Não é um nome muito conhecido do grande público. Arriscaria mesmo dizer que é um nome desconhecido do grande público. Mas a obra de Helena Almeida (n. 1934) marca, de forma indelével, a parte final do século XX. Dobrada a casa dos 70, a artista continua a fotografar e a procurar novos caminhos para os seus auto-retratos. E não me perguntem porquê (não tenho a resposta), mas o texto de Luis Miguel Nava (1957-1995) evoca-me as fotografias solitárias, e onde a cor por vezes se insinua, de Helena Almeida.
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.A PRETO E BRANCO
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Uma mulher encosta-se a um muro, encosta-se à memória. Veste de uma maneira simples, uma blusa, uma saia cobrindo os joelhos, talvez uns tamancos. Tem ainda, amarrado à cabeça, um lenço negro, negros aliás e brancos todos os tons em que se veste, negros os tamancos, um casaco de lã sobre a blusa, negras ainda algumas das riscas da saia, brancas as outras, como a blusa. Encosta-se ao muro aonde cola as costas, os ombros e depois uma das faces, assim é mais fácil ver-lhe o rosto. As mãos encostá-las-ia também se não segurasse um lenço branco. Aperta-o entre os dedos, fá-lo passar entre eles, uma pequena serpente. Ou então amarrota-o, faz das palmas das mãos uma concha onde o esconde, o lenço assim desaparece totalmente, apenas as mãos se vêem projectadas para a frente, dir-se-ia que rezam. Depois sempre ocultando o lenço, levam-no ao rosto novamente de perfil, tudo a preto e branco ainda, ou é o rosto que desce até às mãos, mergulha no lenço, talvez este e a língua se procurem, uma língua pelo lenço adiante, uma língua é provável que vermelha, não, é tudo ainda muito a preto e branco, é tudo ainda demasiado a preto e branco para permitir um pormenor vermelho.
.Uma mulher encosta-se a um muro, encosta-se à memória. Veste de uma maneira simples, uma blusa, uma saia cobrindo os joelhos, talvez uns tamancos. Tem ainda, amarrado à cabeça, um lenço negro, negros aliás e brancos todos os tons em que se veste, negros os tamancos, um casaco de lã sobre a blusa, negras ainda algumas das riscas da saia, brancas as outras, como a blusa. Encosta-se ao muro aonde cola as costas, os ombros e depois uma das faces, assim é mais fácil ver-lhe o rosto. As mãos encostá-las-ia também se não segurasse um lenço branco. Aperta-o entre os dedos, fá-lo passar entre eles, uma pequena serpente. Ou então amarrota-o, faz das palmas das mãos uma concha onde o esconde, o lenço assim desaparece totalmente, apenas as mãos se vêem projectadas para a frente, dir-se-ia que rezam. Depois sempre ocultando o lenço, levam-no ao rosto novamente de perfil, tudo a preto e branco ainda, ou é o rosto que desce até às mãos, mergulha no lenço, talvez este e a língua se procurem, uma língua pelo lenço adiante, uma língua é provável que vermelha, não, é tudo ainda muito a preto e branco, é tudo ainda demasiado a preto e branco para permitir um pormenor vermelho.
Entrevista com a artista em:
http://www.storm-magazine.com/novodb/arqmais.php?id=411&sec=&secn=
é uma artista de vanguarda.não é conhecida do "grande"público como poucos ou nenhuns artistas de vanguarda o são. é filha do escultor leopoldo de almeida e casada com o artista plástico e arquitecto artur rosa que é quem a fotografa.uma destacada artista plástica com valor e obra reconhecida.
ResponderEliminarfrancisco caetano
São sempre muito singulares as analogias que faz entre artes plásticas e literatura. São, talvez, as entradas que mais gosto de ler no seu blog. Os auto-retratos da Helena Almeida têm uma grande componente cinematográfica assim como o texto do Luís Miguel Nava que cita. Existe um excelente documentário sobre o processo criativo desta artista, Pintura Habitada, realizado pela Joana Ascenção, penso que deverá ter sido editado pela Midas.
ResponderEliminarVeralisa
Muito bom gosto (mas sou eu que costumo publicar estas obras!)
ResponderEliminaronde?
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