quarta-feira, 23 de abril de 2025

CELEBRAR MATTOSO

A inauguração foi ontem. Foi um bom e feliz reencontro com colegas e amigos, antigos alunos de José Mattoso na licenciatura, no mostrado ou no doutoramento. A exposição, entre o pessoal e o académico, é um notável percurso pela vida de uma personalidade marcante. Somo, na minha vida profissional e em diferentes graus, "um par" de felizes cruzamentos: Cláudio Torres, Christophe Picard, Pierre Guichard, José Pós-de-Mina, José Mattoso, António Rosa Mendes, Iria Gonçalves, Paulo Macedo...

A exposição vai estar patente até 17 de junho. Pode ser que o autor do execrável obituário que saiu no "Público" tenha a oportunidade de ir á Torre do Tombo e de perceber que há coisas especiais na vida. Como a aprendizagem com pessoas como José Mattoso.

https://antt.dglab.gov.pt/exposicao-jose-mattoso-fazer-a-historia-repensar-o-arquivo/


terça-feira, 22 de abril de 2025

GUERRA JUNQUEIRO & VASCO DA GAMA - até 27.4

Últimos dias de duas importantes exposições, no Panteão Nacional:

Guerra Junqueiro e o capricho da Arte

Tesouro de Nossa Senhora das Salas

PORTUGAL ISLÂMICO: ANTES E DEPOIS DE 1974

Algumas pistas sobre as narrativas em torno do Islão (período medieval, neste caso), no Seminário Permanente de Estudos Islâmicos da Universidade Lusófona, organizado por Fabrizio Boscaglia. Dia 24, às 18 horas, online.

https://videoconf-colibri.zoom.us/j/88353084579


segunda-feira, 21 de abril de 2025

JUSTIÇA

Um pedido aos leitores do blogue (sem ironia):

Será que alguém me consegue explicar como é que um cidadão, seja ele quem for, toma conhecimento de que está a ser objeto de uma investigação por parte do Ministério Público através da comunicação social? Se nada lhe ter sido comunicado.

Fico desde já muito agradecido.

domingo, 20 de abril de 2025

TRUMP, SARA BONGIORNI E NÓS

Uma jornalista e a sua família tentaram, há cerca de duas décadas, viver sem usar produtos fabricados na China. A "aventura" está contada num livro. No final, houve muitas entrevistas e muitas declarações. Numa delas, Sara Bongiorni rematou, dizendo:

WERTHEIMER: Did you decide at the end of the year that you were still going to boycott China? Did you move on? 

Ms. BONGIORNI: Well in the end we had to find a way to come to terms with the world as it is. We couldn't live like this forever. I mean it really did become an all-consuming project. So we found a middle ground at the end, and yes, we do buy things from China again.

Quando ouço babacas afirmarem, em debates televisivos, que vão restringir as importações da China, estão a falar de qu??

https://www.npr.org/2007/07/18/12056295/life-without-goods-made-in-china-a-challenge


sábado, 19 de abril de 2025

JOSÉ FILIPE (1959-2025)

Este é um texto de homenagem a um colega e amigo, que hoje partiu, de forma inesperada. Vim a Mértola à sua festa de despedida, quando se aposentou, no passado mês de dezembro. Voltei a encontrá-lo no passado mês de março, quando o Passinhas passou à reforma.

Conheci o Chola (nome de guerra) num já distante mês de setembro de 1983. Foram mais de 40 anos de uma amizade firme. Era daqueles colegas com quem se podia contar, sempre e a qualquer hora. Quando, nas infindáveis montagens dos museus, era preciso ficar, sem saber a que horas se iria terminar, ele estava lá. Sempre. A bonomia e um modo tranquilo de trabalhar iam a par com a discrição e com um jeito silencioso de estar. No trabalho de campo era exemplarmente dedicado e metódico. Não sabia dizer "não!". Estava sempre disponível para ajudar e para melhorar o trabalho dos outros. Escavava de forma inteligente e exemplar. Quantas vezes olhou para o que eu estava a fazer com ar pesaroso (os trabalhos manuais nunca foram o meu forte) aproveitando um qualquer pretexto para dizer "deixa estar que acabo". Ou seja, ia deixar o terreno em condições.

