira, 20 de maio de 2022

SOS

Teve lugar no dia 18, ao fim da noite, a apresentação público do projeto SOS, do artista espanhol Eugenio Ampudia. Contámos com a presença do artista e do comissário da intervenção, André de Quiroga. E com a importante e simpática colaboração do Patriarcado de Lisboa.

A instalação visual foi estreada em 2014, no Museu Nacional de Artes Decorativas, em Madrid. Eugenio Ampudia retomou agora o projeto, adaptando-o ao Panteão Nacional.

Texto da curada Blanca de la Torre no site do artista:

Se trata de una intervención luminosa que invade los vanos de la fachada del museo a partir de una serie de leds que emiten la señal internacional de socorro en código morse. Tres puntos, tres rayas y otros tres puntos. S.O.S.

Este mensaje de auxilio, emitido por una institución cultural – y pública- se convierte así en el signo de la contemporaneidad. Signo inestable y señal intermitente. Intermitente, como el contenido que alberga el propio museo, un contenedor de arte que de por sí se ha acostumbrado a vivir en ese estado, ese de permanente inconstancia.

El artista, como un agente intermediario de lo colectivo, lanza así una petición de ayuda hacia una cultura agonizante, en un lenguaje básico como el morse, un lenguaje universal, como el que el arte pretende ser. En realidad el arte siempre ha emitido señales, pero en situaciones de emergencia se hace necesario buscar algo mas directo, tal vez incluso teniendo que recurrir a lo literal.A la vez apela al gesto de la impotencia, a esa petición de ayuda que en realidad viene emitiéndose largo tiempo ya, y la respuesta siempre es la del barco que sabe que va a naufragar, que el faro continua apagado, que el rescate no va a producirse. Que la única respuesta posible es la del sistema, cuya contestación no se traduce más que en indiferencia y beneficio personal.

Un augurio de un final que se avecina o lo que es aun peor, un endémico canto del cisne en modo de intermitente réquiem.

Até dia 22, entre as 21 e as 23.




quinta-feira, 19 de maio de 2022

MUSEU ISLÂMICO: 20 ANOS EM DEBATE

E assim se passaram 20 anos. E mais alguns meses, em boa verdade. Foi um processo longo, iniciado em finais da década de 80. Tomei conta dele em 1991. Foram 10 anos de luta até se chegar a dezembro de 2001, quando o museu foi inaugurado. Uma caminhada recordada ontem à tarde, no âmbito do Dia Internacional dos Museus. Com o prazer da companhia de João Paulo Ramôa, de Cláudio Torres e de José Alberto Alegria. Stardust memories em cheio.

Uma parte do meu percurso pessoal começava a encerrar-se ali. Em 2002 comecei lentamente a regressar a Moura.

O Museu Islâmico foi uma pequena saga, feita de enorme esforço e da dedicação de muita gente. As coisas eram assim e já não são assim. Porque tudo muda.


DUARTE DARMAS: LIVRO, AMANHÃ EM MÉRTOLA

Prossegue o caminho. Amanhã terá lugar nova apresentação do livro. Será às 20 horas, na Biblioteca Municipal de Mértola, no âmbito do Festival Islâmico.

Com uma referência especial à mesquita da vila, que estará no centro da conversa.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

O MAR NOS TEUS OLHOS

I

É o mar, meu amor,
na febre dos teus olhos

é o manso fascínio
da onda que se inventa

É o mar, meu amor,
mestiço nos teus olhos

é o mirto, o queixume
a mansidão tão lenta

II

É o mar, meu amor,
o lastro dos sentidos
que afogas nos olhos
sem nunca te afundares

É o mar, meu amor,
que transportas nos olhos
e onde eu nado o tempo
sem nunca me encontrar

HORTA, Maria Teresa, Antologia Poética


PANTEÃO NACIONAL NO YOUTUBE

Hoje foi dia de celebrar o 18 de maio abrindo um novo canal de comunicação para o Panteão Nacional. Temos, a partir de agora, o "nosso" youtube. Abrimos com uma série de pequenos vídeos dedicados a João de Deus e concretizados em parceria com a Câmara Municipal de Silves.

