segunda-feira, 20 de maio de 2024

CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS - PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO

Finalmente, está terminado este caminho. Alguns anos depois do início, fica concluído este roteiro patrimonial de 175 edifícios.

Autores? Helena Real Gomes, Hugo Brás, Sónia Bonacho, Valter Rodrigues e o dono deste blogue. Dão corpo ao projeto centenas de desenhos e de fotografias, organizadas em mais de 400 páginas.

A apresentação do projeto teve lugar esta tarde, na CULTURGEST.












A BOLSONARESA A QUE TEMOS DIREITO

Não costumo perder tempo com estas coisas. Abro uma exceção.

Jair Bolsonaro, em setembro de 2018, no Estado de Acre, proclamou era preciso "fuzilar a petralhada". Fez uma presidência deplorável.

Ontem, uma pessoa à procura de visibilidade, copiou o gesto.

Recordando Einstein: "two things are infinite: the universe and human stupidity; and I'm not sure about the universe".

domingo, 19 de maio de 2024

RÁDIO SAUDADE X 20

Já lá vão 20 semanas. A emissão de hoje foi Gal Costa.

Antes fizeram-nos companhia:

1. José Coelho
2. Amália Rodrigues
3. José Coelho
4. Nuccia Bongiovanni
5. Alberto Ribeiro
6. Pink Martini
7. Arucivetus
8. Dolores Duran
9. Heróis do Mar
10. Perez Prado
11. Lucília do Carmo
12. Luís Rendall
13. Ary dos Santos
14. Dick Farney
15. Conjunto de Oliveira Muge
16. Célia Cruz
17. Zeca Afonso
18. Milva
19. Carlos Ramos

Os "reels" que coloco nas redes sociais têm centenas de visualizações. Nada mau, sendo que as minhas expectativas iniciais eram mais para o fraco...

sábado, 18 de maio de 2024

GEOMETRIA ATLÂNTICO-MEDITERRÂNICA

Mudejarismo azulejar. Padrões, desenhos, corda-seca, arestas, de repente temos a 1.100 kms. do Mediterrâneo um ambiente que raramente encontramos aqui que estamos mais perto.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

I 💜 BUROCRACIA: COISAS ABSOLUTAMENTE ESSENCIALÍSSIMAS

Os amantes da burocracia inconsequente fazem-me sempre lembrar um personagem-burocrata do Jô Soares. Quando iam ter com ele e reclamavam, ele pegava no papel que lhe apresentavam e dizia "do que é que tá reclamando? o papel ainda nem tá amarelo!". É mais ou menos isso.

Bom fim de semana.

 

quinta-feira, 16 de maio de 2024

MAQABIR

Está a acontecer, por estes dias, em Mértola. Volto, uma vez mais, ao ponto de partida. Com o objetivo, bem preciso, de retomar um tema de investigação. De uma vez por todas.


NA TERRA COMO NO CÉU

O peso e o valor da geometria. Entrelaçados geométricos no pavimento do futuro Museu do Romantismo e no travejamento do Convento de Santa Clara, no Funchal. As memórias do mudejarismo que aqui nos faltam, estão presentes na Madeira.


quarta-feira, 15 de maio de 2024

INFORMAR OU OCULTAR?

Um facto ocorrido na Feira de Moura - falo só do facto, não de culpas ou responsabilidade, essas têm de ser apuradas por quem de direito, não por mim - foi completamente omitido a nível local. No entanto, foi notícia a nível nacional. Em Moura, nem orgão de comunicação da terra ("A Planície"), nem a Câmara Municipal, nada de nada. Silêncio completo. Porquê?

MÁSCARA N°. 18: MONTE, FUNCHAL

Uma máscara, mascarilha. Mais uma a somar à coleção. Numa janela do futuro Museu do Romantismo.

terça-feira, 14 de maio de 2024

OS MÁRTIRES DE MARROCOS QUE ME PERSEGUEM...

