quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MÉRIDA - V: HIPÓDROMO

A imagem do google foi obtida num blogue emeritense: http://colonia-augusta-emerita.blogspot.com/. Não era, não é, dos sítios mais visitados na antiga capital da Lusitânia. Mas vale a pena afastarmo-nos um pouco do centro da cidade e das suas zonas mais turísticas para termos outra percepção da vida quotidiana dos romanos. É interessante, e depois de lermos as informações que existem no centro de interpretação, percorrermos (a pé, como é evidente) o hipódromo. Olhe-se para um lado e para outro. Ouviremos ainda o rumor das multidões nos dias em que ali se competia.
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O caminho do conhecimento e da verdade não seria a primeira das preocupações dos aurigas, mas posso garantir que o génio do lugar paira ainda no hipódromo. Convido quem por lá passar a ganhar uns minutos lendo este excerto de Parménides.
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"As éguas, que me transportam, tão longe quanto o meu coração alguma vez podia almejar, rapidamente me conduziram, depois de me terem levado e colocado no afamado caminho do deus, que conduz o homem sabedor por todas as cidades. Por esta estrada fui eu levado, por este caminho os sensatos animais me transportaram, puxando o carro, e donzelas me guiavam. E o eixo, levado ao rubro, nos cubos soltava o silvo de uma siringe, pois de ambos os lados com força era impelido pelas duas bem torneadas rodas, enquanto as filhas do Sol se apressavam por levar-me para a luz, depois de abandonarem a morada da Noite e de com suas mãos terem retirado os véus da cabeça.
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Aí se encontraram os portões dos caminhos da Noite e do Dia, encimados por um lintel e com pétrea soleira. Eles mesmos, bem altos no ar, são fechados por grandes batentes, e a Justiça vingadora empunha os ferrolhos alternados. A ela seduziram as donzelas com brandas palavras e habilmente a persuadiram a retirar rapidamente a tranca aferrolhada dos portões. E, ao escancararem-se, fazendo, cada um por sua vez, girar nas chumaceiras os gonzos de bronze, ajustados com pregos e cavilhas, mostraram um abismo hiante, na moldura da porta. Directamente, através deles, no amplo caminho, as donzelas guiaram os cavalos e o carro.
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E a deusa acolheu-me afavelmente, tomou-me a dextra na sua e dirigiu-me com estas palavras: «Ó jovem, tu que vieste à minha morada na companhia das aurigas imortais, com corcéis que te transportam, salve. Não foi má sorte que te impeliu a percorrer este caminho – pois bem longe ele fica do trilho dos homens –, mas o Direito e a Justiça. Convém que tudo aprendas, tanto o ânimo inabalável da rotunda verdade, como as opiniões dos mortais em que não há verdadeira confiança. Todavia aprenderás isto também, como aquilo quem se acredita deve sê-lo sem qualquer dúvida, fazendo passar todas as coisas através de tudo»

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