terça-feira, 31 de março de 2009

POEMA DA FLOR PROIBIDA

Por detrás de cada flor
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.
.
Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.
.
Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,não de repente
(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.
.
Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.
.
Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.

Em Portugal não gostamos muito de flores nem de jardins. Há quem goste, claro. Mas o mais frequente, e em especial no sul, onde a sombra falta, é que se peça às autarquias que venham cortar esta ou aquela árvore. O que não deixa de ser estranho e contraditório.

O poema de António Gedeão (1906-1997), mais esta paradisíaca pintura de Henri Rosseau (1844-1910), intitulada O sonho, vão por outro caminho. Embora o poeta acabe comendo a flor...

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