Endereço: https://www.youtube.com/channel/UCsh4S7llpJkRH5wDgck4npg




segunda-feira, 16 de maio de 2022

UM JOVEM MOURENSE NO PANTEÃO

Aqui se dá nota da participação do jovem Rui Caeiro de um projeto de divulgação do monumento feito em parceria com a Videoteca da Câmara Municipal de Lisboa e com a coordenação, na área da música, de Paulo Amorim, do Conservatório Nacional.

Seis instrumentos musicais, seis intervenientes.

A flauta "coube" ao Rui. Haverá novidades, e a devida divulgação dentro de uns curtos meses.

FEIRA DE MAIO DE 2015: ENTRE A POP-ART E O CADAVRE EXQUIS

Faz hoje sete anos, precisamente. A recordação tornou-se mais forte, durante este fim de semana em Moura. Dias felizes, entre sexta e ontem à tarde, na minha terra.

Em maio de 2015 teve lugar a mias bonita exposição de abertura de que tenho memória. Não tive nela intervenção direta, apresso-me a clarificar. Mas aquele gabinete de comunicação era "uma coisa à parte".

Repito parte do texto de 16 de maio de 2015:

O grupo do gabinete de comunicação da Câmara Municipal, sob a batuta da minha amiga Paula Ventinhas, organizou a exposição de entrada da feira. Os bichos da Herdade da Contenda, vistos pela sensibilidade de artistas locais. Mais um momento festivo e de grande criatividade. Havia laivos de pop-art de pendor rural na entrada da feira.

O gabinete de comunicação fez isto e fará outras coisas melhores. Porque são capazes e porque contamos com eles. Tal como contamos com toda a equipa de trabalhadores que construiu a Feira de Maio. Este trabalho é um esforço de todos.











domingo, 15 de maio de 2022

O VENENO DOS TRÓPICOS

Este filme, a escolha da semana, já passou pelo blogue, há muitos anos. Muitos, mesmo. Retomo o texto, com alguns retoques:

Está tudo fora de tom. O filme (La habanera) passa-se, supostamente, em Porto Rico, mas foi rodado nas Ilhas Canárias, pouco antes do começo da 2ª Guerra Mundial. Todos os porto-riquenhos falam um alemão irrepreensível e a habanera (habanerrra, que é como eles dizem no filme) é originária de Cuba. Para além disso, repare-se no perfil nórdico da latina femme fatale do filme: alta, de pele branquíssima [Zarah Leander (1907-1981) tinha, na verdade, nacionalidade sueca], com mãos enormes e tranças à valquíria wagneriana.

O filme é um melodrama mas o resultado desta cena é mais divertido que outra coisa. Gosto, em especial, do ar xaroposo e apaixonadíssimo do homem mais velho...

Em português o título é O veneno dos trópicos e vi-o na Cinemateca há mais de 35 anos. O realizador, Detlef Sierck (1900-1987), emigrou, pouco tempo depois deste filme ter sido concluído, para os Estados Unidos. Americanizou o nome para Douglas Sirk, tendo-se tornado um reputado (reconhecido sobretudo após ter falecido...) director de filmes dramáticos.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

FILOMENA BARROS: UMA HOMENAGEM

Tem lugar, a partir de amanhã, uma homenagem a Maria Filomena Lopes de Barros (1958-2021), uma querida amiga prematuramente desaparecida.

Tive a oportunidade de, ao longo dos anos, prestar homenagem ao conhecimento da Filomena. Sempre que se proporcionou, em momentos importantes, pegava no telefone e ligava-lhe "Filomena, vamos precisar da tua colaboração". Resposta sempre repetida "claro!". Foi assim que surgiram dois textos dela na "Arqueologia Medieval", em 1999 e em 2001. Uma colaboração que, infelizmente, não houve a oportunidade de repetir. Foi um prazer muito especial ter podido contar com a colaboração competentíssima da Filomena em três outros projetos em que tive responsabilidade de coordenação: "Memórias Árabo-Islâmicas em Portugal" (1997), "Portugal Islâmico" (1998) e, depois do meu longo interregno autárquico, "Guerreiros e Mártires" (2020). O próximo, para 2024, estava na calha quando ela nos deixou. "Claro que participo", foi a resposta que me deu, quando lhe expliquei o que iria ser feito. Já não escreverá, mas estará connosco quando o projeto chegar ao fim.