Tive dele ajudas decisivas - silenciosas e discretas, como sempre - nos meus trabalhos de investigação. As recolhas de materiais osteológicos que consumiram boa parte do inverno de 1990/91 fizeram parte dessa saga. Quando lhe agradecia, dizia-me, encolhendo os ombros "tão, isto tem que ser, não?...". Foi com pessoas como o Chola que se fez o Campo Arqueológico e se construiu o projeto de Mértola. Agora, que os anos passaram (o Campo vai com 47 anos!) firma-se-me essa certeza.

No almoço de dia 15 de março disse-lhe "agora, no festival islâmico, temos que tomar uns birinaites". Riu e respondeu "e a gente toma".

Não voltarei a estar com ele. E vou ter saudades do homem simples, humilde e bondoso que conheci durante mais de 40 anos. Dele recordarei sempre a generosidade e a entrega. E como ele já há muito poucos. Cada vez menos.

Aqui fica uma imagem da "velha guarda" (estamos dois no serviço ativo, e nem o Miguel nem eu em Mértola), feita na noite de 21.12.2024.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

PÁSCOA Ω: CRUCIFICAÇÃO

De alfa para ómega. Mais um desenho de Moita Macedo.

Do Evangelho segundo S. Mateus:

Morte de Jesus (Mc 15,33-41; Lc 23,44-49; Jo 19,25.28-30) – 45A partir do meio-diafizeram-se trevas sobre toda a terra, até às três horas da tardeg46Pelas três horas da tarde, Jesus bradou com voz forte, dizendo: «Elí, Elí, lemá sabakhtáni?»isto é, «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»h47Alguns dos que ali estavam, ao ouvirem isto, diziam: «Está a chamar por Elias». 48E um deles foi imediatamente a correr apanhar uma esponja e, depois de a embeber em vinagre, pô-la numa cana e dava-lhe de beberi49Os outros, porém, diziam: «Deixa! Vejamos se Elias o vem salvar». 50Mas Jesus, bradando de novo com voz forte, entregou o espíritoj.

51Entãoo véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo; a terra tremeu e as rochas fenderam-se. 52Os sepulcros abriram-se e muitos corpos de santos que já tinham adormecido ressuscitaram 53e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesusl, entraram na cidade santa e apareceram a muitosm54O centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o terramoto e o que estava a acontecer, ficaram cheios de medo e disseram: «Ele era verdadeiramente Filho de Deus!».


quinta-feira, 17 de abril de 2025

NOUTRO TEMPO, NOUTRO LUGAR

Ao ver isto ontem, até pensei que se tratasse de uma montagem.

Foi em novembro de 1975. Uma prova de que nem todas as contradições são contraditórias.

PÁSCOA Α: ÚLTIMA CEIA

A última ceia é um tema pouco frequente na obra de Moita Macedo. Um trabalho fantástico, que já esteve em exposição na Sé de Lisboa. Este, e outro desenho de temática pascal, foram-me oferecidos há uns 40 anos. Têm lugar especial lá em casa.

Do Evangelho segundo S. Marcos:

A ceia do Senhor (Mt 26,20-29; Lc 22,14-23; Jo 13,2.21-26; 1Cor 11,23-25) – 17Ao cair da tarde, chegou com os Doze. 18E, enquanto estavam reclinados à mesa e comiam, Jesus disse: «Amen vos digo: um de vós, que come comigo[4], me há de entregar». 19Começaram a entristecer-se e a dizer-lhe, um após outro: «Não sou eu, pois não?». 20Mas Ele disse-lhes: «É um dos Doze, o que põe comigo a mão no prato[5]21Porque o Filho do Homem parte, tal como está escrito acerca dele, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido».

22Enquanto eles comiam, tomou um pão e, pronunciando a bênção, partiu-o, deu-lho e disse: «Tomai, este é o meu corpo». 

