domingo, 9 de janeiro de 2011

E EIS QUE AS "NOVAS OPORTUNIDADES" CHEGAM À UNIVERSIDADE

A notícia foi dada pela RTP:

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O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António Rendas, disse hoje que "foram aprovadas recomendações para iniciar o processo de creditação dos licenciados pré-Bolonha".

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Falando no final da reunião da CRUP, que decorreu no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, António Rendas revelou que "essas orientações visam credenciar os licenciados anteriores ao processo de Bolonha com o grau de mestre".

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Para isso, "conforme o currículo académico e profissional de cada um terão de fazer algumas disciplinas, apresentar e defender um relatório final, cujas definições serão determinadas por cada uma das universidades".

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"Puta que pariu! Estás a falar a sério?" foi a surpresa e indignada reacção de uma professora universitária a quem telefonei, perguntando se tinha tido conhecimento prévio disto, no conselho científico da sua faculdade.

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Longe vão os tempos em que Sottomayor Cardia (1941-2006) foi (injustamente) crucificado por propor a redução das licenciaturas de 5 para 4 anos, que seriam depois complementadas com mestrados de 2 anos. O tempo lhe daria razão e a tiraria aos que, eu incluído, achavam que se menorizava a importância do grau de licenciado.

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O que veio depois é conhecido: licenciaturas de três anos, mestrados com três semestres mais um para o seminário de dissertação, teses cada vez mais curtas, muitas vezes sem o tempo necessário de reflexão e de escrita, a investigação transformada em pílulas.

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Aquela história do "relatório final, cujas definições serão determinadas por cada uma das universidades" é tudo menos tranquilizadora. E não garante, podem ter a certeza, qualquer qualidade ou relevância nos trabalhos realizados. E, em última análise, nem sequer é o grau académico que determina o nível de proficiência. Mas será essa a verdadeira questão? Não creio. O fundo do problema não está na atribuição indiscriminada dos graus de mestre ou de doutor, mas sim numa questão de sobrevivência. E na necessidade crescente de, seja lá como for, se financiarem as universidades. Já lhes terá ocorrido a possibilidade de leiloar graus?

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Os meus últimos anos de faculdade (1983/85) foram marcados por tumultos permanentes e por guerras entre facções no corpo docente: a direita reaccionária ganhou, a esquerda perdeu. À medida que o tempo passava, e à medida que os despedimentos à esquerda se sucediam (para além da falhada tentativa de José Manuel Tengarrinha, ficaram célebres os episódios de Hernâni Resende, de Cláudio Torres, para além das pressões exercidas sobre José Mariz, Isabel Castro Henriques etc.) fiquei com a nítida sensação que se vivia ali um fim de ciclo. Alguns colegas da Direcção da Associação de Estudantes de Letras perguntavam-me quais eram os meus projectos. Na brincadeira, dizia sempre "estou a pensar candidatar-me a um lugar na Universidade de Bujumbura; por aqui não devo ter grandes hipóteses...". O tempo passou, mas ainda tenho uma planta da cidade. Nunca se sabe...

3 comentários:

  1. Agora percebo porque é que escolheste a LUMIERE II en Lyon para fazeres o teu "Doctorat d'État". Ai, ai a nostalgia é uma coisa muito bonita ; )

    http://www.ulbu.info/index.php

    PS Dêxos, dêxos...temos um pais de engenheiros e arquitetos...mas sao todos burros que nem lenhos !

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  2. Para além das reformas serem uma porcaria e uma descredibilização do sistema de ensino e de qualquer forma séria de investigação, muito depende também do esforço, interesse e dedicação de quem se propõe defender um tema para mestrado. É isso que fará a diferença no fim neste contexto de distribuição de titulos ao desbarato.
    Quanto à atribuição do grau de doutor, ainda lá não chegámos mas infelizmente havemos de chegar.

    A Tanzânia parece-me bem. Mas calminha que em África não há nem um quarto do acesso à informação que aqui há para levar a cabo uma investigação, portanto quem por lá se forma e quem por lá estuda term que fazer bastante cruzamento de informação com os meios que cá tem, portanto acaba por adquirir um ritmo que aqui se perdeu. Mas uma vez mais é de salientar: tudo depende da vontade de quem se propõe a levar a cabo um trabalho.

    "Há uns que passam pelos cursos, outros os cursos passam por eles" já dizia um amigo sevilhano.

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  3. Burundi, não Tanzânia, mas tratava-se de uma "boutade". Agora já não sei...

    Cara Babao:
    Dei-me conta dessa identidade de nomes há pouco tempo. Sabes, decerto, que o nome LUMIÈRE tem a ver com os manos do cinema.
    Não fiz "Doctorat d'État" (já tinham sido extintos em 1996) mas sim "Doctorat", sem mais.

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