Já uma vez falei aqui no blogue de um homem chamado Manuel Rio-Carvalho, que foi meu professor de Arte Contemporânea, já lá vão 25 anos. O prof. Rio-Carvalho tinha uma tese interessante sobre a matriz cultural dos países. Dizia ele que sem Camões nunca Portugal teria tido depois a quantidade e qualidade de poetas que teve e tem. Tal como a Espanha, sublinhava, tem a tradição pictórica que tem graças ao génio de Velázquez. Concentrar o percurso histórico num só homem é sempre um risco, mas já tive mais certezas a esse respeito.
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Portugal é um país de poetas. Ainda bem que assim é. O nosso lirismo é notório e passámo-lo aos trópicos de forma evidente.
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Lembrei-me da nossa alma de poetas ao ler no outro dia um daqueles suplementos que os jornais publicam ao sábado. O tema de duas das crónicas era o vinho. Nem mais nem menos que o vinho, aquela extraordinária bebida de que tanto gosto - esta frase vai-me sair cara porque continua ainda a ser estigma alguém confessar que gosta de vinho - mas que me sabe ... a vinho.
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Simples? Nem por isso. A que sabe, afinal, o vinho? Cito os textos dos especialistas: há frases sobre o aroma "coberto por ervas e flores secas, mel e uma boca tremendamente profunda"; há "o adorável toque de vinagrinho, a par de notas de especiarias, café e iodo"; e mais as "notas vegetais e florais, com outras mais apimentadas, minerais e balsâmicas"; bem como a referência a "espargos, cogumelos, fruta vermelha compotada e ainda ligeiros toques medicinais a verniz" ou "referências vegetais e terrosas". Há outro vinho muito fresco, "hortelã e apimentado". Chega? Claro que não chega. A apreciação de vinhos à venda no mercado remete-nos para "aromas de frutas muito maduras, com sugestões balsâmicas" com "surgimento de fruta e um leve toque de fumo de madeira". Ou a "amplitude de aromas na qual as notas de barrica se conjugam muito bem com a fruta". Mais as "sugestões terrosas e de torrefacção, com alguma especiaria e compota de ameixa meio ácida à mistura". Para acabar com as "notas vegetais e de fruta vermelha madura a par de algum chocolate e especiarias".
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Não há limite para o delírio. Mas a minha citação preferida é aquela, quase erótica, ao vinho que, com "um simples gole chega para perfumar e melar a boca".
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Ah, Portugal, país de poetas. E ter eu de confessar que o copo de vinho mais extraordinário da minha vida foi bebido num sítio chamado Corte da Azinha, no concelho de Mértola. Quem mo ofereceu nunca leu suplementos sobre vinhos. Mas sabia coisas mais importantes que essas. E convidou-me para tomar um copo com ele pela mais completa e pura hospitalidade. Isso sim, é o que conta.
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Gostei do texto. É verdade que também pode existir poesia na prosa, e seu texto é quase uma poesia... ao vinho.
ResponderEliminarGosto mesmo deste blog...
Obrigado.
ResponderEliminarParabéns pelo texto. Gostei muito. Ah! E eu também gosto mesmo deste blog!!!;)
ResponderEliminarAndas inspirado. Depois da "La Marseillaise", eis que surge outra de se lhe tirar o chapéu com "País de Poetas". Faz-te bem viveres sem pressão!
ResponderEliminarUm Abraço
Gosto muito do seu blog. Não passo um dia sem ele, pelo aspecto cultural que apresenta. Conheci-o através do blog Mértola(terra do meu falecido pai). Também eu já estive na Corte de Azinha e gostei sobretudo da hospitalidade dessa gente por quem tenho tanto apreço.
ResponderEliminarO meu Muito Obrigada pelo blog.
Obrigado por todos os comentários.
ResponderEliminarCaro Fernando: para quem me conhece há tantos anos (até andámos na mesma classe na escola primária e tudo) concluis o teu comentário de modo desatento. Sem pressão, Fernando? Nunca na vida vivi sob tão intensa pressão. O facto de não estar em Moura não aligeirou a pressão. Aumentou-a a todos os níveis. A opção é minha, mas sem pressão é coisa que não ando, meu amigo.
Era oh vinho, meu deus era oh vinho
ResponderEliminarEra a coisa qu'eu mais adorava...
Hips !
Nao querendo ser elitista o meu vinho preferido :
Um branco fumado - Robert Mondavi (Napa Valley /California) - "Com um sabor de flor a desabrochar"
http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Robertmondavifumeblanc_078.png
"Com um sabor de flor a desabrochar".
ResponderEliminarAssim mesmo? Juro que é verdade que é isso que está escrito. É que esta dos enófilos andarem a morder flores a desabrochar...
Nao ! Oh papo-seco mal amassado...
ResponderEliminarEsta da "flor a desabrochar" é da minha autoria ! Atao hoje nao é o dia da poesia ? E nao começa a primavera ?
Mas a sério sabe a "isso", ou atao eu bebi demais...
sem vinho já o blog é bom
ResponderEliminarcom vinho ainda fica melhor.
eu sou como o Jacinto
tanto bebo do branco
como do tinto.
O Liberato
Repara bem quantos comentários mereceu o vinho. Já agora aconselho um vinho do norte (Quita de Arcossó)
ResponderEliminarUm abraço.
já agora onde comprou aquela camisa de segunda feira?
ResponderEliminarpessoal esta, tem um padrão diferente da outra dos cartazes. quando foi as eleições,
amigo Santiago,
de facto é bonita.
Santiago, "quita" la o copo ao Lobo da Silva que ele ja nao consegue dizer o nome do vinho que gosta !
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