23Tomando, então, um cálice e dando graças, deu-lho e todos beberam dele. 24E disse-lhes: «Este é o meu sangue da aliança[6], derramado em favor de muitos[7]25Amen vos digo: não mais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus».


terça-feira, 15 de abril de 2025

EAST OF PECOS

Lê-se no "Público" de hoje:

Presidentes dos EUA e El Salvador recusam libertar Kilmar Abrego Garcia, imigrante enviado para prisão salvadorenha por “erro administrativo”. Trump admite enviar também norte-americanos para o CECOT.

Não é muito surpreendente, este texto. O juiz Roy Bean dizia ser ele a justiça a oeste de Pecos. Agora, há outro "justiceiro" a este de Pecos. E é mais letal que o dito Roy Bean...

segunda-feira, 14 de abril de 2025

PARADA DE ESTRELAS

Numa das salas da Gare de Alcântara há um registo com personalidades que passaram por Lisboa, a caminho da segurança norte-americana, nos anos de 1940-1941. É uma verdadeira parada de estrelas. Passaram por um país tão parolo e tão tacanho como o próprio Salazar. Nenhum deles quis cá ficar, naturalmente. Ficavam a fazer o quê?

Na parede oposta, há uma fotografia com refugiados empunhando a bandeira americana. Sinais de outros tempos.


Alfred Döblin

Alma Mahler

Antoine de Saint-Exupéry

Gala Dalí

Hannah Arendt

Jean Renoir

Josephine Baker

Joan Miró

Madeleine Lebeau

Man Ray

Marc Chagall

Marcel Dalio

Marcel Duchamp

Patricia Highsmith

René Clair

Salvador Dalí

Saul Steinberg


domingo, 13 de abril de 2025

GARE DE ALCÂNTARA

Finalmente abertas! As gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos podem ser visitadas. Todo o talento de Porfírio Pardal Monteiro e de Almada-Negreiros à nossa frente. Em especial na de Alcântara (a outra fica para daqui a umas semanas), onde há um centro interpretativo que enquadra a gare na história portuguesa e nas obras do arquiteto e do artista plástico. Há entrevistas curtas muito boas em imagens e há filmes muito bons sobre a obra de Almada em Lisboa.

O pior disto? A gare continua emparedada entre contentores... E para lá chegar temos de fazer uma gincana entre rotundas improvisadas e pavimentos em mau estado.


sábado, 12 de abril de 2025

sexta-feira, 11 de abril de 2025

PRIVATIZADORES IMPLACÁVEIS

Privatizam tudo. Ou querem privatizar tudo e mais alguma coisa. O problema deles não é o Estado. É o Estado não ser deles! De forma exclusiva e absoluta, como o senhor da imagem.

O meu profundo e absoluto desprezo por estas criaturas só é comparável ao meu empenho em as combater. Tenho uma minha carreira de 38 anos, 6 meses e 17 dias como funcionário público. Faço desse percurso ao serviço da República parte do meu combate.


quinta-feira, 10 de abril de 2025

AMOR E SOCIALISMO

Chega-se, manhã cedo, e dá-se com isto. Quem terá sido?, interrogo-me. Fazendo figas para que seja esta a face boa do turismo.

Havia aquela marchinha do "Me beija, que eu não sou fascista"... Lembram-se?

quarta-feira, 9 de abril de 2025

A CIDADE, LÁ LONGE...

Era um grupo com tantos alunos negros como brancos. Pensei instintivamente: "Amadora, Loures, Seixal...". Não me enganei. Era, de facto, uma escola de um subúrbio, com larga presença de jovens de ascendência africana.

Nunca tinham vindo ao Panteão. O professor que orientava o grupo comentou: "nunca aqui tinham vindo e, para eles, Lisboa é quase outro mundo; conhecem mal Lisboa". A escola deles fica a menos de 1000 metros do limite da capital. Que é para eles, e no essencial, um sítio que fica noutra galáxia...

Dá que pensar, embora não tenha ficado nada surpreendido.


terça-feira, 8 de abril de 2025

NATURALISMO LUSITANO

Não tinha uma ideia muito precisa da pinacoteca da Casa-Museu Anastácio Gonçalves. O edifício é hoje invisível, depois da construção da Torre FPM 41. Chegar lá é um zigue-zague, numa paisagem urbana que já se quis parisiense e que hoje não é coisa nenhuma.