Prestei homenagem, repito, ao conhecimento de Filomena Barros durante a sua vida. Sinto-me compensado por isso.


















"Os Mudéjares em Portugal" in Memórias Árabo-Islâmicas em Portugal, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses,1997, pp. 115 - 123

 

"Mouros e Mourarias" in Portugal Islâmico. Os Últimos Sinais do Mediterrâneo, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia, 1998, pp. 289-294

 

“Poder e poderes nas comunas muçulmanas” in Arqueologia Medieval, nº. 6, Porto, Ed. Afrontamento, 1999, pp. 73-78

 

“A comuna muçulmana de Lisboa: paradigma institucional” in Arqueologia Medieval, nº. 7, Porto, Ed. Afrontamento, 2001, pp. 243-247.

 

“Identificação de um país: a vivência muçulmana sob domínio cristão” in Guerreiros e mártires – a Cristandade e os Islão na formação de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional/MNAA, 2020, pp 124-131

quarta-feira, 11 de maio de 2022

EUGENIO AMPUDIA: SOS, O TEMPO E A FINITUDE

É um projeto de grande importância, o que Eugenio Ampudia irá apresentar a partir de 18 de maio, no Panteão Nacional. Teve, em Portugal, curadoria de D. André de Quiroga. Uma instalação visual que é um alerta num mundo em crise.

O projeto é assim explicado pela curadora Blanca de La Torre:

Se trata de una intervención luminosa que invade los vanos de la fachada del museo a partir de una serie de leds que emiten la señal internacional de socorro en código morse. Tres puntos, tres rayas y otros tres puntos. S.O.S.

Este mensaje de auxilio, emitido por una institución cultural – y pública- se convierte así en el signo de la contemporaneidad. Signo inestable y señal intermitente. Intermitente, como el contenido que alberga el propio museo, un contenedor de arte que de por sí se ha acostumbrado a vivir en ese estado, ese de permanente inconstancia.

El artista, como un agente intermediario de lo colectivo, lanza así una petición de ayuda hacia una cultura agonizante, en un lenguaje básico como el morse, un lenguaje universal, como el que el arte pretende ser. En realidad el arte siempre ha emitido señales, pero en situaciones de emergencia se hace necesario buscar algo mas directo, tal vez incluso teniendo que recurrir a lo literal.A la vez apela al gesto de la impotencia, a esa petición de ayuda que en realidad viene emitiéndose largo tiempo ya, y la respuesta siempre es la del barco que sabe que va a naufragar, que el faro continua apagado, que el rescate no va a producirse. Que la única respuesta posible es la del sistema, cuya contestación no se traduce más que en indiferencia y beneficio personal.

Un augurio de un final que se avecina o lo que es aun peor, un endémico canto del cisne en modo de intermitente réquiem.

Ver - http://www.eugenioampudia.net/es/portfolio/s-o-s/

De 18 a 22 de maio, no Panteão Nacional.



terça-feira, 10 de maio de 2022

A ALTÓMETÔRA, ASSIM LENTAMENTE

Defina-se a expressão "melhorar" sff.

E recordem-se todas as promessas feitas em torno das ferrovias alentejanas. E mais as horríveis banalidades com que somos brindados em cada Ovibeja:

Oh, sim, o interior;

Oh, claro, o cante alentejano;

Oh, sem dúvida, o Património;

Oh, pois evidentemente, o queijo e os enchidos e mais o vinho.

Oh, sim, é tão lindo a Alentejo...




O TVG, ASSIM RAPIDAMENTE

Conclusão nº 1: antes da reforma, se lá chegar..., não ando de TGV (a troca no título tem a ver com uma amiga minha que se enganava e dizia sempre ao contrário 😊) em Portugal. Primeiros troços em 2028? Até Soure? OK.

