quinta-feira, 30 de abril de 2009

L' AGNEAU MYSTIQUE

A cadeira tinha um nome longo: Introdução ao Estudo da Arqueologia e da História da Arte. Perdido no meio das minhas indecisões e angústias - inscrevera-me em História da Arte com pouco ou nenhum entusiasmo - escolhi o domínio da pintura antiga e, dentro desta, os métodos de análise laboratorial. Os quais implicam uma leitura arqueológica das pinturas, e uma vez que os raios X, os infra-vermelhos etc., permitem perceber o processo de construção da obra de arte. Como é que o artista começou, que hesitações teve, que figuras apagou, tudo se revela e desnuda. Um pouco voyeur, admitamos. Essencial como forma de conhecimento, em todo o caso.
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O Dr. Luís Teixeira disse-me que era obrigatória a leitura de L'agneau mystique au laboratoire, um livro publicado em 1953 pelo académico Paul Coremans (1908-1965). Rumei ao Instituto de José de Figueiredo, onde gastei tardes sem fim. Fiquei fascinado com a a erudição do livro e com o rigor do método. E com a certeza que o meu futuro não passaria por aquele campo.
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O programa iconográfico do Agneau mystique revela grande complexidade e, como é hábito, nestas situações, provocou extensas laudas de explicação do seu conteúdo. Grande parte das suas abordagens relacionam-se com o Apocalipse, do Evangelho segundo S. João. As temáticas diferem, consoante o retábulo está aberto ou fechado.
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É, seguramente, uma memória disparatada, mas a única imagem que retenho não é tanto a do esplendor do retábulo dos irmãos Hubert (1366-1426) e Jan van Eyck (1495-1441), mas o facto de Jan van Eyck ter estado na Península Ibérica em 1427-28. E que, por essa razão, pintou um laranjal em pano de fundo. A imagem dos laranjais, e o perfume dos laranjais, deixou-me outra certeza: que o futuro e o caminho estariam mais a sul. Sempre mais a sul.

O Agneau mystique foi concluído em 1432 e conserva-se hoje na catedral de Saint-Bavon, em Gand. O políptico mede 3,75 m. × 2,60 m. (fechado) e 3,75 m. × 5,20 m. (aberto).
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Dois dos painéis do retábulo foram furtados em 1934. Um foi recuperado, desconhendo-se o paradeiro do outro.

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