sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

POESIA, VINHO E VIDA CORTESÃ




De vez em quando, e cada vez com mais frequência, lá vem a história da proibição do consumo de vinho no mundo muçulmano. Para pôr um pouco de peso no outro prato da balança aqui vai uma imagem do "Qissat Bayad wa Riyad", uma história de amor de finais do século XII/inícios do século XIII. A cena sugere vagamente uma qualquer vernissage, mas é na realidade uma situação habitual na vida da corte. O manuscrito está na Biblioteca do Vaticano.

E aqui fica, em versão castelhana, um poema célebre onde o vinho é evocado ("Sine Cerere et Baccho friget Venus", diziam no mundo clássico). "La hermosa en la orgía" foi escrito há cerca de mil anos.



Su talle flexible era una rama que se balanceaba sobre el montón de arena de su cadera y de la que cogía mi corazón frutos de fuego.

Los rubios cabellos que asomaban por sus sienes dibujaban un lam en la blanca página de su mejilla, como oro que corre sobre plata.

Estaba en el apogeo de su belleza, como la rama cuando se viste de hojas.

El vaso lleno de rojo néctar era, entre sus dedos blancos, como un crepúsculo que amaneció encima de una aurora.

Salía el sol del vino, y era su boca el poniente, y el oriente la mano del copero, que al escanciar pronunciaba fórmulas corteses.

Y, al ponerse en el delicioso ocaso de sus labios, dejaba el crepúsculo en su mejilla.

O autor foi o príncipe omeia MARWAN BEN ABD AL-RAHMAN, chamado AL-TALIQ (falecido em 1009)

6 comentários:

  1. Parece que, por agora, sou o seu unico comentarista (não uso a palavra "comentador" porque faz lembrar gajos com uma lata descomunal).

    Gostei de mais esta lição de cultura, e confesso que o título me fez acrescentar mais um ao meu rol de sonhos: poesia, vinho e vida cortesã, seria magnifica uma vida assim preenchida!

    Abraço

    Intenso

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  2. Agradeço os comentários e deixo um aviso a quem, eventualmente, passar por aqui: eu não sou o INTENSO, só a fingir que o blog tem muita animação. Ou como diria o imortal Frakk Zappa: "eu não sou eu; eu sou outra pessoa"...

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  3. Parece que em Silves, no séc. XI, também se bebia vinho...


    Eia, Abú Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes se, como penso, ainda se recordam de mim.
    Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel que sente perpétua saudade daquele alcácer.
    Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis!
    Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado
    brancas e morenas que produziam na minha alma
    o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
    Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
    O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.
    As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
    Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.

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  4. Obrigado pela "antecipação". Tinha previsto divulgar esta magnífica versão de António Borges Coelho dentro de dias. Assim, já está. Ou talvez não.

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  5. Desculpa! O poema estava ali mesmo à mão e, como vinha a propósito, não resisti. Fico a aguardar o "talvez não".

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  6. Esta "Salúquia 34" promete...
    Parabéns, Santiago, pela fresqura, pelo humor (infelizmente raro nestas paragens) e pela imperdível sequência de "calcantes" que não é excesssiva.
    Se carregarem muito nas tintas ainda tornam o "lançamento do sapato" modalidade olímpica, e aí perde-se toda a piada.

    Um Abraço e um Bom Ano de 2009

    فبك

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