Regresso a 2020. O quadro não esteve - e poderia ter estado, mas a "oferta" era muita - na exposição do Museu Nacional de Arte Antiga, inaugurada no final de 2020. Os Mártires de Marrocos ficaram, como "assombração" pessoal.

No Convento de Santa Clara, no Funchal.


segunda-feira, 13 de maio de 2024

A CERÂMICA QUE ME PERSEGUE...

O quadro é de uma oficina regional madeirense e está datado no século XVIII. Mas há duas peças de cerâmica nele representadas que são, claramente, de produção alentejana. São dois pequenos potes modelados, da mesma tipologia das peças encontradas, há mais de 40 anos, no sítio do Convento de Santa Clara, em Moura, e que, com Miguel Rego, publiquei alguns anos volvidos.

Curiosamente, este quadro está no fantástico Convento de Santa Clara, no Funchal.



domingo, 12 de maio de 2024

MOURA: questão que eu tenho comigo mesmo

Não é uma "questão", nem um "problema", apenas cito O'Neill. Ao sair da feira, esta tarde, e ao deixar Moura, pouco depois, firmou-se a certeza de que falta sempre qualquer coisa a fazer ou um sítio onde estar. E que, portanto, um dia regressarei/regressaremos. Não tanto porque imensas pessoas me perguntaram "quando volto". Mas porque um dia isso acontecerá.


sábado, 11 de maio de 2024

BÁRBARA TINOCO ♥️

Foi ontem à noite. Não conhecia Bárbara Tinoco. Não "desgostei" das músicas. Um estilo ligeiro e agradável. No meio de uma música lançou o estribilho, que repetiu várias vezes, FASCISMO NUNCA MAIS. Mainada!

Fiquei fã de Bárbara Tinoco.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

UMA PAVEIA DE CARTÕES DE VISITA...

Cada vez que uma instituição muda de nome, de logo, de mails etc., repete-se a cena.

Voltou a acontecer. Da Direção-Geral do Património Cultural passei para  Museus e Monumentos de Portugal. Enquanto o mail antigo funcionou usei os cartões. A partir de agora, vai tudo para a reciclagem. As tipografias até esfregam as mãos.

(os cartões são pagos por mim, nada de confusões).


quinta-feira, 9 de maio de 2024

DIA DA ESPIGA

Hoje é quinta-feira da Ascensão. O Dia da Espiga. E, mesmo em Lisboa, está um dia bonito e luminoso como poucos. Dá vontade de sair para o campo. Mas aqui só para o Campo Grande ou para o Campo Pequeno.

Ouvir o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento leva-me um pouco "para lá".




quarta-feira, 8 de maio de 2024

PERMANENTE ILUSÃO

Talvez este jogo de ilusões seja obra de Gian Giacomo Azzolini (1723-1791). Que ele andou pela cidade é certo. A fotografia não faz justiça à ilusão ótica que se cria, em grande dimensão, e de forma bem realista.

Não foi a única surpresa de um dia intenso como poucos. Das 6.45 às 22.45, sem um minuto de pausa. Não pude deixar de pensar "caramba, isto já me faz lembrar a Câmara de Moura...". Mas aí não era ilusão.


FAUSTO GIACCONE - notas da inauguração

Casa cheia é sempre uma expressão que agrada. A inauguração deste "Fausto Giaccone - o povo no Panteão" é um dos momentos marcantes desta fase da vida do monumento. A exposição é absolutamente extraordinária. Dos pontos de vista histórico e estético.
Foi decisivo o apoio do Instituto Italiano de Cultura em Lisboa, da Câmara Municipal de Coruche e da Junta de Freguesia do Couço.
Até dia 25 de agosto.



segunda-feira, 6 de maio de 2024

MÉRTOLA, 1985

Um Factum notável, o de Eduardo Gageiro. Mais de 150 fotografias nos dois pisos do torreão nascente da Cordoaria. O 25 de abril, claro, e muito mais que isso. Retratos, muitos e excelentes, todos eles. E imagens do País, ao longo de várias décadas. Como esta, que já conhecia e de que gosto particularmente.

