Enquanto se aguarda a possibilidade de serem digitalizados os dois volumes de Inscrições romanas do Conventus Pacensis : subsídios para o estudo da romanização (Coimbra : Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984), é com todo o gosto que anuncio que estão, para já, disponíveis em http://hdl.handle.net/10316/578 a introdução, a conclusão e o índice geral. Uma gentileza que fico a dever ao SIBUC, na pessoa do Dr. Bruno Neves - bem haja!
Para os não-iniciados: o estudo de José d'Encarnação é a mais completa e sistemática abordagem da epigrafia romana sobre uma extensa área do sul de Portugal. Que a edição, de 1984, esteja em breve ao alcance de um clic é uma grande notícia.
Uma das tábuas de Vipasca (Aljustrel): Placa de bronze com inscrição jurídica em latim. O texto é composto por 46 linhas gravadas em letra latina, representando um trecho de um código de minas que abrangia pelo menos três placas. A placa apresenta cinco furos para fixação e encontra-se parcialmente dobrada. O texto está redigido formalmente sob a forma de carta endereçada a Úpio Eliano, o procurador do distrito mineiro de Vipasca.
(do site do Museu Naional de Arqueologia)
José D'Encarnação foi dos professores que mais me marcaram na minha passagem pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. A sua forma de dar aulas estava completamente fora dos parâmetros por mim considerados normais o que, confesso, me causava alguma estranheza e desconfiança. Apenas alguns anos mais tarde me apercebi do seu brilhantismo enquanto professor. Aconteceu durante uma visita à exposição Loquuntur Saxa no MNA, quando, para meu gáudio mas sobretudo espanto, me apercebi que só em casos muito pontuais precisava de recorrer à legenda das peças para entender o que nelas estava escrito. E isto apesar de a epigrafia não ser, nem de perto nem de longe, uma das minhas disciplinas preferidas. Atribuo-lhe por isso, todo o mérito por ter conseguido com a sua "excentricidade", que o meu preguiçoso cérebro retivesse ensinamentos que à partida considerava desnecessários.
ResponderEliminarAcho que era importante referir ainda, que é a José D'Encarnação que se deve a reinterpretação da famosa lápide honorífica do Museu de Moura. A tal em que muitos investigadores se basearam para fazer corresponder a nossa cidade com uma Nova Civitas Aruccitana que, pequeno pormenor, nunca existiu.
No mesmo trabalho, "Moura na Época Romana" (que por acaso até foi coordenado por ti Santiago), ainda encontrou tempo para desfazer em "pedaços" a teoria, também muito em voga até então e que infelizmente muitos continuam a subscrever, que Moura integraria a província da Bética e não a da Lusitânia. Aliás, a tese que aqui anuncias não inclui as lápides do concelho de Moura, precisamente porque até ele, em 1984, aceitava esse pressuposto. Digamos que o artigo de sua autoria no catálogo "Moura na Época Romana", se pode considerar como que uma adenda ou actualização às "inscrições Romanas do Conventus Pacensis" e adquire uma importância fundamental para o estudo e compreensão de outros períodos históricos, tanto anteriores como posteriores, no que à organização territorial e administrativa diz respeito.
Zé Gonçalo