domingo, 24 de julho de 2022

MANUELA BARROS FERREIRA (1938-2022)

A Manuela partiu ontem. Hoje foi o dia da despedida. Triste e silencioso, como são sempre estes dias.

Deixou-nos uma mulher sensível, de extraordinária inteligência e cultura. O olhar vivo substituía, amiúde, o atento silêncio que era o dela. A fina ironia da Manuela, aliada a palavras certeiras, sempre me impressionou. Confesso que, nos primeiros tempos, me intimidava bastante.

Ao longo de muitos anos, algo como 40, fui conhecendo a Manuela (entreguei-lhe mesmo textos para avaliação, que me foram devolvidos com sábias críticas e anotações), num crescendo de respeito e de admiração.

Fez uma brilhante carreira de investigação, reconhecida pelos seus pares e nos sítios por onde passou. A homenagem de Miranda do Douro, pelo seu trabalho em prol da língua mirandesa, é disso exemplo claro.

Uma mulher do Mediterrâneo, naquele sentido em que toda a casa e a família giravam em seu torno.

Não há insubstituíveis? Há. A Manuela é insubstituível. Tenho essa certeza. 

Aqui reproduzo um texto publicado neste mesmo blogue em 10 de fevereiro de 2014:

Hoje acordei na busca de algo de sublime que me fizesse acordar contente por acordar. Algo entre o ‘já não’ e o ‘ainda não’. Por exemplo, não ser bébé e já não fazer xixi na cama e ainda não ser tão velha que faça xixi na cama. Mas não tive tempo para ficar contente: daqui a pouco a rápida manhã de dedos de rosa encosta-se à tarde e a rapidíssima tarde de dedos de sombra encosta-se à noite cheia de lâmpadas. Felizmente já não e ainda não tenho de escolher entre luz de cera, luz de azeite e luz de petróleo. Nesse tempo que aí vem com passos de coelho, escolherei, dado já não haver fósforos, pirilampos debaixo de um copo.


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