Já andou pelo blogue, em setembro de 2014. Escrevi na altura: "Era uma das mais belas curvas do mundo. Tenho disso a mais completa certeza. Ficava em Mértola e era assim, tal como Eduardo Gageiro a fotografou, em 1985. Aquela curva fez-me companhia intermitente, entre o verão de 1983 e a primavera de 1987. A brancura da curva desapareceu, há cerca de duas [agora são três] décadas. Uma pena, sem retorno nem remissão".


domingo, 5 de maio de 2024

DIA DE VER FOTOGRAFIA...

O que gostava mesmo era de ver uma exposição de David LaChapelle em Lisboa. Isso é que era.

Em todo o caso, hoje é dia de vadiar um pouco e de ver fotografia. E de tomar fôlego: os dias 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25 e 29 não me vão dar assim muito descanso ("isto só no privado é que se trabalha blablabla...").


sábado, 4 de maio de 2024

IL GRANDE TORINO

Faz hoje 75 anos. Um Fiat G.212 da Avio Linee Italiane chocou contra o muro oriental da basílica de Superga, a pouco mais de 12 quilómetros do antigo aeroporto de Turim. Morreram todos os que iam a bordo. Regressavam de uma deslocação a Lisboa, na festa de homenagem a Francisco Ferreira, jogador do Benfica. Uma tragédia que ficou/ficará para a história do futebol.

O Torino era a equipa invencível, com cinco vitórias consecutivas no campeonato italiano. Só voltaram a ganhar o scudetto em 1975/76. E a Taça de Itália, em 1993. Nada mais.


PLACAS TOPONÍMICAS E ESCALA SOCIAL

É uma das mais marcantes memórias da minha infância e juventude. Muitas das ruas (a maior parte? todas?) do bairro da Salúquia, em Moura, não tinham placas toponímicas destas (a conquista do azulejo, para cá do Barranco da Cerca, chegou bem depois do 25 de abril). Tenho uma memória muito nítida das placas toponímicas em zinco, pintado de preto, e com o nome das ruas "aberto" em cor branca.

Os azulejos, e as luminárias bonitas e de desenho elegante, estavam reservados ao centro da vila. Era tudo, a começar (ou a terminar) aí, uma questão de escala social.

Ver: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2022/02/16/quem-foi-quem-na-toponimia-do-municipio-de-moura-5/




sexta-feira, 3 de maio de 2024

O LUGAR ONDE O CORAÇÃO SE ESCONDE

“O lugar onde o coração se esconde / e a mulher eterna tem a luz na fronte / fica no norte e é vila do conde”. Esta é a parte final do meu poema preferido de Ruy Belo. Todo o poema é uma sentida declaração de amor a um sítio. Lembrei-me dele, emocionadamente, ao ler, a meu respeito, esta frase simples, numa publicação no facebook, “esteve bastante tempo em Moura mas é da Amareleja”.

Fisicamente, não sou da Amareleja. Não nasci lá, nunca lá vivi, não andei lá à escola, não conheço as pequenas histórias do quotidiano, nem os detalhes das vidas e das famílias. Não foi lá o meu primeiro namoro, nem o primeiro cigarro fumado às escondidas, nem foi lá o meu primeiro beijo. A minha realidade quotidiana não foi, não é, a Amareleja. Mas está aqui, no corpo daquele que agora escreve, a genética de um sítio. A memória dos meus bisavós e a dos meus avós. Quando me perguntavam, ou perguntam, “mas a sua família, aqui na aldeia, é de onde?”, respondo, com segurança, “do Alto de Bombel”. É certo que não sou de lá. Mas aquela simples frase do meu amigo António Castelhano “esteve bastante tempo em Moura mas é da Amareleja” vale esse reconhecimento de convicta pertença emocional a um sítio.