Lá dentro há naturalistas. Há João Vaz e há Silva Porto (cf. infra). Quanto mais olho, mais gosto. Fico sempre, talvez de forma errada, com a sensação de estar ante uma geração que ficou meio perdida e que não tem o destaque que merece.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

SOLIDARIAMENTE, EM BORBA

Participação na sessão que ontem teve lugar, no Celeiro da Cultura, em Borba. Coube-me a tarefa de apresentar o meu camarada e amigo Jorge Pinto no arranque da sua campanha em direção à presidência da câmara. Acho que não me saí mal na tarefa. Mas, mais importante, ele saiu-se muito bem.

PIRÂMIDES

Sob o signo do sol. O deus RA é o deus do sol e, assim se , a mais importante divindade do panteão egípcio. Foi RA a inspirar Rui Toscano, que nos mostra luz e as pirâmides na exposição na galeria Cristina Guerra. O que me leva a evocar outra fotografia - literalmente inesquecível - de Paulo Nozolino.

https://www.cristinaguerra.com


domingo, 6 de abril de 2025

BONSOIR, TRISTESSE

O final de tarde estava assim. Os edifícios do Bom Pastor têm um "toque berlinense" e fazem-me lembrar o Wohnhaus Schlesisches Tor, desenhado por Siza Vieira na primeira metade da década de 80. A luz e o tempo, às 20:18 de sexta, estavam assim, também com um toque nórdico. Final de uma semana longa... A que vem será ainda mais densa.

sábado, 5 de abril de 2025

IN MEMORIAM - AMADOU BAGAYOKO

Agora que Amadou Bagayoko (1954-20125) partiu, recordo-o com este texto, que resultou de uma já distante viagem ao Mali.


BAMACO


DIMANCHE À BAMAKO

É assim que se chama o disco, Dimanche à Bamako. E nós ficamos a imaginar como será o dimanche à Bamako. Haverá acácias e belas mulheres à sua sombra, nos domingos de Bamako? As águas do Níger trarão frescura aos domingos de Bamako? Correrá um pouco do harmattan, o terrível vento do deserto, nas ruas dos domingos de Bamako? Soprará esse vento sobre as águas do Níger, por entre as acácias e as belas mulheres? Que oásis haverá?

Há poucos oásis em Bamako. A planta da cidade vista só em planta é um enredo de ruas direitas e há até guias que falam nas árvores dos bairros de Sogoniko ou de Badalabougou. Foi talvez assim um dia, e agora temos pena de não termos conhecido esses dias e esses domingos de Bamako. Agora os dias são de caos, há fumo, meu Deus, há fumo e mais fumo. A cidade vive envolta em fumo. Dos carros com carburadores asmáticos, do lixo a arder ao lado dos hotéis e dos campos de golfe, do lume dos restaurantes, digamos que são restaurantes, que aparecem por toda a parte. Afinal o vento não sopra em Bamako e por isso o fumo não viaja, ficando a pairar sobre a cidade. A cidade colonial é uma miragem curta nesta parte do Sudão e as glórias passadas fenecem por entre destroços.

Nos dias que não são dimanche há mais trânsito e nota-se muito mais o fumo. Há mais carros, mais motoretas e maquinetas. Nesses dias um milhão de pessoas cruza o gigantesco bairro da lata que Bamako é, e nós ficamos sem perceber nada. De que vivem todas aquelas pessoas? De que vivem os vendedores se não há ninguém para comprar ou, pelo menos, ninguém parece comprar coisa alguma? Quando é dimanche à Bamako respira-se um pouco melhor, sem o travo do gasóleo a arder nas narinas e na garganta. Quando é dimanche podemos fugir mais ao fumo.

Aos domingos podemos esgueirar-nos um pouco mais à vontade, por entre as latas das barracas, por entre os montes de lixo semeados à toa. Para quem gosta dos mercados, há o novo mercado, nos guias lê-se que é novo mas parece já ter nascido com muitos anos. Mais longe, na margem do Níger, uma sugestão de jardim dá um pouco de placidez aos domingos de Bamako.

