domingo, 4 de abril de 2010

CENAS DA LUTA DE CLASSES: NOVOS CAPÍTULOS

Há mais de 35 anos, ainda antes do 25 de Abril, um jornal português (o República ou o Expresso?) tinha um anúncio que mostrava um astronauta na superfície lunar e um homem a morrer à fome no interior de África. A frase que ilustrava as imagens dizia qualquer coisa como "estes homens vivem no mesmo planeta".
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Nunca como hoje me veio à memória esse anúncio. O Público apresenta na primeira página duas fotografias: na de cima Goran Tomasevic, da Reuters, regista a espera dos habitantes de uma aldeia do sul do Sudão (sim, outra vez, raio de coincidência, o sul do Sudão). Que esperam essas pessoas? Ajuda alimentar. Na de baixo, Justin Sullivan, da AFP, mostra-nos a espera festiva de um grupo de habitantes de S. Francisco. Que esperam eles? A oportunidade de comprar o novo iPad.
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Longe de mim a tentação hipócrita do moralismo. Vivo no confortável mundo desenvolvido e nunca soube o que é ter fome. Mas a crescente desigualdade faz germinar outras coisas, bem mais graves. Na semana passada, uma especialista de Harvard comentava que a motivação de muitos mártires islamitas nem sequer é de grande carga religiosa. Aqueles actos tornaram-se, pura e simplesmente, um modo de vida (e de morte), uma vez que o sacrifício implica recompensas para a família dos "mártires". O desespero, a raiva, a falta de perspectivas são, assim, campo fértil para um terrorismo cego. A luta de classes deixou as fábricas da Revolução Industrial para adquirir novos contornos e invadir as nossas cidades, numa guerra indiscriminada. Que tem poucos anos e que está muito longe do fim.
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