Quando, no outro dia, vi o Grupo Coral da Sociedade Recreativa Amarelejense avançar, pela nave do Panteão Nacional, não pude deixar de pensar, sorrindo para dentro, “os meus avós haviam de gostar de ver isto”. Escrevi um dia que a Amareleja é a paixão dos fortes. Roubei a expressão ao título de um filme de John Ford, mas isso é que menos interessa. Escrevi, no início de um texto para um livro intitulado “Amareleja”: “A terra é quente, as pedras escaldam. O calor molda o espírito e ajuda a afeiçoar o vinho. É assim o verão na Amareleja. Quando chegar o outono, o calor será um pouco menos. Haverá vindimas e depois virá o frio e depois haverá vinho novo. Por agora, o céu é quase sempre azul. Entre o céu e a terra se fez a Amareleja. Entre o céu e a terra se faz o vinho da Amareleja”. Sete anos se passaram. Escreveria, de novo, as mesmas palavras. E, talvez, outras mais, agora que o tempo passou e a passagem do tempo me tornou (ainda) mais livre.

Somei, ao longo da minha vida autárquica, vitórias e derrotas, momentos doces e amargos. E ganhei pequenas condecorações. Um dia, num 15 de agosto tenso, na Amareleja, um senhor mais velho, com quem continuo a manter relação de amizade, parou para me cumprimentar e para me dizer “vê-se mesmo que o senhor gosta de estar com o povo”. Agradeci polidamente, enquanto pensei “acabo de ganhar um pouco de paz e de ficar feliz”.

Fisicamente, não sou da Amareleja. Por todas as razões que escrevi mais acima, e por outras mais que poderia acrescentar. Mas a Amareleja é um dos sítios onde o meu coração se esconde. Portanto, sou de lá, sim senhor. Senti isso, com toda a tranquilidade do mundo, enquanto vi o Grupo do Terreiro descer a Rua de São Pedro, em Alfama. Voltei ao Panteão, a passo lento, pensando “acabo de ganhar um pouco de paz e de ficar feliz”.

Crónica em "A Planície"




quinta-feira, 2 de maio de 2024

FAUSTO GIACCONE - O POVO NO PANTEÃO

Depois de "Artur Pastor - o Povo no Panteão" (em 2021), é a vez de Fausto Giaccone. Memória de uma importantíssima reportagem, feita no Ribatejo e no Alentejo, no verão de 1975. Inauguração no dia 7, às 19 horas.

Hoje, no facebook do Fausto:

Si inagura il 7 maggio a Lisbona una mia mostra personale sui giorni dell'"estate calda" dell'agosto 1975, tra Lisbona e le campagne del Ribatejo. Ci saranno alcune foto inedite sia delle occupazioni delle terre che di Lisbona. La mostra rimarrà aperta fino al 25 di agosto. Ringrazio il Panteão Nacional e l'Istituto Italiano di Cultura di Lisbona che hanno reso possibile la realizzazione di questa mostra.


quarta-feira, 1 de maio de 2024

DOZE INDOMÁVEIS PATIFES

Doze presidiários são treinados para levar a cabo missões militares de alto risco. Isto faz-me lembrar alguma coisa, mas de repente não estou a ver o quê...















terça-feira, 30 de abril de 2024

50 RAZÕES PARA DEFENDER A CORRIDA DE TOUROS

Um livro extraordinário. Comprei a primeira edição, em 2011. Vai na quarta. Francis Wolff não é um bárbaro sanguinário. É um reputado professor universitário e um homem de Cultura. Tauromaquia é Cultura. Como Francis Wolff explica em 50 tópicos, bem escritos e bem informados.


MORA SUR MER

É uma das mais fantásticas fotografias de Fausto Giaccone, feita no verão de 1975. Numa parede em Mora, desenharam-se palavras e slogans, palavras em ondas e um sobreiro-palmeira inclinado sobre a água, em jeito tropical, que tanto pode "ser" na barragem de Montargil como na do Maranhão.

Era difícil que numa parede coubesse tanta espontaneidade, mas coube. Fausto Giaccone volta a estar em Portugal, a partir de dia 7 de maio.


segunda-feira, 29 de abril de 2024

MAIO, MADURO MAIO

Maio é mês de livros. Dois num só mês. Colaboração num, co-autoria de outro. Têm ambos a ver com memória(s). Através de um deles um grande fotógrafo, Fausto Giaccone, regressa a Portugal. O outro é um inventário de património.