Há uns séculos atrás ninguém passeava ao longo do Níger nas tardes de domingo porque a cidade ainda não existia. Nesses dias havia pirogas que passavam por entre as ilhotas onde agora os poucos pássaros vão pousar. Mas as pirogas partiram e o rio é agora um deserto de água. Nesses dias lá longe os caminhos do Níger levavam para Tombouctu e para Gao. É para aí que iremos um dia, porque lá onde estão não há fumo, de certeza que não, nem um milhão de pessoas amontoadas, como nesta aldeia de homens e mulheres gentis.

Agora é Inverno em Bamako, aceitemos que 35º possam ser Inverno, e por isso o tempo é muito seco. O calor ainda vem longe e mais longe ainda está a chuva. Tenho dificuldade em imaginar como serão esses domingos de Verão, com a chuva que não pára, o calor terrível, o fumo dos carburadores asmáticos e a maior parte das ruas a serem pasto da lama e dos mosquitos.

Na próxima vez vou chegar a um domingo. Vai ser num dos beaux dimanches cantados por Amadou e Mariam. Nesse domingo haverá, decerto, menos fumo e menos gente perdida a deambular pelas ruas. Haverá, decerto, belas mulheres cujas pulseiras rivalizam, por entre as acácias, com a curva da corrente do Níger.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

ESSA COISA DO "DRESS-CODE"...

Nunca tive grandes preocupações com a roupa. O que visto ou não visto não é tema que me interesse. Obrigatoriamente, só liguei ao assunto quando era presidente de câmara e, agora, noutras circunstâncias, no Panteão Nacional.

A formalidade obriga-nos a vestir isto ou aquilo não para "parecer bem", mas para respeitar o cargo e para o valorizar. E por consideração para com os nossos interlocutores.

Por razões circunstanciais, boa parte das cerimónias em que participo são promovidas pelo Exército. E se há coisa que a instituição militar leva (muito) a sério é o protocolo. "Desengravatamentos" e ares casuais em momentos de formalidade nem pensar...

Dou comigo a pensar nisto quando vejo atitudes de abandalhamento que podiam e deviam ser evitadas.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

UMA SÓ VOZ, EM MOGUER

 LA PAZ

Hallarme en las manos
jazmines con sol,
con el primer sol;
saber que amanece
en mi corazón;
oír en el alba
una sola voz…

Eso quiero yo.

Regresar sin odios
cerrar sin pasión;
soñarme en las manos
celindas con sol,
el último sol;
dormir escuchando
una sola voz…

Eso quiero yo.

Lembro-me de ter estado em Moguer, há muitos anos, certamente mais de 30.Tal como me lembro das ruas de Moguer transmitirem uma imagem de grande placidez. Ou um sentimento de paz. Quem nasceu em Moguer percebeu isso melhor que eu.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

https://jorgemurteira.pt

Aqui se divulga / publicita / apoia o site de um amigo que é, também um excelente documentarista.

Vale a pena ver a carreira de alguém que continua a ter imensos projetos para concretizar. Vai haver tempo para isso! E talento.



terça-feira, 1 de abril de 2025

EX

Quando terminei as minhas funções na autarquia mourense, em 21.10.2017, tinha precisa noção de que muita coisa iria mudar na minha vida, nos dias seguintes.


Rematei o discurso de despedida dizendo  “continuarei, com toda a convicção a seguir, solidário e solitário, a percorrer os caminhos em que acredito. Com esta minha terra e com esta minha gente sempre no meu espírito e para sempre na minha memória”. Só me vinham à lembrança duas estrofes de um poema de Kavafis “como preparado há muito, (…), / despede-te dela, da Alexandria que se vai embora”. O ato em si, naquela tarde de sábado, revestira-se de momentos da mais completa falta de nível, próprios de quem os organizara. Quando um amigo me comentou o sucedido, ri, encolhi os ombros e perguntei “do que estavas à espera?”. E segui em frente, com Moura colada à pele, para sempre.


