sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

QUINTA COLUNA Nº. 1: MUSEU NACIONAL DE BEJA



MUSEU NACIONAL DE BEJA

         “Tanta gente preocupada com o futuro do Museu de Beja...”, não pude deixar de pensar. As redes sociais ferveram de indignação porque “o museu vai passar para Évora”. Com meia dúzia de exceções, são entusiasmos de fresca data. Ao longo dos anos, ciclicamente, monotonamente, o tema do Museu de Beja emerge e causa alguma reação. Tanta gente indignada agora, que “o museu vai para Évora” e tão pouca gente a dar a cara, nos anos de 2014 e de 2015, quando a situação era verdadeiramente aflitiva e os salários estavam em risco. Era presidente da Assembleia Distrital nessa altura e sei bem do que falo.
         À hora em que escrevo este texto não teve ainda lugar o debate público agendado para dia 20. Seguirei com atenção as conclusões. Ouvirei, ainda com mais atenção, as propostas concretas e as soluções técnicas e financeiras que venham a ser apresentadas.
         Em janeiro de 2014, já lá vão cinco anos, tinha esta perspetiva sobre o Museu:
         “Só há dois caminhos: o museu é assumido pela CIMBAL (Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo) ou pela Câmara Municipal de Beja. Pessoalmente, vejo a passagem para a CIMBAL como “mais do mesmo”. Não creio que a solução seja suficientemente flexível para dar capacidade de manobra ao museu regional”. Defendia ainda a passagem gradual do museu para a tutela da autarquia, num horizonte alargado. Ou seja, defendia eu que a solução ideal era o museu ser assumido pela Câmara Municipal, por ser uma marca importante da cidade, por ter um enorme potencial e por dever ser colocado ao serviço de uma estratégia de promoção da região.
         Na altura, não se colocava a hipótese do Museu passar para a tutela do Ministério da Cultura. É esta solução a mais adequada? A meu ver, sim. Recordo o passado recente, em que o Museu dependia de todas as autarquias. Em 2014, num orçamento de 372.000 euros, 99,1% eram despesas correntes. Uma situação insustentável. Percebo também os constrangimentos de ordem financeira que possam ter levado Paulo Arsénio a declinar a tutela do Museu de Beja. No tempo do Instituto Português de Museus colocara-se a hipótese de passagem do museu para essa tutela. Passaram 20 anos. Perdemos 20 anos nisto. Agora, fala-se numa “gestão partilhada”. Não faço ideia do que se trata, nem como se põe em prática. Mas sei, sim, que está na altura do museu ganhar escala e se integrar numa rede mais vasta. Atitudes de “orgulhosamente sós”, “nós, os irredutíveis gauleses, contra os usurpadores eborenses” não servem rigorosamente para nada.
         O Museu de Beja fica sob a tutela de Évora ou de Lisboa? E daí? O Museu Soares dos Reis, o Grão Vasco, Conímbriga estão também sob a tutela do Ministério da Cultura. Não consta que tenha havido desvios de peças para a capital. De uma coisa tenho a certeza. A inclusão do Museu de Beja numa rede nacional dar-lhe-á a visibilidade que não tem e a força que lhe falta. A equipa é esforçada e dedicada. Mas isso só não chega. O catálogo do museu visigótico tem 26 anos. Não houve, nas últimas décadas, uma só exposição de nível nacional. Fazem falta iniciativas de fôlego, obras de reabilitação, programação e publicações. Sobretudo, faz falta que o museu saia do seu esquife e se dê a mostrar.
         Os debates são sempre necessários. Mas Beja só fala do seu museu, que é muito mais nacional que regional, em momentos de agitação e de tensão. Um mau princípio, que vem de longe.

Crónica publicada hoje, no "Diário do Alentejo". Um regresso, 18 anos passados.

2 comentários:

Portugalredecouvertes disse...


acho que é uma afronta ao povo de Beja e do concelho, que não tenha o seu museu
com o desenvolvimento e divulgação necessários!
fui lá e tive pena de não poder visitar estava fechado,
mas no youtube tem videos dele e é muito bonito,

Jose Mariz disse...

Plenamente de acordo. Desde há décadas sigo a agonia do Museu de BEja. São tempos de "rede".