quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A QUEM NA CIDADE ESTEVE TÃO LONGO TEMPO

A quem na cidade esteve tão longo tempo
sabe como é grato olhar para a face serena
e aberta do céu, erguer uma prece
ao firmamento azul que para nós sorri.
Quem será mais feliz, se com alma jubilosa
descansa num acolhedor lugar entre a erva
ondulante, e lê uma aprazível história
daqueles que se abandonam ao amor?
Ao entardecer e no regresso a casa, escuta
a canção do rouxinol e depois com o olhar
segue o caminho de uma pequena nuvem;
lamenta, então, a pressa com que passou o dia
semelhante a uma lágrima caída de um anjo
que atravessa a transparência do céu, silenciosa.

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To one who has been long in city pent,
'Tis very sweet to look into the fair
And open face of heaven, - to breathe a prayer
Full in the smile of blue firmament.
Who is more happy, when, with heart's content,
Fatigued he sinks into some pleasant lair
Of wavy grass, and reads a debonair
And gentle tale of love and languishment?
Returning home at evening, with an ear
Catching the notes of Philomel, - an eye
Watching the sailing cloudlet's bright career,
He mourns that day so soon glided by,
E'en like the passage of an angel's tear
That falls through the clear ether silently.
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Tradução: Fernando Guimarães
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O poema é de John Keats (1795-1821) e passou-me ontem, de surpresa, pelas mãos. Impressionou-me o primeiro verso e fez-me lembrar, de súbito, estes homens, fotografados no topo de um arranha-céus de S. Paulo por René Burri, em 1960. A quem na cidade esteve tão longo tempo / sabe como é grato olhar para a face serena / e aberta do céu (...). Keats, no seu espírito romântico, não deveria imaginar como as suas palavras apaixonadas se tornariam tão verdadeiras.

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