Por diferentes razões, deram-me "água pela barba". Mas o pior já lá vai. Serão, ambos, anunciados condignamente dentro de dias. A suivre...


UN PRIMOR DE MANTEQUILLA

Mértola - 13:12 de sábado, na rotunda. Passam dois casais espanhóis. Um dos homens, de carregado sotaque andaluz, ia falando, entusiasmado, sobre uma marca de manteiga: "es que la mantequilla Primô', e' un primô' de mantequilla". Não muito original  mas já vi anúncios (bem) piores.  


domingo, 28 de abril de 2024

IKIRU

O burocrata, a solidão e a morte. Um filme de 1952 de Akira Kurosawa que vi, há muitos anos (40?) e que agora gostaria de rever. Em todo o caso, é um filme que todos os burocratas deviam ver.


sábado, 27 de abril de 2024

I ❤ BUROCRACIA: O MEU IMODERADO AMOR POR PERFEIÇÕES ABSOLUTAMENTE INÚTEIS

O'Neill foi um português originalíssimo. Um homem inspirador. Um anti-burocrata. Viveria mal hoje, no meio das folhas de Excel e dos inquérito via-drive... Já imaginaram um poema em Excel? Pois... eu também não.

Guichê / 1

Quando o burocrata trabalha é pior do que quando destrabalha.
Antes quero esperar, aquém guichê, que ele discuta toda a bola ou pedal que tem para discutir
com os destrabalhadores dos seus colegas;
antes quero esperar pelo meu burocrata
do que ter a desilusão de o ver trabalhar para mim mal eu chegue.
Isso custa-me pés e cotovelos, cãibras e suspiros, repentinos ódios vesgos,
projectos de cartas a directores de vespertinos,
mas se o meu burocrata assomasse à copa do papel selado
e me convidasse, acto contínuo, a dizer ao que vinha pelo higiafone,
da boca não me sairia um pedido, mas um regougo,
e eu teria de ceder a vez
ao cigarro que me queimasse a nuca.
É preciso exercer a paciência e cultivar a doçura no canteiro do rosto,
enquanto o burocrata destrabalha.
Geralmente não serve de nada pigarrear ou dizer com voz-passadeira «Fazmòbséquio».
Levantar-se-iam, além guichê, as sobrancelhas de, pelo menos, três sujeitos.
Melhor será começar pelo globo que pende do tecto
e que é um olho vazado sobrepujando a cena.
Melhor será observar como a mosca dos tinteiros
nele pousa as patinhas escriturárias.
Depois (lição de coisas!) baixar os olhos para o calendário mural
e ver quantas cruzes a azul ainda faltam para liquidar o mês.
A seguir, circunvagar o olhar para ir enquadrar noutra parede
um calendário perpétuo parado um mês atrás.
Também aqui há zelo e desmazelo.
Também aqui falta o tempo e sobra o tempo.
Por certo é o mantenedor do calendário em dia
o que está a vir para estes lados.
Já olhou para mim. Sorrio-lhe. Passou.
Volto ao globo e, geografia cega,
pergunto aos meus botões «Onde será Paris?»
Mas não é o terráqueo. É um abafador
que trago desde a infância e não abafou népia.
Rompeu-me a algibeira e não abafou népia.
Curvo-me, enfio a cabeça pelo guichê e, num assomo,
comando em voz clara e alta: TODOS AOS SEUS LUGARES!
Quebrei o encanto!
Os burocratas que destrabalhavam correm pra mim à uma.
Trémulo de prazer, pergunto a um deles: «É o senhor o meu



sexta-feira, 26 de abril de 2024

I ❤ BUROCRACIA: POEMA DA FLOR PROIBIDA

Se uma coisa me irrita é aquela burocracia inútil com que enxameiam as nossas vidas. Desisti, ontem, de participar num congresso, algures na Europa - depois da minha proposta de comunicação ter sido aceite - porque me enviaram quatro ou cinco longos pdf's com tretas para responder e com instruções para seguir. Perdi, de vez a paciência, quando me perguntaram sobre crimes cometidos nos últimos cinco anos. Não sei se uma multa (leve) por (ligeiro...) excesso de velocidade conta. Fechei o computador murmurando baixinho "vão à *****".