Esses momentos foram reavivados ao ler, na imprensa, que “pelo menos 32 presidentes de câmara anteciparam as suas saídas e cerca de metade foram nomeados para cargos públicos em entidades de gestão do território, empresas de gestão de resíduos ou habitação” (Público de 19.3.2025). Quando, nos primeiros dias de 2017, tomei a decisão de não me recandidatar, sabia que não iria para nenhum “cargo”. Nunca tal sucederia, em qualquer circunstância. A decisão, tomada a frio, de regressar à minha atividade profissional, fora a pedra de toque.

Em todo o caso, havia pontos que estavam, para mim, mais que claros:

1.      1. A "saída profissional" de um ex-autarca deveria, em princípio, ser o regresso à profissão de origem. Regressaria à Câmara de Mértola e ao meu trabalho de sempre;

2.     2. A passagem pela vida autárquica não seria trampolim, social ou profissional.

Nunca necessitara da vida política para “trepar”, nem precisava dos cargos políticos para viver. Divirto-me sempre (sim, isto é um pouco “sádico”, eu sei…) quando se aproximam as eleições e vejo o ar de aflição dos que têm no cargo político a sua boia de salvação social (quando não financeira…).

No regresso à “vida civil” quase não tive surpresas: 1) o telefone deixou de tocar; 2) um par de “amigos” e “amigas” afastou-se rapidamente (num caso ou noutro fui surpreendido, noutros nem tanto); 3) aqueles com quem efetivamente contava mantiveram-se, até hoje e, creio eu, assim será para sempre.

O regresso à profissão foi menos fácil do que contaria, e esse foi o elemento de surpresa. Quem “esteve na política” é olhado com uma certa suspeição. A travessia do deserto durou de outubro de 2017 a fevereiro de 2021, mais tempo do que imaginaria. Pelo meio fui escrevendo livros, organizando exposições e regressei à docência na Universidade. Constatei aqui, com amargura, que muitas das coisas que tinham mudado tinham sido para pior. Participei em júris (na Gulbenkian, na Caixa Geral de Depósitos…). Tomei posse como Diretor do Panteão Nacional há quatro anos. Um facto que embaraçou a Câmara da minha terra… Verifiquei, com agrado, com profundo prazer, que continuo a ser bem recebido no meu concelho. Isso deu-me a tranquilidade que, noutras alturas, me faltou.

Foram, profissionalmente, os melhores anos da minha vida? Entre 2005 e 2017, seguramente que sim. A entrega foi total. Um mergulho intenso e sem repetição possível.

Dedico esta crónica a todos os que, solidariamente, estiveram de alma e coração na política. E que não precisaram do cargo como boia de salvação social ou financeira. Os outros, que se preocupem com o próximo mês de outubro. E com o dia em que deixarem o cargo. Porque, na saída, não somos “todos iguais”. Mesmo nada, tenham a santa paciência…

Crónica em "A Planície"


segunda-feira, 31 de março de 2025

ANO QUARTO TERMINADO

Até final de maio de 2020 nunca me passara pela cabeça concorrer para a direção de um monumento nacional. A verdade é que a minha "travessia do deserto" durava há dois anos e sete meses... Não estava desempregado nem parado, mas faltava "qualquer coisa". O anúncio da abertura do concurso fez-me pensar "porque não?". Documentação entregue em julho de 2020, entrevista em dezembro, nomeação em fevereiro de 2021, início de funções no dia 1 de abril de 2021. Quase aos 58 anos, um percurso novo e inesperado.

Termino agora o quarto ano. Deverei, salvo qualquer imprevisto, aqui continuar até dia 28.2.2028.


domingo, 30 de março de 2025

SILENCIO EN LA HABANA

E a propósito de Havana e do filme de Wim Wenders, um belo momento, com o movimento de câmara em elipse "à la Alain Tanner", protagonizado por Omara Portuondo e por Ibrahim Ferrer.



CUBA 10/10: HABANA VIEJA

A cada passo olhava para o lado, esperando ver Ry Cooder numa motorizada com side-car. As imagens de "Buena Vista Social Club" foram uma constante. O ambiente urbano que Wim Wenders retratou é tal qual ele o retratou.

Fugi, deliberadamente, aos "postais" turísticos. Deambulei, por vezes na mais completa solidão, pelas ruas da cidade velha de Havana. A segurança é total. O que me permitiu fotografar, a altas horas da noite, com a minha amada M6. Disso darei conta um destes meses.

