"E pode visitar-se a qasbah?", foi a minha pergunta. Mustafah, motorista da embaixada, olhou para mim quase ofendido. Claro que se podia visitar a qasbah. E do centro da cidade me levou à qasbah alta. O começo não foi muito prometedor. Entrámos a pé por uma rua bloqueada ao trânsito. Era aí que ficava o comissariado da polícia. A esquadra estava blindada, com as janelas protegidas por uma rede de aço. O chefe da esquadra era amigo do Mustafah. Um personagem de filme, baixote, de gestos rápidos e bigodinho cínico. Eu queria visitar a qasbah? Claro que podia. Em voz de comando chamou quatro calmeirões para me acompanharem na "visita". Saímos. Eu no meio, e os quatro polícias à minha volta, munidos de metralhadoras. Senti-me seguríssimo... O passeio durou escassas centenas de metros. A partir de uma determinada zona "não havia condições". Dias depois, pedi ao Mustafah para descer junto à mesquita Ketchoua, na qasbah baixa, perto do mar. Perguntou-me se eu achava que era o Indiana Jones. Fiquei esclarecido.
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Só cinco anos mais tarde me foi dada a possibilidade de cruzar a pé todo o bairro..
A qasbah de Argel, um denso emaranhado de ruas, ruelas e becos, é Património da Humanidade desde 1992. Sítio hostil às agressões ou ameaças exteriores foi alvo de particular repressão por parte da colonização francesa. Que chegou a fazer uma extensa rua (a actual Abderrahmane Arbadji), de forma a cortar o bairro ao meio.
Imagem de cima: La casbah d'Alger de Henry Valensi (1883-1960), tela pintada por volta de 1920
.Imagem de baixo: Um simpático sufi, que me enfiou na aljama de Argel e me apresentou ao mufti da mesquita. Tem na mão uma edição antiga das tradições islâmicas, a fundamental obra de El-Bokhari.
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