A burocracia inútil é um inferno quotidiano. De pouco serve e tudo empata. Só me evoca homens sisudos e de chapéu de coco. Um poema de Gedeão e uma tela de Magritte. O poema já por aqui andou em 31.3.2009, a tela também, em 20.9.2013.


Por detrás de cada flor
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.

Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.

Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,não de repente
(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.

Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.

Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.











Golconde está na Menil Collection, em Houston, no Texas. Foi pintado por René Magritte (1898-1967) em 1953.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 DE ABRIL DE 2024

Fomos 17 a celebrar os 50 do 25, logo pela manhã.

Fiz questão de estar em Moura, com os meus camaradas e amigos.

Para registo (da esquerda para a direita, sem leituras políticas ☺️):

Helena Costa, Daniel Ortiz Rodrigues, José Maria Pós-de-Mina, André Linhas Roxas, José Finha, Ana Almaça, Luís Rico, Santiago Macias, Paula Ventinhas, Jorge Pós-de-Mina, Ana Farinho, Luís Raposo, Maria José Silva, Manuel Bravo, Gabriel Ramos, José Flores e Joaquim Carrilho.

Em balanço, e no meio do grupo (e entre antigos e atuais): 2 presidentes e 10 vereadores.


25 DE ABRIL DE 1974

Ficou conhecido como o Hino do Movimento das Forças Armadas. É, de facto, uma marcha militar do compositor inglês Henry Russell (1812–1900), datada de 1838. É um dos símbolos dos meses que mudaram Portugal, para sempre.

Foi escolhida, creio que quase por acaso, nos estúdios do Rádio Clube Português, no próprio dia 25 de abril. Acompanhou as nossas vidas durante os anos de 1974 e de 1975.

Nestas alturas há imagens que me ficam gravadas: os tanques nas ruas, o Povo, Salgueiro Maia, os cravos, a alegria das pessoas, os cartoons de João Abel Manta...

Este foi, é, será o grande dia das nossas vidas.




 

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O JOGO ESQUECIDO

Em Lisboa tinha havido empate. Para passar à final da Taça dos Vencedores de Taças, o Sporting não podia perder em Magdeburgo. Seria um regresso à final da competição, uma década depois da vitória em Bruxelas.

No final da tarde de 24 de abril juntámo-nos todos à volta do His Master's Voice a preto e branco para ver o jogo. A 20 minutos do fim, o Sporting perdia por 2-0, sem que o Magdeburgo tivesse jogado nada de especial. A 12 minutos do fim, Marinho reduziu para 2-1. Quase de seguida, Tomé falhou, inacreditavelmente, o empate (é esse desalento que a fotografia mostra). Os alemães estavam de gatas. Deu-se então uma parte gaga. Isto para que não digam que os latinos é que são "fiteiros"... Um alemão simulou uma lesão. Entra o massagista do Magdeburgo. Aquilo prolonga-se por uns minutos. Quando vai de regresso em direção à linha lateral, o massagista abre, "acidentalmente", a mala. Espalha-se pelo relvado todo o seu conteúdo, uma mistura de frascos e frasquinhos, que toda a gente ajuda a apanhar. Aqueles momentos quebraram o ritmo, de total domínio, do Sporting. Com a ajuda de um pequeno golpe de teatro, a Magdeburgo passava à final...

No dia seguinte, tudo isto deveria dar manchetes nos joirnais. Não deu. Porque o outro dia foi o que se sabe.


terça-feira, 23 de abril de 2024

DEPOIS DO HERRI BATASUNA

A entrada do Herri Batasuna foi o principio de uma enorme "animação". Armou-se "la marimorena". Gritos, boicotes, expulsões etc. Isso durou até junho de 2005, quando o Herri Batasuna foi ilegalizado. Surgiu depois o Eukal Herria Bildu, próximo do separatismo mas mais moderado e abrangente. No passado domingo, houve um pequeno "susto". O futuro é cada vez menos previsível...