A luz noturna de Havana só me fazia lembrar, obsessivamente, as fotografias das cidades marroquinas, por Jean-Marc Tingaud (n. 1947). Tivesse eu talento...


sábado, 29 de março de 2025

PROLEGÓMENOS AO NACIONAL-VENTURISMO

Mandam fora os imigrantes. Dizem e escrevem as mais inacreditáveis baboseiras. Depois, ficam sem mão-de-obra. Que fazer? Simples, legaliza-se o trabalho juvenil. Para a classe D, evidentemente. A classe alta vai continuar a mandar os filhinhos para a Taft School, para a St. Marks School etc. Só as propinazinhas são 50.000 euros por ano. Quem financia isso? O trabalho dos da classe D...

OUTRA VEZ O PATRIMÓNIO...

O tema é cíclico, quando se fala em Moura e nos mandatos da CDU. A despesa feita na área do Património...

Há afirmações que se fazem e que estou certo que não são por má-fé. Apenas por desconhecimento. Uma delas, muito recente, é que as intervenções na área do património só foram possíveis graças à verba associada ao projeto da central fotovoltaica. Acontece que isso não é verdade.

Em termos concretos, as intervenções nos Quartéis (edifício e espaços exteriores), Matadouro (edifício e espaços exteriores), Museu Gordilho, Igreja do Espírito Santo, Igreja de S. Francisco, Torre de Menagem, Mouraria, Posto de Turismo no Castelo tiveram uma despesa global de 5.487.000 euros. Desses, a despesa da Câmara foi de 1.369.000 euros (um pouco menos de 25 %), verba que foi dividida em vários anos. Caberá também dizer que uma parte dessa despesa teve lugar antes do processo da central estar concluído.

Se é verdade que o dinheiro da central deu alguma folga? Sim, é verdade. Se foi por causa dessa verba que as coisas avançaram? Não, não é verdade.

A lógica é a inversa. Com 1.369.000 euros foi possível investir 5.487.000 euros. De onde vieram os 75%? De fundos europeus e do Turismo de Portugal. Através de concursos ganhos pela Câmara de Moura e de linhas de apoio a que nos candidatámos e para as quais garantimos os financiamentos. Foram projetos conquistados a pulso, em muitas horas de negociações e de desenvolvimento de dossiers. Como? Com trabalho, com dias e dias consumidos, procurando soluções e fazendo contactos. Curiosamente, a forma de desenvolver projetos neste domínios é um dos tópicos do seminário que leciono na Universidade Nova.

Foto infra: fev. 2011 (noutro tempo, noutro lugar...)

quinta-feira, 27 de março de 2025

CIDADE VELHA

Ontem, "carreguei" com os meus alunos do seminário em "Gestão e Proteção do Património Arqueológico" para a inauguração da exposição "Cidade Velha - Berço da Nação Cabo-verdiana | Ribeira Grande de Santiago", que teve lugar no Centro Cultural de Cabo Verde. Um trabalho comissariado pelo Dr. Daniel Pereira e que expõe, com clareza, os aspetos patrimoniais da cidade e a sua importância, em diversos domínios.

Há vários temas a debater nas próximas semanas.

https://www.facebook.com/CCCV.PT#

Antiga Ribeira Grande, Cidade Velha, ilha de Santiago, Cabo Verde. Vista aguarelada. Atlas de Leonardo de Ferrari, 1655. Arquivo Militar de Estocolmo, Krigsarkivet, (Handritade Kartverk, cota 51-36 1655), Suécia.

quarta-feira, 26 de março de 2025

MACAM

MACAM x 2.

Escolhi duas peças da extraordinária coleção reunida por Armando Martins e que está no novíssimo museu lisboeta.

Uma vanitas, de John Baldessari (1931-2020), que espero poder levar um dia ao Panteão Nacional, e uma marinha, de João Vaz (1859-1931), que nunca tinha visto e que é excecional, foram as minhas escolhas do dia.