Conclusão nº 2: achei alguma graça (não muita, só alguma) ao ler que o TGV é útil ao interior. Não se explica como mas, como diria a Teresa Guilherme "isso agora não interessa".




segunda-feira, 9 de maio de 2022

TURANDOT E O POLITICAMENTE CORRETO

Ao ler o programa de Turandot, no passado sábado, não pude deixar de me rir um bocadinho. It shouldn’t be surprising then that many audience members of Chinese descent find it difficult to watch as their own heritage is co-opted, fetishized, or painted as savage, bloodthirsty, or backward? OK, muito bem, está feita a contextualização. E agora o quê? Vão proibir a ópera? Ou é só para nos explicarem que Puccini era preconceituoso e insensível e tal? OK, já percebemos. E depois, repito?










Read the program note for Turandot, which includes a discussion of the opera’s cultural insensitivities.

We must also consider the criticisms that Turandot—and Puccini’s appropriation, reconfiguration, and reharmonization of Chinese music—has received in recent years. As Ping-hui Liao, a professor of literary and critical studies at the University of California, San Diego, argues, despite the composer’s attempts at authenticity, “when the material is drawn from another culture, as in the case of Madama Butterfly or Turandot, it is integrated and ordered so that it becomes intelligible, controlled, and agreeable ... the melodies are so well integrated that they lose their own autonomy and become part of a larger whole. In distinguishing between East and West, [Puccini] makes the former subservient to the latter.” Or, as Carner wryly suggests, while the Chinese characters don “national musical costume throughout ... this costume may bear the trademark ‘Made in Italy.’” It shouldn’t be surprising then that many audience members of Chinese descent find it difficult to watch as their own heritage is co-opted, fetishized, or painted as savage, bloodthirsty, or backward.

The question then becomes how to appreciate Turandot—which features some of Puccini’s most ravishing melodies, scenes of truly remarkable musical and theatrical grandeur, and opportunities for the kind of show-stopping vocal displays that lie at the core of the art form’s appeal—in a way that both celebrates its achievements and acknowledges the problems inherent in it. As we raise our collective consciousness of its faults, it is essential that, rather than shying away from the less-savory aspects of the opera, with each subsequent revival, audiences recognize and grapple with their implications. For only through awareness and conversation, which must increasingly expand to include a wider array of voices and points of view, can the world truly understand Turandot as the thrilling yet problematic masterpiece that it is.

domingo, 8 de maio de 2022

DANÇANDO NA ÁGUA

Esta cena de "Um americano em Paris" foi aqui lembrada há mais de 10 anos. É um grande momento de um filme que se arrisca a ser eterno. Gene Kelly e Leslie Caron dançam numa fonte. Isto acontece quando a água se converte em Arte.




sábado, 7 de maio de 2022

MÉRTOLA / MESQUITA / DUARTE DARMAS

Segunda apresentação do senhor Duarte Darmas, agora mais "específica" e em torno de um monumento de Mértola. Mantenho, a título pessoal, a tradição de participar em todos os festivais islâmicos. Desde a primeira edição. Em 2022, e para minha surpresa, em dose dupla.

Dia 20, às 20 horas.

Programa - https://www.festivalislamicodemertola.com





NO MULTIPLICAR É QUE ESTÁ O GANHO

Não conheço - espero poder ter, como cidadão, informações sobre isto - os detalhes do acordo feito com Portugal e que implica o pagamento de 11 milhões por ano à organização da Web Summit. Haverá uma cláusula obrigando a exclusividade? "Lisboa mantém evento na Europa". Aguardemos.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

CONHECER O PANTEÃO - III

Vai ter lugar, no próximo dia 10, a terceira conferência do ciclo "Conhecer o Panteão". Será convidada a Dra. Helena Mantas (S.C.M.L.), que intervirá sobre "Uma vitória moral para a Nação: Santa Engrácia, de igreja inacabada a Panteão Nacional".




GESTÃO DA MUDANÇA E LIDERANÇA

E segunda-feira teremos, ao final da tarde, um convidado no seminário de Gestão e proteção do património arqueológico. Um gestor a falar de arqueologia? Não necessariamente. Mas é importante que se percebam o que são os processos de gestão e de decisão e a importância de palavras como liderança e mudança.

Literalmente, uma aula fora da caixa.