Dos três eleitos em 1979, Telesforo Monzón (1904-1981), Francisco Letamendía (n. 1944) e Pedro Solabarría (1930-2015) apenas Letamendía está vivo. Que diria o trio nesta altura?


domingo, 21 de abril de 2024

UM DIA INESQUECÍVEL

Não tenho muitos dias assim, numa carreira profissional com quase 40 anos.

Foi um prazer enorme, e uma emoção difícil de traduzir em palavras, ver o Panteão Nacional completamente cheio na celebração dos 10 anos do cante alentejano como Património da Humanidade.

Por ali passaram, por ordem de atuação:

Grupo Coral Infantil da Escola do Sete e Meio (Moura)

Grupo Coral e Etnográfico "Os Camponeses de Pias" (Pias)

Grupo Coral e Etnográfico "Cantares de Évora" (Évora)

Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa (Serpa)

Grupo Coral da Sociedade Recreativa Amarelejense (Amareleja)

Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento (Vila Nova de São Bento)

Grandes vozes e grande presença. Um grande final, com os grupos todos cantando, em conjunto, o "Alentejo! Alentejo!".

Depois, foi mesmo uma festa, cantando Alfama abaixo até à sede do Grupo Sportivo Adicense, onde foi o lanche. E ainda aquela nota fantástica do Rancho de Cantadores ter homenageado um casal de senhoras que acabara de casar.


Fotografia: "A Planície"








BARTOLOMEU COSTA CABRAL (1929-2024)

Foi uma carreira longa e perfeitamente realizada, a de Bartolomeu Costa Cabral, que ontem faleceu. Foram muitos os projetos, os prémios, é consensual o reconhecimento dos pares.

Aqui o recordo porque precisamente dentro de um mês vai ser apresentado um livro que tem uma obra sua: a agência de Caixa Geral de Depósitos de Sintra (1978).


sábado, 20 de abril de 2024

NÃO FOSSEM OS MANDATOS DA CDU...

E não teria havido:

* A obra da Mouraria;

* A casa dos poços;

* O Museu Gordillo;

* A reabilitação da Torre de Menagem;

* O jardim das oliveiras;

Ou seja, os jornalistas da "Visão" viriam a Moura ter visões.

Nos últimos sete anos, o que se criou, a este nível, em termos de reabilitação urbana? ZERO.


quinta-feira, 18 de abril de 2024

ASTON VILLA

Tenho seguido, com interesse, a carreira do Aston Villa. Têm duas finais europeias no currículo. Desde há 41 anos, nada mais. Este ano estão nas meias-finais da Conference League. Aposto que chegam à terceira final. O treinador? Unai Emery, o que ganhou quatro Ligas Europa. Mais um acaso, com toda a certeza...

quarta-feira, 17 de abril de 2024

CONCERTO DE AVES

sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar nem por entre os nossos dedos de areia
sobem-nos vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste humilde canto, fico atento ao eterno silêncio do teu castelo

às vezes escuto o teu cantar, raramente, é certo...mas quando cantas saem-te nomes puros da boca e sorrisos diáfanos de cristais
os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire o sabor misterioso das algas
no crepúsculo expande-se o perfume a moreia frita, teu olhar é o mosto dos nossos desejos

dançamos à roda dum mastro, saia em papel de seda bordada com búzios...uma quadra flutua pela noite de nossos cabelos
rodopias, e os teus amores são relembrados pela noite adiante
espalham-se estrelas cadentes, papoulas breves, junco molhado e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações semelhantes a beijos que nos percorrem de alegria

Uma recente "visão" do Concerto de aves, de Frans Snyders, que está no Museu do Prado, levou-me a Al Berto. Uma maneira diferente para terminar uma quarta-feira agitada.