Ver: https://macam.pt/pt








Vanitas Series: Bird, Pomegranate / Cool (Short Depth of Field) Bubbles 

/ Bird, Bowling Ball (Warm) [Série Vanitas: Pássaro, Romã / 

Frio (profundidade de campo curta) Bolhas / Pássaro, Bola de

 Bowling (Quente)]


Data

1981

Técnica

Duas impressões em gelatina de prata e uma impressão cromogénea 

montadas sobre cartão

Dimensões

77 x 230,5 cm (tríptico - 77 x 77; 77 x 76,5; 77 x 77 cm)



Data

c. 1905

Técnica

Óleo sobre tela

Dimensões

153 x 295,6 cm (tríptico - 153 x 74,5 cm; 153 x 146,7 cm; 153 x 74,4 cm)

terça-feira, 25 de março de 2025

STARDUST MEMORIES Nº 82: PORTUGAL ISLÂMICO

Numa recente visita ao Museu Nacional de Arqueologia fui encontrar "resquícios" de uma exposição, de que fui um dos comissários, em 1998 (!). No primeiro piso, o que resta de um painel de um dos setores da exposição tapava um buraco de início de obra, no pavimento. Bons e resistentes painéis! No piso inferior, a imagem da Porta da Vila de Faro, do séc. XI, enquadrava um dos espaços de trabalho. Há lá por casa uma fotografia minha segurando este painel, enquanto era colado a uma das paredes de "Portugal Islâmico".

segunda-feira, 24 de março de 2025

BOLERO

Dance-se o começo da semana. Quem dança é a bailarina soviética Maya Plisetskaya (1925-2015). A coreografia é de Maurice Béjart (1927-2007).

Os que não sabem dançar (como eu) têm o prazer de ver.


domingo, 23 de março de 2025

PRIMAVERA NADIR

Foi ontem, às 14:40:05. Um raio de sol varreu a rua e deu luz às margaridas mesmo por baixo da janela.

Foi sol de pouca dura, mas deu para dar a esperança que estes dias chatos estão mesmo a acabar.

De Alberto Caeiro:


Quando tornar a vir a Primavera

Quando tornar a vir a Primavera

Talvez já não me encontre no mundo.

Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente

Para poder supor que ela choraria,

Vendo que perdera o seu único amigo.

Mas a Primavera nem sequer é uma coisa:

É uma maneira de dizer.

Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.

Há novas flores, novas folhas verdes.

Há outros dias suaves.

Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

sábado, 22 de março de 2025

PUTTING THE GUITAR IN THE BAG

Há dois anos Lonnie Bunch III (muito gostam os americanos destas tretas do II, III...) veio à Lusitânia falar sobre o papel dos museus, e a escravatura, e o passado colonial etc. O texto promocional da conferência na CULTURGEST dizia: "Lonnie G. Bunch III, Secretary of the Smithsonian Institution, explores the critical need for museums around the world to work collaboratively and creatively to recover and recognize the painful legacies of the slave trade, in order to promote social justice and new visions for the future".

Teorias e práticas prafrentex, inovação, disrupção, novas visões etc. Se estou contra? Não estou, mesmo nada. Apenas cético, como sempre.

Entretanto um tal de Trump teve 77.000.000 de votos e tornou-se (re)presidente. Os efeitos não tardaram:

The Smithsonian Institution is closing its diversity office and freezing all federal hiring. The decision will affect dozens of American museums, research centers and libraries, as well as the National Zoo.

The move to eliminate the Office of Diversity comes in the wake of an executive order from President Trump that describes diversity, equity and inclusion initiatives, or DEI, as "illegal and immoral." The Smithsonian is not a federal agency. But much of its billion dollar budget comes from federal appropriations. Two-thirds of its nearly 6,500 employees are federal workers.

The Smithsonian Institution will close its Office of Diversity, a spokesperson confirmed Tuesday, only a week after President Donald Trump directed all federal diversity, equity and inclusion offices and staff be laid off.

The Washington Post first reported that Smithsonian Secretary Lonnie G. Bunch III emailed staff announcing the closure, calling it the “first step” to address the new federal policy.

E Lonnie Bunch III, secretário-geral da Smithsonian Institution? Meteu a viola no saco, ora essa.