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Hoje de manhã ofereceram-me um filme: o Nova Iorque fora de horas (1985), uma obra considerada menor na filmografia de Martin Scorsese (n. 1942). Não acho que seja menor. Talvez por gostar do tema da topografia das cidades e dos labirintos que elas escondem. A história tem lugar ao longo de uma noite e até à manhã seguinte. Um homem sai para um encontro, tudo lhe corre mal e não consegue regressar a casa. É uma comédia um pouco angustiante, pontuada pelo som do tique-taque de um relógio. O filme não seria o que é sem a montagem original e frenética de Thelma Schoonmaker (n. 1940), uma artista de enorme talento. Nesta cena, do final do filme, "transforma" Paul em escultura. Dois ladrões levam o homem-escultura para dentro de uma carrinha e têm um delirante diálogo sobre o que é Arte.
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LARÁPIO 1 - Vale a pena levar esta coisa?
LARÁPIO 2 - Estás doido, pá? Isto é arte.
LARÁPIO 1 - A arte é bem feia, pá.
LARÁPIO 2 - Pois, assim se vê o que sabes. Quanto mais feia é a arte mais ela vale.
LARÁPIO 1 - Isto deve valer uma fortuna.
LARÁPIO 2 - Estás doido, pá? Isto é arte.
LARÁPIO 1 - A arte é bem feia, pá.
LARÁPIO 2 - Pois, assim se vê o que sabes. Quanto mais feia é a arte mais ela vale.
LARÁPIO 1 - Isto deve valer uma fortuna.
LARÁPIO 2 - É verdade. É de um tipo famoso, Segal.
LARÁPIO 1 - Sim?
LARÁPIO 2 - Aparece no Carson Show. Toca banjo.
LARÁPIO 1 - Nunca vejo o Carson.
LARÁPIO 2 - Assim se vê o que percebes de arte.
LARÁPIO 1 - Não sei, pá. Um dia destes arranjo uma aparelhagem estereofónica.
LARÁPIO 2 - Para quê, pá? Uma aparelhagem é uma aparelhagem. A arte é para sempre.
LARÁPIO 2 - Aparece no Carson Show. Toca banjo.
LARÁPIO 1 - Nunca vejo o Carson.
LARÁPIO 2 - Assim se vê o que percebes de arte.
LARÁPIO 1 - Não sei, pá. Um dia destes arranjo uma aparelhagem estereofónica.
LARÁPIO 2 - Para quê, pá? Uma aparelhagem é uma aparelhagem. A arte é para sempre.
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Um dos larápios tem laivos de cultura e fala de George Segal (1924-2000), um artista plástico americano que integrou a Pop Art e que ficou célebre pelas suas esculturas hiper-realistas (imagem de cima). Na realidade, o assaltante faz confusão e mistura o Segal escultor com um actor que tem o mesmo nome... Um reencontro com Segal é-nos sugerido pelas representações humanas que animam o belo espaço que o Museu de Portimão é (imagem de baixo).
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Sobre George Segal: http://www.segalfoundation.org/
moral da história:não importa que roubem Arte.o que conta sempre e para sempre é a Arte.
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