sábado, 24 de julho de 2010

PACHECO, O MEMORIOSO

Havia aprendido sem esforço o inglês, o francês, o português, o latim. Suspeito, contudo, que não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes, quase imediatos.
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Uma recente, e espantosa, afirmação de Pacheco Pereira no seu blogue fez-me recordar um célebre conto de Jorge Luis Borges, Funes, el memorioso, publicado em 1944 no livro Ficciones e do qual acabo de citar um excerto. Funes recordava-se de tudo mas não era capaz de processar, como agora dizemos, a informação. Foi Tiago Mota Saraiva quem chamou a atenção (ver aqui) para a barbaridade escrita por PP, e que passo a citar: o único assassinato político que merece ser classificado como tal no Estado Novo foi o de Humberto Delgado, embora haja ainda muitas obscuridades quanto ao que se passou. Houve gente morta pela PIDE, nos campos de concentração, nas cadeias, sob tortura, em confrontos de rua, mas não existem provas de que se tratava de assassinatos deliberados.
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Que PP não tem assim grande apreço pela luta do PCP contra o fascismo já se sabia. Que fosse ao ponto de negar os assassinatos da PIDE (ver uma elaborada lista aqui) passa o limiar da estupidez. Escrever o que PP escreveu só tem uma explicação objectiva: desonestidade intelectual. Por este andar, PP arrisca-se a ser, mais que o memorioso, o Funès da nossa historiografia contemporânea...
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4 comentários:

  1. Tal como na vizinha Espanha, a direita continua a negar a barbárie perpetuada durante os tempos da ditadura. A luta nesse período foi encabeçada pelo PCP, facto que é inegável, mas não se deve cingir a esta organização, a mesma assenta na luta de homens e mulheres por um Portugal democrático, um Portugal fraterno, um Portugal com Liberdade. Os povos devem ter memória, não para viver com ódio pelos crimes, mas para aprender a nunca mais cometer os erros do passado.

    1Ge2r

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  2. Ditaduras são ditaduras, de esquerda ou direita.
    O Pacheco Pereira têm vergonha do passado da direita em Portugal. Mas mais vergonhoso ainda do que esse passado, são as seus comentários e os de outros de igual teor.
    Também a esquerda, infelizmente não se pode orgulhar do seu passado. Não a esquerda portuguesa, mas sim a europeia e mundial. URSS, Cuba, Venezuela, Ex. Juguslávia, Roménia, RDA.
    De assassinos está o mundo cheio.

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  3. Vergonhoso, vergonhoso, é o anonimato servir para insultos cobardes.
    E a Esquerda orgulha-se do seu passado.

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  4. Desculpe não foi minha intenção ofende-lo. Mas reconheço que da forma como escrevi, não reparei que podia dar essa ideia.
    "Os seus comentários" São os de Pacheco Pereira, e não os seus.
    Não é meu procedimento ofender, seja quem fôr, muito menos de forma anónima.
    Quando comento algo, aqui ou em outro local, anónimo ou não, nunca serão na base da calúnia ou na ofensa. Não foi assim que fui educado, não é assim que sou. Espero que compreênda e aceite as minhas desculpas, pois reconheço que no seu lugar, também me sentiria ofendido.

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