Faz hoje dez anos que Amália nos deixou. Foi um momento de grande emoção, vivido com particular intensidade na cidade de Lisboa. Amália Rodrigues continua a ser um dos símbolos de Portugal fora de portas. Mas não é o único, como constatei, há uns anos, no Cairo.
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Era costume perguntarem-me, nas ruas, a minha nacionalidade. Quando dizia Portugal ouvia dizer, invariavelmente, "Manuel José" (para os não iniciados na matéria: era o treinador do al-Ahly, do Cairo, à frente do qual venceu quatro vezes a Liga dos Campeões de África). Até uma tarde...
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O taxi parou ao lado do nosso e o condutor pediu para eu baixar o vidro. Acto contínuo a pergunta where are you from?. Respondi Portugal e arrisquei de seguida Manuel José. Para minha surpresa o taxista faz um gesto de desprezo e respondeu, quase aos gritos "Maglan!". Embatuquei, sem perceber. O homem repetia a palavra uma vez e outra, dando nota de uma cada vez maior impaciência. A cena repetiu-se uma, duas, três, quatro vezes, em cada cruzamento e em cada engarrafamento. Olhávamos uns para os outros dentro do nosso táxi, sem perceber coisa nenhuma.
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Às tantas fez-se-me luz. De repente exclamei "claro! Magellan é como eles chamam a Fernão de Magalhães!". Aí sim, quando no cruzamento seguinte berrei "navigator!", o taxista do Cairo mostrou sinais de contentamento.
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Nem sempre o que parece é. Nem todos os taxistas do Cairo se interessam por futebol. Nem sempre a imagem de Portugal lá fora é a que nós imaginamos. E estava muito longe do meu espírito que um taxista do Cairo se interessasse pelos Descobrimentos e por esse símbolo da Pátria que é Fernão de Magalhães.
Fernão de Magalhães (1480-1521) foi um grande navegador português. Devemos-lhe a primeira viagem de circum-navegação. O seu nome foi, infelizmente, atribuído a um produto de junk food da informática.
Lembro-me como se fosse hoje.
ResponderEliminarNo telejornal da LCI cadeia de televisao francesa que pertence ao grupo TF1, o jornalista deu a noticia da morte de Amalia e em seguida via telefone o historiador português Santiago Macias (em francês, bien sûr !) deu aos telespectadores o "sentimento" do que se estava a viver nesse dia em Portugal a milhoes de franceses e de portugueses longe da sua terra.
Penso que se perdeu uma grande vocaçao de jornalista.
Mas outros, terao ganho um Grande Historiador.
Desculpa.... "grande" navegador português? Porquê?
ResponderEliminarEm primeiro lugar, estava ao serviço dos espanhóis. Em segundo lugar, não foi ele quem terminou a viagem, morrendo literalmente na praia (filipina), a meio da viagem.
Mas dos falhanços, não costuma rezar a história portuguesa. Para todos os efeitos, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, por exemplo, também "quase" que chegaram de avião ao Brasil, ficando-se pelo penedo de São Pedro e São Paulo, algures no Atlântico Sul, três aviões e um barco depois.
Essa nunca me aconteceu. Agora, Figo, Eusébio e Mourinho é às carradas. Isto quando não desconfiam que eu afinal sou portuguesa, despite the hair. E, claro, em raros momentos iluminados... Amália.
ResponderEliminarCaro Alexandre
ResponderEliminarHá um certo travo português até na forma como fracassou. Mas é sintomático que o taxista tivesse gritado "Magellan" quando eu disse "Portugal".
se calhar, referia-se ao sistema GPS... ;)
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